terça-feira, setembro 30

INCÓMODOS

Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)

Daria dez entrevistas com Einstein por um primeiro encontro com uma bonita figurante. É verdade que, ao décimo encontro, eu suspiraria por Einstein ou por umas fortes leituras. Em suma, nunca me incomodei com os grandes problemas senão nos intervalos dos meus pequenos desregramentos.
.

segunda-feira, setembro 29

A DANÇA CONTINUA

SOPHIE THOUVENIN

O ESTADO SOCIAL SAI, EM FORÇA, EM SOCORRRO DOS SEUS INIMIGOS. SE OS SALVAR ELES NÃO LHE PERDOARÃO. AFINAL PARA OS ULTRAS CONSERVADORES O ESTADO É A RAZÃO DE SER DE TODOS OS MALES DA SOCIEDADE. QUANDO SE VIREM EM TERRA FIRME PERGUNTARÃO: MAS QUEM LHES PEDIU AJUDA? E RESPONDERÃO: ALGUÉM TERIA DE PAGAR A NOSSA SOBREVIVÊNCIA POIS ELA É A RAZÃO DE SER DA VOSSA!

A dança continua. A coisa está feia. Os republicanos votaram maioritariamente contra mas Obama é que tem a culpa ....
.

domingo, setembro 28

UM BAILE DE MÁSCARAS

Chris Steele-Perkins - Lithuania, Latvia and Estonia: Independence on Hold. Defaced Lenin and Stalin, Parliament Square, Vilnius 1991.

Apesar de tudo ainda me surpreendeu, dias atrás, a notícia de que o Comité Central do PCP aprovara, por unanimidade, o Projecto de Teses do XVIII Congresso. Mas é mesmo verdade assim como o teor das teses, propriamente ditas, que o Rui Bebiano comentou sob o sugestivo título “Rumo ao inconcebível”.

No que respeita à política internacional o PCP coloca-se ao lado “da luta dos povos em defesa da sua soberania e do direito inalienável a decidir dos seus destinos” abrindo um vasto, e intrigante, campo para todas as especulações se repararmos na lista dos países explicitamente citados e, ainda mais, ao incluir no seu programa a “luta contra a integração capitalista europeia”:

A luta contra o imperialismo conheceu um desenvolvimento particularmente importante nos últimos anos. A resistência à política de ingerência, agressão e guerra, em particular dos EUA, foi um traço marcante da luta dos povos em defesa da sua soberania e do direito inalienável a decidir dos seus destinos. No Iraque, no Afeganistão, na Palestina, no Líbano, em Cuba e na Venezuela, assim como na Síria, no Irão, na R.D.P. da Coreia, nos Balcãs, na Colômbia ou em Chipre, prosseguem batalhas decisivas para o futuro desses povos e para a estabilidade nas respectivas regiões que merecem a activa solidariedade dos comunistas portugueses. Nelas intervêm forças muito distintas na sua origem, objectivos e formas de luta, mas dispondo de real apoio de massas e convergindo na rejeição de arrogantes e humilhantes imposições externas e na defesa da cultura e soberania nacionais. A luta contra a integração capitalista europeia é parte integrante deste vasto movimento.

Mas, ao mesmo tempo, o líder de um dos povos indicados, o venezuelano Hugo Chavez, manifesta a mais profunda amizade com o governo português e o seu primeiro-ministro, fazendo acordos de monta com esse governo “de direita” e, pasme-se, o órgão de imprensa do partido comunista cubano noticia, com destaque, o evento, enquanto Fidel Castro titula – hoje - a sua crónica de apoio a Chavez, sem ironia, simplesmente assim: El socialismo democrático. Será a nova palavra de ordem do PCP?!
.

sexta-feira, setembro 26

VAMOS A ISSO! OLHOS NOS OLHOS!


IMPASSE

.

MES – Os dirigentes eleitos no I Congresso (IV)


21 e 22 de Dezembro de 1974 - Aula Magna da Cidade Universitária

(Publicado originalmente nos Caminhos da Memória)

Retornando ao objectivo inicial deste conjunto de crónicas é evidente que nenhum dos subscritores do documento referido no post «MES - O DOCUMENTO DA RUPTURA DO GRUPO DE JORGE SAMPAIO NO I CONGRESSO (III)» integrou os órgãos dirigentes saídos do I Congresso por terem abandonado o Movimento ou, numa versão politicamente mais distanciada, o Movimento os ter abandonado a eles. Mas nem por isso deixaram de ficar para a história como dirigentes do MES pois, na realidade, o foram, em plenitude, no período que antecedeu o I Congresso.

Finalmente os dirigentes que foram eleitos pelo I Congresso para a «Comissão Política Nacional», «o organismo dirigente máximo do MES entre Congressos», podem ser vistos, sentados, na mesa da sessão de encerramento do Congresso: Jerónimo Franco, Fernando Ribeiro Mendes (*), Afonso de Barros (*), Carlos Pratas, Augusto Mateus (*), José Dias, Nuno Teotónio Pereira (*), Rogério de Jesus (*), Francisco Farrica (*) e António Machado.

Foram também eleitos para a CPN outro grupo de dirigentes, que também tomaram lugar na mesa, embora não surjam nesta fotografia: Edilberto Moço (*), Paulo Bárcia (Didas), Vítor Wengorovius (*), Marcolino Abrantes (*), Luís Martins (*), Vítor Silva (*) e Celso Cruzeiro (*) [1] [2].

E, finalmente, foram eleitos para a CPN outro grupo de dirigentes, cujos nomes, não foram tornados públicos: João Mário Anjos (*), Eduardo Graça (*) e Eduardo Ferro Rodrigues (*), no meu caso e no do João Mário, por termos cessado o cumprimento do serviço militar, havia poucas semanas, e no caso do Ferro Rodrigues por estar, à data do Congresso, a cumprir serviço militar.

Julgo ainda interessante fazer uma referência ao pano de fundo do I Congresso que foi desenhado, em parte, com os pés. Queríamos fazer transbordar o símbolo do seu círculo fechado, subvertê-lo, criar uma imagem de movimento, mostrar um partido como lugar de caminhada e de encontro, um lugar de todas as utopias.

A Luísa Ivo que, amavelmente, me enviou a fotografia acrescentou alguns detalhes: «o congresso iniciou-se sem o pano; estive com o Tolas, durante essa manhã, a continuar ou a terminar a pintura. A Mafalda controlava o processo. A uma certa altura eu e ele decidimos que deveriam aparecer mais marcas de pés a entrar para o círculo do que a sair. Então ele molhou os pés na tinta, foi até ao centro, fez o pino e saiu a caminhar com as mãos no chão e os pés para cima… Só nessa altura soube que ele praticava ginástica a um nível muito avançado!».

A fotografia fixa um momento da sessão de encerramento, no dia 22 de Dezembro de 1974, no qual está em palco Rossana Rossanda, consagrada dirigente da esquerda italiana, representante do movimento IL Manifesto, acompanhada, ao que me parece, por Manuel Braga da Cruz que traduzia o seu discurso para português.

Rossana, tal como Luciana Castellina, visitaram Portugal, mais do que uma vez no período da revolução, ao contrário de Lúcio Magri e de Luigi Pintor, todos do mesmo grupo de dissidentes do PCI, fundadores do IL Manifesto.

[1] Esta lista de membros da CPN foi fixada após ter sido, por mim, cotejada com outras fontes. O facto de integrar 20 elementos faz crer que corresponde a uma das alternativas que constam da «proposta de bases estatutárias» apresentada ao Congresso.

[2] Assinalo com (*) os nomes que tendo pertencido à CPN, eleita no I Congresso, transitaram para o Comité Central eleito no II Congresso, realizado em Fevereiro de 1976.
.

quarta-feira, setembro 24

A TRAGÉDIA DO SILÊNCIO

Mark Power – FINLAND

Matti Saari foi interrogado pela polícia mas não lhe foi tirada a arma - Massacre na Finlândia foi anunciado num vídeo colocado no YouTube

Desde que tomei conhecimento deste massacre e no rumorejar dos ecos que todas as tragédias provocam, em particular, quando passadas longe, apeteceu-me tecer um comentário. O assunto é delicado!

A Finlândia é um país sempre apresentado como um modelo em muitas áreas incluindo a da educação. Afinal reparem nos detalhes da notícia. Que lições se podem retirar dela para a nossa realidade? E que conclusões? E que comparações? As autoridades, formais e mediáticas, que sempre peroram acerca da matéria da segurança nas escolas, que eu tenha reparado, estão caladas quem nem ratos!

Faz-me citar uma frase de Camus, tomada como epígrafe de uma tese que descobri e ando a ler: “Se a revolta pudesse fundar uma filosofia seria uma filosofia dos limites, da ignorância calculada e do risco. Aquele que não pode tudo saber não pode tudo matar.” (CAMUS, A. - L´Homme Révolté. Essais.)
.
.
Há uma questão importante a assinalar. Na Finlândia, devido à tradição da caça, a licença de porte de arma é bastante comum (a percentagem da população com licença de porte de arma é a mais alta da Europa) (depois do primeiro massacre numa escola - em Novembro de 2007 -, foi proposta uma lei que limitava a licença a maiores de 15 anos, mas esta não foi aprovada na assembleia nacional!) Nos EUA, os argumentos são distintos. Mas o resultado é o mesmo. Em comum, a motivação: depressão, isolamento, atracção por rituais satânicos celebrados por bandas neo-góticas e esquizóides. De qualquer forma, a elevada qualidade de vida dos países nórdicos sempre teve esse trágico efeito perverso: uma das mais altas taxas de suicídio juvenil.Mais uma vez, Camus (O Mito de Sisifo): «Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade.» MRF
.
Aconselho a socióloga MRF a consultar as estatísticas de suicídio que, de há muito tempo a esta parte, indicam os países centrais da Europa como aqueles que têm maior taxa de suicídio. Essa da elevada qualidade de vida dos países nórdicos ter um efeito perverso é, como deve saber, um "cliché".
.
escandinavo, não é "cliché". O fenómeno é complexo, não existem leis gerais, mas há de facto tendência para elevadas taxas de suicídio em países desenvolvidos e que, aparentemente, são bem sucedidos na integração social dos jovens. Na Finlândia, mais de 90%dos jovens termina a escolaridade obrigatória, mas a taxa de suicídio por 100000 habitantes é de 23.4 (valor para o total da população). Devolvo pois a sugestão de consulta a alguns dados estatísticos:1. http://www.tu-importas.com/geral/DadosEstatisticos.asp2. http://www.mat.uc.pt/~guy/psiedu1/Suicidio.pdf (página 25)Sendo que, como é óbvio, o suicídio é um fenómeno que exige uma análise multifactorial: os factores socio-económicos são relevantes, mas os culturais e religiosos participam fortemente nas representações colectivas do suicídio, condicionando por isso os comportamentos. (E) Não estou a considerar factores de natureza distinta: clima, nº de horas do dia com luz, etc.. - nem o factor biológico (propensão genética ou hereditária, género, etc.) MRF
.

terça-feira, setembro 23

A MINHA ESCOLA

Fotografia “A Defesa de Faro”

Esta é a Escola que, antigamente, se chamava “Escola Primária de S. Luís”, em Faro, a qual frequentei entre a 1ª e a 4ª classes. Salvo no primeiro dia de aulas fazia, quase sempre, sozinho o caminho a pé, de ida e regresso, entre a minha casa, na Rua Coelho de Melo, e a escola. Desenho na memória as ruas de terra batida, as paredes brancas e o rosto das gentes que comigo se cruzavam. Às vezes, ao longo da caminhada, falava comigo próprio, em voz alta, e preocupava-me quando me apercebia que alguém dava por isso. O que haviam de pensar? A nostalgia do passado não colide, obrigatoriamente, com os desejos do futuro. Passados muitos anos aquela continua a ser a minha escola mas, ao que parece, transformou-se numa escola nova. No mesmo espaço, mas noutro tempo que é o nosso.
.

sábado, setembro 20

GESTOS E CONTRADIÇÕES


Não sei o que move a senhora. Desconheço as profundezas das suas amizades, fortuna e arte. Este gesto de apoio ao partido Trabalhista, numa época em que este passa por grandes dificuldades, tem a grandeza do desprendimento. Ela deve saber que existem 99% de probabilidades dos Trabalhistas perderem as próximas eleições. Mas a defesa das suas convicções fala mais alto. E a sua fortuna, para a qual eu também contribuí, permite-lhe antecipar o voto com um cheque. Não está, afinal, o capitalismo em vias de ser salvo pelos princípios do socialismo?
.

AS ESCOLHAS DE 2009


Para aqueles que, na direita e na esquerda, ainda se mantêm fiéis à exigência ética na política é interessante acompanhar as escolhas dos candidatos para as próximas eleições de 2009 – europeias, autárquicas e legislativas. Os casos das Câmaras de Lisboa e Porto, e as escolhas dos respectivos candidatos (ou candidatas), em particular, por parte do PS e PSD, são o melhor indicador para avaliar da qualidade da nossa democracia.
.
.

sexta-feira, setembro 19

MES - O documento da ruptura do grupo de Jorge Sampaio no I Congresso (III)

I Congresso do MES – 21 e 22 de Dezembro de 1974 – Aula Magna da Cidade Universitária

(Publicado originalmente nos Caminhos da Memória)

Pretendia abordar, tão só, a temática dos dirigentes fundadores do MES, neste caso os que foram eleitos no I Congresso, realizado nos dias 21 e 22 de Dezembro de 1974, na Aula Magna da Cidade Universitária, de Lisboa. Mas, neste caso, terei que ser um pouco mais extenso já que o I Congresso, como é do conhecimento geral, foi marcado pela cisão protagonizada pelo grupo que viria a dar origem ao GIS (“Grupo de Intervenção Socialista”).

Esse conjunto de activistas do MES apresentaram ao Congresso um longo, e muito bem estruturado, documento intitulado: “O MES E A ACTUAL FASE DA LUTA REVOLUCIONÁRIA – AS TAREFAS IMEDIATAS DO MOVIMENTO”, datado de 30 Novembro de 1974, subscrito por Armando Trigo e Abreu, César Oliveira, Francisco Soares, Joaquim Mestre, João Benard da Costa, João Cravinho, Jorge Sampaio, José Manuel Galvão Teles e Nuno Brederode Santos.

Reli, quase 34 anos depois, com os olhos de hoje, as 39 páginas (3 delas quase ilegíveis) do documento em apreço e senti uma inesperada sensação de espanto e perplexidade acerca das razões dessa ruptura protagonizada por algumas das personalidades mais proeminentes da esquerda portuguesa.

Serei o mais breve possível, atendendo, em particular, à natureza deste meio, tomando como base desta reflexão o reencontro tardio com um documento que pairava na minha memória e que logo na apresentação toma todos os cuidados sendo apresentado, pelos seus autores, como base de uma iniciativa destinada a “contribuir para o debate interno com vista à preparação do Congresso”.
.

quinta-feira, setembro 18

MEXE-TE PINHO ... OU CHEGAMOS ATRASADOS!

.

"RISCO MORAL"
























Bill Kane

De uma série de posts curtos de Vital Moreira acerca da crise financeira – e o mais que ela esconde – sublinho "Risco moral" : O que revolta nestas operações de "resgate" público de companhias privadas em dificuldades é o prémio aos prevaricadores que elas envolvem, salvando da ruína quem deliberadamente correu riscos excessivos e daí retirou pingues lucros, enquanto duraram, e que agora é salvo dos efeitos nefastos da crise por uma intervenção providencial do Estado. Benefícios para os privados, perdas para o público (…) não posso estar mais de acordo!
.
.