quarta-feira, fevereiro 11

PROMOÇÃO DA IGUALDADE


Já se sabe que “o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo” é um dos pontos polémicos da “moção política de orientação nacional”, apresentada por José Sócrates, ao próximo Congresso do PS. As versões que circulam são mais que muitas e vão todas bater no mesmo ponto: “casamento homossexual”. Como esta questão integrará o programa de governo do PS às eleições legislativas, sempre será mais saudável discutir o que está colocado à discussão, pelo que transcrevo, ipsis verbis, o texto que consta na moção:

“A segunda prioridade na promoção da igualdade é o combate a todas as formas de discriminação e a remoção, na próxima legislatura, das barreiras jurídicas à realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.” - [In Capítulo 4) Democracia, alínea F) Promoção da Igualdade.]

Aqui pode ler-se uma síntese acerca da evolução política do tratamento desta questão e outra informação útil.
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O "CRIME PERFEITO"


Que me desculpem os críticos, e objectores de consciência, do futebol mas não resisto a comentar o penalty do último Porto - Benfica. De facto foi público e notório que não existiu penalty nenhum. Como sói dizer-se, na linguagem popular, o Benfica foi roubado. Outros já o foram noutras pelejas e, neste caso, deu empate. Do mal, o menos! Mas o facto mais extraordinário, ao que dizem, é que o árbitro é benfiquista. Ao ponto a que chegou a justiça! O “juiz da partida” estava com o nariz em cima do lance, viu bem e julgou mal prejudicando a equipa da qual é adepto. Por fim, arrependido, pediu desculpa! O Benfica ficou calado, assobiou para o lado, e o Sr. Pinto da Costa nem precisou de suportar o ónus da suspeição. O “crime perfeito"!
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terça-feira, fevereiro 10

I Congresso do MES - Um almoço tardio?


Meu caro Eduardo:

Começo, se mo permites, pela matéria dos autos, com comentários pontuais.

Talvez nem te esteja a corrigir, mas o que admito é que, à partida para o Congresso fundacional do MES, eu queria que os meus amigos (pessoais e políticos) saíssem. Isto era do pleno conhecimento de alguns, o que não significa que merecesse a sua concordância. Porque a quase totalidade foram para lá na melhor fé, embora sabendo que havia o risco de não terem margem para ficar. Aquilo em que eu diferia deles nem é, pelo menos no comum das situações, muito bonito: e, por isso, lhe chamei «reserva mental». Para corresponder à honestidade intelectual com que vens tratando do assunto - um assunto em que estás completamente envolvido - senti-me na obrigação compulsiva de te fazer saber que havia quem, do outro lado (o meu), tivesse por aliados os «zulus» que queriam correr com os «doutores».

Ora isso não faz de mim «tenor». Mesmo que eu tivesse qualidades pessoais para isso, ou a ambição disso - o que não era manifestamente o caso - não conseguiria sê-lo: cheguei a essa novela muito tarde e, ainda por cima, tinha de lidar em simultâneo com velhos amigos, que conhecia de ginjeira, mas também com outros, que eles bem conheciam e eu não (por se tratar de amizades que eles fizeram desde 69/70, ou seja, quando começou a minha ausência «militar»).

O que eu fiz reflecte, aliás, o que te digo: ao datar a minha carta de saída do primeiro dia dos trabalhos, eu coloquei-me na posição, de pressionar os outros, é certo, mas também na de eu próprio já não ter recuo. Afundei as caravelas, como o Cortez. Mas até nisso há distinções. Porque outro signatário, que foi o J. M. Galvão Telles, foi sendo empurrado para essa atitude. Mas não havia nele senão abertura: e a prova, que tu mesmo já invocaste, é que levou a «militância» ao ponto de arranjar uma sede de que era ele, obviamente, o verdadeiro penhor.

O que eu queria não fica retratado com aquilo a que chamas «federação inorgânica de grupos convergentes», porque era mais simples (ainda que pouco maduro, admito hoje). O que eu queria era que entrássemos para o PS, mas ganhando o tempo de um compasso de espera com dois fins: a) O primeiro e mais importante, era deixar passar a fase do PS como cabeça da frente nacional de resistência ao esquerdismo (o que arrastaria também o desbloqueamento de algumas tensões que subsistiam entre o Melo Antunes e «os 9», de um lado, e a direcção do PS, do outro); o segundo era permitir a «digestão» e o «luto», de que a maior parte dos meus amigos políticos carecia após o malogro da aposta no MES. Era, pois, necessário um interinato. E, para esse, eu queria um «grilo do Pinóquio», um «clube» de reflexão ao qual, numa carta que ainda enviei de Moçambique, eu chamava, assumindo o paradoxo, um «PSU sem carácter partidário». De facto, a «coisa» tinha de ser compatível com filiações partidárias. Por exótica que tal liberdade hoje pareça. Basta citar o caso do César Oliveira, que não aceitaria acompanhar uma saída conjunta, se ficasse tão dela prisioneiro quanto se sentia no MES. Ora, com pequenas adaptações, foi o que veio a suceder com a saída do MES em grupo e a criação do grupo de Intervenção Socialista (que durou até à nossa entrada para o PS, em 1978) não andou longe disso.

Quanto ao decurso do Congresso. De facto, já sabíamos que a maioria (a tal a que eu chamava «zululãndia») iria fazer valer os seus direitos e colocar os «doutores» em minoria. Mas havia dois imponderáveis. O primeiro era saber se resistiriam, no contexto da época, à assunção formal do marxismo-leninismo. O segundo era quais os sinais que dariam a essa minoria, indiciadores da tolerância e flexibilidade com que se preparavam para tratá-la. Ora as respostas dadas foram ambas claras. Na primeira questão, porque o obreirismo patente nalguns discursos já falaria por si mesmo, mas o marxismo-leninismo foi, de facto, formalmente proclamado na moção que viria a ser a vencedora. Na segunda questão, porque os discursos da maioria podiam reflectir três hipotéticas atitudes: afirmar princípios, mas ressalvar algum pluralismo; fingir - algo «arrogantemente», diria eu - que a minoria nem existia; ou, na prática, convidá-la a sair. A nossa percepção foi a de poucos discursos se terem colocado na primeira hipótese, quase todos se colocando na segunda e o Afonso ter encarnado explicitamente a terceira (numa resposta explícita e «ad hominem» ao discurso anterior do Jorge Sampaio). Claro que o factor geracional - eu diria mesmo de amizade pessoal - que a muitos de nós ligava o Afonso teve o efeito «demolidor» de que tu falas.

Para terminar, quero só esclarecer que não foram poucas as pessoas que quiseram então largar o nascente MES, mas sem qualquer propósito de virem a ligar-se ao PS ou a qualquer outro partido. O César, por exemplo, viria a militar na UEDS; o João Bénard ou a Luísa Castilho são exemplos dos muitos que, nos primórdios de 1978, não quiseram acompanhar a entrada no PS e preferiram ficar independentes.

Quanto ao resto, meu caro Eduardo, não estou em condições de discutir o muito mais que vais apreciando e comentando: a aventura do MES até ao fim. Mas reitero que muito me impressionou o teu raríssimo e genuíno esforço de autocrítica, nos textos que já publicaste na blogosfera. Além do mais, gostei muito da conversa. E nem desgostei da refeição. É, pois, uma experiência a repetir, se e quando estiveres para aí virado.

Abraço
Nuno (Brederode Santos)
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segunda-feira, fevereiro 9

I Congresso do MES - Um almoço tardio com o Nuno Brederode Santos


Julgo não cometer nenhuma inconfidência grave se revelar que, um dia destes, almocei com o Nuno Brederode Santos. Os anos passaram e as minhas incursões pelas memórias do MES fizeram despertar nele, no meu entendimento, a necessidade de uma reflexão acerca de algumas reservas mentais que apimentaram a batalha do I Congresso do MES nos finais do ano da graça de 1974.

Curiosamente ficámos a saber, no decurso do repasto, que o nosso regresso às lides políticas, ocorreu em Outubro desse ano pelas mesmíssimas razões. Ele «guerreava» em Moçambique, no curso de uma longa comissão na guerra que combatíamos, eu «guerreava» na magna tarefa de instruir levas de milicianos - alguns deles ilustres intelectuais da nossa praça - habilitando-os para a deserção ou para o combate numa das frentes dessa guerra, para nós, desditosa.

Além de agradável, no plano pessoal, como haveria sempre de ser, a conversa revelou-me algumas facetas do primeiro conclave do MES que se me haviam varrido da memória e que, como consequência, levaram a omissões involuntárias nas anteriores deambulações que empreendi acerca do tema. Não é que a coisa tenha uma importância por aí além mas, na verdade, nunca me tinha apercebido de que o Nuno, ele próprio, fora um dos principais, senão o principal, tenor da tese da ruptura.

Se tivesse sido alcançada uma conciliação de posições permitindo manter a unidade, que acabou por se quebrar com estrondo no I Congresso do MES, seria uma derrota para a sua tese que, pelo que entendi, preconizava a criação de uma espécie de federação, inorgânica, de grupos convergentes que, sem um compromisso demasiado vincado com as forças partidárias emergentes, permitiria ganhar tempo, congregando vontades, para a formulação de um programa político à margem da inevitável opção entre um «compromisso histórico entre famílias socialistas» ou uma deriva esquerdista.

O Nuno revelou-me ainda algo que se me tinha varrido da memória e que, na sua opinião, foi um factor decisivo, pelo seu efeito psicológico, na consumação da ruptura com o MES daquele que seria conhecido como o grupo de Jorge Sampaio: uma intervenção radical, em pleno Congresso, de Afonso de Barros, filho de Henrique de Barros que, por razões geracionais era tido como elemento próximo do grupo com o qual, naquele momento, romperia de forma brutal.

Com essa intervenção de Afonso de Barros, da qual não me lembro uma palavra, NBS deu, de imediato, como adquirida a vitória da sua tese, fundada numa confessada reserva mental, ou seja, a da inevitabilidade da ruptura ainda antes da formalização do MES como partido político.Pois sendo a ruptura consumada num momento anterior ao acto final do I Congresso, não seria a reserva mental que presidiu à estratégia dos dissidentes revelada nem estes jamais seriam dissidentes de um partido ao qual, afinal, nunca haviam aderido.

Com esta revelação mais se vincou a ideia, que sempre tenho acalentado, de que teria sido possível celebrar um acordo entre as partes desavindas, com o empenho de meia dúzia daqueles a que NBS sempre designou por «zulus», derrotando a sua tese que, acabou por sair vencedora aproveitando a imaturidade, pessoal e política, da maioria desses «zulus» entre os quais eu me incluía.

Assim andámos todos, de um e outro lado, anos a fio, na dúvida acerca do lugar exacto, e do papel de cada um, nos acontecimentos dos primórdios do MES como se fosse importante manter reservas e distâncias quando a ruptura, provavelmente, nunca se chegou a concretizar pelo simples facto de nunca se ter criado o «corpus partidário» que poderia ter sido alvo dela.

O MES foi, porventura, um mal entendido extinto por quase todos os que se haviam confrontado no I Congresso, através do celebrado, e inédito, convívio de 7 de Novembro de 1981. Só faltam esclarecer uns pormenores que, com a passagem do tempo, se refinaram ganhando a patine das preciosidades inúteis que todas as famílias rejubilam em poder contar como património comum.
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domingo, fevereiro 8

INTERNET SEGURA

A notícia, em si, tem actualidade e razão de ser. Mas o que não se entende é a ignorância revelada pelos comentários nos quais se afirma que, em Portugal, nada está feito no campo da utilização esclarecida, crítica e segura da internet na escola (e na sociedade). Que eu conheça, sem esforço de pesquisa, existem dois programas em fase adiantada e madura de desenvolvimento. O SeguraNet e o DADUS, mais o seu blog. O primeiro é de iniciativa do Ministério da Educação, através da Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC) e o segundo resulta de uma parceria entre esta Direcção Geral e a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD). Neste campo há sempre muita coisa por fazer mas não vale a pena – a bem da verdade – fazer passar a ideia de que nada se faz e posso, por experiência própria, testemunhar que o que se está a fazer é muito bem feito. Somos, afinal, quase sempre melhores do que pintam os “Velhos do Restelo”.
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sábado, fevereiro 7

ESTIVADORAS ESTIVADORES

Aqui as tens, ali as tive. Gerações de pessoas de trabalho, com seriedade devo escrever Trabalho e acrescentar-lhe o que de mais importante o Trabalho tem dentro e por fora e que são as Pessoas que aqui simbolicamente representam colegas a quem chamam companheiros, companheiras, irmãos, irmãs.

ITÁLIA À BEIRA DO ABISMO


É, no mínimo, inquietante a situação em Itália. O caso Eluana Englaro fez emergir, com violência inusitada, a pulsão ditatorial de Berlusconi. Entretidos com novelas policiais domésticas, sofrendo as sequelas da crise financeira e económica global, sujeitos à indigência do jornalismo nacional, a opinião pública portuguesa está longe de dar-se conta da gravidade dos acontecimentos que, no presente momento, ocorrem em Itália. Um dos países fundadores da União Europeia está à beira de ver consumado um golpe de estado que deitará por terra os princípios do estado de direito democrático.
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sexta-feira, fevereiro 6

CARTA ABERTA DO PADRE JOSÉ CONRADO A RAÚL CASTRO


Carta abierta del padre José Conrado a Raúl Castro

El sacerdote católico José Conrado Rodríguez Alegre, de la parroquia Santa Teresita del Niño Jesús en la Arquidiócesis de Santiago de Cuba, ha escrito y hecho pública esta Carta Abierta al General de Ejército Raúl Castro Ruz. El portal Desde Cuba se complace en darla a conocer a sus lectores, haciendo saber que no existen inconvenientes para que se reproduzca en cualquier medio dentro o fuera de Cuba. TAMBÉM AQUI.
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quinta-feira, fevereiro 5

PS - ACIMA DOS 40%

Clicar na imagem para aumentar

Mais uma sondagem. Gosto de acompanhar a dança das sondagens, barómetros da opinião pública, porque alimentam as expectativas que são, afinal, um dos principais ingredientes da política. Esta não apresenta nenhuma novidade a não ser o título que encabeça a notícia: Bipartidarismo perde para a esquerda. É verdade, mas esconde a dura realidade da queda do PSD num tempo que, pelo contrário, deveria ser de forte erosão do PS. Afinal o PS, apesar de cair 0,8%, cai menos do que o PSD, mantendo-se acima dos 40%. É preciso ainda tomar em atenção que os trabalhos de campo desta sondagem já abarcarem o período mais duro da última campanha contra Sócrates.
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O CORPO E O ESPÍRITO

Carla Bruni

É só para relembrar que este é o rosto da primeira-dama de França. A beleza, neste caso, revelou-se não ser, afinal, um contratempo político. Camus apreciaria, certamente, esta primeira-dama apesar de ter escrito: “O pensamento está sempre à frente. Ele vê muito longe, mais longe do que o corpo que está no presente. Suprimir a esperança, é reconduzir o pensamento para o corpo. E o corpo terá de apodrecer.” [In Cadernos.]
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segunda-feira, fevereiro 2

ESTABILIDADE!!!


É claro que, como sói dizer-se, as sondagens valem o que valem. Além do mais, nesta época pesada de sombras, os especialistas olham para os dias de trabalho de campo e cotejam-nos com os dias das complexas e cirúrgicas operações noticiosas. E dirão que o resultado desta sondagem é anterior aos piores dias, das piores notícias, para o governo e o seu chefe. Mas esta, como outras, é o que é, ou seja, em duas palavras: o PS estabiliza, o PSD desce, o PCP ultrapassa o BE e o PP ... sobe.
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PODER NO MASCULINO

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domingo, fevereiro 1

Paisagens


Reli todos estes cadernos – desde o primeiro. O que saltou à vista: as paisagens desaparecem pouco a pouco. O cancro moderno também me rói a mim.

Camus - Caderno nº 5, pelo verão de 1947. (De uma edição antiga da “Livros do Brasil” intitulada “Primeiros Cadernos” contendo, num só volume, todos os Cadernos editados em Portugal.)
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sexta-feira, janeiro 30

CICUTA


Acabei de ver num semanário on-line o link para o texto integral da carta rogatória da polícia inglesa. Não a vou ler pois não sei nada de criminologia, nem sequer sei se é uma ciência, ou uma curiosidade, inventada por polícias estudiosos. Além do mais é uma peça de um processo em segredo de justiça! (segredo de justiça?). O que sei é o que sinto, e vejo, no dia-a-dia como cidadão comum. Não sei se a criminalidade aumentou, ou diminuiu, apesar das estatísticas, o que sei é que a sua notoriedade, em certas épocas, aumenta através de uma barragem de notícias avassaladoras, e angustiantes, para o comum dos cidadãos. Quem manuseia a argamassa na qual se misturam as instâncias politica, mediática e judicial, sem distinção de cores e credos? Quem faz a gestão da agenda que deixa cair, gota a gota, a cicuta que envenena a opinião pública? E a credibilidade da democracia!
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quinta-feira, janeiro 29

O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas.


Ouvi dizer a caminho de casa, no meio da repetição ensurdecedora de um slogan criado a partir de uma carta rogatória oriunda da polícia inglesa (a polícia inglesa?): o 1º ministro vai falar ao país. Acabou de falar. O 1º ministro resiste. Faz bem, embora como escreveu Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.”

O poema que se segue, do meu último livrinho, tem como epígrafe uma outra frase de Camus que vem mesmo a propósito: “O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas”. Foi escrito numa época de outras campanhas negras e tem só dois versos:

As aves volteiam em torno de nossas cabeças:
o espaço está cheio de aves cruéis e perigosas. *
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quarta-feira, janeiro 28

MÚSICA DA NOVA GERAÇÃO

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A tentação comum de todas as inteligências:o cinismo.

“A tentação comum de todas as inteligências: o cinismo.”

“La tentation commune à toutes les intelligences: le cynisme.”



Do outro lado de um coração que pensa

insidiosa

a tirania elogia o caos à beira do abismo

e conclama

a tentação comum de todas as inteligências:

o cinismo.


* Citação de 1938, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 2 (Setembro de 1937 – Abril de 1939) - página 85, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier II (Septembre 1937 – avril 1939) – página 855, Oeuvres complètes – II. [In Caderno de Poesia]
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terça-feira, janeiro 27

MANUEL COELHO

Conheço o Manuel Coelho desde os tempos do movimento estudantil, tempos de rebeldia, vai para muitos anos, e sempre o tive na conta de uma pessoa afável, séria e solidária. Passei a vê-lo, de quando em vez, na televisão, no exercício das funções de Presidente da Câmara Municipal de Sines respondendo a críticas à sua gestão da autarquia e uma vez, ao que pude entender, defendendo-se de uma torpe acusação relacionada com o exercício da sua profissão de médico. Confesso que sempre me interroguei como seria a sua relação com o Partido ao qual, certamente por convicção, tinha aderido e em cujas listas tem sido eleito Presidente da CM de Sines. Hoje, de forma inesperada, voltei a encontrar-me com o Manuel Coelho dos tempos da nossa rebeldia. É preciso coragem para romper com 35 anos de militância partidária, seja qual for o partido, ainda para mais tratando-se do PCP. A luta pela liberdade vale sempre a pena. Um abraço.
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segunda-feira, janeiro 26

Políticas de valorização do primeiro ciclo do ensino básico em Portugal

Jason DeMarte

AVALIAÇÃO INTERNACIONAL PARA O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – 2008 (OCDE)

Peter Matthews, Elisabeth Klaver, Judit Lannert, Gearóid Ó Conluain e Alexandre Ventura

A abordagem de Portugal à reforma educativa está também a atrair a atenção internacional. O presente relatório merece ser estudado por outros países que enfrentam questões e desafios semelhantes, porque apresenta um excelente estudo de caso sobre como implementar uma reforma com êxito, e, simultaneamente, como conseguir melhorias efectivas dos resultados educativos. Na verdade, este relatório constituirá uma fonte valiosa para a OCDE ter em consideração no trabalho a realizar para apoiar outros países nos seus esforços para reformular políticas educativas que promovam a melhoria dos resultados dos alunos. (Do prefácio).

O Ministério pediu – e nós realizámos – uma avaliação totalmente imparcial e independente dos elementos mais importantes relativos à reorganização do primeiro ciclo do ensino básico. Queremos felicitar o governo pelo enorme sucesso alcançado nos últimos três anos, mas também chamar a atenção, nas nossas recomendações, para aspectos que acreditamos que podem ser melhorados ou mais desenvolvidos à medida que o sistema for evoluindo. Verificámos que o Ministério tem um conhecimento preciso e está bem informado dos pontos fortes do sistema e das áreas que devem ser melhoradas ou desenvolvidas. Esperamos que as nossas observações sejam úteis.(Da Introdução)
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domingo, janeiro 25

A CRISE NO CENTRO DO SISTEMA

Dois apontamentos, através da comunicação social, acerca da crise. Obama reclama meios excepcionais para atacar uma crise sem precedentes. O Reino Unido que, com a Islândia e a Suíça, está fora da moeda única, enfrenta o risco da bancarrota.
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sábado, janeiro 24

O BLOG DE OBAMA

Este é o WhiteHouse Blog de Obama. Em Change has come to WhiteHouse.gov, Macon Phillips, Director da “New Media”, apresenta as três prioridades da administração Obama nesta área:

Communication -- Americans are eager for information about the state of the economy, national security and a host of other issues. This site will feature timely and in-depth content meant to keep everyone up-to-date and educated. Check out the briefing room, keep tabs on the blog (RSS feed) and take a moment to sign up for e-mail updates from the President and his administration so you can be sure to know about major announcements and decisions.
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Transparency -- President Obama has committed to making his administration the most open and transparent in history, and WhiteHouse.gov will play a major role in delivering on that promise. The President's executive orders and proclamations will be published for everyone to review, and that’s just the beginning of our efforts to provide a window for all Americans into the business of the government. You can also learn about some of the senior leadership in the new administration and about the President’s policy priorities.
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Participation -- President Obama started his career as a community organizer on the South Side of Chicago, where he saw firsthand what people can do when they come together for a common cause. Citizen participation will be a priority for the Administration, and the internet will play an important role in that. One significant addition to WhiteHouse.gov reflects a campaign promise from the President: we will publish all non-emergency legislation to the website for five days, and allow the public to review and comment before the President signs it.
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UMA QUESTÃO DE OPORTUNIDADE


Uma explicação para a oportunidade de certas notícias. Um exercício estimulante para a compreensão do papel dos “escândalos” políticos no comportamento do eleitorado. As datas, os calendários, as instituições, os “média”, os personagens, as perdas milionárias, a crise, os sentimentos, os gráficos, o sentido das curvas … anteriores “escândalos” são sempre, curiosa e oportunamente, lembrados, o que me fez lembrar Camus, citando Molière (no Prefácio do Tartufo): “Não há coisa suficientemente inocente a que os homens não possam juntar o crime.” Estar atento, por experiência própria, a este detalhe e não embarcar nas derivas populistas sejam quais forem os alvos da sua fúria assassina.
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quinta-feira, janeiro 22

HAJA VERGONHA!

Esta é uma daquelas notícias que mereceria o caixote do lixo não fosse o caso de me despertar um profundo enojamento. O partido dirigido pelo ex-ministro da defesa Paulo Portas condecorado, em 4 de Maio de 2005, por Donald Rumsfeld, ex-ministro da defesa de Bush, saúda a política e os princípios que sempre condenou. Haja vergonha!
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OBAMA: O REGRESSO AOS VELHOS VALORES

O que mais me impressionou no discurso de posse de Obama, 44º Presidente dos Estados Unidos, foi a coragem de enunciar velhos valores que receava terem sido arredados para sempre do centro do discurso político. São os valores que orientaram a vida de meus pais, e dos pais dos meus pais, e que quero deixar de herança a meu filho. Pode ser que a palavra, ao mesmo tempo, erudita e cidadã, de Obama, Presidente, seja a semente da qual nasça uma nova esperança para o futuro do homem: “trabalho árduo e honestidade, coragem e fair play, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo”. Que viva!

Porque, por mais que o governo possa e deva fazer, a nação assenta na fé e na determinação do povo americano. É a generosidade de acomodar o desconhecido quando os diques rebentam, o altruísmo dos trabalhadores que preferem reduzir os seus horários a ver um amigo perder o emprego que nos revelam quem somos nas nossas horas mais sombrias. É a coragem do bombeiro ao entrar por uma escada cheia de fumo, mas também a disponibilidade dos pais para criar um filho, que acabará por selar o nosso destino. Os nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com que os enfrentamos podem ser novos. Mas os valores de que depende o nosso sucesso – trabalho árduo e honestidade, coragem e fair play, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo – estas coisas são antigas. Estas coisas são verdadeiras. Têm sido a força silenciosa do progresso ao longo da nossa história. O que é pedido, então, é o regresso a essas verdades. O que nos é exigido agora é uma nova era de responsabilidade – um reconhecimento, da parte de cada americano, de que temos obrigações para connosco, com a nossa nação, e com o mundo, deveres que aceitamos com satisfação e não com má vontade, firmes no conhecimento de que nada satisfaz mais o espírito, nem define o nosso carácter, do que entregarmo-nos todos a uma tarefa difícil. Este é o preço e a promessa da cidadania.
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A AMIZADE SUAVE E DISCRETA DAS MULHERES

“31 de Março.
Tenho a sensação de emergir pouco a pouco.
A amizade suave e discreta das mulheres.”

“31 mars.
Il me semble que j´émerge peu à peu.
L´amitié douce et retenue des femmes. »*


Sei do teu prazer em desejar a amizade

suave, à distância e dela te bastares sem

dizer nada, discreta a arte de ser mulher.


* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 24, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 806, Oeuvres complètes – II.

[No Caderno de Poesia]
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terça-feira, janeiro 20

OBAMA - DIA 0

Escrevo no momento histórico da investidura do Obama no palco do mundo em que se transformou aquele pequeno espaço ocupado por um só homem que, em breve, será um homem só. A sua cabeça encher-se-á de cabelos brancos e o seu rosto vincar-se-á com a passagem do tempo e o peso das responsabilidades. Não duvido que Obama é um homem diferente e será um Presidente diferente; que existirá uma América antes de Obama e outra América depois de Obama; que o mundo olhará para a América com mais esperança no futuro e menos reverência pelo passado; que milhões de cidadãos, sem distinção de pátria, género, raça e condição social, que não tinham em quem acreditar, ao menos por um momento, se sentirão irmanados por uma fé que lhes iluminará os rostos; que muitas lágrimas serão vertidas no pressentimento que um novo coração baterá, a partir de hoje, no corpo da velha política. Policy!
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segunda-feira, janeiro 19

AMOR E RELIGIÃO

Fotografia do final da segunda década do século passado - ramo materno da minha família, com os meus avós, na ponta esquerda, a minha mãe e meu tio, crianças, sentadas, em baixo, à esquerda. [Clique para aumentar]

Tenho uma convicção muito forte – que os meus traços físicos não desmentem - de que sou fruto do amor longínquo entre um(a) muçulmano(a) e um(a) cristão (ã). O que hei-de pensar dos amores trilhados, a sul, pelos meus antepassados? Como foi possível o amor sobreviver no seio de tão fundas diferenças religiosas? Será que o amor é mais forte que a religião?
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domingo, janeiro 18

CARTA DE OBAMA A SUAS FILHAS

These are the things I want for you - to grow up in a world with no limits on your dreams and no achievements beyond your reach, and to grow into compassionate, committed women who will help build that world. And I want every child to have the same chances to learn and dream and grow and thrive that you girls have. That's why I've taken our family on this great adventure.

(Texto integral no IR AO FUNDO E VOLTAR com uma tradução para português de um sítio brasileiro do qual reproduzo a fotografia.)
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OBAMA: FALTAM 2 DIAS

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sábado, janeiro 17

MANUELA: PRESA NO SEU LABIRINTO


Uma nota para o estado da arte das sondagens com a ajuda do Margens de Erro. A última que foi divulgada confirma, no essencial, que o PSD, com Manuela Ferreira Leite, não descola. Com pequenas oscilações a posição relativa dos vários partidos apresenta uma tendência de estabilidade com o PS sempre na frente com intenções de voto em torno dos 40%. O outro facto notável é a ascensão do Bloco de Esquerda. Para o partido de oposição que, no nosso regime rotativista, é candidato a ser governo, a liderança de Ferreira Leite tem mostrado ser demasiado fraca, apresentando intenções de voto sempre abaixo dos 30%. Para agravar a situação os indicadores de popularidade dos líderes apontam para uma sistemática descida de Ferreira Leite. Não é de admirar que se pressagie, a curto prazo, um cenário de queda da actual liderança do PSD. Na política não há milagres e mesmo o agravamento da crise económica, com significativos impactos sociais, não favorece Manuela Ferreira Leite que, a cada prestação pública, transmite a imagem de se debater num ciclo infernal de luta pela sobrevivência. Parece mais próxima do seu fim, presa no labirinto do partido, do que do início de uma caminhada para uma vitória eleitoral nas próximas eleições legislativas. O assunto é sério!
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sexta-feira, janeiro 16

Sully


Desde que, ontem, comecei a ver, em directo, as estranhas imagens do avião flutuante e, mais tarde, as que mostravam a ilusão dos passageiros a caminhar sobre a água, que me lembrei da tripulação que havia de ter conduzido a manobra desesperada e salvadora. Eis aqui um herói desconhecido e, ainda por cima, cinquentão. Dá para continuar a acreditar na capacidade do homem na luta contra a adversidade.
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quarta-feira, janeiro 14

O PATRIARCA TEM QUE ESCLARECER

Pensava eu que Portugal era um dos países da Europa com maior capacidade de aceitação das diferenças, incluindo as religiosas, mau grado o cinismo que encobre certas formas de aceitação das diferenças; pensava eu que conhecia o patriarca de Lisboa como um homem aberto às diferenças e ao diálogo, tolerante perante todos os perigos que sempre acompanham os audazes; pensava eu que Portugal era um país que se podia ufanar de contar com um líder da Igreja Católica afável no trato, clarividente nas ideias e moderado na apreciação das outras religiões. Não creio ter-me enganado. Espero que o Patriarca esclareça, de viva voz, perante os portugueses, e o mundo, o que quis dizer pois não deve ter cuidado o suficiente a expressão do seu pensamento.
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terça-feira, janeiro 13

EDUARDO LOURENÇO POR ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Sábado jantei com Eduardo Lourenço. No fim disse que não queria boleia, que o hotel era mesmo ali e vi-o atravessar a rua em baixo, sozinho, um pouco curvado, no seu passo miúdo e comoveu-me vê-lo caminhar noite fora, de cachecol ao pescoço, a ferver de vida entre os candeeiros. Eu passo o tempo a delirar, dizia ele, mas só deliro para dentro porque se delirar para fora internam-me. E fico a assistir, calado, enquanto fala.

Breve resenha histórica da imprensa do MES - O jornal «Poder Popular» (III)


A aventura do jornal Esquerda Socialista decorreu entre 12 de Setembro de 1974, data da edição do nº 0, e 16 de Julho de 1975, com a saída do nº 38. Considerando o nº 0, e a edição especial de 13 de Março de 1975, foram publicados 40 números do Esquerda Socialista. Desde a edição do nº 1, a 16 de Outubro de 1974, o jornal saiu, sem interrupções, com uma periodicidade semanal, durante dez meses.

O outro órgão de imprensa do MES - o Poder Popular - foi criado no âmbito da campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte. O seu título corresponde plenamente à deriva esquerdista do MES, dando eco a uma das palavras de ordem adoptadas: «Lutar, Criar, Poder Popular».

A 1ª série consistiu em 7 números, editados entre 3 e 23 de Abril de 1975, formato grande, semelhante ao do DN da época, com uma tiragem de 10 000 exemplares, em edição bissemanal - às quintas-feiras e domingos. O seu director foi o Paulo Bárcia, tendo sido impresso na ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas) e, ao que consta, não deixou dívidas.

A 2ª série do Poder Popular tem início em 23 de Julho de 1975, com o fim do Esquerda Socialista, anunciando que este jornal se havia de transformar na revista teórica do MES, da qual em breve sairia o primeiro número. Tal nunca viria a acontecer não passando de uma ideia que, embora sempre estivesse presente, nunca foi concretizada.

Esta série do PP atravessa todo o período mais conturbado da revolução, desde o «Verão Quente» de 1975 até à campanha presidencial de Otelo, sendo no nº 48, publicado em 21 de Julho de 1976, divulgados os resultados das eleições presidenciais. Até ao nº 29 o director foi Fernando Ribeiro Mendes sendo tal tarefa, na sequência do II Congresso, atribuída a Eduardo Ferro Rodrigues, que dirigiu o PP do nº 30 ao nº 48.

A 3ª série do PP foi dada à estampa entre Julho de 1976 e Fevereiro de 1978, com a edição de 16 números, a partir do nº 49, no qual se comemorava o 2º aniversário do jornal. O seu director, neste período, foi o subscritor destas linhas (até ao nº 61) que se viu a braços com uma situação política brevemente caracterizada, num relatório interno, nos seguintes termos:

«- o desânimo e o desencanto, pós-presidenciais, de largos sectores revolucionários, …; - o fracasso progressivo dos GDUPs/MUP; - a existência de fortes divergências internas que, pela 1ª vez na nossa história, se põem duma forma aberta e atravessam o Partido, a sua direcção e os quadros mais activos; são as tomadas de posição polémicas face ao MUP, e a saída (no nº 54) da famosa Resolução da 8ª Reunião do CC …».

A 4ª série do PP é publicada entre 1 de Fevereiro de 1978, (nº 65) e 13 Julho (nº 76) do mesmo ano, desde o nº 62, sob a direcção de Augusto Mateus, tendo sido o canto de cisne da imprensa do MES. No seu conjunto foram editados, entre 2 de Abril de 1975 e 13 de Julho de 1978, 83 números do Poder Popular.

O que estava em discussão, nesta última fase do MES, politicamente activo, era a urgente necessidade de romper com as ilusões revolucionárias, reconhecendo a legitimidade da democracia representativa, ou burguesa, na linguagem da época, orientação que, embora de forma mitigada, a Resolução da 8ª Reunião consagra, abandonando, ao mesmo tempo, a politica de alianças com os pequenos partidos da esquerda.

Só aquando das eleições legislativas intercalares de 1979, o MES assumiu publicamente esta nova política, com o anúncio de que não concorreria a essas eleições apelando, através de uma declaração de Vitor Wengorovius, ao voto no PS ou na APU.
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segunda-feira, janeiro 12

CRISTIANO RONALDO

Ronaldo ganhou o prémio maior da “arte” do futebol. Não é pequena coisa ganhar um prémio mundial atribuído ao mérito individual. É um jovem de origem humilde que, pelo talento e pelo trabalho, ascendeu na escala social. Já sei dos negócios que se perfilam nos bastidores. Na cerimónia falou em português, agradeceu a quem devia e no fim, surpreendentemente, disse “divirtam-se”. Interessante. Na entrevista final, de saída para o avião, de regresso ao trabalho, deu uma lição de humildade: não há tempo para celebrações que 4ª feira há jogo e todos os jogos são decisivos. Hoje a sua imagem correrá mundo elevando a notícia às manchetes em todas as línguas. O português Cristiano Ronaldo foi coroado como o melhor do mundo na sua arte. É pouco, é muito? Nenhum outro acontecimento é capaz de projectar com maior impacto a imagem de Portugal. Tenho muita pena. É o futebol!
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GALP - CONTRA A DEFLAÇÃO

Galp aumenta preços dos combustíveis – parece mentira mas é verdade! Na vertigem da queda do preço do petróleo a Galp consegue vislumbrar uma nesga para fazer um aumento intercalar. É obra!
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sábado, janeiro 10

MEDITEMOS

Acredito que Mário Crespo não tenha razão nenhuma mas o desmentido da PR é demasiado sério para a sem razão de Mário Crespo. O facto de o desmentido ter sido desmentido, logo no dia seguinte, pela manchete do Expresso não deixa de ser inquietante. A verdade é que se avoluma a sensação de que, no ano de todas as eleições, a oposição política ao governo se deslocou para a Presidência da República. Meditemos!
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terça-feira, janeiro 6

ÀS VOLTAS COM UMA ENTREVISTA


Ontem vi a entrevista do primeiro-ministro na SIC. Ao contrário do que já ouvi não acho que a agressividade dos entrevistadores tenha algo de criticável. A vida de primeiro-ministro é sempre dura e ainda mais dura numa época de crise e na véspera da divulgação da previsão de que Portugal, em 2009, entrará em recessão se não entrou já em finais de 2008. Esta é uma daquelas épocas propícias aos maiores ódios e ressentimentos que despontam nas frinchas abertas pela frustração de expectativas.

Nestas circunstâncias o que marca a entrevista de Sócrates é a sua capacidade em manter, no essencial, a linha de um discurso político coerente deixando duas marcas fortes que são essenciais para o futuro da apreciação política dos méritos do governo maioritário do PS e do próprio primeiro-ministro:

1) Este primeiro-ministro quis mostrar que não foge às dificuldades, nem deserta do seu posto, ao contrário do que aconteceu com outros primeiros ministro no passado recente da nossa democracia; poder-se-á dizer, à maneira popular, que é “teso e hirto” o que, valha a verdade, é o que povo mais aprecia e uma parte das elites detesta;

2) Este primeiro-ministro quis mostrar que, numa situação de profunda crise do sistema financeiro e da incerteza generalizada acerca do futuro da economia, a nível global, não vacila em defender as políticas do seu governo, em todas as áreas, não deixando cair ministros e ousando, à distância, pedir uma nova maioria absoluta dando-se ao luxo de argumentar, o que nunca ouvi a qualquer outro primeiro-ministro, que não poderia deixar de a pedir pois o contrário seria reconhecer a sua própria fraqueza. (por palavras minhas.)

É claro que sem a agressividade dos entrevistadores não seria possível que se destacassem, além do mais, as palavras amáveis dirigidas a Manuel Alegre e uma abertura, que parece inevitável, à esquerda a começar pela arrumação do próprio PS. Até onde chegará esta intuição? É o que vamos ver nos próximos meses.
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QUIQUE FLORES

Eu já tinha lido esta entrevista mas não me queria meter em futebóis, ou seja, não queria meter os futebóis no blogue. Mas como o Fernando Seara, no serão futebolístico da SIC Notícias, a puxou para cima da mesa aqui a deixo para desfrute de todos.

QUIQUE FLORES, para quem não saiba, treinador do Benfica, diz umas coisas simpáticas em relação a Portugal mas mostra aspirações, no plano profissional, a ir mais longe. No que ele se foi meter logo no dia seguinte a ter perdido o jogo com o último classificado.

Também não se entende muito bem o que veio fazer para Portugal se a sua ideia é fazer uma carreira na Europa dos futebóis … Mas lá que o homem tem pinta é verdade e, além disso, apesar da derrota de ontem, o Benfica, ao contrário do costume, continua em posição de disputar o título de campeão.
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segunda-feira, janeiro 5

COMO NA POLÍTICA!

James Friedman

Esta notícia faz-me acreditar que 5ª ou 6ª feira desta semana poderá nevar em Lisboa. Fico feliz com a expectativa apesar da baixa probabilidade de chover nesses dias. Criei uma ilusão. Se nevar, e não estiver a dormir, sairei à rua. Só se sai à rua atrás de ilusões. Como na política!
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domingo, janeiro 4

CAMUS - PELO 49º ANIVERSÁRIO DA SUA MORTE

Henri Cartier-Bresson - FRANCE. Paris. French writer Albert CAMUS. Around 1945.

Encontrei, por acaso, uma recolha de 25 citações do Cadernos II – que acolhe os apontamentos escritos por Camus entre Janeiro de 1942 e Abril de 1948. É muito interessante a proximidade desta escrita com a que, muitas vezes, somos levados a exercitar nos blogues.

1 – Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.

2 - Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais.

3 - Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...

4 – Bob: nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.

5 - A reputação. É-nos dada por medíocres e partilhamo-la com medíocres e malandros.

6 - Peste. Há neste momento portos longínquos cuja água é rósea na hora do crepúsculo.

7 - 1 De Setembro de 1943.
Aquele que desespera dos acontecimentos é um cobarde, mas aquele que tem esperança na condição humana é um louco.

8 - (Dos mentirosos) “E não há nada onde a força de um cavalo melhor se conheça do que ao fazer uma paragem súbita.”

9 - O tempo não corre depressa quando o observamos. Sente-se vigiado. Mas tira partido das nossas distracções. Talvez haja mesmo dois tempos, o que observamos e o que nos transforma.

10 - Não posso viver fora da beleza.
É o que me torna fraco diante de certos seres.

11 - A espessura das nuvens diminuiu. Logo que o sol se libertou, as terras começaram a fumegar.

13 - Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa.

14 - 11 De Novembro. Como ratazanas (*).

15 - Quantos esforços desmedidos para ser apenas normal!

16 - O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui!

17 - A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário.

18 - Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.

19 - O coração a envelhecer. Ter amado e nada todavia ser salvo!

20 – Dezembro. Esse coração cheio de lágrimas e de noite.

21 – Escreve-se nos momentos de desespero. Mas o que é o desespero?

22 - É preciso atravessar todo o país do amor antes de encontrar a chama do desejo.

23 -...foi quando tudo ficou coberto de neve que reparei que as portas e as janelas eram azuis

24 - Sei o que é o domingo para um homem pobre que trabalha.

25 - Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.

(*) – O desembarque aliado na África do Norte separa Camus da sua terra e dos seus.
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sexta-feira, janeiro 2

A OCIDENTE NADA DE NOVO

Ontem ouvi o discurso de Ano Novo. Interessante. Porquê? Suscitou manifestações de aplauso de todos os partidos. Na véspera e ante véspera tinham sido promulgados pelo PR dois diplomas do governo: avaliação de desempenho dos professores e orçamento de estado para 2009. A crise institucional, insinuada através das mais diversas fontes, não deu sinal de vida. Queimou-se fogo de artifício. Talvez seja necessário esperar pelo calendário eleitoral. A ocidente nada de novo!

quinta-feira, janeiro 1

50 ANOS


Um dos melhores retratos possíveis do fracasso da Revolução Cubana está contido neste post, entre todos os que já publiquei acerca de Cuba, intitulado “Cuba me dói”.
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