quinta-feira, março 11

PS NA FRENTE - POR ENTRE VENTOS E MARÉS


Desde há muito tempo que não sublinho sondagens que têm vindo a ser divulgadas. Mas esta merece ser sublinhada. Está para emergir uma nova liderança no PSD. Esse facto, seja qual for o vencedor, abrirá uma nova fase na vida política nacional. A seu tempo veremos os seus efeitos nas expectativas dos cidadãos face ao futuro. Mas convenhamos que permanecer na frente - com um avanço de 8 pontos - após tão intensa e persistente campanha contra o PS, o 1º ministro e o governo, é obra. Sondagens são sondagens, valem o que valem, mas quase que sou capaz de apostar que o presidente da República já sabia os resultados desta antes da entrevista que ontem concedeu à RTP.
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[Ver aqui.]
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Ver também o Barómetro da Eurosondagem no Expresso.
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quarta-feira, março 10

TEMPOS DIFÍCEIS


Em Portugal a direita política, fraca de ideologia, não aceita que lhe disputem a influência nos negócios que a esquerda da esquerda abomina. Mas, afinal, o que são os negócios senão a tão discutida economia. Há-os, em todo o tempo e lugar, limpos e sujos, servidos por gente honesta e por crápulas, nos sectores privado, público e social. No tempo da sociedade da informação a liberdade está na ponta dos nossos dedos mais do que pensam alguns energúmenos cujo maior prazer é vigiar os passos dos amantes da liberdade.
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terça-feira, março 9

O BANQUEIRO DOS POBRES

Impulsionado pelo dever do ofício estou a terminar a leitura atenta de um livro que já deveria ter lido, na íntegra, mais cedo. Não admira, pois sou tardio em tudo. O livro é “O banqueiro dos Pobres” de Muhammad Yunus. A descrição de uma experiência de luta contra a pobreza.

Deixo alguns sublinhados de leitura a começar pela primeira frase do primeiro capítulo: “ O ano de 1974 marcou-me para sempre.” Também a mim! No caso de Yunus a razão foi “o ano da terrível fome que se abateu sobre o Bangledesh” no meu caso, está claro, foi o 25 de Abril.

Os bancos diziam-me que os pobres não eram dignos de crédito. A minha primeira reacção foi responder-lhes: “Como é que sabem isso? Nunca lhes emprestaram nada. Não serão talvez os bancos que não são dignos das pessoas.” [A desilusão antecipada perante o modelo financista neste caso levada ao limite.]

Os programas de microcrédito insuflaram a energia da economia de mercado nas aldeias e populações mais deserdadas do planeta. Ao abordar-se a luta contra a pobreza numa óptica de mercado, permitiu-se que milhões de indivíduos saíssem dela com dignidade.” [Numa só frase identifica-se uma das maiores dificuldades da apropriação pela esquerda da filosofia do modelo de Yunus: “a luta contra a pobreza numa óptica de mercado.”]

Aprendi também que as coisas nunca são tão complicadas como se imagina. É a nossa arrogância que tem tendência para procurar soluções complexas para problemas simples.” [Uma réstia de esperança.]

(Continua.)
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segunda-feira, março 8

MULHER




A terra e o corpo eram o mundo possível; a terra penetrava os poros, tisnava a pele, sujava as feridas; a terra cantava sob a correria dos pés descalços; a terra e os corpos entoavam as canções de embalar e de trabalho, da eira ao arado, do varejo ao rabisco; olhava as mulheres como se fossem rainhas que um dia haviam de dançar mil danças rodopiando nos braços do seu par; via-as sempre a dançar em seus sorrisos e suas gritas; as mulheres do tempo de as ver somente com uma admiração que me vinha de dentro. Não sabia nada delas mas via-as e amava-as como se fossem a terra que segurava as minhas raízes ao chão da vida. [4/2/2008]


[Pelo Dia Internacional da Mulher.]
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MÁRIO SOARES - ENTREVISTA A TEREZA DE SOUSA

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domingo, março 7

AS SETE MARAVILHAS NATURAIS DE PORTUGAL



Parque Natural da Ria Formosa

É difícil escolher, entre vinte e uma, as sete maravilhas naturais de Portugal. A escolha, está bem de ver, é difícil. A minha escolha, absolutamente subjectiva, está estampada na fotografia. Nasci e vivi a minha infância com a beleza da Ria Formosa entrando-me pelos olhos e enchendo-me os sentidos. Votação aqui.


sexta-feira, março 5

A PERFEIÇÃO DO NADA


















Fotografia de Hélder Gonçalves

Um poeta morre e os jornais choram,
soluçam os amigos do homem e aquela
que o amou e as que não o esqueceram.
Alcançou enfim a eternidade, ele. Tanto
lhe faz já este ano ou o próximo, os vinte
séculos da nossa civilização ou o fim dela
e de nós todos. Agora ele senta-se à beira
das florestas irreais do sonho, perto dos
lagos. O conceito de tempo é-lhe inacessível,
já não limita a sua ideia do real. Deixou-nos
as palavras arrumadas nos livros, trabalho
ou prazer apurados. Contou-nos episódios
da sua experiência, mesmo quando nada
tinham a ver com a sua biografia real. Não
há nada mais irrisório do que aspirar a
escrever um poema sobre o poeta
que acaba de morrer. O tempo, só ele,
o ressuscitará, antes de deixá-lo de novo
esquecido na poeira dos séculos. Inexistente
o que um dia existiu. De que serve os
outros falarem de nós? Viver e construir
a nossa morte com sabedoria. Só isso
conta. Será verdade que as palavras
deixaram de cumprir o seu dever? Pode
não ser. No mundo que o poeta organizou
pedaços de si foram-nos legados como aviso
e consolação. Agora, depois dos últimos
dias de sofrimento, o poeta descansa enfim
em paz, longe do desejo e do remorso.
Atingiu a perfeição insensível do nada.

João Camilo, in “A Ambição Sublime”, Fenda
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quinta-feira, março 4

No quiero que se muera.

O sacrifício de Guillermo Fariñas tem feito com que desfile no meu pensamento um tema predilecto de Camus: “Revolta. Liberdade em relação à morte. Já não há outra liberdade possível em face da liberdade de matar além da liberdade de morrer, quer dizer, a supressão do medo da morte e a arrumação desse acidente na ordem das coisas naturais. Esforçar-me por isso.” (In Caderno nº5).
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segunda-feira, março 1

A FÚRIA DO VENTO

David H. Gibson

Sábado passado na hora do vendaval maior fui à janela chamado pela fúria do vento. Vi um homem seco aventurar-se a pé ao passeio de sábado. De repente caiu a uma rajada mais forte. O boné foi levado pelo vento. Não havia ninguém em volta. Saí porta fora em seu auxílio. Quando cheguei perto dele já lá estavam três pessoas. Foi levado ao colo para a farmácia ali a dois passos. Não conseguia andar. Sentou-se e amaldiçoou a sua sorte. A dor na perna era o menos. O que temia era a reprimenda da filha que o não queria deixar sair a pé. O Sr. António tem 98 anos e no próximo dia 25 de Abril fará 99. Soube da sua boca, sentado e sem perder a lucidez nem o espírito de humor. Quem havia de dizer! O pessoal da farmácia chamou o 112. A filha apareceu de seguida e logo o genro. Procurei o boné mas não o encontrei. O pessoal do 112 não tardou. Foi atencioso e resolveu que era melhor levar o Sr. António ao hospital de Santa Maria. Acomodado na maca seguiu acompanhado. No dia seguinte, para surpresa minha, deparei-me com um boné depositado à saída de casa. Era o boné do Sr. António. Se tudo tiver corrido bem no hospital fiz prova que a solidariedade existe e se recomenda.

domingo, fevereiro 28

Angel di Maria

Tenho para mim que vale pena dedicar hoje umas linhas ao Benfica de ontem e ao artífice do seu sucesso.  Já repararam que no meio das intempéries das desgraças e das crises o futebol mesmo também em crise não pára. Ainda me lembro quando em Portugal os jogos se jogavam aos domingos à tarde libertos da tirania das receitas da TV e começavam todos, em simultâneo, sempre às 3 da tarde. Era um dos poucos exemplos nacionais de pontualidade uma herança que vinha das ilhas britânicas como o próprio jogo. Mas o Benfica de ontem à chuva confirmou uma expectativa que nos faz também regressar, tal como a pontualidade no horário dos jogos, aos velhos tempos. O Benfica pode mesmo vir a ser campeão mas desta vez a sua mais valia não é originária das colónias mas do mercado sul-americano. Já me tinha dado conta, apesar de todas as oscilações, mas é provável que o Benfica disponha entre os seus de um dos jogadores mais valiosos do futebol mundial: Angel di Maria. O futuro o dirá.
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quinta-feira, fevereiro 25

SPORTING ... FINALMENTE!

O Sporting desta noite merece uma referência especial e um aplauso. Não sei se foi uma redenção ocasional ou o anúncio de uma fase positiva numa época tão conturbada. Ver-se-á no jogo seguinte com o F.C. Porto. Mas derrotar, de forma categórica, o Everton que derrotou recentemente os colossos do futebol inglês é obra.
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CUBA: CONDENAR A TIRANIA

É um facto incompreensível, ou talvez não, que a morte de um preso politico em Cuba, mereça tão pouca atenção em Portugal. É estranho. Será porque uma parte dos defensores da liberdade em Portugal são simpatizantes da ditadura em Cuba? Uma contradição? Coisa de somenos!Chafurdando nas sarjetas  lutam, quase todos, pela sobrevivência económica a pretexto das ameaças à liberdade em Portugal. A condenação das verdadeiras tiranias é um pormenor deixado ao cuidado dos ingénuos! [Imagem daqui.]
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PARECE QUE HÁ QUEM SE PREOCUPE!
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Orlando Zapata Tamayo, operário, de 42 anos, pensava diferentemente do que pensa o seu governo. E dizia-o, o que, em Cuba (e não só), é coisa particularmente perigosa. Foi detido com outros activistas dos direitos humanos em 2003 e condenado a três anos de prisão por "desobediência", entretanto multiplicados por 12 (36 anos!) por persistir em "desobedecer" mesmo preso.

Morreu ontem, após 85 dias de greve de fome em protesto pelas torturas de que era vítima na prisão. Era um dos muitos presos de consciência que, segundo a AI, apodrecem em cadeias cubanas. A mãe, a quem foi entregue o corpo, conta que tinha as costas "tatuadas de pancada". Cuba é um problema que, como muita gente da minha geração, tenho comigo mesmo. Nos anos 60, quando o pesadelo soviético era mais que evidente, a Revolução Cubana iluminou de súbito o nosso sonho de uma sociedade livre e igualitária, e tanto desejámos esse sonho que aceitámos qualquer desculpa para as suas traições. Acordámos dele a custo para descobrir, como Sam Spade em "O falcão de Malta", de Dashiell Hammett, que é chumbo a matéria de que são feitos os sonhos.
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A revolução cubana ao contrário. AUDIO.
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Quién mató a Orlando Zapata?
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Mataram Zapata
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terça-feira, fevereiro 23

CONTRA FACTOS, A NARRATIVA


Marina Edith Calvo

Acho, tenho a firme convicção, que a maioria dos políticos, gestores, dirigentes, cidadãos activos, em todos os campos ideológicos, partidários ou profissionais, são pessoas normais que, no contexto em que lhes é dado trabalhar, dão o melhor que podem e sabem para cumprir com o seu dever. Para além das notícias do dia (as notícias do dia nascem onde?) no quotidiano das nossas sociedades circulam milhões de mensagens, trocam-se milhões de palavras, admiram-se milhões de imagens, iluminam-se rostos, abrem-se sorrisos, sofrem-se dores, movem-se corpos, ardem os desejos, saram as feridas, trabalha-se, estuda-se, reflecte-se, decide-se, ganha-se e perde-se, um novelo complexo de relações e, no entanto, as notícias do dia continuam a obedecer a critérios editoriais, fontes, mãos, ouvidos e recados. Os factos deveriam contar mais do que tudo o resto, situados no seu contexto, contribuindo para valorizar ou desvalorizar os seus protagonistas. Mas Contra factos, a narrativa
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TRANSPARÊNCIA E PARTICIPAÇÃO PÚBLICA


A TRAGÉDIA NÃO SE ESCONDE


Perante a tragédia que põe a nu as fragilidades do modelo de desenvolvimento da Madeira, tema quase proibido, emerge o Portugal solidário. Suspendem-se as hostilidades políticas que encheram horas nos noticiários dos últimos tempos. A Madeira terá todo o apoio de que necessitar, apoio político e recursos materiais e financeiros, nacionais e comunitários, necessários a uma rápida reparação dos efeitos da tragédia. O continente não regateia meios no apoio à Madeira e os “cubanos” choram a morte dos seus irmãos madeirenses. Mas na Madeira o líder do governo – sem escândalo dos aprendizes/defensores da liberdade de imprensa – apela à contenção da comunicação social, subliminarmente auto censura, esquecendo que as notícias para a média das democracias liberais dependem tão só da importância dos acontecimentos.
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domingo, fevereiro 21

MADEIRA

Eu vi este jogo do Real Madrid. Cristiano Ronaldo foi o mais influente e o melhor de todos os protagonistas. E o seu gesto de solidariedade com a Madeira foi, certamente, o mais visto de todos os gestos de solidariedade. [AQUI]
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O DESASTRE DA MADEIRA

O desastre natural na Madeira aplacou as fúrias políticas. Estamos todos de acordo em sair em socorro de uma parcela do país que sofre. O debate acerca do orçamento da Madeira foi levado na enxurrada. Ironia triste: logo após o carnaval o discurso da tragédia sobrepõe-se ao discurso da comédia. O dircurso da solidariedade sobrepõe-se ao discurso do confronto.
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sábado, fevereiro 20

MANOBRAS PRESIDENCIAIS


Ryan Zoghlin

Compreendo que surjam candidatos a cargos políticos que se declarem do outro lado da barricada da política, para além da política ou contra a política ou, ainda mais, além da política partidária. Buscam capitalizar o descontentamento popular que, em certas épocas, perante o aparente desconcerto da política julgam favorecer um discurso apartidário senão mesmo anti-partidos. O problema é que o Presidente da República, o mais alto magistrado da Nação, é o vértice do nosso sistema político, o mais político de todos os cargos políticos num regime democrático de partidos. Este é o busílis da questão. Logo os candidatos a Presidente da República podem apresentar-se como melhor quiserem mas se não quiserem protagonizar um projecto minoritário, derrotado à partida, logo mudarão de discurso e aceitarão de braços abertos os apoios político-partidários. Se querem que vos diga, sem desdenhar de qualquer candidato já no terreno, ou em gestação, pressinto que a esquerda democrática nestas eleições vai passar ao lado... Que aproveite então, liderada pelo PS, para travar um debate aberto, e profundo, em torno das grandes reformas do nosso regime semi-presidencialista - lei eleitoral, regionalização, reforma da organização político-administrativa, sistema de justiça … Quer-me parecer que, nas próximas eleições presidenciais, a direita vai apresentar um candidato único contra uma constelação de candidatos de esquerda. Se o candidato da direita for o que está escrito nas estrelas … logo voltaremos ao assunto em Janeiro de 2016. Salvo se as contingências da vida, de súbito, revirarem tudo do avesso abrindo a incerteza acerca dos resultados da próxima disputa. Nessa altura voltaremos ainda ao assunto em Janeiro de 2011. A seguir atentamente …



sexta-feira, fevereiro 19

Ao ponto a que isto chegou ...


PLÁGIO DIZEM ELES - UMA DENÚNCIA QUE PODE VALER MUITO DINHEIRO MAS AO MENOS A MATÉRIA EM CAUSA FOI PUBLICADA PELOS PRÓPRIOS.
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terça-feira, fevereiro 16

O que os meus olhos viram

Rita Bernstein


Eu vi os partidos extremos da esquerda e da direita obrigarem um governo em apuros a reduzir a receita e aumentar a despesa. A direita tem tendência a reduzir a receita e a esquerda tende a aumentar a despesa. Mas ver os dois extremos coligados para defender ambas as coisas, era coisa nunca vista.

Eu vi o Dr. Jardim propor uma coligação dos partidos extremos da direita e esquerda. O Dr. Jardim costuma dizer coisas espantosas. Mas pensar num governo composto por Paulo Portas, Ferreira Leite, Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, é ainda mais espantoso.

Eu vi Felícia Cabrita fazer um “most” jornalístico com a divulgação de processos judiciais sigilosos, tal como fizera nos casos Freeport e Casa Pia. Eu sei como ela consegue obter os segredos mais bem guardados. Mas ver o País pendurado das iniciativas desta mulher, é coisa arrepiante.

Eu vi dois magistrados da província, depois de cuscarem conversas entre jovens negociadores, convencerem-se de que existia um plano para destruir o Estado de Direito. Os jovens apenas falavam de nos livrar da fúria justiceira de Manuela Moura Guedes e seu marido. Achar que o casal Moniz é o Estado de Direito, deve ser anedota.

Eu vi a comunicação social dizer que não existe liberdade de expressão em Portugal, enquanto usava a liberdade de atacar o poder de forma nunca vista. Eu lembro-me do tempo em que não existia liberdade de expressão. Dizer que ela não existe agora, soa-me deveras estranho.

segunda-feira, fevereiro 15

FUTEBOL - A BOLHA ESPECULATIVA PRESTES A REBENTAR
























Um alerta de JEAN-MICHEL AULAS Presidente do Olympique de Lyon:

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Whatever Works

Fui ao cinema num dia frio em boa companhia. Não é banal, nos dias de hoje, ir ao cinema. Ir ao cinema é um reencontro com a magia daqueles que são capazes de inventar um olhar sobre eles próprios, os outros e o mundo. Mesmo quando só mediano Woody Allen é um criador que cumpre com a missão do criador verdadeiro: educar divertindo. Por isso sou um fiel admirador do seu cinema.

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sexta-feira, fevereiro 12

BOM SENSO E EQUILIBRIO

Fotografia daqui

Acho que a consequência imediata desta campanha para descredibilizar o PM na sequência de outras (ainda se lembram do caso Freeport?) e de outras, que antecederam estas (lembram-se de Ferro Rodrigues – o secretário geral do PS que antecedeu Sócrates?), se destinam a aveludar o caminho por onde a direita espera fazer entrar triunfalmente um “salvador da pátria”. Mas a coisa, desta vez, começa a assemelhar-se ao ensaio geral de uma operação de demolição do próprio regime democrático. Neste caso não há brigadas vermelhas com raptos físicos de primeiros-ministros, à maneira italiana, nem golpes de mão (armada) ao parlamento, com atentados bombistas, à maneira espanhola, mas um sequestro mediático das mais altas figuras do estado incluindo as que ocupam o topo das instituições da justiça. Além da aliança dos extremos, que não constitui especial novidade pois já em França, em tempos, o eleitorado comunista desertou do seu campo em apoio da extrema-direita de Le Pen, há uma faceta nova da campanha doméstica em curso: atar num só molho todas as mais altas figuras do estado democrático, desfazer a imagem de probidade de todas e de cada uma, fazendo-as surgir aos olhos da opinião pública como fracas, titubeantes e coniventes com negócios obscuros sugerindo o seu mútuo encobrimento. Uma coisa é certa que deve ser do conhecimento dos homens de estado: quando a justiça se acobarda, ou se mostra inútil, credibiliza as derivas totalitárias. Os extremos sentem-se estimulados e os democratas de todas as tendências políticas desmoralizam e descrêem na ordem em que acreditam. É preciso que os cidadãos de boa vontade encontrem caminhos para fazer sentir a necessidade, e urgência, de que todos os responsáveis públicos, não só os políticos, façam um esforço extra de bom senso e equilibrio no exercício de todas as suas responsabilidades e funções - - e também aqui.
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quinta-feira, fevereiro 11

Dificuldades


ARTE POÉTICA III


Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. E apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.


Sophia de Mello Breyner Andresen - Arte Poética III

quarta-feira, fevereiro 10

O TEMPO E O MODO
























A Fundação Mário Soares, pela sua acção, tem prestado um inestimável contributo para o conhecimento e divulgação da história contemporânea portuguesa. Veja-se a divulgação online da revista O Tempo e o Modo. Clique em Revistas de Ideias e Cultura. [A partir do Almanaque Republicano.]
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terça-feira, fevereiro 9

PARA GRANDES MALES, GRANDES REMÉDIOS!

John Delaney

Quando, por estes dias, oiço falar que a liberdade de imprensa está em perigo dá-me vontade de rir. Não consigo conter a minha perplexidade perante o beco obtuso a que nos conduz a propaganda da direita. No lugar onde eu me encontro, como a maioria dos mortais, tento resolver problemas comezinhos que são muito importantes para todos e cada um. A liberdade e, mais que tudo, a sua perda é um tema muito sério que não deve, nem merece, ser banalizado. Se os partidos da oposição acham que a liberdade de imprensa está em risco devem agir em conformidade com a gravidade do seu juízo: moção de censura ao governo! Para grandes males, grandes remédios. Ou não?
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sábado, fevereiro 6

A VER VAMOS!

Fotografia de Hélder Gonçalves

Passos Coelho contra posição do PSD na questão das Finanças Regionais

Ninguém deu grande destaque, nem atribuiu demasiada importância, a esta declaração de Passos Coelho. Mas quer-me parecer que ela é prenunciadora de algumas mudanças significativas no panorama político português a curto/médio prazo. A ver vamos como rolam as cenas dos próximos capítulos da novela interna do PSD!


sexta-feira, fevereiro 5

ALMUNIA

Ontem foi um dia pleno de acontecimentos contraditórios. Porque eu próprio estive envolvido num acontecimento com marca positiva quase não deu para dar atenção às notícias. Entre outras só pela noite ouvi a porta-voz do Comissário Almunia tentar branquear a sua declaração incendiária. As declarações dos políticos profissionais, no exercício de funções, nunca são feitas por acaso, nem improvisadas. O João Pinto e Castro identifica, de forma sintética, a natureza do que está em causa no episódio Almunia.
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segunda-feira, fevereiro 1

MANUEL SERRA MORREU

Manuel Serra deve ter sido o dirigente político português que, na segunda metade do século XX, mais participou em movimentos  para derrubar a ditadura. O homem de todas as revoltas. A sua biografia deverá estar a ser, por esta hora, divulgada. No dia em que o telefone soou para me anunciar a morte de meu pai estava reunido com ele para tratar de um assunto profissional: a criação de uma escola profissional. Mais tarde encontrei-o e revelou-me que, nas vésperas dos primeiros Congressos do MES e do PS, em Dezembro de 1974, se tinha reunido com o Vítor Wengorovius para discutir a eventual entrada do MES no PS em apoio à sua corrente que ameaçava derrotar Mário Soares. Nada se concretizou e a notícia foi uma surpresa para mim que nunca ouvira falar em tal diligência. Mas aquele era o tempo em que tudo era possível, o tempo de todas as ousadias. A sua coragem, cívica e física, era notável. Que viva!
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