domingo, abril 29

ANIVERSÁRIO (II)

Os meus agradecimentos pelas mensagens, vindas por terra, mar e ar, a propósito do meu aniversário. É a vida!
(Deixo mais uma fotografia enviada pelo meu amigo Hélder Gonçalves, em Tavira nos idos dos anos 80, na qual estão retratadas a Francisca Moura e a Margarida Ramos, acompanhadas por mim próprio.)

sábado, abril 28

ANIVERSÁRIO

Aniversário, sempre igual, sempre diferente, um ano mais de caminhada, sempre com os olhos postos no futuro, a vida, o trabalho, o gesto comum que se aprecia, um olhar, uma palavra, nada mais simples do que festejar, o mais, o menos, o que se deseja, olhos abertos ao céu que ilumina o mundo, ao mar que reflete o sonho, ir mais além, de cabeça levantada sem temor de nada, a não ser nunca ter agradecido o suficiente aos que sempre nos amaram. Haja saúde!

Fotografia enviada agora mesmo pelo Hélder Gonçalves (no cais da doca de Faro, na espera da partida para a "Deserta", certamente, no verão passado - comigo, ele próprio, Francisca Pereira de Moura e Margarida Ramos.)

terça-feira, abril 24

25 DE ABRIL - SEMPRE (2)

Por esta hora neste dia, 24 de abril de 1974 (era uma 4ª feira), estaria no quartel, já informado que havia chegado o dia. Com os companheiros de armas mais chegados – António Cavalheiro Dias e João Mário Anjos – entramos em estado de prontidão para o que desse e viesse. Outros, por diversas vias, estariam também alerta. Já não me lembro com precisão quem terá sido o mensageiro, certamente, um oficial do quadro permanente. Conversas e contactos discretos, temperatura primaveril, tensão crescente sem contra ordens. Acertámos encontrarmo-nos, quando se aproximasse a noite, em casa do Cavalheiro Dias, em Benfica. Ao final da tarde saí do quartel, devo ter passado por casa e de seguida fui a casa do Ferro Rodrigues, na Travessa do Ferreiro, avisá-lo(s). O Sporting jogava para as competições europeias, se não erro, com uma equipa da Alemanha de Leste. Tudo parecia, apesar da tentativa falhada do 16 de março, bastante inverosímil. Um golpe de estado militar? Uma revolução? Regressei a Benfica, sempre em transportes públicos, para me juntar aos companheiros de armas. A espera valeu a pena. Seguiu-se a madrugada mais longa, e inesperada, da minha vida. Muitos haviam lutado, sem sucesso, pelo advento da liberdade e, finalmente, fez-se-lhes justiça. Lembro o General Humberto Delgado.

Fotografias de Carlos Gil

domingo, abril 22

25 DE ABRIL, SEMPRE!

Hoje, em 1974, era uma segunda feira. Devo ter entrado no quartel, no Campo Grande, em Lisboa, de manhã cedo. Por esses dias falava-se de forma mais ou menos aberta que alguma coisa estaria para acontecer. Quem cumpria o serviço militar obrigatório - no meu caso desde outubro de 1971 - sabia, ou tinha a perceção, que o regime - 48 anos após o 28 de maio de 1926 - iria sofrer o derradeiro golpe. Faço muitas vezes uma analogia com a vida de meu pai, nascido em 1910, que só conheceu a cor da liberdade aos 63 anos de idade. Se o movimento militar que foi desencadeado na quarta feira seguinte, dia 25 de abril de 1974, não fosse bem sucedido seria mais uma desilusão de consequências imprevisíveis. Naqueles últimos dois dias viveu-se num frenesim pejado de ansiedade. Tinha a idade que o meu filho tem hoje e, pela conjugação de uma vasta constelação de circunstâncias, coube-me a felicidade de ter participado no movimento que devolveu a liberdade aos portugueses. Mesmo em beneficio daqueles que, ainda hoje, dela dispondo a combatem. A melhor forma de contrariar os inimigos da liberdade é cerrar fileiras na defesa do regime democrático, das suas instituições representativas, em particular das que se constituem através de eleições livres. São mil vezes preferíveis os defeitos de um regime fundado em eleições livres, do que as "virtudes" da uma ordem fundada no silêncio e na obediência aos ditames de uma tirania.

Fotografia de Hélder Gonçalves

segunda-feira, abril 16

NAQUELA NOITE - O ATAQUE

Quando no passado sábado escrevi acerca de "UM PEQUENO PROBLEMA - AS AMEAÇAS DE GUERRA" não sabia que poucas horas depois os USA+GB+FR iriam desencadear um ataque militar contra alvos escolhidos na Síria. Por acaso nessa noite de sábado adormeci tarde. Li bastante acerca da guerra, os clássicos, e não aprecio a guerra. O que a história nos ensina, sem necessidade de altos estudos acerca do tema, é que, através da guerra, sempre esteve em jogo o controle das rotas, a superioridade no acesso às matérias primas, e sua exploração, em suma, o domínio dos espaços. Hoje em dia não sei se ainda será assim. Como disse Francisco, O Papa, o tempo é superior ao espaço. O que julgo saber deste ataque cirúrgico mostra-nos algumas características, aparentemente, surpreendentes: o ataque não provocou vitimas humanas (assim parece), tendo como alvo fábricas de produção de armas químicas não há notícia de libertação de gazes (dizem que as misseis utilizados impedem essa libertação), as "forças do mal" ultimavam, por esses dias, a eliminação de um reduto que ninguém desmente ser dominado por radicais (terroristas?), salvo Macron, May e Trump precisam desesperadamente de criar focos poderosos de distração para as crises no exercício do seu poder interno, ...
Sejam quais forem as razões trata-se de uma nova abordagem da guerra pelas potências ocidentais, tendo como certo que a Rússia, por razões estratégicas, jamais deixará cair a Síria chiita, aliada do Irão chiita, sendo certo também que a Rússia, tal como a aliada China, jamais serão derrotadas militarmente salvo se algum louco, em lugar de comando, desencadear uma guerra nuclear letal para todos.

sábado, abril 14

UM PEQUENO PROBLEMA - AS AMEAÇAS DE GUERRA

Ontem, ou seja, por estes dias de abril de 2018, surgiram, de forma expressa, referências a ameaças de guerra a partir da sempre presente crise no Médio Oriente. Não é matéria que se possa menosprezar nas atuais circunstâncias do mundo e das lideranças politicas das potências (USA e Rússia).
Ao contrário do que afirmam certos comentaristas não é pelo facto de se expressarem as ameaças, às claras, que a guerra não ocorrerá. E a ocorrer, a guerra nos nossos dias, poderá ser letal não somente numa região do mundo mas a nível global.

domingo, abril 8

LULA

Não conheço nada do processo que conduziu à indiciação de Lula e à sua prisão. Hoje em dia, com tudo o que oiço pelas notícias, não acredito em nada que não conheça. Não sei, pois, nada deste processo judicial mas assisti ontem ao discurso de Lula.

Pode ter sido o último discurso público de Lula. Pode existir uma multidão que o abomine como politico. Pode o discurso politico ter-se banalizado e perdido o prestígio de outros tempos. Pode Lula ser culpado ou inocente, o seu discurso autêntico ou manipulador. Mas ao ouvi-lo, no contexto em que foi proferido, estamos perante um momento raro, e extraordinário, da história politica de todos os tempos.

quarta-feira, abril 4

SUBSÍDIOS

A luta pelos subsídios públicos é das coisas mais tristes das nossas sociedades em todos os tempos. Os critérios para atribuir subsídios exigem um jogo de cedências e de cálculos que, em regra, rebaixam a ética republicana. É muito fácil o mérito ceder ao favor. Deveria existir um portal para exposição pública de todos os subsídios concedidos pelo Estado a entidades, seja qual for a sua natureza, e a particulares. É uma questão de justiça e de transparência que nada prejudicaria a concessão de subsídios justos.

sexta-feira, março 30

As notícias são muito desanimadoras

As notícias que nos chegam do mundo são muito desanimadoras. As potências vigiam-se mutuamente e ensaiam manobram de intimidação na disputa dos espaços vitais a todos os níveis. Fica-se com a sensação de estarem em curso manobras de pré guerra sem que o comum dos mortais seja capaz de escapar a um cada vez mais forte sentimento de insegurança. Não me refiro a situações em concreto pois estou certo que, por detrás das que são noticiadas, avulta uma realidade desconhecida das opiniões públicas. As ameaças à paz são sempre acompanhadas pela degradação das democracias e pela limitação das liberdades. O movimento em curso pode não desembocar numa guerra convencional pois não sabemos como se desenhará a guerra do futuro. Ou se não estará já em curso, no presente, a guerra do futuro. As notícias que nos chegam do mundo são muito desanimadoras.

quarta-feira, março 21

Tudo vai correr bem

No momento em que foi tornado público que o Eduardo Ferro Rodrigues, amigo indefetivel de longa data, vai ser operado, os meus desejos de que tudo corra pelo melhor. E assim vai ser. Republico um texto de 11 de Abril de 2007 que lhe foi dedicado. Perdoar sim, esquecer nunca!

Na nossa sociedade, porventura em todas as sociedades, pairam no ar bandos de abutres tristes. O que mais os excita é o sangue que vislumbram no chão da vida com suas miras telescópicas. Os abutres crentes em Deus, acreditando na vida para além da morte, estão em vantagem. Os que acreditam acima de tudo na vida humana, eivada de suas vicissitudes terrenas, preocupam-se com as pedras. O título de um poema que publiquei dias atrás – “Fidelidade à Terra” – contém todo um programa que organiza a filosofia de vida daqueles que, como eu, acreditam num mundo sem Deus mas que não abdica do Sagrado.

O que mais impressiona na nossa vida pública é a capacidade de persuasão dos “media”, oráculos da verdade indesmentível sobreposta à realidade dos factos e, ainda mais, ver desfilar as legiões silenciosas dos crentes na representação da verdade falsificada. Como se a vida pública fosse uma cenografia pela qual desfila um imenso elenco de actores – primeiras figuras e figurantes – dos quais se espera que representem os papéis que os poderes mediáticos lhes impõem e destinam.

Todo o enredo foi escrito algures por alguém que aparece a público, com o rosto encoberto, sob anonimato, travestido de outrem, podendo mesmo ser assumido amigo companheiro e camarada, vertendo, gota a gota, no ar a insídia na qual se respira a trama que elimina a confiança e torna inânime a autoridade até à sua destruição final. Os abutres tristes de ontem correm sérios riscos de morrer às mãos dos abutres tristes de hoje.

Só há uma profilaxia radical para a perfídia na vida pública que todos os clássicos descrevem, com apurada argúcia e fino detalhe, – Nicolau Maquiavel – é afastarmo-nos dela sem desprezo pela coragem dos homens públicos que, afrontando os horrores da voracidade dos abutres tristes, tentam mudar a vida dos povos e das nações e que, por norma, são devorados pelas suas próprias obras e ambição. Mas, ao menos, que sejam capazes de dar aos cidadãos de boa vontade exemplos de sublime humildade ou de sábia abdicação.

(Com uma dedicatória ao Eduardo Ferro Rodrigues.)

domingo, março 18

Política

Uma semana passada sobre o Congresso do CDS nada mudou na relação de forças expressa nas sondagens, que valem o que valem. Também nada mudou na comunicação acerca de casos em torno de figuras de topo do PSD de Rio. O que pode ter mudado, ou dá sinais de mudança, é o posicionamento do PCP. Mudança de rumo, ou não, tudo vai depender dos seus resultados eleitorais - Europeias em que o PCP deverá apresentar um cabeça de lista que bem poderá ser o novo Secretário Geral pós Jerónimo - e legislativas. Em politica tudo é possível mesmo o impossível do dia presente. A ver... O Bloco acertou o passo ... Na politica portuguesa dos próximos dois anos tudo depende do BCE (taxas de juro), das Bolsas, das Bolhas, de algum gemido mais estridente dos conflitos mundiais (ou globais) em curso. Mas Portugal continuará a ser por mais uns tempos um caso de estudo na politica europeia e mundial. Assim seja ...

sábado, março 10

Congresso do CDS.

Hoje e amanhã realiza-se o Congresso do CDS. Nada surpreendente na medida em que se insere no ritual de um regime politico democrático no qual os partidos são uma pedra basilar. Por todo o mundo assiste-se à ascensão de movimentos, e partidos, populistas que alcançaram resultados eleitorais relevantes. Partidos de extrema direita, xenófobos e racistas, que se reclamam em diversos casos da matriz ideológica fascista, integram, ou ocupam, governos em diversos países europeus. (Já não me refiro aos USA!). Qual a diferença de Portugal no puzzle politico partidário nos países que integram a UE? Os partidos portugueses, situados mais à direita e à esquerda, reclamam-se do ideal democrático e têm-se mantido afastados, no essencial, das derivas populistas. É o que me parece acontecer com o CDS e que o presente Congresso revela. Um partido democrático que se assume de centro direita, de matriz democrática cristã. As pulsões populistas que, de forma difusa, se manifestam na sociedade portuguesa ainda não têm expressão politica organizada partidariamente. As razões são muitas e diversas e não cabe neste texto abordá-las. Mas devemos congratularmo-nos pela moderação politica, independentemente da retórica própria das campanhas eleitorais, de todos os partidos políticos portugueses, incluindo daqueles que se situam na margem direita e esquerda do nosso espetro partidário.

sábado, março 3

José Manuel Galvão Teles

Hoje comprei, a título excecional, o Expresso porque quis ler a entrevista do José Manuel Galvão Teles. Foi ele que permitiu por sua iniciativa, e influência, criar as infraestruturas mínimas da aventura do MES no imediato pós 25 de abril. O seu posicionamento perante a politica e a vida, a meus olhos, revela-se nesta entrevista: singular e desprendido. O seu testemunho é autêntico e, por vezes, comovente. O que ele foi capaz de fazer naqueles breves, e trepidantes, meses de abril a dezembro de 74!

Foi um dos subscritores da primeira Declaração politica do MES (com Manuel Lopes, António Rosas, António Santos Júnior, Rogério de Jesus, António Machado, Francisco Farrica, Edilberto Moço, Luís Filipe Fazendeiro, Luís Manuel Espadaneiro, Carlos Pratas, José Galamba de Oliveira, Víctor Wengorovius, Joaquim Mestre, Eduardo Ferro Rodrigues, Nuno Teotónio Pereira e César Oliveira.)

Rompeu com o MES no I Congresso, de dezembro de 74, subscrevendo um documento/moção, datado de 30 novembro de 1974, intitulado (imaginem!): “O MES E A ACTUAL FASE DA LUTA REVOLUCIONÁRIA – AS TAREFAS IMEDIATAS DO MOVIMENTO”, também subscrito por Armando Trigo e Abreu, César Oliveira, Francisco Soares, Joaquim Mestre, João Bénard da Costa, João Cravinho, Jorge Sampaio e Nuno Brederode Santos.

Marcou presença no jantar de extinção do MES, realizado em 7 de outubro de 1981, surgindo na fotografia, de autoria de António Pais, com Francisco Soares, César de Oliveira e João Cravinho.

domingo, fevereiro 25

O MEU IRMÃO DIMAS

O meu irmão Dimas morreu faz hoje 13 anos. Tempos atrás, ao despertar de um sonho, dei-me conta (coisa rara) de ter ouvido o som da sua voz, clara, distinta e plena, seria eu criança - ele adolescente - indo ao mais fundo das minhas memórias.

sábado, fevereiro 24

PSD - uma semana e o resto ...

O período imediato ao Congresso do PSD, ou seja, uma só semana, permitiu, de forma explicita, clarificar o estado da arte neste partido. Quando estamos a falar do PSD, tal como do PS, convém ter presente uma história antiga, não do pós 25 de abril de 1974, mas que enraíza nos idos da revolução industrial. Convém, além do mais, esclarecer que os partidos políticos são associações que enraízam no movimento do associativismo livre que, nos tempos modernos, resultou de uma especialização na organização das classes trabalhadoras de que resultaram associações, cooperativas, mutualidades, sindicatos e partidos. O tema está bastante bem estudado. Ver, por exemplo, Rui Namorado, in O Mistério do Cooperativismo - Da Cooperação ao Movimento Cooperativo (Almedina 2013).
O que esta semana se revelou foi algo que nada tem de novidade, ou seja, um partido dividido após uma mudança de liderança e de orientação politica, aliás mais que expetável e com um rosto de líder pré anunciado desde há muito. Não se entende, pois, o espanto de alguns com as manifestações de divergência, e divisões, vindas a público nesta semana. É nem mais nem menos do que a revelação de uma divisão entre sociais democratas e liberais (para simplificar) sendo certo que nuns e noutros existem inúmeras nuances, e interesses, que, por vezes, os unem, noutras vezes, os dividem. A crise da social democracia europeu, e mundial, manifesta-se no PSD de forma singular num contexto de um sistema politico que dispõe hoje, no seu vértice, de um social democrata moderador - Presidente da República - e de um governo socialista (igualmente da família social democrata) com o apoio parlamentar de partidos de esquerda "anti sistema", se considerarmos a sua história (raízes ideológicas e doutrinárias)e posicionamento estratégico no contexto internacional.
Para abreviar o PSD pode superar o desafio, ou fracionar-se (como já aconteceu no passado), tudo dependendo da evolução da situação económica e financeira no próximo futuro (no curto prazo de um ano e pouco) e da refundação, ou reformulação, do sistema de alianças à esquerda muito dependente da vontade politica das direções politicas de PCP e BE (querem ou não querem partilhar os desafios, e os inerentes riscos, do exercício direto, ou indireto, do poder? Ou do próprio governo?). Todos os partidos estão sempre divididos mesmo quendo aparentam, em períodos mais ou menos longos, estarem unidos. O mais apetecível do poder é viabilizar, e influenciar, decisões que marcam em aspetos cruciais a vida da comunidade (divisão do rendimento entre trabalho e capital, definição do perfil e do poder das instituições que compõem o sistema, partilha de lugares na administração aos mais diversos níveis...). Será a esquerda, na sua pluralidade, capaz de superar as suas diferenças de fundo? Será a direita capaz de sobreviver a um prolongado jejum no exercício do poder executivo? Até ao final do primeiro trimestre de 2019 teremos algumas respostas bastante elucidativas!

segunda-feira, fevereiro 19

CONGRESSOS

O Congresso do PSD foi o que seria de esperar de um modelo de Congresso tradicional, passado de moda, que carece de ser, no caso de todo os partidos, metido na gaveta. Não sei será possível acontecer em tempo útil para que evite uma grave crise - já em curso- no modelo da democracia representativa. O PSD, este final de semana, mudou de protagonistas e anunciou uma mudança de posicionamento politico, ou seja, o reconhecimento de que, no pós eleições legislativas de 2015, ocorreu uma mudança de fundo que consistiu, simplesmente, na entrada na área do poder dos partidos de esquerda que até então, desde o 25 de abril de 74, se haviam acantonado numa postura de negação.
A partir de hoje o PSD vai tentar empurrar o PS para a esquerda e, ao mesmo tempo, chamá-lo a compromissos políticos em áreas já enunciadas por PS, PSD e PR. O tempo é escasso para o reposicionamento do PSD ainda para mais cravado por divisões internas bastante expostas. Se os indicadores económicos continuarem positivos, até à véspera das eleições legislativas (verão de 2019), o PS vencerá se souber gerir as expetativas. Só em Portugal, salvo erro, na Europa democrática, o socialismo democrático e a social democracia lutam pelo poder sem, por ora, serem ameaçados por partidos populistas.
É uma bênção. Espero, com sinceridade, que sejamos todos capazes de manter a capacidade de fazer prevalecer a democracia representativa, ou seja, a capacidade do diálogo politico na diversidade.

quarta-feira, fevereiro 14

PIB

A estimativa rápida do crescimento do PIB, em 2017, (2,7%), hoje anunciada, será confirmada mais tarde e, por tradição, deverá manter-se. Duas observações rápidas: os jornais digitais desvalorizaram, ou ironizaram, tal a dificuldade em engolir o sucesso que este indicador evidencia para o país (e o governo); por outro lado lembrei-me que o ano 2000, no qual o mesmo indicador atingiu este valor, foi o que antecedeu, em 2001, uma derrota autárquica do PS e a demissão do 1º ministro Guterres. Os sucessos, tal como os insucessos, na economia e na politica, têm sempre que ser valorizados na sua insondável volatilidade.

terça-feira, fevereiro 13

GENERAL HUMBERTO DELGADO - A PASSAGEM DA CAMPANHA PRESIDENCIAL PELO ALGARVE

No dia do 53º aniversário do assassinato do General Humberto Delgado republico um post antigo que associa a minha cidade de Faro a Humberto Delgado aquando da passagem da campanha presidencial de 1958 pelo Algarve.

Visitei um dia destes o Café Aliança, na minha cidade de Faro, acompanhado pelo meu filho. Aproximei-me das mesas dos “habitués” e meti conversa:

“ – Olá! Como estão, ando atrás de uma fotografia da passagem do Humberto Delgado aqui pelo café. Está difícil de encontrar.” Todos se interessaram pela conversa e, quase todos, tinham bem presente na memória a passagem de Humberto Delgado pelo Algarve.

“Eu vi-o entrar por aquela porta, isto estava cheio de Pides"; “Eu vi duas fotografias dele, uma naquela porta e outra aqui no café!”; “Eu estava, à época, em Olhão e vi a loucura que foi a sua recepção pelo povo!” As fotografias, até hoje, não apareceram mas isso pouco importa.

Foi no dia 3 de Junho de 1958, ao fim da tarde, que Humberto Delgado chegou a Faro: “Ao cair do dia, em Faro, esperava-o uma invulgar concentração de agentes da PIDE, por toda a cidade e no hotel onde ficou hospedado.” “ – Tive de me refrear para não me atirar a eles”, confessou. “O Café Aliança serviu de palco improvisado, numa grande barafunda de populares amontoados à entrada, a revezarem-se para ouvir e ver o candidato presidencial”.

No dia seguinte (4 de Junho) Humberto Delgado rumou a Portimão, visita que o seu neto descreve a traços largos e da qual destaco um detalhe:

“À porta do cemitério, também sobressaiu em arroubos de euforia uma operária conserveira, de seu nome Maria da Conceição Ramos Matias, que utilizou nesse dia as suas moedas de poupança para oferecer flores ao general. Gritou-lhe palavras de ordem de sabor comunista e, rebentando de emoção, impôs o seu desejo de lhe cantar sozinha o Hino nacional, até que, por estar tanto calor, lhe desmaiou nos braços.”

De regresso a Faro é assinalado um almoço tardio e a arrancada para visitar Olhão. Lembro-me da aglomeração de povo à beira dos passeios nas ruas de Faro, acontecimento absolutamente inédito, só comparável com a passagem de algumas procissões e, muito mais tarde, em 1966, aquando da chegada a Faro do bispo Júlio Tavares Rebimbas.

Ninguém sabia ao certo, nem os percursos, nem os horários do General em campanha, mas o meu pai encontrou o caminho, e o momento certo, para se integrar na comitiva que percorreu os nove quilómetros ente Faro e Olhão, que eu acompanhei, ainda criança, certamente, a bordo do Ford Prefect (LH-14-11) familiar. Lembro-me ainda de ter andado na rua, pela mão de meu pai, assistindo à calorosa recepção do povo de Olhão ao General.

Que estranho influxo de coragem atravessou o coração das gentes para que ousassem mostrar, publicamente, a sua dissidência, desafiando um regime político temido pela repressão que exercia sobre os seus opositores? Nesse mesmo dia, 4 de Junho de 1958, a comitiva seguiu para Tavira, Vila Real de Santo António, subindo depois na direcção de Beja cidade na qual a campanha havia de terminar, em apoteose.

(Transcrições, de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”.)

domingo, fevereiro 11

GENERAL HUMBERTO DELGADO

No próximo dia 13 de fevereiro passam 53 anos sobre o assassinato do General Humberto Delgado. Assinalo essa triste efeméride com alguns posts acerca da sua figura e ação politica.

A sua emergência na oposição politica à ditadura ganhou expressão com a candidatura às eleições presidenciais de 1958. O anúncio da mesma ficou célebre, em 10 de Maio de 1958, na conferência de imprensa inaugural da campanha, no antigo Café Chave de Ouro, em Lisboa, com uma resposta do General ainda para mais se atentarmos ao contexto político da época em que foi proferida.

“Dez horas são dez horas!” – Cultor da pontualidade, Humberto Delgado tomou o seu lugar na mesa de honra.

Não foi preciso muito tempo para saber o que tinha Humberto Delgado a dizer quanto às suas intenções a respeito de Oliveira Salazar. Com efeito, essa pergunta delicada, perigosa e mais ansiada que todas, foi logo a primeira a ser colocada, pela boca do correspondente em Lisboa da agência France-Presse desde 1948, o jornalista Lindorfe Pinto Basto. (…)

“Sr. General, se for eleito Presidente da República, que fará do Dr. Presidente do Conselho?”

Cortando cerce o silêncio de sepulcro que se instalou no vasto salão de chá, Humberto Delgado proferiu firme e secamente estas palavras que tomando toda a gente de surpresa e de assalto, incluindo os seus mais próximos correligionários, ficaram para a posteridade e são uma das frases mais célebres e mais citadas da história contemporânea de Portugal:

“Obviamente demito-o!”*

*(… )“no entanto o jornalista Lindorfe Pinto Basto afirmaria, passados muitos anos, que a resposta de Humberto Delgado foi: “Demito-o, é óbvio!” (…)