quarta-feira, abril 28

25 de Abril - notas pessoais

A liberdade

Nos momentos de ruptura é necessário fazer escolhas. No período pós 25 de Abril as nossas escolhas resultaram, algumas vezes, de erros de avaliação resultantes de apressadas opções ideológicas e intelectuais.

Nunca duvidei, pessoalmente, da primazia que a liberdade deve tomar no confronto com a justiça. Mas, em todos os tempos, em épocas de crise, em períodos pós guerra ou pós revolução, se suscita a questão da relação entre a justiça e a liberdade.

Camus escreveu, no período pós 2ª guerra mundial, algo que sintetiza, com clareza, o alcance deste dilema: "Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso? (...) Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade..."

Foi este, em síntese, também o nosso dilema. A nossa escolha, neste dilema histórico, foi a liberdade. Hoje não me interessam tanto as pessoas com as quais partilhei os acontecimentos do passado. Interessam-me mais aquelas com as quais possa partilhar os acontecimentos do futuro.

Mas não esqueço as marcas gravadas a fogo na minha memória pelo 25 de Abril de 1974 nem as pessoas admiráveis com as quais vivi esse sonho inigualável que foi a reconquista da liberdade. Se a nossa consciência de homens livres tem algum valor preservemos a capacidade de não nos deixarmos aprisionar pelo esquecimento e pelo medo. Para que nunca se cumpra o receio que Jorge de Sena, um dia, expressou nos seus versos: "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam."

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