segunda-feira, maio 3

"Antes de Começar"

A peça de teatro que foi dada a estudar a meu filho na escola é de autoria de Almada Negreiros. Fiquei surpreendido. Não pela escolha da leitura de uma peça de teatro, que é uma boa opção pedagógica, mas pela escolha do autor.

Um grande autor português pouco dado a conhecer na nossa actualidade. É uma peça em um acto, representada no Teatro Nacional D. Maria II, em 8 de Junho de 1956, pelo "Teatro Universitário de Lisboa", sob a direcção de Fernando Amado. A peça é "Antes de Começar" e tem dois protagonistas: A Boneca e o Boneco. Mais não digo acerca da mesma.

Assinalo sim o facto de ter sido representada, naquele Teatro Nacional, por uma companhia universitária. Não tenho saudades do passado cultural do Estado Novo mas era bom que pudesse ser possível ver representadas naquele Teatro Nacional, com regularidade, peças de autores clássicos, nacionais e estrangeiros. Uma programação de qualidade, estruturada e atraente, própria de um Teatro Nacional de um país da UE. Pois, isso mesmo...Uma dinâmica…uma dinâmica qualquer…

Quem quiser saber, de um olhar, algo acerca de Almada Negreiros AQUI FICA.


Fragmentos de Leituras

"Pares de palavras-valores


Do mesmo modo, mais particularmente, não é o erótico mas sim a erotização que representa um bom valor. A erotização é uma produção do erótico. Leve, difusa, mercurial; algo que circula sem se deter: um flirt múltiplo e móvel liga o sujeito àquilo que passa, finge deter-se e depois larga-se a favor de outra coisa (e depois, por vezes, esta paisagem cambiante é cortada, seccionada por uma brusca imobilidade: o amor)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -4
(Fragmento 2 de 3, pag. 3)

Edição portuguesa das "Edições 70"

Vítimas ou carrascos

"Detidos em Abu Gharaib foram sujeitos a "abusos criminosos, sádicos e gratuitos"
Abusos a presos iraquianos eram "encorajados" pelos responsáveis dos interrogatórios" - Público

Estas notícias só são surpreendentes para quem não tenha entendido que estamos confrontados, no Iraque e não só, com uma guerra de seitas dirigidas por gente iluminada pela fé que encobre os mais lucrativos negócios.

Essa gente está de ambos os lados da barricada nos mais altos cargos. Claro que ninguém pode, em boa verdade, dispensar a fé e os negócios. Não somos ingénuos. Mas a civilização ocidental que apregoa, todos os dias, os seus pergaminhos de defensora dos direitos humanos e de prosseguir a senda do progresso, a passos gigantescos, deveria ser capaz de banir os assassinos das suas fileiras.

Ou a acção dos assassinos faz parte integrante de uma filosofia e de um programa de legitimação universal da política dos dirigentes no poder nos EUA e em Israel? Há um terrorismo "bom" e outro "mau"? Os direitos humanos são defendidos pelo terrorismo "bom" executado por "bons" assassinos? Ou são todos igualmente desprezíveis mesmo que a retórica de uns e de outros os procure desculpar e justificar à sua maneira?

É possivel que tenhamos atingido o ponto em que esta frase, desencantada, de Camus assume, novamente, actualidade: "Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos - e nada mais".


ABÉBIA VADIA

A criação de um blog colectivo, concebido e construído a várias vozes, é um desafio à criatividade e responsabilidade cívica e política dos seus autores.

A ABÉBIA VADIA tem uma semana de vida mas começou a ganhar balanço. É uma forma de intervenção que não pretende exorcizar os fantasmas dos seus editores. É mesmo um instrumento de intervenção cívica e política cujo sucesso depende da qualidade intrínseca das suas mensagens e da capacidade para ganhar uma vasta adesão em audiência.

Se ainda não visitaram a ABEBIA VADIA vão lá ver porque vale a pena

sábado, maio 1

Fragmentos de Leituras

"O corpo plural

"Que corpo? Temos vários." …Tenho um corpo digestivo, um corpo nauseável, um terceiro susceptível de enxaquecas, e assim por diante: sensual, muscular (a mão do escritor), secretivo e, principalmente, emotivo: que é emocionado, movido, ou calcado ou exaltado, ou atemorizado sem que isso se note. Por outro lado, sinto-me cativado até ao fascínio pelo corpo socializado, o corpo mitológico, o corpo artificial (o dos "travestis" japoneses) e o corpo prostituído (do actor). E além desses corpos públicos (literários, escritos) tenho, se assim poderei dizer, dois corpos locais: um corpo parisiense (desperto, cansado) e um corpo campesino (repousado, pesado)."
(Fragmento 1 de 3, pag. 3)

"Roland Barthes por Roland Barthes" -3
Edição portuguesa das "Edições 70"

sexta-feira, abril 30

Não sejam hipócritas

Não chorem "lágrimas de crocodilo" para salvar a vossa consciência suja por decisões políticas injustas, interesseiras e desproporcionadas.

Não queiram ganhar votos, nos vossos países, à custa de falso arrependimento. De uma falsa descoberta da verdade propalada com a surpresa dos vencedores envergonhados.

Os soldados da coligação cometeram crimes sem o conhecimento dos generais? Não tem novidade!

Maio

"Recordo-me ainda daquela crise de desespero que se apoderou de mim quando minha mãe me anunciou que "eu agora já era muito crescido e passaria a receber presentes úteis no dia de Ano Novo". Ainda hoje não posso evitar uma secreta crispação quando recebo presentes desta categoria.

E eu com certeza sabia que na altura era o amor que falava, mas por que motivo o amor tem por vezes uma linguagem tão absurda?"

Maio de 38

Albert Camus

ANIVERSÁRIO

A propósito do meu aniversário que, sem outra razão senão a do próprio jogo, aqui dei a conhecer no próprio dia, sempre quero assinalar um facto invulgar. Tendo decidido, em família, que a celebração seria um jantar numa pisaria muito do nosso apreço, junto ao rio, lá fomos cedo.

Éramos quatro e pretendíamos alcançar o objectivo, prosaico, de uma mesa de vistas largas. Largamos MM e B ainda antes de aparcar para cravar uma bandeira no sítio desejado.

Surpresa das surpresas lá estava já sentada, no desejado sítio, uma comitiva familiar de três amigos que me tinham acabado de presentear com os telefonemas da praxe mas que, de todo, desconheciam o nosso objectivo. É o que se chama a alquimia do sítio.

Assim se fez, então, uma celebração informal não a quatro mas a oito, ou seja, quase a festa que se não desejava. Por isso mesmo com mais sabor. Tal situação me fez lembrar uma frase de Sena, no prefácio da primeira edição de Poesia-I: "Na peregrinação que é a nossa vida, muito mais somos visitados do que visitamos."

Fragmentos de Leituras


"Roland Barthes por Roland Barthes" -2

"O à-vontade

Edonista (pois pensa sê-lo), aspira a um estado que é, em suma, o conforto; mas esse conforto é mais complicado do que o conforto doméstico, cujos elementos são fixados pela nossa sociedade: trata-se de um conforto que ele vai conseguindo, que ele vai construindo para si próprio (como o meu avô B., que tinha arranjado, no fim da vida, um pequeno estrado junto da janela para poder ver melhor o jardim ao mesmo tempo que trabalhava).

Poder-se-ia chamar, a esse conforto pessoal, o à-vontade. Ao à-vontade é conferido uma dignidade teórica. ("Não temos nada que nos pôr à distância do formalismo mas, simplesmente, à-vontade", 1971, I*) e igualmente uma forma ética: é a perda completa de todo e qualquer heroísmo, mesmo em pleno gozo."
* referência a um texto do autor de 1971: "Digressions"

(Fragmento 2 de 3, pag. 2)

Edição portuguesa das "Edições 70"


quinta-feira, abril 29

DÉFICIT

Uma notícia muito interessante acerca dos progressos da política do governo português na área de contenção da despesa pública.

"Défice público em 2003 foi de 5,3% do PIB sem medidas extraordinárias

O Banco de Portugal situa o défice orçamental português em 2003 no equivalente a 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), após a dedução das medidas extraordinárias a que o Governo recorreu.

No artigo de abertura do boletim económico de Março de 2004, divulgado esta quinta-feira, a instituição quantifica em 2,5% as medidas extraordinárias tomadas pelo Executivo do lado das receitas." Lusa

POPULISMO

Julgo não errar se considerar o Dr. Santana Lopes como o 2º mais alto responsável na hierarquia do PSD. Julgo não errar se considerar o PSD como o partido maioritário do Governo de Portugal.

Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes se declarou, explicitamente, como putativo candidato á Presidência da República. Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes apostou o prestígio político do seu desempenho, como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em duas obras emblemáticas: o "Túnel do Marquês" e o "Casino no Parque Mayer".

Julgo não errar se disser que o casino já não vai ser no Parque Mayer. Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes afirmou ou, pelo menos, insinuou que a decisão judicial que obrigou à suspensão das obras do "Túnel do Marquês" só foi possível por ele próprio ter sido induzido em erro pelo Governo que lhe mostrou a desnecessidade da realização de um "Estudo de Impacto Ambiental". De facto não é obrigatório, mas mostrava-se necessário e conveniente.

Enfim é verdade que foram publicados anúncios nos jornais a convocar para hoje uma "manif" de apoio ao Dr. Santana Lopes. Que a mesma convocatória não de sabe de quem é. Que essa manifestação foi desautorizada pelo primeiro-ministro através de notícias hoje mesmo postas a circular.

Enfim, uma trapalhada.

O populismo do Dr. Santana Lopes está a ficar às escancaras. Ao ponto de dois dos mais insignes "grandes educadores da opinião pública portuguesa",
José Manuel Fernandes, director do Público, insuspeito de ser crítico da maioria, e o arquitecto director do EXPRESSO o reconhecerem com as letras todas.

Fragmentos de Leituras


"Roland Barthes por Roland Barthes" -1

Com a anterior publicação dos meus sublinhados de juventude dos "Cadernos" de Albert Camus iniciei uma série que poderia intitular de Fragmentos de Leituras. Dou agora continuidade a essa série com as leituras do livro autobiográfico de Roland Barthes: "Roland Barthes por Roland Barthes".

Neste caso não se tratam de sublinhados mas de uma compilação de excertos que assumiram a forma de um livro artesanal anotado em cada uma de 18 das suas 23 páginas no tamanho A4. Este trabalho deverá ter sido realizado em 1981/82 e é um testemunho do prazer que a leitura daquele livro me propiciou.

Deixo, com esta série de excertos,um registo perdurável no tempo e, ao mesmo tempo, a partilha de uma leitura, por vezes difícil mas apaixonante, com aqueles que me quiserem acompanhar.

"O adjectivo
Ele suporta mal qualquer imagem de si próprio, sofre ao ser citado. Considera que a perfeição duma relação humana depende dessa ausência da imagem: abolir entre si, de um para o outro, os adjectivos; uma relação que é adjectivada está do lado da imagem, do lado da dominação, da morte.

(Era visível que em Marrocos não tinham de mim qualquer imagem: o esforço que eu fazia, como bom ocidental, para ser isto ou aquilo, ficava sem resposta: nem isto nem aquilo me eram devolvidos sob a forma dum belo adjectivo; não lhes passava pela cabeça comentar-me, antes se recusavam, sem dar conta, a alimentar e afagar o meu imaginário. Num primeiro momento, esse tom mate da relação humana tinha algo de esgotante; mas surgia, pouco a pouco, como um bem de civilização ou como a forma realmente dialéctica do convívio amoroso.) "

(Fragmento 1 de 3, pag. 2)

Edição portuguesa das "Edições 70"



quarta-feira, abril 28

28 DE ABRIL

Este dia é um dia muito especial para mim. É o dia do meu aniversário. Desde criança que neste dia ouvia na rádio, logo pela manhã, uma notícia do seguinte tipo: "Hoje é o dia de aniversário de sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho, Dr. António de Oliveira Salazar…"

Até à morte do ditador esta noticia era um estranho eco que anunciava o meu próprio aniversário. Mas não era mais do que uma mera coincidência que em nada contribuia para a lembrança da data. Minha mãe jamais esqueceria o dia do meu aniversário, assim como dos seus mais próximos, que gostava de festejar.

Tanto valorizava estas datas que morreu no dia do aniversário do seu neto mais novo, no caso o meu próprio filho, após o respectivo e alegre festejo.

25 de Abril - notas pessoais

A liberdade

Nos momentos de ruptura é necessário fazer escolhas. No período pós 25 de Abril as nossas escolhas resultaram, algumas vezes, de erros de avaliação resultantes de apressadas opções ideológicas e intelectuais.

Nunca duvidei, pessoalmente, da primazia que a liberdade deve tomar no confronto com a justiça. Mas, em todos os tempos, em épocas de crise, em períodos pós guerra ou pós revolução, se suscita a questão da relação entre a justiça e a liberdade.

Camus escreveu, no período pós 2ª guerra mundial, algo que sintetiza, com clareza, o alcance deste dilema: "Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso? (...) Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade..."

Foi este, em síntese, também o nosso dilema. A nossa escolha, neste dilema histórico, foi a liberdade. Hoje não me interessam tanto as pessoas com as quais partilhei os acontecimentos do passado. Interessam-me mais aquelas com as quais possa partilhar os acontecimentos do futuro.

Mas não esqueço as marcas gravadas a fogo na minha memória pelo 25 de Abril de 1974 nem as pessoas admiráveis com as quais vivi esse sonho inigualável que foi a reconquista da liberdade. Se a nossa consciência de homens livres tem algum valor preservemos a capacidade de não nos deixarmos aprisionar pelo esquecimento e pelo medo. Para que nunca se cumpra o receio que Jorge de Sena, um dia, expressou nos seus versos: "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam."

terça-feira, abril 27

25 de Abril - notas pessoais

Amanhã termino a edição dos 32 posts com os quais prestei a minha homenagem ao 25 de Abril.

Aquelas notas não poderiam abranger todos os detalhes dos acontecimentos em que participei. Muito longe disso. Ao longo destes dias fui-me, no entanto, deparando com documentos que julgava estarem perdidos ou com memórias que pensava ter, definitivamente, esquecido.

Talvez seja viável pensar numa publicação em que reúna estes escritos que foram destinados ao absorto aos quais poderei juntar outros desenvolvimentos e precisões. Além de algumas resenhas de documentos incluindo trabalhos gráficos. É uma questão a ponderar no futuro próximo.

Nestas notas não surgiram, por exemplo, referências a mulheres e elas tiveram um papel importante no MES apesar de não terem ocupado lugares de relevância nos órgãos dirigentes. A seu tempo, com ou sem publicação, repararei essa omissão.

XANANA GUSMÃO E O PETRÓLEO DE TIMOR

Xanana Gusmão denuncia, com as letras todas, a política da Austrália a propósito de Timor.

O apoio tardio da Austrália ao processo de independência teve sempre em vista, exclusivamente, o petróleo de Timor. Uma boa oportunidade para Portugal mostrar a coerência da sua política face a Timor.

O Presidente da República e o Governo de Portugal que mostrem à Austrália uma posição firme de apoio a Timor cuja independência carece dos proventos do petróleo que lhe pertence.

Tudo o que fizerem terá o apoio entusiástico do povo português. Ao contrário da política de apoio à invasão do Iraque. Mas, porventura, terão que se demarcar, ou mesmo hostilizar, o aliado australiano e, porventura, americano.

Mas a causa de Timor vale a pena. Tem uma história por detrás. E pode também inserir-se numa política coerente de cooperação.

Ficamos à espera.

25 de Abril - notas pessoais


Mário Viegas


O oficial miliciano mais fascinante do meu Quartel era o Mário Viegas. O seu estatuto no serviço militar era apropriado ao seu talento de actor.

Vivemos em comum aqueles momentos inesquecíveis em que a liberdade foi devolvida aos portugueses. Tinha por ele um natural fascínio que sempre me retribuiu até à sua morte prematura.

No dia 1 de Maio de 1974, se não erro, no Quartel do Campo Grande, assisti ao acontecimento mais extraordinário de toda a minha vida. Havia que festejar o que agora comemoramos com nostalgia. O refeitório foi transformado numa sala de espectáculos. Nele se reuniu toda a gente..

Imaginem o elenco daquela festa improvisada: Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas. Todos mestres geniais na sua arte. A certa altura o Mário Viegas subiu para o tampo de uma mesa e a poesia brotou, em palavras ditas, como se diante de nós se revelasse um novo mundo ou tivéssemos da vida renascido.

(31de 32 continua)


segunda-feira, abril 26

EXIGÊNCIAS ABSURDAS

A situação no Iraque, como seria de prever, atinge os píncaros do absurdo. As forças da coligação ocupante (é uma designação, apesar de tudo, simpática) sofrem ataques da resistência e somam baixas diárias.

A administração Bush manobra para encontrar uma saída airosa a tempo das eleições de Novembro. As petrolíferas, de todos os países, incluindo os críticos da intervenção militar, distribuem o saque.

O povo iraquiano, como sempre acontece nestas situações, sofre no meio do fogo cruzado dos extremismos. Os raptores de italianos, finalmente, põem como condição para poupar a vida dos reféns, que o povo italiano se manifeste nas ruas contra a guerra.

É o cúmulo da loucura! Uma vez mais a pergunta que se põe é: quem põe fim ao absurdo desta situação? Resta aos homens de boa vontade rezar! É isso?

Jorge de Sena - 1968

Folheando a Antologia da Revista "O Tempo e o Modo" dou com uma entrevista concedida por Jorge de Sena editada no número 59, de Abril de 1968, dedicado a Sena, fazem exactamente 36 anos.

À pergunta 5. "Há quem o acuse de susceptível e agressivo. Concorda que o é?", Sena responde:

"Realmente? Julgava eu que esse mito já havia passado, por se ter revelado inoperante para neutralizar-me e destruir-me. Mas, se acaso sou susceptível, tenho a susceptibilidade dos exigentes e dos afáveis, honestamente afáveis. E, se sou agressivo, é só a agressividade do muito amor. Eu não perdoo a ninguém a mediocridade, a estupidez, a vileza, a malignidade, a incultura, a suficiência, a intolerância, o espírito de compromisso, a cobardia moral, etc. Será que estas coisas ainda existem em tão grande escala em Portugal, que eu pareça necessariamente agressivo e susceptível?..."

Eis uma pergunta que mantém toda a actualidade no Portugal contemporâneo. É triste mas é verdade.

LIBERDADE NA MADEIRA

A liberdade serve para concordar e discordar. A liberdade estimula a formação da opinião e permite que a opinião se possa expressar.

O Dr. Alberto João tem opiniões que podemos considerar ofensivas da liberdade mas nem por isso o regime da liberdade lhe vai, à força, cortar o pio. É uma grande vantagem da liberdade. É tolerante até aos limites do tolerável. É magnânima.

Vejamos um exemplo: o representante do PS na sessão evocativa (e não solene, que essa fica para a celebração da autonomia) do 25 de Abril, no Parlamento da Madeira, deixou um cravo na tribuna. O representante do PSD, que se lhe seguiu no uso da palavra, jogou o cravo ao chão.

A liberdade na Madeira prova a sua força. Aguenta tudo. Até a grosseria mais boçal e a mal criação mais grosseira dos eleitos do PSD.

No Governo! Aqui e lá! Haja Deus!