sexta-feira, outubro 20

A COPA DE "A BRASILEIRA"

Posted by Picasa Fotografias cedidas por “A Defesa de Faro”

Quando se exercitam as memórias exaltam-se os percursos humanos e profissionais daqueles que o tempo fez injustamente esquecer. A maioria esmagadora dos que, em cada época, fazem as cidades, as constroem e destroem, com seus méritos e defeitos, são engolidos pelo esquecimento.

Por isso me dá prazer apresentar as imagens e escrever as palavras, que chamam ao presente as pessoas, os factos, as instituições, o mundo com gente lá dentro, que me ajudaram a ser o que, hoje, sou.

As fotografias de “A Brasileira” mostram o espaço nas suas linhas sóbrias, na arquitectura e decoração, e as gentes que lhe deram vida, patrões, clientes, funcionárias e funcionários, na maioria jovens. Um espaço de memórias que, com uma nitidez impressionante, me faz presentes – como se fora hoje – o Sr. Inácio e a esposa e, pelo menos, dois funcionários do serviço de mesa, trajados a rigor, de onde sobressaem os laços.

Na cidade “A Brasileira” era, para mim, um espaço público que brilhava pelo esmero do atendimento e pela confecção dos produtos, pela claridade que o iluminava, como que uma extensão da rua onde se entrava na continuidade das caminhadas pela cidade. Nela eu buscava água fresca e gelados, talvez outras guloseimas, nada mais, o suficiente para me rever feliz num pedaço da minha juventude.

Havia outro espaço público na cidade com uma marca que ressoava a Brasil. Era o “Café Brasília”, lá mais para a baixa, entre ao antigo “Banco do Algarve” e o sobrevivente “Café Aliança”. Ao que julgo o baptismo de “Brasília”, ainda hoje presente na cervejaria que ocupa o mesmo lugar, decorre do facto do antigo proprietário ser um emigrante, regressado do Brasil, que resolveu homenagear a jovem capital do país irmão. E, se me não falha a memória, lembro-me de ter visto Juscelino Kubitschek de Oliveira, Presidente do Brasil, aquando de uma visita a Faro, com o seu chapéu, visitar o café que ostentava o nome da cidade de sua criação.

OS PATRÕES DE "A BRASILEIRA"

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O PESSOAL DE "A BRASILEIRA"

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quinta-feira, outubro 19

LULA DESCOLA?

Posted by Picasa Fotografia de Cannelle

A pouco mais de uma semana da 2ª volta (2º turno) das eleições presidenciais no Brasil as sondagens parecem indicar uma consolidação da vantagem de Lula. A imprensa internacional assinala o facto: As presidenciais brasileiras vistas pelo "El Pais" e um blog português de referência, acerca de sondagens, também: "LULA DESCOLA?", no MARGENS DE ERRO

ACORDO NA VW

Posted by Picasa Imagem Daqui

Acordo na Autoeuropa

Trabalhadores aprovaram pré-acordo laboral - Os trabalhadores da fábrica de automóveis Autoeuropa, em Palmela, aprovaram hoje, com 62,2 por cento dos votos favoráveis, o pré-acordo estabelecido a semana passada com a administração da empresa.

"Trata-se de um acordo muito importante porque vai criar condições para a vinda de um novo veículo (o sucessor da Volkswagen Sharan), viabilizando a continuidade da fábrica por mais dez anos e a criação de mais três mil postos de trabalho", disse o coordenador da Comissão de Trabalhadores, António Chora.

[O outro lado da luta dos trabalhadores, neste caso, da indústria. É interessante verificar que têm ocorrido, com frequência, acordos entre entidades patronais e trabalhadores em diversos sectores da indústria ao contrário do que tem acontecido na maioria dos sectores da administração pública. O país, no entanto, é o mesmo.]

quarta-feira, outubro 18

CONTRASTES

VILANCETE

Posted by Picasa Fotografia de sophie thouvenin

- Meu corpo, que mais receias?
- Receio quem não escolhi.

- Na treva que as mãos repelem
os corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
o corpo torna-se inteiro,
todos os outros ausentes.

Os olhos olham no vago
das luzes brandas e alheias;
joelhos, dentes e dedos
se cravam por sobre os medos …
Meu corpo, que mais receias?

- Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
me lembram quantos perdi
por este outro que terei.

Jorge de Sena

Pedra Filosofal [1950]
III – Amor
Poesia-I
Moraes Editores



[Ressonância de 18 de Outubro de 2004. Um dos poemas meus preferidos da vasta obra poética de Sena.]

terça-feira, outubro 17

MES - A DESCOLAGEM DA "ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA"

(Clique na fotografia para ampliar)

Este é outro momento da sessão de Encerramento do III Congresso do MES. Nesta imagem os elementos que ocupavam a mesa tornam-se mais facilmente identificáveis.

É interessante que pouco mais de um ano depois, próximo do verão de 1979, realizar-se-ia o IV, e último Congresso do MES, no qual saiu vencedora, por maioria, uma moção intitulada “Nova Prática, Novo Programa, Outro Caminho”, após um renhido debate, que inflectiria radicalmente a orientação política anterior.

Assim foi possível que, aquando das eleições intercalares de 2 de Dezembro de 1979, o MES tenha abdicado de apresentar listas próprias e de participar em coligações com outras forças da chamada esquerda revolucionária, aconselhando, publicamente, “o voto eficaz no PS ou na APU”. (Posição tornada pública em 18 de Novembro de 1979).

É este o momento em que o MES descola, politicamente, da chamada esquerda revolucionária, ou extrema esquerda, recusando aliar-se com qualquer dos outros partidos representativos dessa área política – PSR e UDP que, curiosamente, viriam a dar origem ao actual Bloco de Esquerda, e com a UEDS, de Lopes Cardoso, partido dissidente do PS, com a qual travou uma acesa discussão pública.

Pode, pois, considerar-se que foi a partir desta data que o MES assumiu, publicamente, uma posição de aproximação efectiva ao PS tendo a maioria dos seus militantes e simpatizantes tomado consciência da inevitabilidade da extinção que haveria de consumar-se, dois anos depois, no celebrado Jantar de 7 de Novembro de 1981.

MES - III CONGRESSO (SESSÃO DE ENCERRAMENTO)

Posted by Picasa Fotografia de António Pais
(Clique na fotografia para ampliar)

No passado dia 5 de Outubro publiquei um cartaz do MES (Movimento de Esquerda Socialista) referente ao seu III Congresso.

A sessão de encerramento desse Congresso que caracterizei, em duas palavras, como o do “canto de cisne” realizou-se em 11 de Fevereiro de 1978, na “Voz do Operário”, em Lisboa.

Esta é uma das fotografias – sem tratamento – dessa sessão de encerramento na qual se retrata, a preto e branco, um ambiente de fervor partidário que tentava disfarçar o ocaso do movimento que, pouco tempo depois, haveria de ser assumido.

A militância que transparece, e a tonalidade da fotografia, fazem lembrar as imagens das velhas assembleias bolcheviques e a energia que se adivinha nos punhos erguidos e nas vozes que, em uníssono, haviam de entoar uma palavra de ordem dão testemunho de convicções que ainda se não tinham desvanecido.

Esta fotografia é uma relíquia. Passaram-se pouca mais de 28 anos. Vejam se conseguem identificar os membros da mesa o que permitirá a respectiva legendagem.

segunda-feira, outubro 16

ORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2007 (ALGUMAS CONSIDERAÇÕES QUE NÃO PODEM SER BREVES)

Posted by Picasa Laeticia Casta

Escrevo a poucas horas da apresentação da proposta de Orçamento de Estado para 2007.

Parece que ainda há comentadores que fingem não entender o que representa o chamado “ajustamento orçamental” a que Portugal está obrigado no contexto da sua integração plena na União Europeia (UE).

É necessário lembrar que o governo em funções herdou, dos governos de direita (Barroso+Santana) um deficit das contas públicas, em 2005, de 6,4% do PIB. Toda a gente, de bom senso, entende o esforço gigantesco que representa fazer baixar, em 3 anos, esse deficit de 6,4% para menos de 3%.

Os governos de direita que estiveram no poder, desde Março de 2002 até inícios de 2005 - o dobro do tempo que o governo PS leva de governação - apesar do discurso social-cristão do humaníssimo Bagão Félix, não realizaram quaisquer reformas de fundo destinadas a promover o equilíbrio das contas públicas.

Não admira que alguns sectores da esquerda deixem perpassar uma profunda saudade pela governação da direita: o alvo era mais alvo e a política do “quanto pior melhor” era um “seguro de vida” para as corporações nas quais se inclui a burocracia sindical.

A eclosão das mais diversas formas de descontentamento a que temos assistido – de grupos sócio profissionais identificados – é a consequência da tomada de medidas, na sua maioria óbvias, que só pecam por tardias, destinadas a alcançar um objectivo, de interesse nacional, qual seja: deficits de 4,6% em 2006, de 3,7% em 2007 e abaixo dos 3% em 2008. [se não erro].

Claro que 2009, em calendário normal, é ano de eleições legislativas. Os governos, e as maiorias que os suportam, não governam, certamente, para perder eleições.

O problema é que, contra todas as evidências de quem nada aprende com a história, não há outro caminho para o PS ganhar as próximas eleições legislativas senão o seu governo alcançar, no fim do mandato, o equilíbrio das contas públicas e, ao mesmo tempo, ser premiado pela retoma, mesmo que moderada, da economia.

Nos próximos anos as políticas reformistas só serão possíveis com governos de maioria socialista. Para ser directo, meço o tempo necessário em, pelo menos, dois mandatos de governo de maioria absoluta.

Não identifico a natureza das políticas reformistas, a que faço menção, pois elas são conhecidas de todos e estão descritas no programa eleitoral do PS e no do seu governo. Em súmula essas políticas são opostas às da esquerda tradicional, assentes na aversão à reforma do “estado social”, e às da direita política que, em Portugal, está ao serviço da direita dos interesses.

O programa político da esquerda tradicional defende, no essencial, o imobilismo do estado, o programa da direita política defende, de forma mais ou menos voraz, ou mais ou menos populista, a rapina do estado.

Os defeitos do PS, e do seu governo, são criticáveis mas, até ao presente, são suplantados pelo facto de as suas políticas enfrentarem com coragem e determinação, simplesmente, os desafios do que, no presente, “tem que ser feito”. E, quer queiramos quer não, já não é nada pouco.

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PSEste é um escrito político que toma partido e para que não restem dúvidas aqui deixo o que escrevi, em 15 de Outubro de 2004, acerca da proposta de orçamento de estado, para 2005, elaborada sob a batuta do humaníssimo Bagão Félix, ministro das finanças – indicado pelo CDS/PP – no governo de coligação de direita.
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"LULA É UM CONSERVADOR"

Posted by Picasa Fernando Henrique Cardoso

As sondagens mais recentes apontam para a vitória de Lula no 2º turno (2ª volta) das eleições presidenciais no Brasil.

É interessante o posicionamento de Fernando Henrique Cardoso, ex-Presidente do Brasil, numa recente entrevista ao EXPRESSO de que ressalta esta afirmação puxada para manchete:

«Lula é um conservador». O que FHC quer dizer, na verdade, é que a provável vitória de Lula não é a vitória do populismo e não assusta os seus adversários. Podem os conservadores ficar descansados e os USA também!

domingo, outubro 15

UMA CAUSA JUSTA

Posted by Picasa Frank Grisdale

“…. o líder socialista deixou claro que o partido vai "envolver-se" no debate, com uma posição oficial favorável à despenalização do aborto até às dez semanas de gravidez, mas ressalvou: "Aqui toda a gente tem liberdade para discordar. Todos devem debater. E os que defendem o 'não' no PS também têm liberdade de participar."

Esta posição do PS, assumida por Sócrates, parece fácil e natural. Mas lembremo-nos que, no referendo anterior, o “não” venceu. O líder do PS era António Guterres que, sendo, em termos pessoais, favorável ao “não” colocou o PS numa posição insustentável. O "não" ganhou e o PS e a esquerda perderam.

Nesta causa o PS de hoje, acusado pela esquerda de ser de direita, é mais de esquerda do que o PS de ontem. Assim se tecem as contradições na política à portuguesa.

sábado, outubro 14

Acerca do tempo perdido

Posted by Picasa SONJA THOMSEN

Tanto tempo passado de partida sem ti
Com esperança que o tempo desculpe
O desalento de ver esgotar o tempo
E nada que me lembre o que aprendi

Se me deram a beber a justa presença
Do tempo certo para julgar e ser julgado
Um dia o tempo vai aborrecer-se da espera
E ditar para a acta o futuro da sentença

Se o esquecimento é fazer de mim morto
Tenho todo o tempo e guardo a esperança
Enchendo-se a minha a cabeça de cãs

Um dia ainda me hei-de sentir liberto
Do tempo antes que ele chegue ao fim
E me devolva o tempo que com ele perdi

Lisboa, 14 de Outubro de 2006

A JUSTIÇA A QUE TEMOS DIREITO

Posted by Picasa Imagem daqui

Pelo que li, e ouvi, hoje, a propósito da gravidez de uma juíza, o julgamento do “processo casa pia” ameaça durar uma geração. Milhares de outros processos, não mediáticos, levam, certamente, o mesmo caminho. A justiça é uma questão política. Ninguém está a pensar (com pacto ou sem pacto) nas medidas adequadas para encurtar prazos, agilizar procedimentos e reformar mentalidades, de forma que se faça justiça, em cada caso, em vida de arguidos, acusados, testemunhas, juízes, investigadores, famílias e todos, directa ou indirectamente, envolvidos em cada processo?

A justiça mediática, e da opinião pública, não perdoa nos juízos e condenações na praça pública. A justiça da república não pode contar com os rituais e as vestes, herdadas de outros tempos, para se impor na defesa do interesse público, os seja, dos cidadãos. Os rituais e as vestes formais da justiça valem o que valem mas não impedem que, um dia, se venha a confrontar, de forma brutal, com a triste realidade da sua insignificância face às sentenças dos tribunais de cada redacção e da mesa de cada café. Já está, aliás, confrontada com essa realidade.

Na justiça, o que parece ser a regra, e não a excepção, é a ausência de prazos. Os processos correm, correm, correm, …e, no dia da sentença, do arquivamento, da prescrição … já ninguém se lembra de nada … é triste a justiça a que temos direito. Mas a justiça é uma questão política. São os políticos, eleitos pelo povo, os responsáveis pelos crimes que se consumam ao não se fazer justiça em tempo útil. A responsabilidade pelo colapso do sistema de justiça, em Portugal, recai, no essencial, nas costas dos políticos.

Passaram, após o 25 de Abril, anos e anos de discursos pomposos, lado a lado com práticas lancinantes de incúria que abrem, de par em par, as portas às maiores injustiças. A corrupção é um caso paradigmático deste lamaçal. Aí estão os discursos! Veremos as consequentes práticas. Os actuais titulares de quase todos os mais altos cargos políticos e judiciais são, por feliz coincidência, recém empossados. Os seus mandatos são longos. Abriu-se um novo ciclo. Qual será o resultado final?

sexta-feira, outubro 13

Jorge Sampaio fechou capa nº 10.000

Explicitando. Sinto Vergonha. Nem a mais nobre causa universal me reconcilia com o facto do Dr. Jorge Sampaio ser, mesmo só por um dia, Director do “Correio da Manhã”. Desta forma o Dr. Jorge Sampaio dá credibilidade à linha editorial – de ontem, hoje e… amanhã – deste jornal. O Dr. Jorge Sampaio que foi “o Presidente de Todos os Portugueses”, durante dez anos, rendeu-se à ideia de que uma causa nobre pode ser defendida nas páginas de um tablóide. A causa não está em causa. O que está em causa é a escolha dos meios para a cumprir. E o simbolismo que a utilização dos mesmos encerra.
Ou, ainda de outra forma: SAMPAIO, O DIRECTOR

LULA SOBE NAS SONDAGENS [2º TURNO]

Posted by Picasa Fotografia de Ernesto Timor

A confiar nas últimas sondagens só um milagre impedirá Lula de ganhar a 2ª volta [2º turno] das presidenciais no Brasil no próximo dia 29.

Ver também Margens de Erro

IRAQUE: A CAPITULAÇÃO AGUARDADA

Posted by Picasa Daily Mail

Responsável do Exército britânico admite que a sua presença no Iraque está a piorar a situação no país

Army chief declares war on Blair: 'We must quit Iraq soon'

[Sir Richard Dannatt : A very honest General]

Um dos pilares centrais da grande coligação político-militar ocidental, que conduziu a guerra do Iraque, acaba de ruir com estrondo.

Não se trata, certamente, de uma afirmação de um tresloucado radical islâmico nem de um “traidor” aos valores da civilização cristã. Nem sequer de uma manobra da propaganda de Bin Laden.

O tom das palavras do responsável do exército britânico é de reconhecimento de um trágico erro estratégico na condução da política externa da aliança anglo americana e dos seus aliados entre os quais se conta Portugal. Os militares, em regra, falam claro!
Como seria de esperar aí está o desmentido que, conforme se sabe, nestas situações, confirma tudo: Iraque: general nega ter defendido retirada imediata das tropas britânicas

quinta-feira, outubro 12

UM NÚMERO

EMÍLIO CAMPOS COROA

Posted by Picasa Fotografia de “A Defesa de Faro”

Emílio Campos Coroa, médico oftalmologista, era um amante do teatro. Formado na escola do TEUC de Coimbra, dirigido por Paulo Quintela, era casado com a Dra. Amélia, minha professora de liceu, uma mulher sensível e actriz de grande talento.

Emílio Campos Coroa foi fundador, em Faro, com o seu irmão José e a mulher, no início dos anos 50, do grupo de teatro do Circulo Cultural do Algarve (hoje, “Lethes”) no qual, em finais dos anos 60, usufruí de uma experiência inesquecível.

De facto o teatro (amador) marcou, profundamente, a formação do meu gosto e deu-me a oportunidade de esconjurar os bloqueamentos daquela idade na qual ainda não somos adultos mas já deixamos de ser crianças. Ao Dr. Coroa, como era conhecido, devo muito da minha formação cultural e humana.

Era um homem corajoso e repentista. Democrata e intransigente no confronto com as adversidades do trabalho e da vida. Foi obreiro, contra ventos e marés, de uma obra notável de divulgação e promoção das artes e, em particular, do teatro.

Na época em que se desenrolou a sua acção, na província do Algarve, era preciso ter “barba rija” e uma vontade de ferro para colocar de pé centenas de encenações e representações levadas à cena em todos os lugares envolvendo e cativando todo o género de público.

Ele criou um verdadeiro teatro popular, dos clássicos aos modernos, uma escola de actores, um laboratório de experiências, uma corrente de iniciativas que rompia as rotinas bafientas das práticas culturais à época vigentes.

Um dia, logo após a minha vinda para Lisboa, o Dr. Coroa, telefonou-me. Quis a minha companhia e acedi com prazer. Verifiquei que tinha vindo, sozinho, acampar no parque de campismo de Monsanto. Atravessamos a cidade, conversamos e interpretei o seu gesto, que nunca mais esqueci, como uma bênção à minha aventura pela cidade grande.

Muito mais tarde, já depois da sua morte, tendo oportunidade de criar, de raiz, uma sede para o INATEL, em Faro, propus que a mesma fosse designada como “Casa Emílio Campos Coroa”. E assim foi. No dia da inauguração – vai para 10 anos – senti um frémito de esperança de que a obra dos homens com alma pode ser honrada e que a cidade, afinal, não pode sobreviver sem as suas memórias.

quarta-feira, outubro 11

O "EXPRESSO" E O "SOL"

Posted by Picasa Fotografia de Cannelle

Um dia após dez anos de fumador inveterado – SG filtro à média de dois maços por dia – deixei cair o vício. Desde esse dia não fumei nem mais um cigarro. A dependência tabagista cessou de um dia para o outro. Ou melhor fi-la cessar através de um mecanismo natural que, paradoxalmente, nunca me impediu de fumar, de quando em vez, uma cigarrilha. Passei do tabaco branco para o tabaco preto mas a dependência ardeu.

Nestes últimos tempos deixei de comprar jornais. Só os leio na mesma medida em que fumo uma cigarrilha de quando em vez. Essa antiga dependência ardeu também. A minha opinião é que o acesso à informação passará, cada vez mais, ao lado dos jornais em formato de papel cujo consumo se transformará num vício exótico, caro para a bolsa e nocivo para a natureza.

Continuo a ler jornais mas os dedos das minhas mãos exercitam-se, excitam-se, entusiasmam-se ou esmorecem cada vez mais nos teclados e cada vez menos no papel das páginas dos jornais.

O mais provável, já comprovável, é que a dinâmica da autonomia e criatividade individuais gere, diariamente, milhões de novos produtores e consumidores de informação em suportes virtuais: é mais livre, democrática, acessível, barata, limpa e eficaz.

Não admira que faça parte daquela categoria de portugueses que não têm opinião acerca do velho “Expresso” e do novo “Sol”. A única sensação que sou capaz de descrever é que parecem o mesmo corpo. Com uma diferença. Um vestiu-se, outro despiu-se. Mas conheço mal o assunto apesar de conhecer as opiniões acerca do assunto. Posso opinar sobre as opiniões mas não posso opinar acerca da matéria acerca da qual elas versam.

Não leio jornais senão, nalguns casos, de forma limitada, nos respectivos sites. Uma mudança radical para um inveterado leitor de jornais.