quinta-feira, maio 15

HUMBERTO DELGADO (II)


Voltando à biografia de Humberto Delgado e à conferência de imprensa do Café Chave de Ouro. Para que se fique com uma imagem mais clara acerca da dureza da campanha eleitoral que Delgado protagonizou e da sua coragem pessoal e politica.

Um dos temas fortes foi o do americanismo do candidato que era utilizado pelo regime para o atacar. A uma pergunta de Manuel Rolão, correspondente do jornal Juventud de Madrid solicitando um comentário de Delgado acerca do facto de um artigo do New York Times o apresentar como “partidário dos Estados Unidos” (resposta cortada pela censura):

“ – Traduttore traditore. O que se queria dizer é que sou amigo dos americanos. É diferente. Não me fica mal. Portugal tem, aliás, tropas estrangeiras no seu território, o que acho muito bem. Em 1917, portugueses e norte americanos combateram lado a lado em França. Durante a segunda Guerra Mundial, Portugal concedeu bases aos Estados Unidos nos Açores. Somos, assim, dois países ligados por uma antiga e sólida amizade. É, portanto, natural, que um candidato à Presidência da República Portuguesa seja amigo dos Estados Unidos.”

Mas o correspondente do Juventud de Madrid não ficou satisfeito e voltou à carga perguntando se o NYT tinha razões para definir o candidato como “partizan of USA”. Irritado, Humberto Delgado respondeu “com uma expressão que ecoou na sala” e que “todos julgaram ter ouvido” da seguinte forma:

“Não faça perguntas idiotas!”

Nessa altura, o espanhol Adolfo Lizon, representante do jornal falangista ABC, saltou em defesa do seu colega, “a protestar com palavras desabridas” por ter sido cometida uma injúria contra um profissional da imprensa”:

“Você não pode insultar um jornalista!”

Esta tirada era uma clara provocação para que o candidato perdesse a compostura, mas não surtiu o efeito pretendido. Humberto Delgado respondeu-lhe:

“Você é estrebaria. Eu sou General e tenho nome.”

Foi um dos momentos mais tensos da conferência de imprensa. (…) O mesmo jornalista ainda perguntou nessa altura:

“Gostaria que o Sr. General me dissesse se isto é uma conferência de imprensa ou um meeting.”

Humberto Delgado respondeu:

“Isto chama-se o que o senhor quiser chamar-lhe, embora constitua uma reunião para troca de perguntas e respostas concretas, entre mim e os jornalistas. Se não tem outra pergunta a fazer, então cale-se!”

Mas Adolfo Lizon não se calou:

“Então todos os que estão à sua volta, na mesa, não são políticos?

Humberto Delgado, “com veemência e severidade”, mandou-o de novo calar:

“O Senhor já fez duas perguntas. Já acabou!”

[Transcrição de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes, em regra, provas censuradas da imprensa da época. Continua.]
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CHINA

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quarta-feira, maio 14

CARLOS MINC

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PEDIR DESCULPA

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CHINA - UMA TRAGÉDIA

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NA IMINÊNCIA DE UMA CRISE MUNDIAL


A Europa e o mundo vivem sob o espectro de uma crise financeira, energética e alimentar. Três choques, em simultâneo, que põem em risco o equilíbrio em que assenta o mundo do pós guerra. Os chamados países emergentes, com a China à cabeça, estão no centro da crise. Esses países passaram de sociedades miseráveis a sociedades de consumo. A China é como uma fogueira gigante que consome crescentes recursos que afluem de todo o mundo e, ao mesmo tempo, alimenta outras fogueiras que, de igual modo, consomem mais do que a humanidade é capaz de produzir. Entramos numa nova fase da vida das nações que exigirá mudanças profundas também nas estruturas das instituições internacionais. A questão: como gerir essas mudanças sem guerra?

[Do meu diário - 7/5/2008]
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terça-feira, maio 13

DEZ ANOS DE UNIÃO MONETÁRIA


Teodora Cardoso, no Jornal de Negócios, conduz-nos a um documento no qual se faz o balanço e se apontam os desafios resultantes de dez anos de União Monetária. Aqui deixo a parte final do artigo que nos introduz, de forma didáctica, à matéria, apontando-nos o link para o documento original.

A perspectiva do documento é sobretudo a de avaliar os desafios futuros, o que não deixa de exigir que se analise criticamente o passado. No caso da economia portuguesa, as questões que se mantêm relevantes para o futuro referem-se, em primeiro lugar, à necessidade de encarar, séria e estavelmente, o compromisso de equilíbrio das finanças públicas e de adaptar, onde necessário, os preceitos institucionais que as regem. As enormes diferenças registadas nesta matéria entre Portugal e Espanha não deixam dúvidas quanto ao facto de ela constituir uma condição necessária da desejada convergência real da economia, um conceito que obviamente só faz sentido no médio/longo prazo.
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A segunda questão-chave diz respeito ao emprego e às condições para o seu crescimento estável. A análise quantificada da evolução das duas economias ibéricas identifica o comportamento do emprego como o factor com a maior contribuição para os diferentes desempenhos em termos de crescimento económico, face a evoluções semelhantes em matéria de produtividade. Esta será inquestionavelmente uma variável fundamental na evolução futura, mas Portugal tem de adaptar as instituições do mercado do trabalho, não só com vista a garantir o maior crescimento, mas também condições de equidade e de estímulo à formação e ao ajustamento ao novo enquadramento internacional.
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Os aspectos mais relevantes do documento agora publicado pela Comissão Europeia são os que respeitam à forma como a Zona Euro deve preparar-se para vencer os desafios que defronta. Estes resultam, por um lado, do fraco crescimento do produto potencial e das incertezas que daí decorrem para a manutenção do bem-estar dos cidadãos e, por outro, da necessidade de proteger eficazmente os interesses da Zona Euro no contexto da economia global.
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Dois conjuntos de recomendações são especialmente importantes nestas áreas: (i) as que se referem à necessidade de coordenação das reformas estruturais, no seio da própria Zona Euro; e (ii) as que respeitam à consolidação da representação da Zona nos fora internacionais relevantes. Resta esperar que as propostas agora avançadas tenham a sequência apropriada.
1* http://ec.europa.eu/economy_finance/emu10/emu10report_en.pdf – successes and challenges after ten years of Economic and Monetary Union, disponível “online”.
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A ÉTICA SEGUNDO MANUELA FERREIRA LEITE (III)

Fotografia daqui

Escrevo acerca de alguns episódios da campanha interna do PSD sempre com algum atraso. É para me certificar acerca da autenticidade das notícias. A propaganda está enfeitada de truques e, na política, a imagem destronou a mensagem.

Não aceito, em circunstância alguma, o estigma da idade para diminuir um candidato ou um simples cidadão. A vida é para viver até ao fim, em pleno, no exercício livre de todos os direitos cívicos e políticos. Os 67 anos de Manuela Ferreira Leite não a diminuem no cotejo com os 50 e poucos de Santana nem com os 40 e picos de Passos Coelho. Acho até que a idade beneficia Ferreira Leite na disputa partidária e ainda mais a beneficiará na disputa eleitoral a nível nacional.

O país ganhará com um líder da oposição experimentado e, neste caso, líder/mulher, que sabemos fundamentar a sua acção no ideário social-democrata, afastado das pulsões populistas que avassalam a direita europeia. Por este lado estamos conversados.

Quanto à imagem física a minha posição ainda é mais radical. É repugnante centrar qualquer crítica, ou tomada de posição, seja explícita, ou subliminar, fundada na tipologia física de um candidato, seja lá qual for o grau da nossa antipatia para com as suas ideias.

Para os incautos é bom que pensem duas vezes e sustenham os seus impulsos de abordagem gerontológica e/ou caracteriológica de Manuela Ferreira Leite. Porque esse é o caminho clássico, e perigoso, da ideologia e propaganda fascistas. Por isso mesmo é que me atenho, na crítica à candidatura de Manuela Ferreira Leite, às questões da ética na acção política.
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PETRÓLEO

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segunda-feira, maio 12

FUTEBOL - A SELECÇÃO NACIONAL


A notícia do dia é a convocatória de Scolari apesar das convocatórias de Scolari já terem deixado de ser notícia. Dizem que são demasiado previsíveis. E são. Mesmo assim desta vez deixou de fora Maniche e Caneira e convocou Postiga, vá lá saber-se porquê, e Jorge Ribeiro, Moutinho e Miguel Veloso (aplausos!). O tema é pouco estimulante para uma parte dos meus amigos que me encontram neste espaço. Mas tenham paciência que este tema me apaixona.

Somos um país pequeno e pobre com um futebol pequeno e pobre. O facto é fácil de reconhecer para quem acompanha estas coisas nas notícias de todos os dias. Mas a selecção nacional, por contraste, é grande e rica pois é feita à base de emigrantes que, na sua maioria, também eram pequenos e pobres antes de emigrarem. O futebol – gostemos ou não - tem este sortilégio muito especial. É democrático. Expõe à vista de todos a ascensão social de jovens que à força do seu talento, e muito trabalho, alcançaram o sucesso. Expõe à sociedade as virtudes da simbiose entre o individualismo e o colectivismo. É um jogo complexo de gestos técnicos moldados pelo pensamento intuitivo. Um por todos, todos por um.

A beleza da força em movimento - a entrada de cabeça de Ronaldo naquele jogo recente - e a força da beleza dos gestos nobres - o golo que o jogador do Desportivo da Corunha se recusou a marcar na baliza do Levante quando os seus jogadores pararam em protesto. É um negócio com espectáculo dentro. Um jogo jogado, salvo o guarda-redes, com os pés, o corpo e a cabeça, as partes mais inábeis para alcançar o fim em vista. E, mais do que tudo, o futebol é imprevisível nos resultados, ao contrário das eleições em ditadura.

Não acredito já no Sr. Scolari. Acomodou-se, ganhou ar de burocrata, parece displicente e obrigado pela família ao sacrifício de ficar por cá. Mas acredito que as selecções, como as nações, precisam da energia criadora dos seus melhores para vencer. Sei que os jogadores que Scolari, inevitavelmente, seleccionou são dos melhores do mundo. E foi ele, honra seja feita, que criou a mística da selecção que até pode empatar ou perder mas nunca perde a esperança de dar a volta por cima.

O povo de um país pequeno e pobre pode, hoje, dar-se ao luxo de acreditar que pode ganhar sempre. Dizem os puristas que é alienação. Seja! Mas os adversários, hoje em dia, temem-nos e dá-me gozo ver jogar a selecção!
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CHINA

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domingo, maio 11

INATEL - ALBUFEIRA

Não conhecia os desenvolvimentos que esta notícia revela, acerca do património do INATEL de Albufeira, que são posteriores à minha saída daquela organização. Para quem não saiba fui presidente da direcção do INATEL entre 21 de Fevereiro de 1996 e 4 de Fevereiro de 2003. Neste período o património do INATEL, que é de natureza pública, foi muito cobiçado, em particular, o de Albufeira. Denunciei publicamente, em tempo oportuno, as tentativas de apropriação ilegítima de que foi alvo. Verifico que tiveram lugar, após a minha exoneração, novas acções destinadas a retirar ao INATEL, através de expropriação, a posse de parte do seu património mais valioso. Acerca deste assunto quero dizer duas coisas: gastei muito tempo, e energias, na luta pela defesa do património a que se refere esta notícia não por razões corporativas mas por razões de direito e da garantia da sua continuidade ao serviço dos fins públicos a que se destina, no contexto da organização a que está afecto; por outro lado, esta notícia ajuda-me a compreender melhor as razões da minha exoneração pelo Dr. Bagão Félix e, em consequência, a verdadeira natureza dos processos que me foram movidos. O tempo é implacável para com os vendilhões do templo e ajuda os justos, sendo persistentes, na revelação da verdade e obtenção da justiça.
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A ÉTICA SEGUNDO MANUELA FERREIRA LEITE (II)


A candidata Manuela Ferreira Leite desdobra-se em declarações tentando passar uma ideia salvífica da sua futura acção na presidência do PSD ideia na qual, valha a verdade, ninguém acredita. Diz que não vai fazer promessas não se dando conta da promessa que faz. Que devia ser proibido aos políticos anunciar baixas de impostos, mas propõe a revisão do IMI que, neste momento, impõe «encargos demasiados elevados» às famílias, mas, mais interessante, desculpem a insistência, dá sucessivos sinais de uma duvidosa concepção de ética na acção política. Neste caso mistura, premeditadamente, o tema da educação, e do desemprego dos jovens licenciados, com um tema da política nacional de sarjeta (estão a ver o tema abordado no debate nas eleições legislativas!):
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FARENSE

Farense 1970
(Clique na Imagem para ampliar)

O Sporting Clube Farense o clube do meu coração, um pequeno clube de província, afastado da ribalta, subiu ontem à 3ª Divisão Nacional. Que viva e organizem-se!
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sábado, maio 10

HUMBERTO DELGADO (I)


Tenho dedicado parte do meu tempo à leitura da Biografia de Humberto Delgado, escrita pelo seu neto Frederico Delgado Rosa. Na verdade é uma obra notável não só pela descrição pormenorizada da vida e obra de alguém que, tendo sido um indefectível apoiante de Salazar até cerca da 2ª grande guerra, o desafiou numa luta, que havia de ser de vida ou morte, como por ter sido escrita por um seu familiar confirmando a incúria dos poderes públicos, em Portugal, em honrar os mais elementares compromissos na defesa da verdade histórica, fazendo justiça aos seus maiores.

Passam hoje, exactamente, 50 anos sobre o dia em que teve início a campanha presidencial de Humberto Delgado: 10 de Maio de 1958. Respigo algumas passagens da conferência de imprensa inaugural da campanha no antigo Café Chave de Ouro, em Lisboa. As respostas do General, desde a mais conhecida a outras, são notáveis ainda para mais se atentarmos ao contexto político da época em que foram proferidas.

“Dez horas são dez horas!”Cultor da pontualidade, Humberto Delgado tomou o seu lugar na mesa de honra.

Não foi preciso muito tempo para saber o que tinha Humberto Delgado a dizer quanto às suas intenções a respeito de Oliveira Salazar. Com efeito, essa pergunta delicada, perigosa e mais ansiada que todas, foi logo a primeira a ser colocada, pela boca do correspondente em Lisboa da agência France-Presse desde 1948, o jornalista Lindorfe Pinto Basto. (…)

“Sr. General, se for eleito Presidente da República, que fará do Dr. Presidente do Conselho?”

Cortando cerce o silêncio de sepulcro que se instalou no vasto salão de chá, Humberto Delgado proferiu firme e secamente estas palavras que tomando toda a gente de surpresa e de assalto, incluindo os seus mais próximos correligionários, ficaram para a posteridade e são uma das frases mais célebres e mais citadas da história contemporânea de Portugal:

“Obviamente demito-o!”*

*(… )“no entanto o jornalista Lindorfe Pinto Basto afirmaria, passados muitos anos, que a resposta de Humberto Delgado foi: “Demito-o, é óbvio!” (…)
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QUESTÕES DE HIGIENE

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sexta-feira, maio 9

ANIVERSÁRIO



Não omito nada do meu gostar
nem o sobressalto de descobrir um dia
que não queria nada do que quis.
Ofereço o tempo futuro todo
à descoberta da arte de transformar
amando o desconhecido ou quase que é
afinal o que é amar.
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In Primeiros Poemas, Dez 2007.

[No dia do Aniversário de minha mulher Guida.]
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AGOSTINHO ROSETA

(Jantar de Extinção do MES - 7 de Novembro de 1981)
“A virtude é meritória, hoje. Os grandes sacrifícios não são continuados. Os mártires são esquecidos. Eles erguem-se. As pessoas olham-nos. Uma vez tombados, os jornais continuam.”
Albert Camus - in Cadernos

[No dia do 13º Aniversário da morte do Agostinho Roseta]
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CAPITULAÇÃO DO REICH

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CLARIFICAÇÃO OU IMPLOSÃO


Não sei porquê a campanha para a liderança do PSD parece um bocado mortiça mas admito que o jogo de bastidores esteja ao rubro. Cheira-me que Jardim ainda pode avançar. A lógica seria a da balcanização total. Jardim, Santana, Manuela, Passos, Patinha e Neto Lda. Perdidos por um … o Jardim ainda pode ganhar! Pelo andar da carruagem, com o provável adiamento do Congresso, para finais de Junho, só em Setembro teremos oposição ao governo. Mesmo assim será necessário que do Congresso resulte uma clarificação e não uma implosão. Em ambos os casos a realidade emergente pode tomar diversas cambiantes na qualidade e no tempo. Já agora espero que não se lembrem de marcar o Congresso para dias de jogos de Portugal na fase final do Europeu de Futebol. Deixo aqui o calendário do europeu. É que, por incrível que pareça, as datas coincidem mesmo.
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