domingo, novembro 21

Anne-Sophie Mutter



A cimeira da OTAN (NATO) chegou ao fim. Ao que dizem as notícias os resultados foram um sucesso. Só os protagonistas saberão, embora todos sejamos interessados. O povo de esquerda – os seus dirigentes - dão a entender, para público, não terem percebido que foi esta cimeira que colocou o ponto final na guerra fria. Imaginem, na cimeira de Lisboa! É a questão da guerra e da paz. Admito que, salvo algum caso anómalo, todos os dirigentes políticos, afinal aqueles que lidam com os poderes, estejam interessados na paz. Obama, certamente que sim. Se estão satisfeitos com o resultado final desta cimeira é um bom sinal. Portugal saiu a ganhar pois nem todos os dias se acolhe uma manifestação política desta dimensão. Nem todos os dias se ouvem, da boca de um presidente americano, palavras de sincero agradecimento pela excelência da organização e pela hospitalidade portuguesa. Detalhes!

sábado, novembro 20

RUBBERBANDance



A palavra de ordem é cortar mas nem tudo se pode cortar. Precisamos de cortar no acessório e investir no essencial. É necessário fazer essa pedagogia. Não ter medo de apostar em iniciativas de risco seja qual for a nossa posição na sociedade. O mundo não acaba amanhã nem agradece a inacção dos cobardes.
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quarta-feira, novembro 17

MÚSICA E PALAVRAS



Uma amiga leitora deste blogue escreveu-me expressando um sentimento que pressinto ser alargado a quase todas, e todos, que visitam, com assiduidade, este espaço. Interessante reclamar o jogo das palavras versus o dos sons. Jorge de Sena, como outros, escreveu alguns dos seus poemas mais belos sobre temas musicais ou acerca da música. Sabem que a única distinção pública verdadeiramente relevante que me foi conferida foi uma condecoração do Grão Ducado do Luxemburgo distinguindo a minha acção em prol da música aquando da minha passagem pelo INATEL. O que mais tenho para dizer no presente é que escrevo todos os dias, ou quase, mas que me repugna tanto o que escrevem (e falam, e dizem …) os comentadores encartadas, recebedores de honorários, assim como os comentários que tantos energúmenos escrevem e depositam na caixa dos ditos, que resolvi fazer uma dieta de escrita para público. Voltarei em breve à expressão escrita. Até lá partilho música, de quando em vez, temperada com palavras breves. O velho país que dá pelo nome de Portugal, um dos mais antigos do mundo com as mesmas fronteiras físicas, com suas mazelas, e virtudes, sobreviverá e com ele sobreviverão mesmo todos os sacripantas que de seus males se alimentam.   

sábado, outubro 30

CHICO BUARQUE & MILTON NASCIMENTO



O mais importante acontecimento por estes dias é a eleição presidencial no Brasil. Amanhã o povo brasileiro votará, numa segunda volta, por Dilma ou Serra. Os conservadores brasileiros, de todas as cores, temem que seja demasiado tempo de “Lulismo”, ou seja, de governo de esquerda. Quando Lula foi eleito pela primeira vez as mesmas vozes anunciavam o “fim do mundo”. Lula afirmou-se, afinal, um político moderado e um estadista respeitado em todo o mundo. Nestas eleições as sondagens dizem que será Dilma a vencedora, ou seja a esquerda, mas em democracia, como dizia o outro, prognósticos só fim do jogo.  

sábado, outubro 23

Norah Jones

HOMENAGEM AO PAPAGAIO VERDE

Fotografia de Hélder Gonçalves

Um dia, quando, arquejante da rua e das escadas, cheguei à varanda, o Papagaio Verde estava inerte no canto da gaiola, com o bico pousado no chão. Peguei-lhe, aspergi-o com água, sacudi-o, com a mão auscultei-o longamente. Não morrera ainda. Levei-o para a sala, deitei-o nas almofadas, puxei a cadeira para junto do piano, e, enquanto com os dedos da mão esquerda lhe apertava a pata, toquei só com a direita a música de que ele gostava mais. As lágrimas embaciavam-me as teclas, não me deixavam ver distintamente. Senti que os dedos dele apertavam os meus. Ajoelhei-me junto da cadeira, debruçado sobre ele, e as unhas dele cravaram-se-me no dedo. Mexeu a cabeça, abriu para mim um olho espantado, resmoneou ciciadas algumas sílabas soltas. Depois, ficou imóvel, só com o peito alteando-se numa respiração irregular e funda. Então abriu descaidamente as asas e tentou voltar-se. Ajudei-o, e estendeu o bico para mim. Amparei-o pousado no braço da cadeira, onde as patas não tinham força de agarrar-se. Quis endireitar-se, não pôde, nem mesmo apoiado nas minhas mãos. Voltei a deitá-lo nas almofadas, apertou-me com força o dedo na sua pata, e disse numa voz clara e nítida, dos seus bons tempos de chamar os vendedores que passavam na rua: - Filhos da puta! – Eu afaguei-o suavemente, chorando, e senti que a pata esmorecia no meu dedo. Foi a primeira pessoa que eu vi morrer.

[Encontrei, um dia destes, na livraria do Publico, o último exemplar à venda de Homenagem ao Papagaio Verde e outros contos de Jorge de Sena. Homenagem ao Papagaio Verde é um dos textos mais notáveis que alguma vez me foi dado ler.]
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terça-feira, outubro 19

O SENTIDO DE VOTO DO PSD


Fotografia de Hélder Gonçalves

Abstraindo da retórica e, para quem tenha dúvidas acerca do sentido de voto do PSD na PROPOSTA DE LEI N.º 42/XI, mais conhecida como Orçamento de Estado para 2011, Ângelo Correia esclarece: O PSD deve pois abster-se e nem negociar com o PS.
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terça-feira, outubro 12

PORTUGAL NO CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS



Portugal foi hoje eleito membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Durante o dia foi notável o contorcionismo da maioria dos midia para desvalorizar o acontecimento. A notícia subiu, a custo, à categoria de manchete assumindo a fórmula de vitória da diplomacia portuguesa, ou seja, para falar claro, vitória do governo!   
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Dito por outras palavras aqui. Também aqui.
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Adélia Prado




Tenho dificuldade em comer folhas,
mesmo as que eu próprio lavo
com óculos de aumento e rios d´água.
Minha carne quer outra carne,
vermelha entre dourados
de gordura amarela gotejante.
Não me vale saber das excelências do verde,
meu lábio treme à vista de suculências.
Aos rigores da lei
- paulina ou não –
minha fortaleza é a da mostarda.
Um grão.

Na minha recente visita de trabalho a Porto Alegre entrei na tal livraria e encontrei, além do último livro de Ferreira Gullar, também o último de Adéla Prado: A Duração do Dia. O poema acima transcrito ostenta este título extraordinário: O Noviço e a Abstinência de Preceito.
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domingo, outubro 10

Ferreira Gullar - em alguma parte alguma




Em algum lugar
esplende uma corola
de cor vermelho-queimado
metálica

não está em nenhum jardim
em nenhum jarro
da sala
ou na janela

não cheira
não atrai
não murchará

apenas fulge
em alguma parte alguma
da vida

Numa viagem de trabalho a Porto Alegre, da qual regressei hoje mesmo, entrei numa livraria e encontrei o novo livro de Ferreira Gullar: em alguma parte alguma. O poema que transcrevo intitula-se Uma corola e o seu penúltimo verso dá o título ao livro.

domingo, outubro 3

BRASIL



Hoje é dia de eleições no Brasil nas quais o voto é obrigatório e electrónico. Devo dizer que concordo. Um grande país democrático,  uma potência emergente que se afirmou após dois mandatos de Lula que assumiu, de forma corajosa, que é possível governar em favor dos pobres sem alimentar o desprezo dos ricos. Lula que recusou uma emenda à Constituição que lhe permitiria voltar a candidatar-se. O Expresso - versão digital - no dia das eleições no Brasil mantém, desde há mais de 24 horas, em manchete declarações de Jerónimo de Sousa...    
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Apuramento do resultado.
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U2

quarta-feira, setembro 29

Bonnie & Clyde



Morreu Arthur Penn, realizador de Bonnie & Clyde, um filme da minha vida. Um dia, com um grupo de amigos, fui ver um filme que acabara de estrear,  talvez no Cinema Condes, ali para os Restauradores. Sem saber ao que ia, pois iamos simplesmente ao cinema ou talvez sabendo pois do grupo fazia parte o Félix Ribeiro (ilustre amigo e filho do fundador, e director, da Cinemateca pelos idos dos anos 60), ao longo daquela tarde deixei-me surpreender. Bonnie & Clyde é um filme que não sei criticar, pois não sou crítico de cinema, mas que me marcou para toda a vida. O seu autor morreu hoje mas não morreu a marca que a sua obra deixou em mim. Salvé!
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Ler aqui e também aqui
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Juliette Greco

sexta-feira, setembro 24

Alicia Keys

MARIA JOÃO PIRES



Leve, levitava
num som interior
quase etérea dessacralizada
num mundo outro, sem penumbras.
Os lábios - sábios domadores do compasso -
antecediam promessas
visualizavam harmonias
e, sob as mãos de Pierre Boulez,
sem batuta,
organizavam-se sons, que escorriam,
impetuosos puros vibrantes
das cúpulas e colunas
do Mosteiro dos Jerónimos.
Ao fundo, desfocado em bruma
- como D. Sebastião -
Camões pensou
que os dedos daquelas mãos,
femininas e rudes,
tinham dobrado o Bojador.

Depois, adormeceu e pacificou.

Maria F. Monteiro
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terça-feira, setembro 21

FERREIRA GULLAR - Prémio Camões (2)



Um dia, num ano recente, numa visita de turismo a Cuba, li a obra (quase) toda de Ferreira Gullar. Compreendi muito bem as razões da atribuição do Prémio Camões ao grande poeta brasileiro, o que não entendo é a  composição da mesa que se vê no filminho ilustrando a entrega do Prémio. Mas, finalmente, hoje um órgão de comunicação português dá algum destaque ao acontecimento retirando prémio e premiado da "clandestinidade".
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Françoise Hardy



Na estrada
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domingo, setembro 19

REAL MADRID, HOJE



O Real Madrid transformou-se numa referência para os portugueses que gostam de futebol. Pelo jogo em si mesmo, pelo fulgor mediático dos protagonistas, um português no comando (qual político que joga o seu jogo!), jogadores conhecidos, reconhecidos, "íntimos" dos portugueses, a que acresce a intensidade do futebol jogado em Espanha (sempre foi assim!) e uma presença constante de (muito) público entusiasta. Numa época em que as notícias se transformaram num espectáculo de divertimento, mais do que num exercício de cidadania, mais vale aderir às modalidades do espectáculo que se assumem, em plenitude, como espectáculo verdadeiro.   
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quinta-feira, setembro 16

EUROPA - Adolfo Casais Monteiro por Mário Viegas



O que eu sei é que não quero pertencer a uma comunidade – politica, económica, social - cujos líderes professem ideias racistas e xenófobas ou, mesmo que as não professem, assumam posições frouxas na sua condenação. O que eu sei é que as guerras foram sempre antecedidas por profundas crises económico-financeiras geridas por governantes permissivos, ou colaboracionistas, face aos primeiros indícios de perseguição a minorias. O que eu sei é que não se pode colaborar, nem ficar em silêncio, perante esses sinais mesmo que venham de governantes de países democráticos. Pois para que sobrevenham terríveis tiranias são sempre necessárias fracas democracias.    

Diabo na Cruz

quarta-feira, setembro 15

NOVIDADES DE CUBA



A comunicação social portuguesa, vá lá saber-se porquê, "esquece" este acontecimento da maior importância no debate ideológico entre as diversas famílias da esquerda.
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sábado, setembro 11

Marta Hugon

NEW YORK - SEPTEMBER 11

REQUIEM POR SALVADOR ALLENDE


Salvador Allende
Enviado por PaNoRaMiX1. - Videos de noticias do mundo inteiro.

(...)

Era uma vez um chileno chamado salvador allende que
fez um grande país de um país pequeno onde
talvez três anos nós houvéssemos depositado a esperança
quando fosse qual fosse a nossa nacionalidade
todos nós fomos um pouco chilenos
Mas que diabo importa em suma a qualquer de nós
que um homem se detenha quando a história caminha
em frente sempre altiva e serena
como mulher de muito tempo sabedora
Posso dizer por certo como há já muitos anos
acerca dos milicianos espanhóis dizia neruda
allende não morreste estás de pé no trigo

Ruy Belo

In “Todos os Poemas – III” – “Toda a Terra” – I Parte “Areias de Portugal”
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sábado, setembro 4

Ir pela sua mão


em memória de meu pai

Ir pela sua mão era caminhar
para um paraíso sem nome,
sonhar uma aventura terna
sabendo de cor o caminho
de regresso a casa a pé
sem guia nem vertigens

Ir pela sua mão aberta
à ternura de mão solitária
era saborear um engano
sem mácula, sobreviver
e nada dever aos outros
que se não pudesse devolver

Ir pela sua mão desarmada
não deixava rasto no chão
e a minha cabeça voava à roda
do meu coração que batia
como agora quando me escapo
à rotina do bater do dia

Ir pela sua mão lembra-me
sempre o dobrar dos dias,
homens tristes de ombros
postos nas esquinas luzidias
esperando taciturnos perder
o sentido do seu próprio corpo

Ir pela sua mão seria partir
do nada ao especial feito,
rasgar um caminho incerto
de mágoas, uma alegria banal,
sagradas confidências guardadas
entre nós que se não confiam

Ir pela sua mão dava acesso
ao mundo, mas ninguém soube
das suas amantes que eu vi,
nem dos gritos do seu olhar
que se abria dolente para mim
pedindo em silêncio aceitação

Eu tudo lhe dei sempre sem pedir
nada em troca, somente por vezes
a sua mão para ir nela confiante
em busca de um caminho qualquer
que não sabia onde levava nem
isso de verdade nada interessava.

In Ir pela sua mão, Editora Ausência, 2003

[4 de Setembro 2010 - pelo centenário do nascimento de meu pai.]