segunda-feira, dezembro 31

BOM ANO DE 2013

Uma fotografia que me foi oferecida, agora mesmo, pelo Helder Gonçalves ilustrando a paisagem do sítio onde o ano novo nascerá para mim (Azenhas do Mar). Para todas e todos, amigas e amigos, conhecidas (os) e reconhecidas (os), de todos os graus e intensidades, tempos e lugares, Bom Ano de 2013, com um abraço.

domingo, dezembro 30

The Magic Flute

OS EREMITAS

O interesse de Afonso Henriques pelas novas formas de vida religiosa que apareciam no Condado Portucalense manifestou-se, como vimos, no apoio concedido aos Templários e Hospitalários e na protecção aos fundadores de Santa Cruz de Coimbra. (…) Os eremitas são, por sua própria natureza, avessos a soluções institucionais, mas inserem-se na mesma corrente inovadora. Formaram, talvez, a sua corrente mais radical, como haviam sido no século IV, os do Egipto e da Síria. Inovadores, inconformistas, avessos a qualquer espécie de organização, representam bem a energia, o entusiasmo, a criatividade e o desprendimento que caracterizam o fenómeno religioso no século XII. Também apareceram em Portugal, de forma espontânea, com as mesmas características do que no resto da Europa.
(…)
Afonso Henriques também acompanhou o movimento eremítico português. Fê-lo, mesmo, com uma surpreendente precocidade, porque o primeiro diploma autêntico que dele se conhece é justamente, como já vimos, uma carta de couto em favor dos eremitas de São Vicente de Fragoso, no actual concelho de Barcelos, datada de 4 de Dezembro de 1127, ou seja, meio ano antes da batalha de São Mamede.
(…)
Um dos aspectos mais importantes do fenómeno eremítico do século XII é o facto de ter sido absorvido pelos movimentos contemporâneos mais institucionalizados, em particular pela ordem de Cister e pela ordem premonstratense.
(…)
(Os eremitérios) integraram-se em movimentos religiosos da corrente renovadora da época, na qual, apesar das diferenças que separavam entre si os três ramos de monges, cónegos regrantes e eremitas, se influenciaram umas às outras. Seja com for, Afonso Henriques, ao proteger os eremitas, devia apreciar vivamente o seu fervor e o seu dinamismo.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”8. “Eremitas, cistercienses e monjas”, pgs. 90/94 (22).



[Notas da minha leitura da extraordinária biografia "D. Afonso Henriques", de Mattoso, em setembro de 2007, demonstração eloquente de como a história torna irrelevantes - que não potencialmente nocivas - todas as políticas que a ignorem.]

sábado, dezembro 29

PÓ DOS LIVROS

Ao arrumar estantes surgem muitas surpresas. Livros que nos marcaram. Por diversas razões, em variadas épocas. De todos os géneros. O pó dos livros faz parte dos cheiros que nos marcam para sempre.

Alguns reencontros ao acaso:

"1968 - A Revolução Que tanto Amámos", Daniel Cohn-Bendit (D. Quixote -1988);

"Angústia Para o Jantar", Luís de Sttau Monteiro (Ática, 6ª Edição, 1970);
(No seu interior encontro uma prata, impecavelmente conservada, com um pai natal, em tons de vermelho vivo, daquelas que embrulham as sombrinhas de chocolate.);

"Memórias" - "Vale de Josafat", Volume III, Raul Brandão (Perspectivas e Realidades, sem data de edição);
(Ostenta uma nota que informa ter sido comprado na Feira do Livro de Lisboa, em 6 de Junho de 1984, 3 volumes - 500$00);

"Hiroxima - Antologia de Poemas", vários, (Nova Realidade, 1967);

"Cartas de Fuzilados"Edições "aov" - Colecção "Vitória", 2ª edição, sem data;
(O mais antigo destes livros, a carecer de restauro, certamente do período imediato à 2ª Guerra Mundial. Cartas de resistentes franceses antes de serem fuzilados. É um documento impressionante.);

"Comunidade" - Luiz Pacheco, Desenhos de Teresa Dias Coelho (Contexto-1980);
(6ª edição de "Comunidade" com os belos desenhos de T.D.C.);

"Dores" - Maria Velho da Costa e Teresa Dias Coelho; (D. Quixote, 1994).
 
[Uma ressonância antiga - de setembro de 2004 - referenciando o reencontro com muitos livros esquecidos nas estantes - uns lidos e a maior parte sempre por ler. Por acaso acabei de ler, neste momento, "Resgatados" de David Dinis e Hugo Filipe Coelho - uma surtida bem construída pelos bastidores da política nacional.]

BEETHOVEN - Symphony no. 3 "EROICA"


quinta-feira, dezembro 27

A democracia em debate

“É verdade, o senhor conhece aquela cela de masmorra a que na Idade Média chamavam o «desconforto»? Em geral, esqueciam-nos aí para o resto da vida. Esta cela distinguia-se das outras por engenhosas dimensões. Não era suficientemente alta para se poder estar de pé, nem suficientemente larga para se poder estar deitado. Tinha-se de adoptar o género tolhido, viver em diagonal; o sono era uma queda, a vigília um acocoramento.”

In “A Queda”, Albert Camus, na data em que, cinquenta anos atrás, recebeu o Nobel da Literatura.


Não sei se é vantajoso para Portugal negociar com Chávez mas todos os países negoceiam com todos e, se forem grandes potências, ninguém leva a mal. A natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios. De outra maneira nenhum país democrático negociava com a China que não é um país democrático. Porque não com a Venezuela que é um país democrático? Imaginem!

Não sei se é vantajoso para Portugal gastar energias na promoção de uma cimeira dos países da União Europeia com os países africanos. Uma parte significativa dos regimes políticos dos países africanos são cleptocracias, oligarquias, ditaduras e o mais que se possa imaginar para pior (com excepções!). Neste caso, mais uma vez, a natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios.

Não sei se é vantajoso para Portugal apostar na consolidação e aprofundamento da União Europeia e suponho que, mesmo dentro do partido do governo, campeiam dúvidas acerca da bondade do projecto europeu. Pois se a natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios que razão há para partilhar um espaço supra nacional que exige um esforço de partilha da liberdade e da democracia?

Não sei se é vantajoso para Portugal dispor de um governo que se sujeite ao julgamento das urnas, ou seja, um governo democrático se, como diz a voz do povo e a de alguns intelectuais ultra pessimistas, como Medina Carreira, os governos, nos últimos trinta anos, são todos iguais na incúria, incompetência e desleixo? A mensagem subliminar deste discurso é a de que a natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios e, ainda menos, aos cidadãos.

Há cada vez mais gente que defende que não é possível em Portugal discutir seja o que for acerca do futuro, o futuro dos portugueses, pois o tempo, no nosso tempo, corre a uma velocidade vertiginosa e os políticos eleitos, seguindo as regras da democracia representativa, tornam-se lívidos perante os ciclos eleitorais e a ditadura mediática, reduzindo a ética republicana a um minúsculo emblema que ostentam na lapela.

Se a maioria dos cidadãos está apartada da política e, na sua mão, somente luze uma vaga esperança em assegurar a sobrevivência material, não sei se não seria vantajoso para Portugal “convocar as cortes” para debater, enquanto é tempo, a própria democracia em prol de uma reforma profunda do regime democrático, a duras penas conquistado.

Ao contrário de todas as evidências a natureza dos regimes políticos interessa aos negócios e, mais do que aos negócios, interessa aos cidadãos e só o inconformismo que ouse colocar a democracia em debate pode salvar a própria democracia.

[Artigo publicado na edição de hoje do Semanário Económico – versão integral.]

(Em 7 de dezembro de 2007 refletindo acerca de uma questão que sendo colocada hoje, embora noutros termos, causa grande escândalo...)


Fotografia de Darryl Baird
                                                          

Mahler: Symphony No. 5

segunda-feira, dezembro 24

NATAL DE 2012

As celebrações fazem-nos abrir os corações, mas também adensam os dramas e acirram as disputas. A todas, e a todos, digo o que sempre digo: tornemos a breve trégua num largo horizonte de paz e concórdia. Uma tarefa de todos os dias. A sul, na minha terra, o céu está claro, o tempo ameno (noutras latitudes apela à praia!) e ouço, feitos presentes, os passos dos meus, a carne da minha carne. Que vivam!

A minha mãe.

quarta-feira, dezembro 19

Valentina Lisitsa

9 ANOS

Fotografia de Hélder Gonçalves
 
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.

(um programa para o absorto)

terça-feira, dezembro 18

UM CORPO

Um corpo desejável envolto em pose despojada
Ser tocado e fazer-se mais desejado entreaberto
Na espera do inesperado sem horas nem tempo
O corpo somente o corpo pontiagudo se derrete
E escorre ao longo dos meus lábios lentamente.

21 de Dezembro de 2004
Fotografia de Margarida Delgado
[Por vezes postei poesia mais de outros, do que minha, por gosto de compor os versos com imagens como as de Margarida Delgado que sempre me encantaram.Este é de 16 de setembro de 2005.]
                                                  

ALBERT CAMUS


15 de Set. (1937)
(...)
“Lamber a vida como um rebuçado, formá-la, estimulá-la, enfim, como se procura a palavra, a imagem, a frase definitiva, aquele ou aquela que conclui, que detém, com quem partiremos e que de futuro fará a cor do nosso olhar.”
(...)
“Quanto a mim, sinto-me numa curva da minha vida, não devido àquilo que adquiri, mas àquilo que perdi. Sinto-me com forças extremas e profundas É graças a elas que devo viver como desejo. Se hoje me encontro tão longe de tudo, é que não tenho outro desejo senão amar e admirar. Vida com rosto de lágrimas e de sol, vida sem o sal e a pedra quente, vida como a amo e a entendo, parece-me que ao acariciá-la, todas as minhas forças de desespero e de amor se conjugarão.”
(...)
“É como se recomeçasse a partida; nem mais feliz nem mais infeliz. Mas com a consciência das minhas forças, o desprezo pelas minhas vaidades, e esta febre, lúcida, que me preocupa em face do meu destino.”
Albert Camus

“Caderno” n.º 1 (Maio d 1935/Setembro de 1937) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

[Passaram 70 anos sobre estas palavras escritas por Camus enquanto jovem. Vejo que a MRF também sublinha um texto da sua juventude, “La Mort heureuse”, cujo plano foi delineado em Agosto de 1935, tinha Camus a idade de 21 anos, cuja escrita atravessa toda a sua vida, mas só foi publicado postumamente.]

Divas & Contrabaixos
UM POST  DE 21 DE SETEMBRO DE 2007 COMO REPRESENTAÇÃO DE TANTOS OUTROS COM ALBERT CAMUS .


AS FOTOGRAFIAS DO HÉLDER GONÇALVES

Na véspera do 9º aniversário do absorto um agradecimento especial ao Hélder Gonçalves que  me ofereceu, para utilização livre, um número incontável de fotografias originais de grande qualidade.


Ir ao Vaticano para Compreender

Uma das experiências mais interessantes da minha vida pública, nos últimos anos, foi a participações na “Pastoral da Saúde”, conclave, de nível mundial, realizado no Vaticano.

O Padre Feytor Pinto dirigia a representação portuguesa e eu resolvi aceitar os convites movido pela curiosidade de observar e participar na reflexão acerca de um tema que, aparentemente fechado, se estende a todas as questões de natureza social.

O convite deve ter resultado da colaboração encetada entre o INATEL e o patriarcado aquando da EXPO-98. Confirmei e reforcei as minhas expectativas iniciais: a igreja dispõe de um conhecimento profundo e alargado acerca das condições de vida das populações mais desfavorecidas do planeta.

Salvaguardando os aspectos formais e a liturgia que decorrem da entidade organizadora – a Santa Sé – que, para mim, católico não praticante, não foram sequer maçadoras, tive oportunidade de ouvir testemunhos impressionantes da situação social, em particular, dos povos africanos e da América Latina.

E para meu espanto as palavras mais duras, que fariam corar o mais radical dos dirigentes dos partidos da esquerda europeia, vinham da boca de altos dignitários, cardeais e bispos, que se não coibiam de atacar a ganância das multinacionais e a injustiça das políticas da maior parte dos governos.

A minha visão da Igreja católica mudou, a partir destas experiências de participação, tendo aprendido que nela coabitam, de facto, uma pluralidade de sensibilidades na abordagem das questões da pobreza, da doença e do papel da igreja e da comunidade na defesa dos direitos humanos.

Não sei se alguma outra instituição tem tantos recursos humanos, homens e mulheres, envolvidos na ajuda humanitária e na defesa da dignidade dos mais desfavorecidos, nos quatro cantos do mundo, desde a mais remota comunidade dos confins da selva amazónica aos arrabaldes das grandes metrópoles urbanas.

Fiquei, sinceramente, a pensar, tal como tinha acontecido na minha adolescência, acerca da utilidade da nossa vida quotidiana, em regra, afastada da defesa das verdadeiras causas humanitárias.

E ainda mais quando verifiquei, por experiência própria, que, muitas vezes, a ostentação da fé não corresponde, em nada, à prática que decorre dos ensinamentos essenciais da doutrina da igreja.

Fui ao Vaticano, participei, por duas vezes nos trabalhos desta Pastoral, incluindo uma comovente cerimónia colectiva de recepção da comitiva pelo Papa, e voltei compreendendo melhor a prática da Igreja. Percebi que os valores da solidariedade, liberdade e igualdade, que vi bailarem nos olhos de muitos dos religiosos participantes daqueles conclaves, não são património exclusivo dos movimentos laicos.
[O post de 17 de dezembro de 2004, penúltimo de uma série que dediquei ao 1º aniversário deste blogue. Oito anos passados, após muitas outras experiências pessoais, subcrevo na integra o que então escrevi.]
 

 

segunda-feira, dezembro 17

VALENTINA IGOSHINA

JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES

O João Pedro Henriques do Glória Fácil … publicou a fotografia do jantar de extinção do MES com uma legenda depurada. Os meus agradecimentos. Quando se justificar actualizarei a legenda.


1.César de Oliveira; 2.Eduardo Ferro Rodrigues; 3.Paulo Bárcia (Didas); 4.Eduardo Duarte; 5.José António Vieira da Silva; 6.Carlos Figueiredo; 7.Sérgio (?); 8.Paulo Brito; 9.António Silva; 10.Fernando Ribeiro 11.Vítor Nogueira; 12.Emília Pereira de Moura; 13.Maria Luís Pinto; 14.José Elias de Freitas; 15.Margarida Guimarães; 16.Mila (?); 18.Paulo Trigo; 19.Celeste de Jesus; 20.Francisco Cal; 22.Joffre Justino; 26.Eugénia Cal; 27.Carlos Pratas; 28.António Ascensão Costa; 29.Teresa Pato; 32.José Lemos; 33.Amadeu Paiva; 34.Luis Félix; 37.Eduardo Graça; 38.Félix (?); 40.Nuno Ribeiro da Silva; 41.Julieta Mateus; 42.Leite Pereira.

[Post de 5 de maio de 2006 lidando com um tema da história e da memória política do país. Esta é uma fotografia (única) do jantar de extinção do MES tentando identificar os membros de um grupo de participantes - a única fotografia na qual surgem tantas, e tantos, participantes do jantar - tendo posteriormente sido postadas as fotografias de autoria de António Pais retratando grupos mais pequenos.]  

CRUZEIRO SEIXAS

Ao ler uma entrevista de Cruzeiro Seixas à pergunta : “A quem desejaria dar um grande abraço?”, respondeu: ”A muitos que morreram e me fazem tanta falta como o António Maria Lisboa, o Mário-Henrique Leiria, o Jose Pierre e os meus pais.”

Curiosa coincidência a nomeação de dois poetas aos quais , recentemente, fiz referência. Mas nunca tinha referido o próprio Cruzeiro Seixas.

Até quando
sementes
estaremos entregues
a este passar sobre a terra
exausta de nos esperar?

Até quando havemos de sonhar
ser flor e fruto
e não a dor infinita da morte
do teu olhar?
(Áfricas 957)

Cruzeiro Seixas, Poema Inédito (e entrevista) In “Poetas Visitados”, de Maria Augusta Silva – Edições Caixotim

                                               [Post de 21 de Julho de 2005. Atravessando o mar da poesia ... ]