domingo, março 26

DIA MUNDIAL DO TEATRO

O dia 27 de março é consagrado como Dia Mundial do Teatro. Sempre assinalo esta data não por mera celebração de uma efeméride mas porque o teatro desempenhou um papel muito importante na minha vida. Na alta adolescência, por altura do meu 6ª ano do liceu, num tempo de trevas culturais, o meu irmão deve ter impulsionado a minha aproximação à atividade teatral. As relações com o Dr. Emílio Campos Coroa haviam sido estreitadas e daí deve ter resultado a minha integração no Grupo de Teatro do Circulo Cultural do Algarve - mais tarde "Teatro Lethes" - após ter já sido iniciado pelo Dr. Joaquim Magalhães nas atividades teatrais do liceu. Foi uma oportunidade de intensa sociabilização, aprendizagem da arte do teatro e exigente exercício de enfrentamento dos públicos. Muito entrada em cena, muito palco e fala e necessário conhecimento de dramaturgos de referência. Somente a minha saída da cidade de Faro para Lisboa me separou desta experiência que marcou a minha formação pessoal e cultural para sempre. Bem hajam aqueles que me impulsionaram e acompanharam nessa formalizável experiência teatral.
(As fotografias mostram o símbolo do GTCCA e a mim próprio - pelos meus vinte e poucos anos - numa cena de "Histórias para serem contadas", do dramaturgo argentino Osvaldo Dragun.)

terça-feira, março 21

GRATIDÃO

Neste inicio de primavera umas palavras de gratidão. Nos últimos dias ficou a conhecer-se publicamente uma senhora de nome Luísa Ucha. Fiquei a saber, pelas notícias, que está a exercer funções no gabinete do Secretário de Estado da Educação. Conheço-a pessoal e profissionalmente da minha última estadia (em modo prateleira), numa direção geral do ME designada por DGIDC (julgo não me enganar). Ora é para dizer que, à época, conhecendo-me a Luísa havia pouco tempo, logo se disponibilizou para ser minha testemunha numa providência cautelar no âmbito de processo disciplinar que me foi movido pelas artes da santidade do Dr. Bagão Félix. Ganhei o processo, ganhei todos os processos, mas neste a Luísa Ucha, mostrou-se mulher intuitiva, inteligente e corajosa. Nunca mais esqueci o seu gesto e aproveito este incidente em que a envolveram para lhe demonstrar toda a minha gratidão. Acredito nela acima de todas as notícias que a queiram denegrir.

domingo, março 19

Meu pai na janela do mundo

O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.

Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.

A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.

A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.

domingo, março 12

GUERRA?

Imensa gente das mais variadas qualidades tem dito, e redito, sempre e, recentemente, com maior insistência e densidade: o mundo está perigoso! Qual é o espanto pelos reais sinais de guerra?

terça-feira, março 7

Foi bonita a festa ....

A minha tia Lucília mostrou-se, na festa do seu centenário, lúcida e resistente como sempre ao longo da sua vida. A família, e os amigos, marcaram presença e a Maria da Conceição (minha prima, organizadora da festa) "obrigou-me" a falar aos presentes. O prazer foi todo meu!
(Fotografias de Margarida Ramos)

sexta-feira, março 3

O centenário da minha tia Lucília

Da esquerda para a direita: o meu irmão Dimas de flor na lapela. O meu pai Dimas, vestido a rigor, de fato e gravata. Minha mãe, Tolentina, de fina camisa branca. A avó, Maria da Conceição, já doente, austera no seu vestido preto. A tia Lucília, uma beleza cinéfila, brilha à luz quente que envolve o Algarve de todas as estações. O mais pequeno, eu próprio, circunspecto, talvez, pela contrariedade do traje.

A minha tia Lucília faz amanhã 100 anos e arrisco evocar o seu aniversário de véspera. Esta é a mais comovente de todas as celebrações. Irmã mais nova de meu pai. Nascida em 1917. Os fragmentos de suas memórias sempre me surpreenderam. A primeira mulher que me beijou chamada às pressas para ajudar no meu nascimento. Uma mulher linda que se desprende ao encontro dos outros. Nesta fotografia, no largo quintal de sua casa, somos os sobreviventes do grupo que mostra uma família feliz.