sábado, março 31

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Uma infância perfurada por zeppelins.
Hoje, de comando na mão, zappas.

És o canhoto de um anjo – melancolia
que te sufoca o amor e as veias,
uma a uma, esvaziadas de Deus.

Mas a que outra luz pode o coração
aceder se o lugar não foi capinado,

se a treva amarinha no imo líquido
das gavinhas sem tu a teres capinado –
e os anjos e os rinos quase extintos?

Vinte unhas: o escuro mate da morte.

António Cabrita
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sexta-feira, março 30

OS GARROCHINHOS

Posted by PicasaA Defesa de Faro

Um comentário que deixei lá a propósito dos barbeiros da minha meninice.

A barbearia dos meus suplícios juvenis era ali um pouco mais para cima naquela rua que desce no alinhamento da do Alportel paralela à Coelho de Melo onde era a casa de meus pais. A barbearia era dos Garrochinhos (pai e filho). O filho era muito mais alto do que o pai que por sua vez tinha um filho que nunca mais vi. Veio para Lisboa ser enfermeiro parece-me que no Júlio de Matos. O Garrochinho barbeiro filho também era árbitro de futebol e no “corte à escovinha” calhava-me ora o pai ora o filho. Mas não fazia nenhuma diferença o suplício que me causava o exercício do mister. Não gostava de ficar preso na cadeira. Não gostava que pessoas estranhas me mexessem na cabeça. A cadeira era como aquela da fotografia antiga. Foi a maior tortura da minha meninice. Fiquei com fobia às batas brancas. Ainda hoje não me dou bem com a visão delas. O meu dentista amigo e companheiro de escola o Bexiga já sabe e a bata dele é verde. Ao barbeiro deixei praticamente de ir. Também para cortar o quê? Mas vou viver com os Garrochinhos à volta da minha cabeça a vida toda.

O ESPANHOL

Se habla español
Sylvia Colombo

(…)
O espanhol é hoje a quarta língua mais falada no mundo (depois do chinês, do indiano e do inglês). Há quem diga que vai logo competir diretamente com o inglês. O lingüista britânico David Graddol, ouvido pelo "Babelia", já cravou a data: 2050. Não está tão longe. Será que dá tempo para saírmos do arroz-com-feijão do nosso diálogo com os vizinhos?



VAN GOGH

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quinta-feira, março 29

CANÇÃO DO RIO PROFUNDO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Desci o rio profundo
com as sereias cantando
nos rochedos
espelho na mão
penteando
ao pôr-do-sol
os cabelos

E vi o gnomo
escondido
guarda fiel dos segredos
que nenhum canto revela
nenhum pente
nenhum segredo
só o fulgor deste mundo.

Y.K. Centeno
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A IMPORTÂNCIA DAS COISAS

Posted by PicasaFotografia daqui

Uma notícia verdadeiramente importante. Ao menos os tons são fortes e os mitos que encarnam não auguram qualquer herança negra da qual nos tenhamos que apartar. Milhares de imagens de ídolos do passado e do presente poderiam hoje ocupar os ecrãs todos do mundo sem nos causarem calafrios pela lembrança dos pesadelos da história. É a vantagem da beleza mesmo quando a sabemos encenada para consumo corrente.

DIALOGICA

Apresentando dialogica

ILHA DAS FLORES

Este no es un Film de ficción - Existe un lugar llamado Isla de Flores - Dios no existe - Trece minutos que dan lugar a mucho que pensar (un mundo)
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quarta-feira, março 28

EMPATE

Posted by PicasaFotografia daqui

As sondagens dos últimos dias mostram Ségolène Royal e Sarkozi empatados após um longo período em que o candidato da direita surgia na frente. Quererá isto dizer alguma coisa?

Curiosamente Jean Daniel mostra, na sua crónica de ontem, entusiasmo pelo desempenho de Ségolène após ter participado num comício pela primeira vez desde 1981:

“Ségolénistes ou pas, les dernières prestations de la candidate ne devraient ni irriter ni décevoir les Français qui se veulent encore de gauche. Restituer au peuple ses trois couleurs, lui dire que cela le rend plus universel, donc, déjà, plus européen, lui rappeler qu’aimer la France est le meilleur moyen de la faire aimer de ceux que l’on accueille, souligner que pour arracher les conquêtes sociales, il a fallu que la nation eût d’abord, selon le mot de Renan, une « âme », rien de tout cela ne devrait susciter la moindre polémique. J’étais en tout cas sur les lieux du crime. Il ne semble pas qu’à Marseille on ait été choqué ce soir-là par « la Marseillaise ». Il y a longtemps que je ne suis plus familier des meetings. Le dernier était à Toulouse, pour Mitterrand, en 1981. Il s’était surpassé. Il n’en a rien été pour Ségolène, jeudi dernier. Mais c’est précisément ce qui m’a déconcerté : c’est qu’avec une telle économie de moyens elle ait pu si souvent susciter l’enthousiasme.»
(...)
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DONO DO BAR

Posted by PicasaBLOG DO DONO DO BAR

Não sei como cheguei a este lugar ordinário, porém limpinho... mas cheguei … e ele diz o que tantas vezes me apetece dizer …
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MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO

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PRESIDENCIAIS FRANCESAS

Posted by PicasaSégolène Royal

Síntese das últimas sondagens no Margens de Erro.
Está à vista uma segunda volta entre Ségo e Sarko com Bayrou por perto.
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terça-feira, março 27

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Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Bendito sejas arado
que lavras
neste chão sagrado
por odisseias mil
as palavras
rubras e secretas
na boca dos poetas
proclamando Abril.

6/1/99

Papiniano Carloshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Papiniano_Carlos

A RASURA DA MEMÓRIA

A propósito dos convites de Cavaco para a celebração dos 50 anos da UE Porfírio Silva, na Machina Speculatrix, ilustra uma tradição que vem de longe: a rasura da memória, técnica mais ou menos brutal, mais ou menos subtil, mas sempre desprezível.

Cavaco, Estaline, Soares, Trotsky e o Adobe Photoshop
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DIA MUNDIAL DO TEATRO

Posted by PicasaEmílio de Campos Coroa – Pormenor da medalha evocativa da inauguração da sede do INATEL em Faro – “Casa Emílio de Campos Coroa”

Um dia muitos anos atrás, por iniciativa do meu irmão que achava que eu devia participar em actividades culturais para me ilustrar, ocupando o tempo e gastando as energias, entrei para o grupo de teatro do Circulo Cultural do Algarve, companhia amadora, dirigida, em Faro, pelo médico oftalmologista Emílio de Campos Coroa.

Já não é a primeira vez que me refiro a essa personagem fascinante que era o Dr. Coroa, um humanista desabrido, democrata da escola coimbrã, capaz de abrir caminhos por entre os mais duros obstáculos, um homem excessivo em tudo, inclusive como fazedor de obras difíceis.

Ele fez com que eu subisse ao palco, decorasse papéis, colocasse a voz e me afeiçoasse, o melhor possível, às personagens que me distribuía a maioria das quais criações de Gil Vicente aquele que dizem ter sido o criador do teatro português.

Um dia, muito mais tarde, dei comigo a pensar por que carga de água não existe em Portugal um teatro que se dedique em permanência a pôr em cena a obra vicentina que haveria de ser o Teatro Nacional D. Maria mas não é nem, quase certamente, será no futuro.

O teatro de Gil Vicente não cabe nos nossos teatros como no nosso país não cabem os grandes talentos que nele minguam à falta de espaço ou se retiram com descrição, ou estrondo, para a estranja.

E é isto que me soe dizer neste dia mundial do teatro que tantas prazeres me deu, e dá, e fascínio me suscitou, e suscita, quando dele me aproximo e nas suas diversas facetas se apresenta, com autenticidade, representando a vida das gentes e as tramas das sociedades. Bem hajam os criadores!

segunda-feira, março 26

UMA ENCRUZILHADA TERRÍVEL

Fotografia de Angelle

As classificações de serviço na administração pública, com aplicação de quotas, visam introduzir diferenciação entre os funcionários com base na qualidade do seu desempenho. É a velha questão de que nem todos podem ser muito bons. É verdade.

Mas a aplicação desta política, na fase inaugural, está a criar um fosso entre a classe dirigente e a maioria esmagadora dos funcionários. Uma guerra sem quartel. Esta é a simples constatação de um facto. Se lhe juntarmos a execução da política de excedentários a guerra agrava-se. Só há que saber quais os critérios objectivos adoptados para classificar e excluir.

Se os dirigentes conseguirem explicar os critérios, caso a caso, o governo ganha a guerra. Mas são mais de 700.000 casos numa população que não deve exceder um total de 3 milhões de activos. Este é o lado negro da política de consolidação orçamental, ou seja, o seu custo mais pesado e dramático.

É que não se podem colocar as pessoas na posição de declarar: “se for preciso, para melhorar a situação do país, suicido-me!”. Pois, na verdade, o que é o país senão a comunidade das pessoas, de todas as pessoas, que são, no fundo, com seus defeitos e virtudes, o seu mais precioso tesouro!Uma encruzilhada terrível!
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O MAR A GALGAR O PAREDÃO

O parque de campismo, o INAG, o Neves e o paredão. Não há paciência! Conheço todos, menos o INAG. O campismo porque fica ao lado do parque do INATEL. O Neves porque trabalhou comigo no GEBEI* e o paredão porque sim. O mar a galgar o paredão tem uma intensa ressonância erótica. É o único aspecto interessante no caso. O mar a galgar o paredão. O mar tem sempre razão!
*Dizem-me que foi no GETAP!!!

MICHELLE DE BRITO

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O MEU IRMÃO DIMAS ENTRE COLEGAS

Posted by PicasaFotografia de Família
(Clicar para aumentar)

Fotografia do meu irmão Dimas (o primeiro em baixo à direita) com um grupo de colegas do Liceu obtida, quase de certeza, na Alameda de Faro. Pela data, manuscrita na fotografia, o meu irmão andava pelos seus 16/17 anos, a fase mais difícil da sua adolescência. Tinha, curiosamente, a mesma idade que o meu filho tem agora.

Pouco tempo depois, no ano seguinte (?), abandonaria os estudos liceais a caminho do Porto onde aprenderia as duas profissões (gravador e óptico) que lhe granjearam, até ao fim da vida, prestígio social e sucesso empresarial.

Anoto a sua tez morena, face compenetrada, fato completo, camisa branca, gravata decorada, relógio de pulso e o relevo das mãos, grandes e finas, suspensas do seu corpo, alto e esguio, com uma medida a mais para a época.

O grupo partilhava um momento de confraternização, todos igualmente bem vestidos, apertados para caberem na fotografia, usufruindo, unidos, os favores do tempo e os prazeres do lugar numa ambiência típica dos anos 50 do século passado.

domingo, março 25

O QUE PENSA SIM E O QUE PENSA NÃO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Há o que pensa sim e diz que não
há o que pensa não e diz que sim
há aquele que decerto me odeia
e não faz senão rir-se para mim

Há o que diz que sim e diz que não
conforme a meia-cara com que fala
e aquele que diz sim que sim que sim
sem saber o motivo que o embala

Há o que pensa sim e diz que sim
e esse é concerteza meu irmão
esse que diz sim pensando sim
é o que luta por uma razão.

Fernando Miguel Bernardes
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SACANICES

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sábado, março 24

LEITURAS

Posted by PicasaPeter Sloterdijk

A minha mulher pediu-me para comprar o “Expresso” e eu comprei. Antes disso, logo pela manhã, o Madrinha do “Expresso”, no café onde tomo o pequeno-almoço, olhou-me com melancolia quando peguei no “Sol”, disponibilizado gratuitamente, e o folheie com um certo sentimento de náusea. O Madrinha deve ter ficado com pena e eu fiquei com pena que ele não pudesse, apesar de tudo, ter acesso ao meu estado de alma.

A ideia, ou pretexto, para comprar o “Expresso” era uma entrevista com o Jacques Delors. Acabei de a ler. Nada de novo a não ser que o “velho” Delors fala com sabedoria do que sabe … e sabe muito. A Europa a 27 é, ao mesmo tempo, uma dificuldade e uma inevitabilidade. Pode ser esta uma síntese do que ele diz.

Mas o que retive e mais me interessou foi a sua última afirmação, essa sim verdadeiramente importante mesmo para o Portugal dos nossos dias: “à pergunta: “qual foi a decisão política mais importante da sua vida?”, respondeu: “Foi conseguir que o Governo francês aceitasse, em 1970/71, a educação contínua, tornando o ensino possível ao longo de toda a vida. Foi uma decisão de vanguarda que permitiu às pessoas de todas as idades o regresso à escola, para receber formação, enriquecendo-se cultural e profissionalmente. Foi a decisão mais importante da minha vida, porque tal como afirmei há pouco: em cada pessoa existe um tesouro.”

Mas mais importante do que a entrevista com Delors reparei no “Expresso” numa outra com o filósofo alemão Peter Sloterdijk. Respigo algumas passagens das suas respostas que vão ao encontro das minhas próprias preocupações:

“A estagnação demográfica da Europa é acompanhada por uma espécie de diminuição do papel e do potencial intelectuais deste continente. Então compreendemos por que é que há uma espécie de melancolia generalizada nos europeus. A Europa podia ser algo de muito mais entusiasmante se possuísse uma juventude disposta a entusiasmar-se.”

“Para os nazis havia um “povo sem espaço”. Hoje, temos espaço sem povo.”

“O romantismo do político é a ideia de que uma pequena guerra civil – a agitação de massas, os movimentos políticos na rua – não tem nada de nocivo. Nessa pequena guerra civil os intelectuais estão como o peixe na água. E agora os intelectuais estão em terreno seco. Daí, o facto de alguns querem (quererem) reinventar a política para obterem um papel a desempenhar nessa guerra divertida.”

“Continuamos a habitar na Europa, mas emigramos para um outro país. Por vezes, também utilizo o conceito de velha Europa como sinónimo de Europa do pensamento metafísico. E a nova Europa é uma Europa filisteia e pragmática, onde a paixão metafísica se evaporou.”

LIBERDADE

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Era ainda a voz da juventude
quando a liberdade entrou
pelo canto da boca

As mãos acariciavam o sonho
enquanto o cheiro cinzento das grades
evadia os ideais

Hoje
em busca da palavra
o novo Abril amotina-se
na memória

Inconformada
pelo preço do não ser
arde agora
a palavra
traída
sem ousar … falar

26/1/99

Fernando Macias
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III CONGRESSO DO MES - UM COMENTÁRIO

(Clique na fotografia para ampliar)
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A constituição da mesa com algumas (poucas) dúvidas. Da esquerda para a direita: 1) Atílio ("velho") 2) José Luís Ganhão 3) Fernando Sousa 4) Francisco Farrica 5) Jerónimo Franco (?) 6) Nuno Teotónio Pereira 7) Eduardo Graça 8) Augusto Mateus 9) Manuel Pires 10) António Machado (?) 11) (?)

Fiquei feliz com a mensagem deixada pela filha do José Luís Ganhão neste post de Outubro passado. Reproduzo, de novo, a fotografia que pode ser vista com uma ampliação maior o que facilita a identificação dos personagens.
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Relativamente aos membros da mesa do III Congresso consigo identificar desde logo o meu pai – José Luís Ganhão, como o segundo a contar da esquerda. Fontes familiares avançam com mais alguns nomes, a confirmar, sempre a contar da esquerda – Joaquim Banha em terceiro, Augusto Mateus em quarto e Eduardo Graça em sétimo.

Já agora, se me permitem, que agradável é ver parte da nossa história disponível para consulta a quem, como eu, era bastante novo quando esteve presente nestes palcos de luta ou para quem não os visitou mas ouve falar de uns tempos em que se defendia com garra aquilo em que se acreditava.

Porque o sonho continua nos filhos de cada protagonista daqueles tempos...

um bem haja

Cristina Ganhão Rodrigues

sexta-feira, março 23

MICHELLE BRITO

Ténis: Michelle Brito enfrenta hoje 12ª classificada do ranking mundial

Grande país que não enxerga as suas riquezas mesmo quando estão debaixo do nariz. Despreza o mérito próprio e cobiça o alheio como ninguém. Quantos talentos, de gente de todas as idades, desperdiçados e, pior do que isso, desprezados. A nossa pobreza está no espírito mais do que no bolso. A nossa visão do mundo, e de nós próprios, embaciou, vá lá saber-se porquê? Quem tenha olhos para ver encontra à sua volta uma multidão de lapsos aterradores na apreciação dos méritos alheios. O Estado não pode valer a todos mas pode ajudar a prestigiar uma verdadeira cultura na qual o mérito não seja uma palavra para encher a boca dos caçadores de subsídios, prémios e comendas. Ponham lá os olhos na Michelle Brito e em mais um montão de “campeões” cujos pais não podem pôr-se a caminho dos USA.
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ENOJANTE

Posted by PicasaFotografia daqui

O que me espanta é a ideia que determinados jornais sejam “de referência”. Podem-no ter sido, ou sê-lo intermitentemente, ostentarem essa imagem por congregarem a colaboração de “líderes de opinião”. Mas isso não é suficiente para fazer deles “jornais de referência”; quanto muito são-no em “part time”. O jornalismo de referência do “Público”, por exemplo, é pior do que muitos possam pensar: a directoria obedece à voz do dono e presta-se às mais abjectas vinganças. Conheço o género. Enojante.
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DOURO DE MIE ALMA

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Ah! riu de ls mius amores!
Guardian de las streilhas.
Quanto gusto de ti
I de ls tous ancantos!
Que buòno vê
Ber las ailas a bolar.
Ls paixaricos a cantar.
Las fáias a assomar …
Oubir, scuitar …
Ls cachones a fungar.
Niébros i carrascos a silbar.
Pastores sues fraitas a tocar
L’auga a caminar
Sien parar …
Pa l mar eimenso …
A chorar …
Ah! Douro de mie alma!
Tu tenes, boç.
Sós fuônte de bida.
D’einergie i riqueza.
L sangre de la tiêrra.
Como tu.
Nun hai eigual.
Sós la lhuç de Miranda.
Lhuç de Pertual!

Domingos Raposo

(Em língua mirandesa.)
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quinta-feira, março 22

OTA

Posted by PicasaImagem daqui

Comentário que escrevi directamente na caixa dos ditos no “A Defesa de Faro” a propósito da localização – ou lá o que seja – do futuro aeroporto a que se convencionou chamar a questão da OTA:

É possível que sejamos um país muito especial. Tudo o que seja obra de grande porte – estruturante – é sempre de parto difícil. O Duarte Pacheco - como Ministro das Obras Públicas de Salazar - construiu várias obras de vulto, algumas delas, ao arrepio da opinião do próprio Presidente do Conselho. Depois morreu num desastre de viação esborrachado contra uma árvore. A ponte sobre o Tejo - a primeira - chamada, por ironia, Salazar e depois 25 de Abril - também mereceu as maiores reservas ao ditador. Penso mesmo que o homem saiu da sala de reuniões do Conselho de Ministro na hora da aprovação da coisa. Custava muito dinheiro e não se percebia muito bem para que servia uma ponte daquelas tão grandes. Salazar não sabia nada de aeroportos nem lhe faziam falta nenhuma esses conhecimentos pois só uma vez andou de avião. Fez uma viagem Lisboa-Porto e quando aterrou, meio enjoado, exclamou que nunca mais andava numa coisa daquelas. O Metro de Lisboa nunca construiu a ligação do Aeroporto da Portela a Lisboa o que sempre foi um verdadeiro mistério - alguém que explique! Desde o verão 1932, quando tomou posse como Presidente do Conselho, até ao fim, muitos decénios depois, Salazar nunca visitou sequer as colónias que eram uma das razões principais da sua política e a maior riqueza - no plano económico e estratégico -de Portugal nos tempos ante 25 de Abril. Portugal, ou pelo menos uma parte dele, ainda continua a viver no Salazarismo: o ideal seria viver em autarcia, fechados sobre si próprios, isolados do mundo, um quintal, uma rosa e o trinado de uma guitarra. Um dia destes quando uma máquina voadora, daquelas grandes, cair em cima de Lisboa, na aproximação a essa espécie de bairro de Lisboa, com pistas de aterragem e torres de controle, aqui d'el rei que já nos deixamos atrasar.

[Corrigi até dois ou três erros que resultaram da escrita rápida e directa deste sobredito cujo comentário.]
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