segunda-feira, dezembro 19

8 ANOS



2003-2011 – O ABSORTO que hoje faz 8 (oito) anos de existência, em laboração ininterrupta, tem sido para mim uma janela para o mundo dos afectos, memórias, amizades e conhecimentos. Flutuei, ao longo do tempo, entre a pura diversão, a reflexão fugaz, a partilha de paixões, incensando temas e autores, sem nunca, até hoje, me ter sentido incendiado pelo desprazer. O ABSORTO é um lugar de estar em paz comigo próprio, e com os outros, através de um exercício solitário de apaziguamento. Nada mais. Escreverei mais tarde o que hoje não tenho tempo para escrever. Agradeço a todas, e todos, que me têm dado uma atenção constante que pressinto por entre os silêncios cúmplices. A eternidade é uma ideia sem futuro, escreveu Camus, e subscrevo. Somos natureza com suas virtudes e defeitos. Somos mundo por entre os rumores e as dores do mundo. Somos Portugal mesmo quando a desesperança se intromete nos nossos sonhos. Prossigamos.

domingo, novembro 27

Amor Electro

BOLO DE AMÊNDOA E DE GILA (5501 POST)

 
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No dia em que a UNESCO declarou o Fado Património Imaterial da Humanidade deixo, em homenagem a minha mãe, que tanto gostava de fado, um dos posts mais visitados deste blogue.

No outro dia num pequeno café/restaurante aqui para os lados de Campolide serviram-me um doce de sobremesa. Senti o sabor da gila e da amêndoa, uma textura que me reenviou para o “bolo de gila” da minha mãe. Uma especialidade. São os momentos em que nos reencontramos, de verdade, com a vida.

Lembrei-me de uma história que ela contava. Já tarde, decidiu tirar a carta de condução. Fez o que tinha que fazer. Código, lições de condução, exames. Em todos passou. Aprovada. Carta na mão.

Alegria. Era mais um passo na afirmação da sua autonomia. O examinador, segundo ela, era muito simpático. Vai daí minha mãe, como sempre fazia, sem falsos pudores, preparou, com esmero, um bolo de gila para lhe oferecer. Dirigiu-se a ele e o Eng.º não quis receber a prenda. A minha mãe tomou-se de uma indignação sem limites. Insistiu.

Voltou a insistir. Não compreendia os problemas do homem que, finalmente, se deu por vencido e aceitou o bolo. Cedência a uma manifestação de regozijo? Ou aceitação do pagamento de um favor? O que a minha mãe queria era festejar!

terça-feira, novembro 15

AGRADECIMENTO


A todas e todos, que marcaram presença no almoço/convívio de celebração dos 30 anos da extinção do MES, os nossos agradecimentos. Foi muito agradável rever os rostos que, com mais ou menos nitidez, nos ficaram na memória de um tempo que marcou as nossas vidas.

Não quisemos mais do que ser fiéis ao espírito do puro encontro, sem pompa, mas com dignidade, sem discursos, mas com abraços, sem vénias, mas com sorrisos, nostálgicos por vezes, mas autênticos, reavivando memórias que, por um momento, se fizeram presentes.

Aos que puderam vir de longe, da África à Ásia, do Norte ao Sul de Portugal, da Europa às Américas, de muitos lugares distantes, antecipando regressos ou adiando compromissos, deixamos uma saudação especial em nome de todas e todos, que responderam presente aceitando confrontar a resignação do esquecimento, partilhando, de forma subtil, o reencontro, apesar dos desencontros do passado.

Este foi um encontro em que estiveram representadas todas as gerações e sensibilidades, que construíram e partilharam a curta, mas intensa, experiência do MES. Um encontro irrepetível de discreta reconciliação entre todas e todos, que antes, ou depois, da formalização do MES algum dia cumpriram uma tarefa, participaram num debate, formularam uma proposta, rejeitaram uma decisão, suportaram uma injustiça, entrando ou batendo com a porta.

Lembramos os ausentes, que tendo partido para sempre, estão presentes na memória e no coração de cada um de nós, cujos nomes não citamos para não cometermos a injustiça do esquecimento de alguns. Saudamos os que não puderam estar presentes, contra a sua vontade, entre os quais ousamos referir os nomes do Nuno Teotónio Pereira, do Jerónimo Franco, do Marcelo Ribeiro e do João Mário Anjos. Que vivam !

Os agradecimentos finais são para os jovens e, na pessoa, do Raul Pinheiro Henriques, para todos os voluntários que nos ajudaram na organização do evento, extensivos ao pessoal do INATEL.

Vamos fazer o inevitável e necessário balanço, distribuir-vos, a propósito do almoço fotografias e textos que nos pareçam interessantes, convictos de que, através deste simples encontro, demos um contributo para uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.


Lisboa, 14 de Novembro de 2011


A Comissão de Recepção

António Pais
Eduardo Graça
Filomena Aguilar
Helena Caniço
Inês Cordovil

domingo, novembro 13

UMA LEITURA (POLÍTICA?) DO ALMOÇO DOS EX-MES

 
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Um belo texto político acerca do almoço/convívio dos ex-MES de autoria de Rui Namorado.

Algumas centenas de antigos militantes do MES comemoraram, ontem, na Costa da Caparica, os trinta anos da sua extinção. Estiveram presentes protagonistas das principais cisões e vários rostos da vida completa do MES. Estiveram presentes cidadãos que usaram a sua vida sem protagonismo na esfera pública, militantes de diversas causas generosas, militantes políticos sem exposição mediática, detentores de prestígios exteriores à política, deputados e ex-deputados, ex-Ministros, ex-Secretários de Estado, ex-Secretários Gerais do Partido Socialista, um ex-Presidente da República. Sem mesas de honra, sem primeiras filas, sem vénias, mas com um grande calor humano, com uma fraternidade subtil mas patente, bem dispostos. Gente com uma auto-imagem suficientemente afirmativa para pensar que o que fez, em conjunto, sob aquela bandeira, por pouco que tivesse sido, foi importante; mas com a auto-ironia bastante para saber que essa importância não justifica a empáfia da grandiloquência.

Se um voo rápido da imaginação nos levasse a ver toda aquela gente, apostando numa iniciativa política comum, é realista pensar-se que a paisagem política portuguesa seria outra. E mesmo que, num assomo de modéstia, a imaginação se limitasse ao espaço de um único partido (pensando naquele a que pertenço, penso no PS), é realista pensar-se que, se aqueles que ali estavam e são militantes do PS, traduzissem o sentido que atribuíram aos sonhos ali comemorados numa imaginação política actual, em que todos se reconhecessem, rapidamente nos afastaríamos de qualquer cinzentismo abafado. Mas todos sabemos que essa imaginação não é realizável, embora a devamos deixar pairar como sombra orientadora ou como amável e virtuosa ameaça, ainda que frágil e suave.

O tempo deixou, no que cada um de nós viu no rosto dos outros, a sua implacável marca e uma discreta melancolia. A memória foi-nos reconduzindo aos rostos dos nossos passados, num intercâmbio de recordações dispersas e calorosas, por vezes simplesmente intuídas, às vezes passageiras, sempre luminosas. As diferenças antigas tornaram-se pequenas e amigáveis. O essencial ficou de pé, como uma saudade da razão.

Vivemos um tempo em que algumas narrativas das grandes esquerdas já foram encerradas nos atalhos da história, enquanto outras parecem ter perdido o futuro, quando se deixaram extraviar demasiadas vezes nos seus presentes. Mas o tempo cruel do capitalismo agonizante não conseguiu fechar, na arca dos impossíveis e do esquecimento, as desamparadas narrativas das pequenas esquerdas. Elas que nasceram frágeis e minoritárias (quando eram enormes as narrativas dum realmente existente, que afinal não existia), questionando-se ao mesmo tempo que questionavam, subsistem com simplicidade, abertas a novos sonhos e a novas maneiras de sonhar um futuro.

Cientes da diversidade de opiniões ali presente, mas que a ninguém embaraçou, aquelas centenas de cidadãos, sob a superfície emocionada de uma simples efeméride, penso eu, que homenagearam a semente de utopia que há trinta e quarenta anos os animou. Uma utopia feita de palavras simples, virtuosamente indissociáveis, sedentas de uma sinergia insubstituível: liberdade e democracia; igualdade e justiça; fraternidade e solidariedade. Ou seja, sair do capitalismo pela mão do povo, através da sua vida e da sua força, através de mutações sociais politicamente sustentadas, com a ajuda (apenas ajuda, ainda que importante) de um Estado que seja democraticamente seu. Numa palavra, levar a democracia ao extremo de si própria.

UM ALMOÇO SINGULAR


A Comissão de Recepção do almoço/convívio dos ex-MES que se realizou ontem. António Pais, eu próprio, Filomena Aguilar, Helena Caniço e Inês Cordovil.

Durante a tarde foi exibido um filminho (amador), mas com alguma imagens históricas marcantes, e revelada uma novidade (para muitos), qual seja a origem da linha gráfica inaugural do MES, concebida por um designer inglês, residente em Portugal desde 1973, chamado Robin Fior. Um exercício difícil mas versando uma das facetas mais originais do MES, a começar pelo seu símbolo feminil, tendo sido mostradas as alternativas de símbolo a adpotar pelo MES que, no verão de 1974, estiveram em cima da mesa. Algo muito especial!

quinta-feira, novembro 10

NUNO BREDERODE SANTOS

 
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Dos Caminhos da Memória

Nas vésperas do almoço de celebração do 30º aniversário da extinção do MES

Julgo não cometer nenhuma inconfidência grave se revelar que, um dia destes, almocei com o Nuno Brederode Santos. Os anos passaram e as minhas incursões pelas memórias do MES fizeram despertar nele, no meu entendimento, a necessidade de uma reflexão acerca de algumas reservas mentais que apimentaram a batalha do I Congresso do MES nos finais do ano da graça de 1974.

Curiosamente ficámos a saber, no decurso do repasto, que o nosso regresso às lides políticas, ocorreu em Outubro desse ano pelas mesmíssimas razões. Ele «guerreava» em Moçambique, no curso de uma longa comissão na guerra que combatíamos, eu «guerreava» na magna tarefa de instruir levas de milicianos – alguns deles ilustres intelectuais da nossa praça – habilitando-os para a deserção ou para o combate numa das frentes dessa guerra, para nós, desditosa.

Além de agradável, no plano pessoal, como haveria sempre de ser, a conversa revelou-me algumas facetas do primeiro conclave do MES que se me haviam varrido da memória e que, como consequência, levaram a omissões involuntárias nas anteriores deambulações que empreendi acerca do tema. Não é que a coisa tenha uma importância por aí além mas, na verdade, nunca me tinha apercebido de que o Nuno, ele próprio, fora um dos principais, senão o principal, tenor da tese da ruptura.

Se tivesse sido alcançada uma conciliação de posições permitindo manter a unidade, que acabou por se quebrar com estrondo no I Congresso do MES, seria uma derrota para a sua tese que, pelo que entendi, preconizava a criação de uma espécie de federação, inorgânica, de grupos convergentes que, sem um compromisso demasiado vincado com as forças partidárias emergentes, permitiria ganhar tempo, congregando vontades, para a formulação de um programa político à margem da inevitável opção entre um «compromisso histórico entre famílias socialistas» ou uma deriva esquerdista.

O Nuno revelou-me ainda algo que se me tinha varrido da memória e que, na sua opinião, foi um factor decisivo, pelo seu efeito psicológico, na consumação da ruptura com o MES daquele que seria conhecido como o grupo de Jorge Sampaio: uma intervenção radical, em pleno Congresso, de Afonso de Barros, filho de Henrique de Barros que, por razões geracionais era tido como elemento próximo do grupo com o qual, naquele momento, romperia de forma brutal.

Com essa intervenção de Afonso de Barros, da qual não me lembro uma palavra, NBS deu, de imediato, como adquirida a vitória da sua tese, fundada numa confessada reserva mental, ou seja, a da inevitabilidade da ruptura ainda antes da formalização do MES como partido político. Pois sendo a ruptura consumada num momento anterior ao acto final do I Congresso, não seria a reserva mental que presidiu à estratégia dos dissidentes revelada nem estes jamais seriam dissidentes de um partido ao qual, afinal, nunca haviam aderido.

Com esta revelação mais se vincou a ideia, que sempre tenho acalentado, de que teria sido possível celebrar um acordo entre as partes desavindas, com o empenho de meia dúzia daqueles a que NBS sempre designou por «zulus», derrotando a sua tese que, acabou por sair vencedora aproveitando a imaturidade, pessoal e política, da maioria desses «zulus» entre os quais eu me incluía.

Assim andámos todos, de um e outro lado, anos a fio, na dúvida acerca do lugar exacto, e do papel de cada um, nos acontecimentos dos primórdios do MES como se fosse importante manter reservas e distâncias quando a ruptura, provavelmente, nunca se chegou a concretizar pelo simples facto de nunca se ter criado o «corpus partidário» que poderia ter sido alvo dela.

O MES foi, porventura, um mal entendido extinto por quase todos os que se haviam confrontado no I Congresso, através do celebrado, e inédito, convívio de 7 de Novembro de 1981. Só faltam esclarecer uns pormenores que, com a passagem do tempo, se refinaram ganhando a patine das preciosidades inúteis que todas as famílias rejubilam em poder contar como património comum.



terça-feira, novembro 8

JOÃO MÁRIO ANJOS

 
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João Mário Anjos (à esquerda), Eduardo Ferro Rodrigues (ao centro) e o subscritor (à direita).

Publicado nos Caminhos da Memória

Nas vésperas do almoço de celebração do 30º aniversário da extinção do MES dedico a reedição deste post ao João Mário Anjos levando-o comigo no coração e pensamento ao convívio do próximo dia 12 atendendo à sua ausência por motivos de saúde.

Um dos acontecimentos mais marcantes a que assisti no período imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi o da recusa dos oficiais milicianos (João) Anjos e (Carlos) Marvão em comandar uma acção destinada a reprimir uma greve dos trabalhadores dos CTT. Na verdade a unidade militar na qual, no dia 17 de Junho de 1974 (?), ocorreu esse acontecimento era aquela onde eu prestava serviço militar: o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (ao Campo Grande).

Alguém dos poderes provisórios, saídos da revolução, não sei quem, decidiu que caberia àquela unidade militar estrear um tipo de intervenção que colocaria as forças armadas, acabadas de sair triunfantes do 25 de Abril, contra uma acção reivindicativa de trabalhadores. Foi uma decisão surpreendente, ainda para mais, quando nos demos conta que o comando da força repressiva seria cometido a oficiais milicianos.

Lembro-me de nos terem reunido e de um oficial superior encetar a tarefa impossível de ordenar a um oficial miliciano (ou oficiais) que comandasse a força. Começou por uma ponta na qual, por acaso, se haviam posicionado o João Mário Anjos e o Carlos Marvão. Não sei já qual foi o primeiro a recusar a ordem mas indagado o segundo, que também recusou, o oficial resolveu suspender a diligência. Logo a seguir, na terceira posição, se não me falha a memória, estava eu próprio. Nos dias 25 e 26 de Junho foi concretizada a prisão dos oficiais rebeldes que seguiram para a prisão da Trafaria.

A greve dos trabalhadores dos CTT terminou no dia 20 de Junho mas a posterior prisão daqueles oficiais despertou a mais profunda indignação dando origem a diversas manifestações, com significativa participação popular, de que possuo registo de duas: a primeira convocada para 28 de Junho no Campo Grande, junto à Churrasqueira, e a segunda realizada no dia 9 de Julho na Praça Marquês de Pombal proibida, aliás, pelas autoridades. Segundo uma cronologia do Centro de Documentação 25 de Abril Os manifestantes recusam-se a obedecer e desfilam até ao Marquês de Pombal.

O MES convocou as manifestações, pelo menos, através de três comunicados: o primeiro subscrito pela Comissão Política, com data de 27 de Junho (dois meses após o 25 de Abril), com o título Dois Milicianos Presos na Trafaria Por Não Quererem Reprimir os Trabalhadores, o segundo e terceiro, ambos subscritos pelos Grupos Socio-Profissionais Mistos, sem data, com os títulos Exijamos a Libertação dos Milicianos Presos e Libertemos Anjos e Marvão! A Luta Continua!

O Robin Fior, designer inglês, apanhado em Lisboa pela revolução, que foi o autor do símbolo e dos primeiros materiais de propaganda do MES, concebeu um inesquecível cartaz, com a palavra de ordem Anjos e Marvão Libertação. O cartaz de que não possuo qualquer exemplar, nem encontrei disponível na internet, ostenta um design gráfico invulgar para a época sendo, certamente, uma das peças de propaganda mais notáveis daquele período. [Quem o puder enviar, agradeço.]

Um dos oficiais milicianos presos era, nem mais nem menos, o João Mário Anjos que havia, comigo e o António Dias, bastante antes do 25 de Abril, constituído uma das «células» do MES que, por essa altura, «marinava» entre a semi-clandestinidade, que nós pensávamos que o serviço militar exigia, e a legalidade que o 1º de Maio, ainda fresco na memória de todos, reclamava. Conviveríamos com esta ambiguidade durante os meses seguintes pois, na verdade, vivíamos, com ou sem razão, na incerteza dos destinos da revolução que aquelas inopinadas prisões pareciam confirmar.

Hoje, passados 35 anos sobre esses acontecimentos, por dever de consciência, presto homenagem pública aqueles dois camaradas de armas e, em especial, ao João Mário Anjos, cuja coragem física e clarividência política, de que possuo evidências, nunca foram, pelos seus próprios companheiros, suficientemente reconhecidas. Onde quer que se encontre quero dizer-lhe que o não esqueci, nem esquecerei.

segunda-feira, novembro 7

Albert Camus

Albert Camus nasceu em Mondovi, Argélia, em 7 de Novembro de 1913. Não esmoreceu o meu interesse pela sua biografia e obra. Espero daqui a algum tempo, quando os afazeres profissionais abrandarem de ritmo, voltar à sua leitura, comentário e, porventura, algo mais arriscado. A ver vamos mas não me falta a vontade nem a energia.

Jean Sibelius - M. Al-Ashhab

quinta-feira, outubro 13

UM ENCONTRO



Hoje, no Porto, no final de uma actividade profissional na Faculdades de Letras fui surpreendido por uma surpresa desejada. Conheci pessoalmente a única mulher portuguesa, Maria Luisa Borralho, autora de um dos dois livros, publicados em Portugal, acerca de Albert Camus (1984). Fiquei feliz. Pode ser que deste conhecimento que, finalmente, foi além do virtual  possa surgir alguma  iniciativa interessante. Tenho o seu livro, já muito sublinhado a lápis, após a primeira leitura, aqui perto de mim.

segunda-feira, outubro 10

Silvio Berlusconi desafiado por Giuseppe Verdi.



No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do país, que invoca a escravidão dos Judeus na Babilónia, uma obra não só musical, mas também política, à época em que a Itália estava sujeita ao império dos Habsburgos (1840).

Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente, à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno - ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, o que contribuiu para politizar o evento.

Como Mutti declararia ao TIME, houve, já de início, uma incomum ovação, clima que se transformou numa verdadeira «noite de revolução» quando se sentiu uma atmosfera de tensão ao iniciarem-se os acordes do coral «Va pensiero», o famoso hino contra a dominação. «Há situações que não se podem descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expecativa do hino, clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o côro entoa - 'Ó minha pátria, tão bela e perdida'».

Ao terminar o hino, os aplausos da plateia interrompem a ópera e o público manifesta-se com gritos de «bis», «viva Itália», «viva Verdi». Das galerias são lançados papéis com mensagens políticas.

Não sendo usual dar bis durante uma ópera, e embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro La Sacala de Milão, o maestro hesitou, pois, como ele depois disse: «não cabia um simples bis; havia de ter um propósito particular». Dado que o público já havia revelado o seu sentimento patriótico fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o público e, com ele, o próprio Berlusconi.

Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da seguinte forma, e reagindo a um grito de «longa vida à Itália» disse:

- «Sim, longa vida à Itália mas... [aplausos] não tenho mais 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto concordo com o vosso pedido de bis para Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o côro que cantava 'Ó meu pais, belo e perdido', eu pensava que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente 'bela e perdida' [aplausos retumbantes, incluindo dos artistas da peça].

Reina aqui um 'clima italiano'; eu, Mutti, me calei por longos anos. Gostaria agora... nós deveriamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, o teatro da capital, e com um côro que cantou magnificamente, e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos.»

Foi assim que Mutti convidou o público a cantar.Toda a ópera de Roma se levantou... O coro também. Foi um momento magnífico na ópera! Vê-se, também, o pranto dos artistas.

Aquela noite não foi apenas uma apresentação do Nabuco mas, sobretudo, uma declaração do teatro da capital dirigida aos políticos.

Obrigada à Luisa Alegre

sábado, outubro 8

Wall Street Protest Spurs Online Dialogue on Inequity
















Este movimento ao qual, deste lado de cá, como de costume, poucos estão atentos, vai dar uma grande volta à situação. Pode ser, e será, a meu ver, o princípio de uma nova era. O futuro do mundo passa por aqui.

sábado, setembro 24

Memórias do MES

Inclui as fotografias de Rosário Belmar da Costa do 1º de Maio de 1974


Este texto foi elaborado para o blogue, já encerrado, Caminhos da Memória e republico-o a propósito do almoço/convívio de 12 de Novembro próximo. (Com pequenas alterações).

Como escrever uma posta acerca de uma memória antiga que não surja aos olhos de quem a lê como o rumorejar de um passado morto? Não sei! Apesar do risco sinto que, no terreno movediço das memórias, há exercícios que valem a pena. É o caso deste que partilho convosco.

Um dia, nos idos de 2007, através de uma cadeia de amigos chegaram-me às mãos quatro fotografias que testemunham o surgimento público do MES (Movimento de Esquerda Socialista).

Aconteceu na celebrada manifestação do 1º de Maio de 1974, em Lisboa, a tal inultrapassável em tudo - desde a aritmética à emoção - que autenticou a vitória do golpe militar com a marca de água de uma massiva, genuína e entusiástica adesão popular. Tendo-me chegado às mãos as ditas quatro fotografias, depois de tanto ter cismado acerca da sua eventual inexistência, havia de promover a sua divulgação.

Escrevi então, se não erro, três postas no absorto mas a colecção nunca antes havia sido publicada. O interesse em voltar ao tema, no presente, é, pois, somente o de deixar disponíveis, e arquivadas, nos Caminhos, as fotografias (únicas) da Rosário Belmar da Costa e, em jeito de remate transcrever dois comentários de quem testemunhou, ao vivo, a manifestação (no caso a fotógrafa de ocasião) dando conta da anárquica discussão acerca da sigla do nascente MES que havia de ser, até ao fim, «de esquerda» e não «da esquerda» como surgiu anunciado no artesanal pano inaugural.

Comentou a Rosário:

Eduardo,

Estivemos, eu e o Xico (Camões), a puxar pela memória e o que nos lembramos é que começámos o dia por ir ao Bombarral buscar uns livros de capa preta que o Mil Homens tinha conseguido imprimir numa tipografia de lá (sobre o que eram os livros já não nos lembramos - textos de antes do 25 de Abril e prefácio posterior, mas talvez tu saibas *).

Depois viemos ter com o Agostinho (Roseta) (lá para os lados da Portugália) que, fardado, não queria aparecer em evidência. Não sei mesmo mas penso que é o tipo de costas ao pé do pau do lado esquerdo.

A ideia do cartaz foi do César de Oliveira (creio que ainda houve alguma discussão sobre se era Movimento da Esquerda ou Movimento de Esquerda…), que esteve o tempo todo esfuziante aos gritos. Ao pé de nós apareceu um grupo, de desertores e refractários acabadinhos de chegar de Paris, animadíssimo (bem animadíssimos estávamos todos) capitaneado pelo Zé Mário Branco aos gritos de «Desertores, Refractários, Amnistia Total!». Foi uma tarde de sonho, tal era o entusiasmo, a quantidade de gente toda feliz, a alegria que estava no ar!

Quanto à fotografia o problema é lembrarmo-nos dos nomes…A partir de uma determinada altura já não foi possível fotografar mais nada, já que era tanta a gente que só do alto e com grandes angulares, meios fora do alcance dos amadores que éramos. Felizmente foram a P&B, que têm muita mais conservação que as feitas a cores!.

Rosário Belmar da Costa

* O livro intitula-se: Classes, política - política de Classes.

Comentou a Luísa Ivo:

O nome do movimento foi amplamente discutido numa reunião no Centro Nacional de Cultura, no fim-de-semana entre o 25 de Abril e o 1º de Maio. Não me lembro de alternativas à sigla depois aparecida, nem recordo já quem defendeu fosse o que fosse. Sei que foi uma reunião confusa, com pessoas a entrar e a sair, com variadíssimos contactos telefónicos, mesmo para outros pontos do país. Tentava-se informar a malta que connosco se articulava há anos. Recordo um telefonema que fiz para amigos do Sindicato dos Electricistas de Coimbra (ou talvez do Centro), por indicação do Victor Wengorovius que teve um papel central nessa reunião de coordenação.

Um abraço grande para quem aqui passa e para ti em especial da

Luísa Ivo



segunda-feira, setembro 19

MES - 30 ANOS DEPOIS

A memória não é uma arma de arremesso mas simplesmente o que nos faz viver em paz connosco mesmos.  Uma comunidade sem memória é uma comunidade desarmada perante os desafios do futuro e os seus perigos.  Seremos nós próprios mais autênticos perante a sociedade se assumirmos, em todas as suas facetas, o nosso  passado. Evocar e celebrar, em liberdade, um acto político do passado que nos tocou profundamente é um exercício de cidadania. É esse o sentido da minha adesão à iniciativa que podem conhecer acedendo a este blogue.   






sábado, setembro 17

Schumann - Martha Argerich

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!

Concert for New York

domingo, setembro 11

CHILE - 11 DE SETEBRO DE 1973


hommage a salvador allende por dictys

Há uns anos atrás visitei Santiago e, pela manhã cedo, de um dia frio, depositei cravos vermelhos na campa de Allende. Os Estados Unidos, campeões da democracia, sem ironia, apoiaram o derrube de Allende, eleito pelo voto popular, colocando no seu lugar um ditador. Ironias da história! Para que não esqueça. Todos os anos este dia deve ser cravado na memória dos democratas.

Chiara Quartet

sábado, setembro 10

11 DE SETEMBRO DE 2001



Em 2008 publiquei um post alusivo ao 11 de Setembro. Ele mantém-se actual com excepção de Obama ter apanhado Laden o que Clinton e Bush não foram capazes de fazer. Mas o mundo hoje, sem Laden, está mais perigoso que nunca.


O DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001 FOI O PRIMEIRO DIA DE AULAS NA ESCOLA DO MEU FILHO. POUCOS MINUTOS ANTES DAS 8 DA MANHÃ DEIXEI-O PARA O INÍCIO DO 5º ANO. POUCO DEPOIS NO LOCAL DE TRABALHO ACHEI O AMBIENTE ESTRANHO. A TELEVISÃO LIGADA TRANSMITIA UM ACONTECIMENTO QUE PARECIA FICÇÃO. ENTENDI QUE ALGUMA COISA DE MUITO GRAVE SE ESTAVA A PASSAR. A PARTIR DESSE DIA O MUNDO MUDOU E ESSE CICLO DE MUDANÇA AINDA NÃO CHEGOU AO SEU TERMO. OU TALVEZ SEJAM DIVERSOS CICLOS DE MUDANÇA QUE SE ENTRECUZAM... AO FIM DE SETE ANOS BUSH NÃO ACHOU LADEN. O MUNDO TORNOU-SE MAIS PERIGOSO. PAIRAM NO AR AMEAÇAS DE RECESSÃO E DE GUERRA (FRIA?). NA ESCOLA DO MEU FILHO ESTE ANO AS AULAS JÁ COMEÇARAM E NÃO O FUI LEVAR. É O 12º E ELE GANHOU AUTONOMIA. SINTO QUE ESTAMOS TODOS MAIS SOZINHOS E DESCRENTES NO FUTURO.

segunda-feira, julho 25

Amor Electro



Obama fala à Nação pelas 2 da manhã de Portugal.
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SINAL DE ALARME



É perigoso menosprezar, ou banalizar, este atentado. Aos responsáveis políticos, em democracia, compete fazer o seu trabalho incluindo exigir às polícias todas que não se deixem cair na rotina. Os cidadãos, incluindo neles os que têm como profissão "fazer opinião", que cuidem de não ceder ao populismo aceitando as diferenças com uma cuidada tolerância.
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quarta-feira, junho 22

quarta-feira, junho 8

ANTÓNIO COSTA (2)



Cada um sabe de si, faz opções, escolhe caminhos e prazos, entendo a opção de Costa se for esta a opção de Costa. Mas o PS ficará menos coerente na sua afirmação política no próximo futuro. Reparo que os fazedores de opinião da actual maioria passam mais tempo a falar do PS do que de outra coisa qualquer. O PS é um partido charneira e precisaria de encontrar uma liderança forte. Parece que não vai acontecer...

segunda-feira, junho 6

ANTÓNIO COSTA



Não sei o que se está a passar nos bastidores do PS. O que sei é o que vem nas notícias. Mas, na minha modesta opinião, António Costa tomará uma opção errada se não avançar para a liderança do PS. O tempo político já não é o que era. As dificuldades do país exigem as soluções mais fortes. Também na oposição. O PS não pode ser, neste tempo, um vazio de política no verdadeiro sentido da palavra. A disputa do poder político democrático faz-se a uma velocidade alucinante e sem tréguas. Quem faltar hoje à chamada, sendo o melhor, amanhã perderá.
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Hector Berlioz



Muitos ficaram felizes com a derrota de Sócrates mesmo muitos daqueles que antes o apoiaram. O pior mal não é a adversidade na luta por fazer vencer uma ideia é a ausência de ideias pelas quais valha a pena lutar. Um dia, mais tarde que cedo, se sentirá a sua falta. Adiante, por agora, pois chegará o tempo próprio para tentar entender o ódio que Sócrates suscitou em tanta “gente de bem”.

Mas o futuro continua a precisar de ideias renovadoras, projectos mobilizadores e gestores ousados cuja acção convergente as exigências do Memorando de Entendimento não dispensa. A começar na própria reforma da democracia representativa pois não se pode desvalorizar o facto de ter sido a ABSTENÇÃO a grande vencedora destas eleições com 41,1% dos votos (mesmo com muitos eleitores fantasmas!).

Hoje, na hora da derrota, Sócrates deve ter sentido o velho sentimento da ingratidão que se apossa dos grandes lutadores quando perdem. Mas o seu discurso de derrota foi uma notável lição de política democrática, assumindo as responsabilidades pelo resultado, retirando as consequências e reafirmando, ao mesmo tempo, de forma positiva e inequívoca, os valores do único partido da esquerda democrática portuguesa – O Partido Socialista - quer seja chamado a exerçer funções de governo, quer seja chamado a ser oposição.

O PS é um partido nacional, fundador da democracia em Portugal e, seja qual for a sua futura liderança,  desempenhará em tempo de oposição um papel central na política portuguesa. Ninguém pense que é possível fazer frente aos desafios que se perfilam no horizonte da vida nacional se o futuro governo de maioria, centro direita, assentar a sua orientação política na hostilização da esquerda derrotada nestas eleições e, muito menos, hostilizando o Partido Socialista.

sexta-feira, junho 3

Dvorak



Se quisermos acreditar nas sondagens olhando para elas, uma a uma, as eleições legislativas de 5 de Junho de 2011 são um assunto arrumado. Mas mantendo-me fiel aos meus princípios quero crer que a democracia representativa, que muito prezo, só se realiza, plenamente, nas urnas. Quero dizer, prosaicamente, que só se cumpre com o voto dos cidadãos. Pela parte que me toca, como sempre aconteceu desde o 25 de Abril de 1974, votar é um acto mobilizador que me faz sentir orgulhoso do nosso regime democrático, com suas virtudes e defeitos, um acto de prazer que partilho com os meus concidadãos seja qual for a cor do seu voto. Como sempre, desde 1979, votarei no PS e, desta vez, como voto em Lisboa, ofereço-o ao meu amigo de sempre: Eduardo Ferro Rodrigues: Que viva!
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segunda-feira, maio 30

Marouan Benabdallah

Mário Soares e os outros ...



A participação de Mário Soares na campanha eleitoral, em defesa do PS, tem muito significado. Ele é o político português vivo com maior prestígio nacional e internacional. É um crítico do estado da União Europeia, e de Sócrates, e as suas posições públicas têm sido contínuas, nunca escondendo dúvidas e divergências com quem quer que seja. Elogiou a personalidade de Passos Coelho, tem apelado a um entendimento pós eleitoral entre os partidos do chamado arco da governação, na base do diálogo e da convergência, mas assumiu abertamente a defesa do voto no PS e a defesa do seu líder. Um político com uma longevidade impressionante que incomoda muita gente com a sua irreverência e capacidade de surpreender. Enfim politica! Muitos sectores da comunicação social ficaram hoje sem jeito no tratamento da sua entrada na campanha eleitoral. Notícias truncadas e omissões, esvaziando a importância pública do seu pronunciamento. Espero agora que surjam nesta campanha também Jorge Sampaio e António Guterres, em defesa do partido do qual foram líderes, pois Ferro Rodrigues já lá está como candidato. Só Constâncio, vice-presidente do BCE, uma das organizações integrantes da troika, tem um álibi perfeito para se manter em silêncio. Os outros não!
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sexta-feira, maio 27

Re- Memorando



O chamado Memorando de Entendimento está traduzido, e publicado, há um ror de dias. Salvo raras excepções, na qual se inclui o Ferro Rodrigues, ninguém se interessou por introduzir o tema na campanha. Um deserto de debate acerca do núcleo duro das medidas que qualquer que seja o governo terá que aplicar no futuro próximo. Muito próximo. Seco. Conciso. Preciso. Com metas e prazos fixados. E também com algumas margens de flexibilidade. O essencial resume-se em duas palavras: governar bem e depressa! Estão a ver? Será necessária convergência e união! Estão a ver? Um Presidente da República interveniente, desde a primeira hora, no quadro da Constituição! Estão a ver? Que nem a esquerda, nem a direita sejam lançadas em bloco para a oposição! Estão a ver? Muitas condições, e muito exigentes, no exercício inteligente da política. Política! Estão a ver? Re- Mmeorando: em lugar do debate acerca do seu conteúdo, a querela acerca da forma da sua versão final. 

Neil Young

segunda-feira, maio 23

Kate Royal



Daqui

Há certas coisas que não faço. Há muitas coisas que não faço. Tal como a maioria das pessoas. Somos diferentes e as coisas que não fazemos manifestam-se através dessa diferença. Há outras coisas que faço. Algumas, sei que são coisas antigas que a maioria das pessoas não faz e podem causar espanto. Também cheguei a ver na idade adulta carroças puxadas a cavalo nas ruas centrais de Lisboa. Hoje já não é possível ver carroças puxadas à força de bestas nas ruas centrais de Lisboa. Uma coisa antiga que ninguém já acha possível vir a renascer. Mas transportamos connosco hábitos, e traços de carácter, que nasceram e morrerão connosco. Coisas antigas que os partidos reflectem pois são intrínsecas à nossa cultura.

7/4/2011
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Dominique Strauss-Kahn por Bernard-Henri Lévy





domingo, maio 22

Luanda Cozetti e Mafalda Arnauth



Luta eleitoral. A partir deste dia, pós congresso socialista, suceder-se-ão os episódios próprios de uma campanha eleitoral. Reina a paz social. Salvo uma ou outra greve, sempre dos mesmos grupos sociais protegidos pelo emprego público, o povo sustem a respiração para que não lhe caia em cima a desdita da fome e da miséria. O nosso povo aspira a ser remediado, por isso a sua sina para a acomodação e, ao mesmo tempo, a sua capacidade de resistência. Os que vierem de fora, com a missão de negociar a concessão de um pacote financeiro, se estiverem de olhos abertos, tomarão nota que este povo não é o que pensaram que fosse. Um povo secular que deu novos mundos ao mundo, um povo que inaugurou antes de tempo a era global. Um povo resistente à adversidade. Um povo sereno perante os perigos. Crente perante o insondável e destemido perante os desafios da sobrevivência. Como muito bem observou um cineasta O Bom Povo Português.

11/4/2011

sexta-feira, maio 20

ADELE



O debate. Gostei do tom geral do debate apesar do desgaste deste modelo. Nenhum dos intervenientes hipotecou futuros, desejáveis, necessários e inevitáveis, entendimentos políticos. Sócrates esteve bem, conseguindo quase sempre marcar a agenda do debate. Passos superou-se face a anteriores desempenhos não perdendo a compostura. Sócrates foi igual a si próprio sem ser excessivo. O desgaste da governação faz parte das regras do jogo mas Sócrates acomoda esse desgaste como poucos políticos em qualquer parte do mundo!. Ninguém pode dizer com segurança que deste debate saiu um derrotado e um vencedor. Apesar de todos os "clubismos partidários" este é um facto positivo. Pois há mais vida, e política, para além das eleições.
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segunda-feira, maio 16

CARMINHO



Numa rua mesmo ao lado de minha casa estão a construir uma escola nova. Todos os dias verifico os seus progressos. Antes estava lá uma escola pré fabricada de madeira, coisa boa, que julgo ter sido oferecida pelos suecos logo após o 25 de Abril de 74. Esta escola nova é um edifício moderno que tenho visto crescer no lugar da escola de madeira muito antiga, entretanto demolida, que tão bem serviu tantos anos. Dirá a propósito um nostálgico do passado: que pena deitarem abaixo um prefabricado de madeira que ainda estava em tão bom estado de uso! Mais na moda dirá um crítico acérrimo de Sócrates: que desperdício de dinheiro aplicado em obras sumptuárias! Dirá um ministro (ou ministra) da educação de um hipotético futuro governo do PSD: a obra tem defeitos, podia ter sido evitada, mas dá muito jeito! Digo eu: a escola está construída e fará parte da história de um período de forte progresso da educação em Portugal! O que dirão os alunos, as famílias, os professores? Hoje, amanhã, depois ...
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quinta-feira, maio 12

CIRANDA DA BAILARINA



Ciranda da Bailarina de Edu Lobo (música) e Chico Buarque (poema), pelos próprios, em defesa da liberdade de expressão de pensamento, contra a censura, em defesa do Dr. Catroga! Todo o mundo tem pentelho, só a bailarina que não tem!  
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quinta-feira, maio 5

ARDEM-ME OS OLHOS



Ardem-me os olhos. De cada vez que roubo tempo ao sono, ardem-me os olhos. Lava-os com água fria, e ardem-me os olhos. Será o tempo roubado ao sono? Pois quando encontro tema que me entusiasme logo me esquecem os ardores. Podem-me arder os olhos mas, por vezes, não os sinto arder. Ou quase não os sinto. Não sei o que acontece. Mas o corpo quando se cansa é mais por aborrecimento do que pelas duras penas que lhe inflijo. Sinto-o. É o melhor elogio que lhe posso fazer. Ele responde arquejante de prazer.

11/9/2008

[Uma série de posts acerca das eleições legislativas de 5 de junho de 2011, mesmo quando não parece.]

domingo, maio 1

quinta-feira, abril 28

Aniversário

“ – Meu corpo, quem mais receias?
- Receio quem não escolhi.”

 [Jorge de Sena in Vilancete “Amor” – “Pedra Filosofal” – Poesia I]


segunda-feira, abril 25

25 de Abril


Eu próprio e o Eduardo Ferro Rodrigues, hoje, num encontro de celebração do 37º aniversário do 25 de Abril e do 25º aniversário da nossa adesão ao Partido Socialista em memória dos nossos companheiros Afonso de Barros, Agostinho Roseta e Vítor Wengorovius. Na hora do regresso do Eduardo Ferro Rodrigues às lides políticas – a mais nobre das actividades - reproduzo um texto, publicado em 11 de Abril de 2007 que lhe foi dedicado. Perdoar sim, esquecer nunca!

Na nossa sociedade, porventura em todas as sociedades, pairam no ar bandos de abutres tristes. O que mais os excita é o sangue que vislumbram no chão da vida com suas miras telescópicas. Os abutres crentes em Deus, acreditando na vida para além da morte, estão em vantagem. Os que acreditam acima de tudo na vida humana, eivada de suas vicissitudes terrenas, preocupam-se com as pedras. O título de um poema que publiquei dias atrás – “Fidelidade à Terra” – contém todo um programa que organiza a filosofia de vida daqueles que, como eu, acreditam num mundo sem Deus mas que não abdica do Sagrado.
O que mais impressiona na nossa vida pública é a capacidade de persuasão dos “media”, oráculos da verdade indesmentível sobreposta à realidade dos factos e, ainda mais, ver desfilar as legiões silenciosas dos crentes na representação da verdade falsificada. Como se a vida pública fosse uma cenografia pela qual desfila um imenso elenco de actores – primeiras figuras e figurantes – dos quais se espera que representem os papéis que os poderes mediáticos lhes impõem e destinam.
Todo o enredo foi escrito algures por alguém que aparece a público, com o rosto encoberto, sob anonimato, travestido de outrem, podendo mesmo ser assumido amigo companheiro e camarada, vertendo, gota a gota, no ar a insídia na qual se respira a trama que elimina a confiança e torna inânime a autoridade até à sua destruição final. Os abutres tristes de ontem correm sérios riscos de morrer às mãos dos abutres tristes de hoje.
Só há uma profilaxia radical para a perfídia na vida pública que todos os clássicos descrevem, com apurada argúcia e fino detalhe, – Nicolau Maquiavel – é afastarmo-nos dela sem desprezo pela coragem dos homens públicos que, afrontando os horrores da voracidade dos abutres tristes, tentam mudar a vida dos povos e das nações e que, por norma, são devorados pelas suas próprias obras e ambição. Mas, ao menos, que sejam capazes de dar aos cidadãos de boa vontade exemplos de sublime humildade ou de sábia abdicação.

(Com uma dedicatória ao Eduardo Ferro Rodrigues.)

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