Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, março 30
Politica - 8
Coisas simples: “A extrema-esquerda está a destruir a esquerda democrática por dentro”, diz Barreto. Pensei que, nos nossos dias, o mais relevante fosse a extrema direita a destruir a democracia por dentro.
sexta-feira, março 28
Politica - 7
Coisas simples: algures pelo final do ano de 1975 Portugal tornou-se numa democracia pluralista. Em eleições livres elegem-se deputados apresentados à sociedade por partidos politicos. Assim se forma uma assembleia que foi batizada da República, de onde emana o governo. Não é a assembleia que emana do governo.
quinta-feira, março 27
Dia Mundial do Teatro
O dia 27 de março é consagrado como Dia Mundial do Teatro. Sempre assinalo esta data não por mera celebração de uma efeméride mas porque o teatro desempenhou um papel muito importante na minha vida. Na alta adolescência, por altura do meu 6ª ano do liceu, num tempo de trevas culturais, o meu irmão deve ter impulsionado a minha aproximação à atividade teatral. As relações com o Dr. Emílio Campos Coroa haviam sido estreitadas e daí resultou a minha integração no Grupo de Teatro do Circulo Cultural do Algarve - mais tarde "Teatro Lethes" - após ter já sido iniciado pelo Dr. Joaquim Magalhães nas atividades teatrais do liceu. Foi uma oportunidade de intensa sociabilização, aprendizagem da arte do teatro e exigente exercício de enfrentamento dos públicos. Muita entrada em cena, muito palco e fala e obrigatório conhecimento de dramaturgos de referência. Somente a minha saída da cidade de Faro para Lisboa me separou desta experiência que marcou a minha formação pessoal e cultural para sempre. Bem hajam aqueles que me impulsionaram e acompanharam nessa formalizável experiência teatral. (Na foto "Nuvens", de Teresa Dias Coelho)
quarta-feira, março 26
Ética
“Persistem ainda algumas dúvidas pessoais sobre a ética. Supomos que viver eticamente será uma tarefa difícil, desconfortável, de abnegação e, geralmente, sem qualquer recompensa. Concebemos a ética separada do interesse pessoal; supomos que aqueles que fazem fortunas com negócios baseados em informação privilegiada ignoram a ética, embora sigam eficazmente o interesse pessoal (desde que não sejam apanhados). Fazemos exactamente o mesmo quando preferimos um emprego mais bem pago, ainda que tal signifique que vamos ajudar a fabricar ou a promover um produto que não faz bem nenhum ou que provoca doenças nas pessoas. Por outro lado, pensa-se que aqueles que deixam escapar as oportunidades de progredir na sua carreira por causa de “escrúpulos” éticos acerca da natureza do trabalho, ou que desistem do seu bem-estar a favor de boas causas, estão a sacrificar os seus próprios interesses para obedecer aos ditames da ética. Pior ainda, podemos vê-los como papalvos, que deixam escapar todo o divertimento que podiam estar a ter, enquanto os outros tiram partido da sua vã generosidade.”
segunda-feira, março 24
Politica - 6
Coisas simples. Diz o cronista "a esquerda está a desaparecer", no tempo do prec dizia-se o mesmo da direita. As autocracias crescem em número e violência. O ditador turco (da Nato) mandou prender o seu opositor. O ditador americano (da Nato) mandou prender um palestiano com autorização de residência. O ditador israelita ... todos têm impetos imperiais de conquista à maneira do século XIX. As democracias prevertidas e os povos a sofrer com a guerra. Estamos em guerra.
sábado, março 22
Politica - 5
Coisas simples. A crise da habitação: o incentivo à procura sem aumento da oferta faz subir os preços. Aumentar a despesa na defesa faz com que aumente o deficit, ou mingue o estado social ou cresça a dívida (ou um hibrido de todas, é escolher). Dois mega problemas para qualquer governo nos próximos tempos, em modo explosivo no tempo e na dimensão.
sexta-feira, março 21
Dia Mundial da Poesia
Como as palavras as imagens, que tomamos como nossas, são um bocado do imaginário que sobrevive à decapitação dos sonhos. Caminhamos por entre escombros.
Quando minha mãe morreu nos meus braços não chorei. Só chorei quando, velando o seu corpo, me surgiu pela frente uma vizinha que frequentava a minha infância. O imaginário, naquele breve momento, tomou de assalto as minhas defesas que ruíram com estrondo.
Percebi a leveza insustentável dos corpos depois de mortos e a infinita fraqueza que se esconde por detrás da nossa aparente normalidade.
quarta-feira, março 19
Dia do pai
O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
terça-feira, março 18
MARÇO
“18 de Março de 41.
Os montes por cima de Argel transbordam de flores na primavera. O aroma a mel das flores derrama-se pelas ruazinhas. Enormes ciprestes negros deixam jorrar dos seus cumes reflexos de glicínias e de espinheiros cujo percurso se mantém dissimulado no interior. Um vento suave, o golfo imenso e plano. Um desejo forte e simples – e o absurdo de abandonar tudo isto.” -
Albert Camus -
Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
domingo, março 16
16 de março 1974
Cumpria, como Oficial Miliciano, o serviço militar obrigatório no 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (2º GCAM), onde hoje está instalada, no Campo Grande, em Lisboa, a "Universidade Lusófona". Depois de conhecidas as notícias do avanço da coluna militar, a partir das Caldas da Rainha, instalou-se uma grande agitação no quartel. 16 de março era sábado e eu estava lá talvez porque estivesse de serviço. Finalmente surgia uma manifestação concreta de revolta militar mas pairavam no ar notórias dúvidas e incerteza acerca do destino do golpe. Pela manhã desse dia recebi ordem do Comandante para recolher ao quarto. Estive, de facto, preso por um breve periodo. Após o golpe ter fracassado, na manhã seguinte, mandaram-me sair. Fiquei aliviado. Iniciava-se, assim, a fase final do verdadeiro e decisivo golpe militar. Não o podíamos adivinhar mas o "Estado Novo" que, desde a ditadura militar, instaurada pelo golpe de 28 de Maio de 1926, iria perfazer 48 anos, estava a breves semanas do fim. Várias gerações de portugueses viveram toda, ou grande parte, das suas vidas sem conhecerem a cor da liberdade, pesando sobre as cabeças dos conspiradores a responsabilidade de pôr fim ao pesadelo.
sábado, março 15
Politica - 4
Desde 25 de abril até ao presente o cargo de 1º Ministro foi desempenhado por 17 personalidades. Passando em revista a lista pode dizer-se que em Portugal não existe a tradição do 1º Ministro rico, ao contrário de outros países, como é o caso, mais recentemente, dos USA, Alemanha e Canadá. Não conheço nada do património destas personalidades mas, por cá, são todos, com mais ou menos larguesa, remediados. Nos primeiros tempos não havia obrigação declarativa de património e pertenças (interesses). Com o tempo as coisas evoluiram e hoje nada pode ser omitido nas declarações obrigatórias. Falta, ao que parece, em alguns casos, cumprir com a ética republicana... que não se compadece com burocracia. Eis-los:
Adelino da Palma Carlos,
Vasco Gonçalves,
Pinheiro de Azevedo,
Mário Soares,
Alfredo da Costa,
Mota Pinto,
Maria de Lurdes Pintasilgo,
Francisco de Sá Carneiro,
Francisco Pinto Balsemão,
Aníbal Cavaco Silva,
António Guterres,
José Manuel Durão Barroso,
Pedro Santana Lopes,
José Sócrates,
Pedro Passos Coelho,
António Costa,
Luis Montenegro,
quinta-feira, março 13
Politica - 3
Já aconteceu outras vezes no passado. Lembro-mo da ascensão de Santana Lopes a 1º ministro, para ser simpático, um erro de casting de Sampaio. Todo esse episódio foi
um momento de tragicomédia em que a política pura, a que eleva acima da defesa dos interesses particulares o interesse geral, ameaça ser submersa pela pura traficância de interesses, arremesso de ódios e promessas populistas.
segunda-feira, março 10
Politica -2
Chegados aqui vamos ter eleições. Um ano depois de outras que nos trouxeram aqui. Não confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro do homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade. Convém não diabolizar as eleições, como exercício dessa liberdade.
sábado, março 8
Politica
A minha juventude fui muito marcado pela leitura de Albert Camus. Não sei já identificar, com precisão, a origem desse interesse mas o certo é que me iniciei em Camus através da leitura dos Cadernos. O encanto estava, e está, na escrita fragmentada um misto de diário e reflexão filosófica. Uma das reflexões que sublinhei pelos meus 20 anos foi esta: “Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.” A violência na politica é algo terrível e daí o insucesso de muitas incursões daqueles que não são capazes de "matar o adversário". Há muitos exemplos entre nós que não vou referir mas que só dignificam os seus percursos pessoais. E agora aqui chegados? (Continua).
Mulheres
“As rosas retardatárias de Santa Maria Novella e as mulheres, neste domingo de manhã em Florença. Os seios libertos, os olhos e os lábios que vos fazem bater o coração, a boca seca e um calor nos rins.” Albert Camus, in Núpcias
sexta-feira, março 7
A corte chega ao destino final, Rio de Janeiro
Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.
quarta-feira, março 5
Crise politica
Crise politica. Uma má ideia. Não descortino a sua origem profunda. Sempre penso nos negócios de estado. Os grandes interesses escolhem ou influenciam a escolha dos governos. Hoje, aliás como sempre, em democracia, o povo escolhe e os grandes interesses acolhem, ou não. Nada sei das tramas de bastidores. Ninguém vai sair a ganhar com a presente crise politica. As lideranças partidárias são frágeis e hesitantes nas frentes interna e externa. Farão escolhas, desde programas a candidatos, limitadas às suas escassas competências e limitados circulos de aparelho. Sem golpe de asa. Espero estar enganado mas a tendência natural redundará num deslizamento para a direita.
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