terça-feira, maio 21

PR

O maior fator de crise política, diria de regime, desde que há eleição direta para PR, dá pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa. Não há volta a dar sejam quais forem as proclamações e decisões que venha a fazer e a tomar até ao fim do seu mandato. É um caso sem paralelo, de razões pouco esclarecidas, mas que carece de explicação ou, pelo menos, de estudo. Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos apertando os cintos.

sábado, maio 18

Liberdade

Com respeito à velha questão da liberdade que se discute, a propósito dos discursos na AR, vale a pena tomar posição. Sempre a favor da liberdade mesmo que as palavras e os gestos se aproveitem dela para ferir princípios e valores que prezamos acima de tudo. A estratégia da extrema direita é a de provocar os limites do uso da liberdade para que alguém imponderado, ou ingénuo, proponha as regras para os seus limites.

quinta-feira, maio 16

CASIMIRO DE BRITO - RIP

O primeiro livro de poesia que comprei foi “Jardins de Guerra”, de Casimiro de Brito, edição da Portugália Editora – Novembro de 1966. Foi comprado em Faro no mês de Março de 1967. O poeta é natural de Loulé mas sempre o considerei um poeta da minha terra, um dos grandes poetas da minha terra como, entre outros, Gastão Cruz e António Ramos Rosa: Faro.,

quarta-feira, maio 15

Indignação

O mundo é feito de diferenças, gentes e territórios, crenças e cores, tudo se mistura, coexiste, se interpenetra, nada é puro a não ser na imaginação dos artistas, que vivam os artistas!, e um dos males do mundo, em todas as épocas, é a elevação ao altar das virtudes da pureza, seja do que for. Tenho a certeza de ser fruto de múltiplas misturas assim como de todos os que me rodeiam. Quando assobiam a melodia da inevitabilidade de nos isolarmos, das ilhas, dos ghettos, dos muros, sinto o frio próprio que antecede a indignação cívica e a luta pela convivência tendencialmente igualitária, assumindo o convívio fraternal entre diferentes.

terça-feira, maio 14

Serve-se o homem todo ou não se serve

“Gosto mais dos homens que tomam um partido do que das literaturas que não tomam partido. Coragem na vida e talento nas obras já não é nada mau. E, depois, o escritor só é comprometido quando quer. O seu mérito é o movimento. E se isso deve passar a ser uma lei, um ofício ou um terror, onde está então o mérito? Parece que escrever hoje um poema sobre a Primavera é servir o capitalismo. Não sou poeta, mas fruiria sem rebuço uma semelhante obra se ela fosse bela. Serve-se o homem todo ou não se serve. E se o homem tem necessidade de pão e de justiça, e se é preciso fazer o necessário para satisfazer essa necessidade, não se deve esquecer que ele precisa também de beleza pura, que é o pão do seu coração. O resto não é sério. Sim, eu desejá-los-ia menos comprometidos nas suas obras e um pouco mais na sua vida de todos os dias.” Albert Camus - in Caderno n.º 5 (Continuação) – 1948 – 1951. Tradução de António Ramos Rosa. Edição “Livros do Brasil”. (A partir de “Carnets II”, 1964, Éditions Gallimard).

domingo, maio 12

PESSOAS

Era uma vez um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno a ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído. E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom. E então a gente ama as mitologias delas. À parte isso o lugar era execrável. As pessoas chiavam como ratos, e pegavam nas coisas e largavam-nas, e pegavam umas nas outras e largavam-se. Diziam: boa tarde, boa noite. E agarravam-se, e iam para a cama umas com as outras, e acordavam. Às vezes acordavam no meio da noite e agarravam-se freneticamente. Tenho medo - diziam. E depois amavam-se depressa, e lavavam-se, e diziam: boa noite, boa noite. Isto era uma parte da vida delas, e era uma das regiões (comovedoras) da sua humanidade, e o que é humano é terrível e possui uma espécie de palpitante e ambígua beleza. E então a gente ama isto, porque a gente é humana, e amar é bom, e compreender, claro, etc. E no tal lugar, de manhã, as pessoas acordavam. Bom dia, bom dia. E desatavam a correr. É o meu inferno, o meu paraíso, vai ser bom, vai ser horrível, está a crescer, faz-se homem. E a gente então comove-se, e apoia, e ama. Está mais gordo, mais magro. E o lugar começa a ser cada vez mais um lugar, com as casas de várias cores, as árvores, e as leis, e a política. Porque é preciso mudar o inferno, cheira mal, cortaram a água, as pessoas ganham pouco – e que fizeram da dignidade humana? As reivindicações são legítimas. Não queremos este inferno. Dêem-nos um pequeno paraíso humano. Bom dia, como está? Mal, obrigado. Pois eu ontem estive a falar com ela, e ela disse: sou uma mulher honesta. E eu então fui para o emprego e trabalhei, e agora tenho algum dinheiro, e vou alugar uma casa decente, e nosso filho há-de ser alguém na vida. E então a gente ama, porque isto é a verdadeira vida, palpita bestialmente ali, isto é que é a realidade, e todos juntos, e abaixo a exploração do homem pelo homem. E era intolerável. Ouvimos dizer que numa delas, o pequeno inferno começou a aumentar por dentro, e ela pôs-se silenciosa e passava os dias a olhar para as flores, até que elas secavam, e ficava somente a jarra com os caules secos e água podre. Mas o silêncio tornava-se tão impenetrável que os gritos dos outros, e a solícita ternura, e a piedade em pânico – batiam ali e resvalavam. E então a beleza florescia naquele rosto, uma beleza fria e quieta, e o rosto tinha uma luz especial que vinha de dentro como a luz do deserto, e aquilo não era humano - diziam as pessoas. Temos medo - pensavam. E o ruído delas caminhava para trás, e as casas amorteciam-se ao pé dos jardins, mas é preciso continuar a viver. E havia o progresso. Eu tenho aqui, meus senhores, uma revolução. Desejam examinar? Por este lado, se fazem favor. Aí à direita. Muito bem. Não é uma boa revolução? Bem, compreende... claro, é uma belíssima revolução. E é barata? Uma revolução barata?! Não, senhores, esta é uma verdadeira revolução. Algumas vidas, alguns sacrifícios, alguns anos, algumas. É um bocado cara. Mas de boa qualidade, isso. E o rosto que se perdera, que possivelmente caíra do corpo e rolara debaixo das mesas, o rosto? Lembras-te? Como foi que ficou assim? Não sei: tinha uma luz. Sim, lembro-me: parecia uma flor que apodrecesse friamente. Era terrível. Boa noite. E ela trazia um vestido de seda branca, e nesse dia fazia dezoito anos, e estava queimada pelo sol, e era do signo da balança, e tomou os comprimidos todos, e acabou-se. Não compreendo. E julgas tu que eu compreendo? Quem pode compreender? Ela era a própria força, aquela irradiante virtude da alegria, aquele fulgor radical..., compreendes? Sim, sim. Tinha um vestido de seda, e era nova, e então acabou-se. Para diante, para diante. Não se deve parar. Enforquem-nos, a esses malditos banqueiros. Este vai ter trinta e cinco andares, será o mais alto da cidade. Por pouco tempo, julgo eu. Como? Sim, vão construir um com trinta e seis, ali à frente. Remodelemos o ensino. Cantemos aquela canção que fala da flor da tília. Bebamos um pouco. E outro, o que viu Deus quando ia para o emprego?! Isto, imagine, às 8 h. e 45 m. de uma tranquila manhã de Março. Uma partida de Deus? Boa piada. Não amará Deus essas maliciosas surpresas? Um pequeno Deus folgazão?! Ele ficou doido. Começou a gritar e a fugir. Que Deus vinha atrás dele. E depois? Bem, lá construíram o prédio com trinta e seis andares, e o outro ficou em segundo lugar. Isto é o trabalho do homem: pedra sobre pedra. É belo. Vamos amar isto? Vamos, é humano, é do homem. E então as crianças cresceram todas e andavam de um lado para o outro, e iam fazendo pela vida – como elas próprias diziam. E então as condições sociais? Sim, melhoraram bastante. Mas uma delas começou a beber, e depois a coração estoirou, e ficou apenas para os outros uma memória incómoda. Parece que sim, que tinha demasiada imaginação, e levaram-na ao médico, e ele disse: aguente-se, e ela não se aguentou. Era uma criança. Não, não, nessa altura já tinha crescido, bebia pelo menos um litro de brandy por dia. Nada mau, para uma antiga criança. A verdade é que era uma criança, e não se aguentou quando o médico disse: aguente-se. E as ruas são tão tristes. Precisam de mais luz. Mas nesta, por exemplo, já puseram mais luz, e mesmo assim é triste. É até mais tristes que as outras. Estou tão triste. Vamos para férias, para o pequeno paraíso. Contaram-me que ele tinha uma alegria tão grande que não podia aguentar um copo na mão: quebrava-o com a força dos dedos, com a grande força da sua alegria. Era uma criatura excepcional. Depois foi-se embora, e até já desconfiavam dele, e embarcou, e talvez não houvesse lugar na terra para ele. E onde está? Mas era uma alegria bárbara, uma vocação terrível. Partiu. E agora chove, e vamos para casa, e tomamos chá, e comemos aqueles bolos de que tu gostas tanto. E depois? Ele era belo e tremendo, com aquela sua alegria, e não tinha medo, e só a vibração interior da sua alegria fazia com que os copos se quebrassem entre os dedos. Foi-se embora. Herberto Helder, "os passos em volta" - assírio & alvim - 1980

sexta-feira, maio 10

IMBECILIDADES

""Montesquieu. "Há imbecilidades de tal quilate, que seria preferível uma imbecilidade ainda maior."" (Albert Camus, "Cadernos" - Caderno nº 4 - Janeiro 1942/Setembro 1945 - Livros do Brasil)

quinta-feira, maio 9

ANIVERSÁRIO

Hoje é o dia de aniversário da Guida que muito merece desfrutá-lo com ânimo e alegria. Parabéns!

terça-feira, maio 7

BLOCO CENTRAL

Um simples exercício de bom senso explica a razão de não ser favorável à democracia o chamado bloco central. O atual contexto da relação de forças a nível nacional, europeu e mundial mostra a ascensão - ou manutenção - dos populismos radicais. No caso português se o PS e o PSD, partidos do centro esquerda e centro direita, estabelecessem coligação, ou acordo politico com incidência parlamentar, tendo em vista a viabilização de governos minoritários, deixariam livre o espaço da oposição para os partidos populistas radicais. Os governos poderiam, a curto prazo, aparentar fortaleza mas o inevitável descontentamento popular tornaria a direita populista e radical mais forte a médio e longo prazo.

domingo, maio 5

PALESTINA

Crise no Médio Oriente. Em curso deste o final da 2ª Guerra Mundial. Compreendo a indignação face à violência de ambos os lados. O atual governo de Israel, sequestrrado pela extrema direita, adota a violência de Estado concitando a repulsa geral. Só mudam os protagonistas por efeitos da passagem do tempo. O cerne da questão política, que urge resolver, persiste. A existência e coexistência pacífica de dois estados, independentes e viáveis: Israel e Palestina.

sábado, maio 4

O Censor

O Expresso publica a segunda parte de um trabalho acerca de um censor ao serviço da ditadura, que o PCP apadrinhou e a democracia condecorou. É uma pérola que abrilhanta a desmemória coletiva, elevando ao pedestal o perdão sem vergonha. (Fotografia do Campo de Concentração do Tarrafal aquando de uma visita minha).

quinta-feira, maio 2

TARRAFAL

Extraordinário e comovente o livro do João Pina. (Junto fotografia de uma visita minha).

quarta-feira, maio 1

1º DE MAIO

Como sempre, pelo dia do trabalhador, publico as fotografias do 1º de maio de 1974 nas quais se vislumbram o pano que identifica o MES (em organização) e alguns dos seus criadores. Pela minha parte não participei no desfile, ainda retido no quartel, do que hoje me arrependo. Passaram precisamente 50 anos.