Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, janeiro 21
O princípio de uma nova resistência
Trump, como expoente da extrema direira, é o patrão de um monumental circo de mentiras. Aos democratas, cidadãos decentes, coloca-se de novo a questão da resistência. Tantas gerações que já se confrontaram com a necessidade de resistir ao totalitarismo cujo avanço se esconde na ignorância e na mentira, sempre com o objetivo da expansão da ganância. O primeiro passo para resistir aos avanços da extrema direita é não abdicar nem um milimetro da liberdade de expressão do pensamento, liberdade de associação, liberdade de voto e do exercício do direito à indignação.
domingo, janeiro 19
Trump - uma nova tragédia
Amanhã Trump inicia funções e a sua politica é uma ameaça civilizacional para levar a sério. Não valem as posturas sonsas de desvalorização da ascenção de um novo totalitarismo. Não é aceitável, para os democratas e amantes da liberdade, deixar passar em claro, sem oposição frontal, as posições politicas contemporizadoras com Trump e seus aliados. Atente-se nas lições da história aquando da ascensão de totalitarismos, de raízes diversas, que desembocaram nas maiores tragédias para a humanidade. A partir de amanhã é dado o tiro de partida para uma nova mais que provável tragédia.
sábado, janeiro 18
Presidenciais
O que toda a gente pensa mas, à maneira portuguesa, mantem em reserva: o almirante, caso se apresente, ganhará as presidenciais. Salvo qualquer cataclismo o povo português que vota não perderá a oportunidade de dar uma lição aos politicos profissionais. E, em particular, a Marcelo. Pensam eles. Os restantes candidatos poderão marcar terreno partidário... ou não.
sexta-feira, janeiro 17
Coisa pública...
Tudo tem a sua explicação e temos que estar preparados para tudo. Esta da reversão do modelo das uniões de freguesia ultrapassa a minha capacidade de entendimento da bondade das decisões democráticas. Vão voltar a existir freguesias com menos fregueses que o meu condomínio. Vão ser criados centenas de lugares para eleitos politicos, presidentes, mesas de assembleias, lugares administrativos... Num contexto em que o discurso dominante é o de racionalizar a administração, poupar recursos e por aí fora. A única força politica que se opôs foi a IL que está preparar, ao que se diz, uma coligação autárquica com o PSD ... haja saúde!
segunda-feira, janeiro 13
Em homenagem a Rui Namorado no dia da sua morte
Um belo texto político acerca do almoço/convívio dos ex-MES de autoria de Rui Namorado, de novembro de 2011.
Algumas centenas de antigos militantes do MES comemoraram, ontem, na Costa da Caparica, os trinta anos da sua extinção. Estiveram presentes protagonistas das principais cisões e vários rostos da vida completa do MES. Estiveram presentes cidadãos que usaram a sua vida sem protagonismo na esfera pública, militantes de diversas causas generosas, militantes políticos sem exposição mediática, detentores de prestígios exteriores à política, deputados e ex-deputados, ex-Ministros, ex-Secretários de Estado, ex-Secretários Gerais do Partido Socialista, um ex-Presidente da República. Sem mesas de honra, sem primeiras filas, sem vénias, mas com um grande calor humano, com uma fraternidade subtil mas patente, bem dispostos. Gente com uma auto-imagem suficientemente afirmativa para pensar que o que fez, em conjunto, sob aquela bandeira, por pouco que tivesse sido, foi importante; mas com a auto-ironia bastante para saber que essa importância não justifica a empáfia da grandiloquência.
Se um voo rápido da imaginação nos levasse a ver toda aquela gente, apostando numa iniciativa política comum, é realista pensar-se que a paisagem política portuguesa seria outra. E mesmo que, num assomo de modéstia, a imaginação se limitasse ao espaço de um único partido (pensando naquele a que pertenço, penso no PS), é realista pensar-se que, se aqueles que ali estavam e são militantes do PS, traduzissem o sentido que atribuíram aos sonhos ali comemorados numa imaginação política actual, em que todos se reconhecessem, rapidamente nos afastaríamos de qualquer cinzentismo abafado. Mas todos sabemos que essa imaginação não é realizável, embora a devamos deixar pairar como sombra orientadora ou como amável e virtuosa ameaça, ainda que frágil e suave.
O tempo deixou, no que cada um de nós viu no rosto dos outros, a sua implacável marca e uma discreta melancolia. A memória foi-nos reconduzindo aos rostos dos nossos passados, num intercâmbio de recordações dispersas e calorosas, por vezes simplesmente intuídas, às vezes passageiras, sempre luminosas. As diferenças antigas tornaram-se pequenas e amigáveis. O essencial ficou de pé, como uma saudade da razão.
Vivemos um tempo em que algumas narrativas das grandes esquerdas já foram encerradas nos atalhos da história, enquanto outras parecem ter perdido o futuro, quando se deixaram extraviar demasiadas vezes nos seus presentes. Mas o tempo cruel do capitalismo agonizante não conseguiu fechar, na arca dos impossíveis e do esquecimento, as desamparadas narrativas das pequenas esquerdas. Elas que nasceram frágeis e minoritárias (quando eram enormes as narrativas dum realmente existente, que afinal não existia), questionando-se ao mesmo tempo que questionavam, subsistem com simplicidade, abertas a novos sonhos e a novas maneiras de sonhar um futuro.
Cientes da diversidade de opiniões ali presente, mas que a ninguém embaraçou, aquelas centenas de cidadãos, sob a superfície emocionada de uma simples efeméride, penso eu, que homenagearam a semente de utopia que há trinta e quarenta anos os animou. Uma utopia feita de palavras simples, virtuosamente indissociáveis, sedentas de uma sinergia insubstituível: liberdade e democracia; igualdade e justiça; fraternidade e solidariedade. Ou seja, sair do capitalismo pela mão do povo, através da sua vida e da sua força, através de mutações sociais politicamente sustentadas, com a ajuda (apenas ajuda, ainda que importante) de um Estado que seja democraticamente seu. Numa palavra, levar a democracia ao extremo de si própria.
O Rui Namorado morreu
Faleceu hoje o Prof. Rui Namorado, que dedicou muito do seu saber e energia ao setor da economia social e, em particular, ao cooperativismo, deixando-nos uma grande obra, na esteira de António Sérgio. Honra à sua memória!
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e Mestre em Ciências Jurídico-Empresariais pela mesma Faculdade, doutorou-se em Direito Económico na especialidade de Direito Cooperativo na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Exerceu funções docentes na Faculdade Economia da Universidade de Coimbra, desde 1979 até ser jubilado em Abril de 2011. Em 1981, foi um dos fundadores do Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (CECES/FEUC), tendo participado na sua coordenação até Dezembro de 2021.
Em 2016, foi distinguido com o Prémio Especial Personalidade do Ano dos Prémios Cooperação e Solidariedade António Sérgio, instituídos pela CASES.
Desde Janeiro de 2011, é membro do Conselho Nacional para a Economia Social (CNES). Desde Novembro de 2011 até Setembro de 2015, foi membro da direção do CIRIEC-Portugal. Foi membro do Conselho Nacional de Educação, 2000 a 2002. Desde 1996, pertenceu à Rede Portuguesa de Formação para o Terceiro Sector, tendo sido sucessivamente reeleito como Presidente da sua Comissão Diretiva, desde 1999 até à sua desativação em 2011.
Foi Deputado à Assembleia da República pelo Partido Socialista, de 1995 a 1999, tendo sido um dos vice-presidentes do respetivo grupo parlamentar de 1997 a 1999.
É autor de vários livros e participou em diversas coletâneas sobre temas cooperativos e da economia social. Publicou alguns livros de poemas e foi incluído em antologias poéticas.
Contra a pena de morte, sempre!
Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.
quinta-feira, janeiro 9
Pelo aniversário da morte de meu pai
No dia de aniversário da morte de meu pai Dimas, uma das poucas datas que nunca esqueço, relato um episódio que me foi lembrado, dias atrás, pelo meu amigo Eurico. Quando da minha primeira viagem para Lisboa, a propósito do ingressso na faculdade, ostentava uma gravata preta. Daí o Eurico perguntar da razão. Segundo ele a minha resposta foi: "Estou de luto pela sociedade". Apesar da idade adolescente a minha consciência social, pelos vistos, era alta. Deve-se a meu pai (e a meu irmão). Que estejam em descanso.
terça-feira, janeiro 7
A Primeira Imagem
Em 8 de janeiro de 2005 foi esta a primeira imagem publicada neste blogue. Fotografia do meu amigo Hélder Gonçalves (um grande fotógrafo!).
sexta-feira, janeiro 3
Pelo 65º aniversário da morte de Camus
1960 - No dia 3 de janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa reta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objetos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, um romance inacabado, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.
quarta-feira, janeiro 1
Ano Novo
Hoje é dia de Ano Novo que sempre foi importante na minha relação com o tempo. Surge-me na memória o "Golpe de Beja", tentativa de sublevação militar, destinada a derrubar a ditadura, realizado de 31 de dezembro para 1 de janeiro de 1962. Nessa madrugada regressava de casa de meus avós maternos, de Santo Estêvão, Tavira, para Faro, e era visivel a atividade policial, fora do vulgar, pois alguns dos sublevados do golpe frustado fugiram para sul. Hoje por hoje, dentro das fronteiras, reina a paz ainda sob os auspícios do acordo de regime saído do 25 de abril de 74. Até quando? A ver!
terça-feira, dezembro 31
2025
Não pensei nunca chegar a este dia no ativo no plano profissional, com saúde e capacidade de sonhar. Mas a vida é para viver dia a dia e, como diziam os antigos, o futuro a Deus pertence. Adivinho 2025 ainda mais conturbado por efeito das disputas de territórios e riquezas, ganancias e perfídias, o reino dos negócios da guerra. Alguma nova aliança entre os homemns de boa vontade tem que ser criada para combater a presente deriva autoritária e belicista. Tenho esperança, com os desejos de Bom Ano de 2025.
terça-feira, dezembro 24
NATAL
A sul, na minha cidade Natal, não chove nem venta, ressoam as memórias antigas que abraço sem temores. A todas e todos que por aqui passam deixo os desejos de um Bom Natal.
segunda-feira, dezembro 23
O caminho das figueiras
As figueiras e as suas sombras quentes são um laço que me prende à vida pela memória. Descia o caminho de casa à estrada e passava por elas, umas castelhanas, outras vulgares, de copas grandes e arredondadas, baixas e rasteiras e a todas conhecia de cor.
A minha mãe me ensinou o caminho para lhes chegar. Na época de verão, aí por Julho, os figos eram, quase sempre, suculentos. Arrancava-os com cuidado para uma cesta, primeiro os mais acessíveis, às minhas mãos de menino, depois os das ramadas mais altas, em bicos de pés.
Alguns sempre ficavam inacessíveis. Não me importava com esses. Nunca me importei com o que é inacessível a minhas mãos que não a meus olhos. Leitosos escorriam seiva e, por vezes, ressequidos, abriam fissuras finas por onde se iniciava a retirada da pele. Depois comia-os com prazer.
A apanha, a meio da tarde, era dolorosa. Ia-mos muitas vezes pela força do calor, como lá se diz, e ficava doente. Ou pelo sol que me fazia ferver a cabeça ou pelos figos que me descosiam o intestino. Ainda hoje algumas dessas figueiras estão à beira do mesmo caminho. A mais frondosa resiste defronte do antigo poço, abandonado, mas que noutros tempos alimentava de água o monte.
O prazer da sombra das figueiras, do cheiro ao campo, embebido no ar quente, do sabor dos frutos, colhidos à mão, nunca me deixou por um só momento. Somente, por vezes, descanso dele. É esse prazer físico da memória que me faz amar aqueles que me amam. E resistir às adversidades. (Fotografia em que a minha família materna posa, certamante para a Kodak do meu pai, no monte de onde sai o caminho das figueiras)
sábado, dezembro 21
Pelo cinquentenário do I Congresso do MES
O MES constituiu-se, formalizando-se, num Partido a custo pois as suas raízes beberam muito da ideologia libertária, que havia esmorecido ao longo do período da ditadura, mas que César de Oliveira fez retornar propondo, e fazendo vencer, a consigna que o MES adaptou nos seus primórdios: «A emancipação dos trabalhadores tem de ser obra dos próprios trabalhadores».
O MES foi, na verdade, um partido minoritário de elites, e de causas perdidas, nunca se assumindo como projecto politico de poder, abordando as eleições às quais concorreu – constituintes de 1975 e legislativas de 1976 - com um surpreendente espírito de cruzada pedagógica junto dos portugueses, que nunca haviam conhecido a cor da liberdade, razão pela qual, sem apelo nem agravo, em todas foi estrondosamente derrotado.
O MES foi, no seu âmago, um partido da esquerda radical, mais do que um partido esquerdista, lidando mal com alinhamentos ideológicos mesmo aquando da sua deriva marxista-leninista, reconheçamo-lo, uma mera proclamação artificial e dolorosamente patética. O MES foi um esboço de casa comum na qual se acolheram cidadãos desalinhados – livres de compromissos com o antigo regime - que aspiravam combater as brutais desigualdades e iniquas misérias herdadas do “Estado Novo”.
Nele se acolheram uma plêiade de altos quadros intelectuais, operários, sindicalistas, estudantis, activistas de movimentos sociais emergentes, com escassa experiência política, que na voragem de um singular tempo de brasa, sonhavam – sob diversos e contraditórios ideários socializantes - a mudar tudo na sociedade portuguesa fazendo do MES, na sua breve existência, antes e pós I Congresso de 21 e 22 de dezembro de 1974, um espaço de rebeldia e, no período fundador, de criatividade como revelam, por exemplo, as designações de inúmeras estruturas criadas e a obra gráfica, criada por Robin Fior, para a criação de uma imagem para o MES.
O MES foi, por fim, um partido que ousou auto extinguir-se – se bem que nem todos os que nele tomaram parte tenham concordado com o “sacrifício” - tendo cada um dos seus membros, ao longo do tempo, saído, em liberdade, dando caminho às suas vidas nos mais diversos caminhos. Extinguindo-se, por ato público o MES assumiu, de forma radical, o fracasso do seu projecto político salvando a essência dos sonhos que presidiram à sua criação. (Reprodução de excerto de um post de 2014 de entre muitos dos escritos acerca do MES que aspiro ainda a que dêem origem a um livro.)
I Congresso do MES - Cinquenta anos
Passam hoje 50 anos sobre a realização do I Congresso do MES. 21 e 22 de dezembro de 1974 - Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa.
quinta-feira, dezembro 19
ABSORTO - Aniversário
No dia 19 dezembro de 2003, pelas 16,20h, foi criado este blog com a seguinte frase: "Estreia absoluta. Um lugar de comunicação. Experiência para a primeira impressão dos outros. Uma primeira audição para inicio de trabalho." Eram tempos em que a chamada blogosfera usufruia de grandes audiências, ao contrário do que acontece hoje. Mas persisto!
terça-feira, dezembro 10
CAMUS - NOBEL - 10 DEZEMBRO 1957
Quando soube da atribuição do Prémio Nobel “pela sua importante obra literária, que foca com penetrante seriedade os problemas que se colocam nos nossos dias à consciência dos homems”, Albert Camus escrevu nos Cadernos: “Prémio Nobel: estranho sentimento de desânimo e melancolia. Aos vinte anos, pobre e nu, conheci a verdadeira fama”. Camus afirmou então que o Prémio deveria ter sido atribuido a André Malraux e manifestou dúvidas acerca da sua própria capacidade e força criadora que sempre o atormentaram. Após o anúncio da atribuição do Nobel sujeitou-se a ataques odiosos, que o não deixaram indiferente e comentou: “Assustado com aquilo que me acontece e que não pedi. E, para cúmulo, ataques tão infames que o coração se me aperta.”(Cadernos). Mas Camus, segundo todos os testemunhos, não podia, nem queria, recusar o Prémio. Telefonou, de imediato, à mãe, que sempre viveu na Argélia, como que a agradecer à sua origem a honra que lhe tinha batido à porta. Escreveu a Jean Grenier, o seu professor e mentor intelectual : “(…) quando recebi a notícia, o meu primeiro pensamento foi, depois de minha mãe, dirigido ao senhor. Sem o senhor, sem essa mão efectuosa que estendeu à criança pobre que eu era, sem a sua instrução e o seu exemplo nada disto tinha acontecido.” (citado a partir de Roger Quilliot). René Char, um amigo de todas as horas, não cabia em si de contente e manifesta esse contentamento de várias formas incluindo um artigo publicado, logo em 26 de Outubro de 1957, no Figaro littéraire, intitulado “Je veux parler d’ un ami”. No ínicio de Dezembro de 1957 Camus partiu com a mulher, Francine, para Estocolmo e, em todas as suas aparições em público, tinha a consciência que devia estar preparado para ser atacado a propósito da sua discrição a respeito do conflicto na Argélia que estava no auge. Albert Camus, a 10 de Dezembro de 1957, recebeu das mãos do Rei Gustavo VI da Suécia o diploma e, no banquete que se seguiu, proferiu o seu discurso de agradecimento. Logo num dos dias seguintes escreveu a Jean Grenier descrevendo, de forma sintética, o que sentia: “A corrida acaba, o touro está morto, ou quase.”
sexta-feira, dezembro 6
MÁRIO SOARES - CENTENÁRIO
Aqui deixo, no dia do centenário de Mário Soares o que escrevi, neste mesmo blogue (dando-me conta de quão antigo é), pelo seus 80º e 90º aniversários. O tempo não pára e o mais que tenho a acrescentar acerca do aniversariante é pouco. Somente replicar o que li, ou ouvi, um dia destes, acerca da personagem em questão: pode pensar-se o que se quiser, ser afável (ou feroz) adversário, admirador incondicional ou simpatizante complacente, Mário Soares será dos raros nomes, senão o único, que ficará na memória coletiva na história do século XX português.
Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma.
Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.
Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.
O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi.
No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora.
Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.
A partir de 1985 Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, mesmo de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas.
O que me interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.
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