quarta-feira, dezembro 3

Manuel João Vieira

Já em 2005 tinha ameaçado com uma candidatura presidencial. Parece que agora, 20 anos depois, é que vamos ter uma sátira à presidência...

segunda-feira, dezembro 1

Pessoa esquecido

Para dizer que Pessoa não foi lembrado que me tenha dado conta, a propósito dos 90 anos da sua morte, que passou ontem, em qualquer meio de comunicação social. Um pontinho revelador da narrativa dos nosso dias.

domingo, novembro 30

Pelo nonagésimo aniversário da morte de Fernando Pessoa

Autobiografia? Carta a Adolfo Casais Monteiro (…) Mais uns apontamentos nesta matéria... Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1,30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 in de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos – o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É, um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre. Como escrevo em nome desses três?... Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso.) Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.(*) Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo. Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é Criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente – o que é facto – que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.(**) Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa. Abraça-o o camarada que muito o estima e admira. Fernando Pessoa 14/1/1935

sábado, novembro 29

O exílio da Corte

Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.

quarta-feira, novembro 26

Abril

O trabalho que o 25 de abril deu a fazer foram anos e sacrificios sem fim de uma multidão de gente que sempre acreditou que a ditadura teria um fim mas não era fácil acreditar e muitos desistiram pois acreditar sempre é dificil, um dia uns dez antes de abril dei por mim sem saber do lado certo da história e tanta coisa me podia acontecer.

terça-feira, novembro 25

As trágicas inundações de 25 novembro de 1967

No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. Chovia muito, mas não estranhei porque, ao contrário de hoje, era normal chover nesta época do ano. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente. Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, e devo ter-me dirigido ao Técnico para me juntar à gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos. O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica. Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade de ação. Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão. No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.

segunda-feira, novembro 24

25 de abril

Durante todo aquele tempo desde a madrugada de abril os rostos vincados vozes ao longo das ruas incrédulas perdidas nos olhos que sabia me olharem longe sem sabermos como fazer o encontro no dia claro que amanheceu o único que recordo e celebro.

sexta-feira, novembro 21

Os candidatos presidenciais de 2005 - 28 novembro a pensar no 25

Parece ser claro que se desenharam dois nacionalismos na disputa presidencial: um nacionalismo de direita, encarnado por Cavaco Silva, e um nacionalismo de esquerda, o “quadrado vazio” que Manuel Alegre tenta preencher. Mário Soares, na verdade, o único verdadeiro patriota, com provas dadas, é esconjurado por aqueles que ele próprio defendeu, na primeira linha, no 25 de Novembro. Falo com à-vontade pois, à época, estava do outro lado. É verdadeiramente vergonhoso o apagamento de Mário Soares da efeméride – mal amanhada – do 25 de Novembro de 1975. O que seria daqueles militares que se pavoneiam como heróis da vitória da democracia representativa – a chamada ala moderada – incluindo a esfinge que dá pelo nome de Ramalho Eanes – não fora o papel político desempenhado por Mário Soares. Cavaco não desempenhou papel nenhum, em coisa nenhuma, verdadeiramente importante na história recente de Portugal. Governar 10 anos, com 1 milhão de contos a entrar no país, em cada dia, não é glória para ninguém. Sê-lo-ia se Portugal apresentasse, hoje, níveis de desenvolvimento socio-económico, no mínimo, semelhantes à vizinha Espanha cujo deficit das contas públicas anda ao nível dos 0%. Alegre, além de poeta e deputado, sempre foi um ajudante de Mário Soares e nada mais. Representa, nestas presidenciais, uma fracção do PS à qual se juntaram algumas personalidades e cidadãos de boa vontade. O problema de Mário Soares é estar “entalado” entre dois nacionalismos, de sinais contrários, como no 25 de Novembro, estava “entalado” entre dois radicalismos de sinais opostos. Soares, no fundo, é um internacionalista. Tem uma visão da Europa próxima do federalismo e uma visão do mundo que se opõe à luta entre todos os radicalismos, sejam de natureza económica, religiosa ou militar. Os políticos paroquiais levam a melhor sobre os políticos universais. A imagem de um presidente messiânico – autoritário ou sonhador – que vende a panaceia da cura dos males da nação tem vantagens na conjuntura actual. A imagem de um velho político lutador pela justiça e liberdade tem a desvantagem de representar a realidade, pura e dura, dos males da nação arrostando com os malefícios dos efeitos imediatos das políticas destinadas a corrigi-los. Soares é o candidato da situação. Todos os outros são candidatos da oposição. Irónico! O problema é quando, mais tarde, passados, no máximo, dois anos todos se derem conta que afinal os males são os mesmos e o Messias, vencedor de hoje, amanhã, virou besta.

quinta-feira, novembro 20

AR

Por razões de trabalho fui ontem à Assembleia da República e na entrada lateral, enquanto esperava, pelas 10h da manhã vi sair uma fila interminável de trabalhadoras. Seriam talvez umas trinta que estariam largando o serviço prestado a partir de manhã cedo, para que o edificio possa ser utilizado pelos que lá trabalham. Foi fácil verificar que eram, exceto uma, todas imigrantes.

quarta-feira, novembro 19

Presidenciais - 2

Apesar da maçada estou a assistir aos debates presidenciais, como se fosse um dever, herança de um passado atento à politica. Nada de novo. Pelo que pude verificar há 32 putativos candidadatos e entre eles somente 4 mulheres. Vão restar uns 8 com hipóteses de obterem acima de 0,5%. Nem um fora do caucasiano, branco mais branco não há, apesar da diversidade que se pode observar nas ruas e espaços comuns. Nos dois debates os lugares comuns são mais que muitos. O debate politico está mais pobre. Faltam 26...

segunda-feira, novembro 17

Presidenciais

Vão hoje começar os debates entre candidados nas eleições presidenciais (alguns segundo critério que não entendo), e segundo modelo tradicional. A minha primeira impressão de debates que ainda não vi pois não existiram é: uma grande maçada!

sábado, novembro 15

1867

Deparei-me hoje com um artigo na revista do Expresso acerca de António Pereira de Figueiredo que foi o tradutor da bíblia para português. Nunca tinha dado atenção à personagem mas recebi de herança uma bíblia editada em 1867 que ostenta o seu nome. Curioso este ano de 1867 pois nele foram aprovados o Código civil, o Código cooperativo e abolida a pena de morte. Um ano de grandes reformas que, no essencial, perduraram até ao presente.

sexta-feira, novembro 14

Justiça

O tema é um clássico, tão antigo quanto o homem em sociedade. Um homem a julgar outro homem. Quem nos defende da violência silenciosa dos atrasos da justiça? Ou da sua ação tendenciosa eivada de preconceitos e mal entendidos. Tantos erros de comunicação que escondem outros que nunca saberemos dos seus segredos. Quem nos defende?

quarta-feira, novembro 12

Greve Geral

Compreendo a perplexidade de muita gente com a convocação da greve geral de 11 dezembro. Uma greve geral é um último recurso dos trabalhadores, através das suas organizações de classe, os sindicatos, em situações limite nas quais se incluem a perda total de direitos dos trabalhadores, tentativa de derrube do regime democrático, iminência de guerra com mobilização militar... A maioria pode ter interiorizado que nenhuma destas situações está, no presente, em causa. Mas têm mesmo a certeza? Camus lembra que "A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação "por peça"." Hoje uma greve geral pode nem sequer desencadear qualquer movimento do mesmo tipo, mas pode ser desencadeada por um processo silencioso de descontentamento com a intransigência na defesa de valores absolutos, dispensando o debate autentico em prol de acordos equilibrados. E mais não digo.

terça-feira, novembro 11

A nova linha editorial do CM

"A greve geral marcada para dezembro foi diminuída pelo primeiro-ministro com a velha tese de que as centrais sindicais estão ao serviço do PS e do PCP. A velha cassete da manipulação política do movimento sindical que dá para tudo, incluindo para algumas tragédias históricas, como aconteceu nos anos 70 na América do Sul, quando a CIA fomentava golpes de Estado com a cartilha anticomunista. Os tempos são diferentes, obviamente, mas a estratificação social e económica mudou pouco. Temos um Governo próximo dos patrões, fraco na sensibilidade social, agarrado a chavões como a competitividade, que olha para o trabalho como um mero instrumento do seu próprio poder, quanto mais barato e descartável, melhor. Uns têm cada vez mais poder e dinheiro, outros vivem vidas marcadas pela falta de casa, saúde, educação. No meio, Governos, como o atual, incapazes de impor a sua própria visão sobre a economia à bolha a empresários que andam, há uns bons trinta anos, a produzir impunemente escaldões no erário público, de que o Novo Banco e o BPN são ainda trágicos exemplos e despesa pesada. Tudo por conta do Zé pagante, apesar de cada vez mais precário, mais endividado, menos valorizado e menos no centro da política." Eduardo Dâmaso, in Correio da Manhã

domingo, novembro 9

Benfica

Uma formidável lição de associativismo foi a que resultou das eleições no Benfica - enquanto clube com a forma de associação. Sabiam que integra a economia social? Pois sim. Até se discutiu, de forma aberta, acerca dos modelos de representação pelo voto, neste caso fora do principio basilar de "uma cabeça um voto". Em todo o caso uma lição de associativismo.

sábado, novembro 8

Um caso notável

Um muçulmano foi eleito em Nova York. Trata-se de um acontecimento notável. Podia um cristão ser eleito num país muçulmano? Primeiro era necessário que a democracia existisse, segundo que a tolerância religiosa o admitisse.

quarta-feira, novembro 5

Saúde (2)

Ainda a saúde. Continuo sem médico de família, pago impostos e muito, todos pagamos muito, conforme as nossas possibilidades, e conforme as expetativas, e as regras gerais, temos direito a médico de família. O que aconteceu, recentemente, é bastante inqueitante. A mais alta responsável pela saúde no governo, que não conheço, e mostra ser uma pessoa diligente, fez afirmações inaceitáveis, embora na corrente dos tempos atuais. Como tem sido muito comentado mas receio não seja apreendido pela maioria entrou no terreno da xenofonia e do racismo. Sim os pobres que são, com os remediados, a maioria da população tem direito ao SNS. Em igualdade com os ricos que dele beneficiam sempre que os privados se deparam com situações complexas e de dificil abordagem e resolução. Tenho experiência familiar do que afirmo. O processo que está em curso, próprio de um governo com o perfil do atual - nada de estranhar - é a privatização da saúde alavancada pela degradação do SNS. Negócios, negócios... é uma banalidade o que digo mas é o que é... e não sei que esperar deste governo com outra ministra, ou de governo diverso deste, com equilíbrio, justiça e compaixão.

domingo, novembro 2

sábado, novembro 1

quinta-feira, outubro 30

Ephemera

Fui hoje, a convite da Ephemera, participar na inauguração da exposição, na Mitra em Lisboa, de parte do arquivo de Sá Carneiro. Foi um encontro de dirigentes atuais e antigos do PSD com algumas intervenções muito interessantes por mostrarem as inúmeras facetas politico ideológicas do PSD. Pacheco Pareira é alma de um arquivo monumental no qual um dia destes já me propus trabalhar numa área muito especifica.

quarta-feira, outubro 29

Saúde

Desde 2023, após um longo período, foi-me atribuido médico de familia. Foi uma experiência positiva estabelecendo-se uma relação de confiança com consultas e outras iniciativas relevantes. Desde há uns meses acabou e devo confessar que sinto a falta e me interrogo acerca da politica pública na área da saúde. Nada que não se saiba destas falhas, o que quer que seja, mas é sempre diferente quando nos toca. Todos os indícios apontam para uma crise sistémica que a comunidade tem de encarar e resolver através de um debate nacional estruturado e lançado em bases sérias. Não sei quem será capaz de tomar a iniciativa.

segunda-feira, outubro 27

Aniversário

No dia de aniversário do meu filho Manuel saudo a vida que irrompe e nos preserva do esquecimento do mundo.

sábado, outubro 25

Perplexidade

"Supremo recusa pedidos de consulta de Ivo Rosa", é o titulo da notícia. Um juiz que foi investigado sem ter sido nunca inquirido, nem informado de nada, cheira pelo menos a abuso de poder. Coisa de serviçoes secretos e não de serviços judiciais. Provavelmente o acontecimento mais grave - dos conhecidos - de ataque ao regime democrático. Ninguém quer saber! Um dia destes a casa vai abaixo.

quinta-feira, outubro 23

António Dias

O António Cavalheiro Dias morreu. Sempre me telefonava no dia 24 de abril. Foi com ele (e com o João Mário Anjos) que partipei no 25 de abril, naquela madrugada inesquecível. Ao volante do seu Datsun com ele percorri os mesmos caminhos da coluna de Salgueiro Maia. Arriscámos tudo, e daquela vez, deu certo. Fomos uma pequena gota de água limpida no mar da multidão que se fez à rua, sorvendo o ar da madrugada e ignorando os riscos. Mais tarde, a 9 de junho de 1974, na primeira assembleia de militantes do MES, ele foi eleito para o secretariado do MES (comigo e mais um punhado de boas vontades), mas não nos demos a conhecer em público pois estavamos ainda a cumprir serviço militar. Esteve em todas de forma discreta, mas era de uma coragem imensa. Aqui chegados, com a morte dele e, antes, do João Mário, fico eu a carregar essas memórias. Hei-de ter tempo para as organizar em livro que tenho planeado na minha cabeça. Honra à sua memória.

quarta-feira, outubro 22

Balsemão

Confesso que estou cansado de eleições e dou por mim a desgostar dos cartazes com as caras de candidatos que vão encher o espaço público. Aprendi desde 25 de abril de 75 a gostar de eleições e a vibrar com elas, um método de escolha - um homem um voto - livre e secreto, com o qual muitos sonharam, e do qual Balssemão terá sido um dos maiores entusiastas. Morreu, era da geração do meu irmão, nascidos pelo meio dos anos 30, os anos da guerra civil espanhola e da mais dura ditadura salazarista - o PPD, o Expresso e SIC imortalizaram-no nos anais da democracia portuguesa - uma das mais representativas de todas as democracias da qual a principio desconfiei. Estava errado e de tudo se fez história que a nossa memória preserva, sem esquecer que foi o 25 de abril de 1974 que abriu as portas da liberdade, de todas as liberdades. Salvé Balsemão!

domingo, outubro 19

Arqueologia

Na minha terra por uns dias de fim de semana com sol e temperatura amena sento-mo na esplanada da Gardy. Nesta rua, a principal da cidade onde nasci, vivi uns largos anos e desde sempre conheci e frequentei a Gardy. Na rua defronte da esplanada passa sem parar uma multidão de turistas e nativos de todas as qualidades e feitios. Um mundo em movimento. Mesmo ao lado fica a sede do partido da extrema direita. Numa canteria defronte mantêm-se legivel o simbolo no MES uma inscrição de arqueologia urbana com mais de 50 anos. Causa-me boas sensações e trazer isto para aqui serve para reforçar que este é um espaço estritamente pessoal, de alguma forma, também arqueológico.

sábado, outubro 18

O PS hoje (2)

Olho para a imprensa nas suas diversas formas e são muitas as referências ao PS grande parte das vezes para o atacar. Tento encontrar o racional desta extensa e profunda incomodidade mas não é fácil. Agora mesmo vejo que o almirante toma soares como modelo de presidente. Na nossa sociedade cada vez mais sequestrada pela agenda da extrema direita, xenófoba e racista, os protagonistas precisam do PS para alimentar esperanças. O PS por ora precisa de resistir pois é nele que se reunem a história dos ideais da liberdade e as esperanças de um futuro de progresso económico e social. Mas precisa de mudar sem perder as raizes.

terça-feira, outubro 14

O PS hoje

Faz bem Carneiro em aproveitar esta semana, pós eleitoral, para definir com clareza as posições do PS face ao OE e às eleições Presidenciais. As posições dos outros partidos todos sabem bem quais são. Do PS até hoje não. Sabemos da orientação para a abstenção no OE viabilizando-o, tornando a posição da extrema direita a esse propósito irrelevante. O PS posiciona-se para se opor, espero, às propostas da direita em diversos campos, entre outros, da reforma da legislação laboral, da segurança social e, em geral, da defesa do estado social. A esquerda democrática encarnada pelo PS precisa de ganhar espaço e não precisa de depender de mais ninguém à esquerda, salvo situações excecionais, para ganhar músculo. Assim saiba congregar os seus amainando as rivalidades e ódios de estimação internos. Não sei se será capaz... Por fim apoiar a candidatura de Seguro à Presidência não por que não pudessem haver alternativas - todos baixaram bandeiras - mas por que é a única alternativa e pode, paradoxalmente, ser vencedora. Ou seja, o PS pode e deve, nas atuais circunstâncias e, provavelmente, sempre encarnar a radicalidade da moderação.

segunda-feira, outubro 13

Autárquicas

O meu sentimento destas eleições é o de que o voto buscou o equilibrio. Não se trata de bloco central, que bem poderá vir a ser, mas de reafirmar o PS como alternativa de centro esquerda. Este para mim o significado mais relevante destes resultados, ou seja, sinalizar que é possível evitar a bipolarização entre os extremos.

sábado, outubro 11

Nobel

Dois dias após ter tomado conhecimento do Nobel da literatura que lhe foi atribuido em 1957 Camus escreveu: “19 octobre. Effrayé par ce qui m´arrive et que je n´ai pas demandé. Et pour tout arranger attaques si basses que j´en ai le cœur serré. Rebatet (*) ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d´exécution alors qu´il est un de ceux dont j´ai demandé, avec d´autres écrivains de la résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où? La création elle-même, l´art lui-même, sont détail, tous les jours et la rupture … Mépriser est au-dessus de mes forces. De toutes manières il faut vaincre cette sorte d´effroi, de panique incompréhensible où cette nouvelle inattendue m´a jeté. Pour cela …". Os ataques da extrema direita e dos comunistas (que havia abandonado) sucederam-se. Sempre é assim para aqueles que persistem, contra ventos e marés, na defesa da liberdade. (**) – Crítico de extrema-direita que escreveu no Dimanche matin, a propósito da atribuição do Nobel a Camus, um texto no qual, por exemplo, se podia ler: “Desde a sua alegoria da Peste, já se diagnosticava em Camus uma arteriosclerose do estilo.”

quinta-feira, outubro 9

Paz

Seria uma perda de credibilidade brutal para o Nobel a atribuição do Nobel da paz a Trump. Nem sequer argumento. Espero que seja escolhida uma organização, ou personalidade, que verdadeiramente tenha pergaminhos reconhecidos na luta pela paz no mundo.

terça-feira, outubro 7

Autárquicas

Os resultadas das autárquicas serão o que cada um quiser. Umas eleições mais, tendo votado em todas já lhes perdi a conta. Em si próprias são uma coisa boa, uma boa opção esta da democracia representativa, depois de tantas dúvidas e ziguezagues após o 25 de abril. Por isso fico feliz no exercício do voto se bem que voto, quase invariavelmente, nos mesmos, ou seja no PS. O mesmo vai acontecer desta vez. Já sei que o PS será, perante a opinião publicada, derrotado. O seu score nas anteriores autárquicas foi tão alto que outra coisa não será de esperar. A extrema direita vai vencer, segundo a opinião publicada, pois nas anteriores quase não existia. O PSD vai resistir pois o poder pode muito. De resto são irrelevâncias para o obervador externo que não para os próprios. No fim: por cá todos bem.

domingo, outubro 5

República

Às 8,30 da manhã passava pela Rua do Ouro, em triunfo, a artilharia, que era delirantemente ovacionada pelo povo. As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível! A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana. O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana. (…) Vê-se muita gente no castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8,40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo. O governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, Coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luís Gomes, fazenda, Basílio Telles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado. Governador Civil, Eusébio Leão. Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República. (Transcrito de O Século, quarta feira, 5 de Outubro de 1910, publicação de última hora.) Raúl Brandão, in Memórias “O meu diário” – Volume II Perspectivas & Realidades

sexta-feira, outubro 3

A devassa

Esta notícia do juiz devassado é da maior gravidade. É urgente que quem de direito esclareça ou exija esclarecimento acerca do que se passou. Escrevi aos meus amigos a propósito a seguinte mensagem: "É preciso não esquecer que a ditadura contou com a complacência ou apoio da maioria do povo incluindo elites, a pide foi tolerada, as prisões politicas idem, muitos oposicionistas deportados sem julgamento, um rosário sem conta de crimes ... impunes". Qualquer passo que se anteveja nessa direção não pode merecer quaiquer tipo de tolerãncia.

sábado, setembro 27

sexta-feira, setembro 19

Levar de vencida o medo

Vamos a ver. Ninguém se interessa pelos problemas, queixas ou anseios de ninguém. Existem exceções cada vez menos valorizadas. Como a maioria dos seviços, os públicos em primeiro lugar que a todos assistem. A ganância leva de vencida, o discurso predominante incentiva ao ódio. Todos os sinais são de regresso aos anos 30 do século passado. Como resistir? Muitos se interrogam. O voto é uma arma em democracia. Pode falhar e virar-se contra a própria democracia, mas não se pode desistir dela. E não ter medo! (Fotografia: manifestação em Lisboa nos dias posteriores à vitória dos aliados na 2ª guerra.)

quarta-feira, setembro 17

Nosso tempo, todos os tempos

Guerras guerra, desastres desastre, crimes crime, mentiras mentira, negócios negócio, mortes morte, à beira catástrofe, não terá sido sempre assim?

domingo, setembro 14

Achamento

Ontem reli este documento extraordinário,somente 35 páginas nesta edição, datado de 1 de maio de 1500, relato de um primeiro contato com uma realidade nova, surpreendente e esplendorosa aos olhos do cronista. Ao mesmo tempo ouvia notícias acerca do julgamento de Bolsonaro, o Brasil continua a ser um novo mundo pujante de luz e força criadora.

sexta-feira, setembro 12

Uma lição de história e humanidade, in Expresso

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) citou Jesus Cristo para dizer que não considera católicos quem se afirma crente e tem um discurso contra os imigrantes e contra o acolhimento. "Isso é o que, a mim, mais me custa entender em tudo isto", disse José Ornelas, confrontado com o facto de muito do discurso xenófobo, populista e anti-imigrantes invocar a fé católica e a matriz judaico-cristã da Europa. Numa conferência após o XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, José Ornelas citou o que respondeu Jesus Cristo aos seus contemporâneos que o acusavam de violar a fé judaica em que havia sido criado: "A resposta é 'não vos conheço'". "Não só precisamos de imigrantes, mas precisamos de evoluir" e deixar de ter uma "cultura de medo", algo que as leis propostas (da nacionalidade e estrangeiros) parecem acentuar, alertou José Ornelas. Nesta alteração prevista, "o que tem mais [nos diplomas] é proibição e a preocupação com o medo que se gerou", enquanto, em contrapartida, a redação proposta é "muito, muito parca naquilo que é o dever, a necessidade e o desafio da integração" dos imigrantes, um tema em que, "praticamente, o discurso desapareceu", considerou Ornelas. Contra os "populismos manipuladores" Já na terça-feira, representantes das igrejas católicas de língua portuguesa tinham contestado os “populismos manipuladores” que impedem o acolhimento, “num momento em que o mundo atravessa uma noite densa de escuridão”, causada pelas guerras e pela violência. Na abertura dos trabalhos do 16.º Encontro de Bispos Lusófonos, que decorreu esta semana em Lisboa, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, recordou que a Igreja ensina que o próximo, “independentemente da raça, acento linguístico ou cultura”, é irmão de fé. Cabe à hierarquia contribuir para uma cultura que leve os governantes a “não cederem a populismos manipuladores, a serem verdadeiramente responsáveis no acolhimento e a saberem integrar os que chegam, na dignidade e na justiça”, acrescentou. “A colaboração das nossas Igrejas neste campo parece-me um tema crucial para o mundo de hoje e para preparar um futuro melhor para os nossos povos”, afirmou o dirigente português, na presença de representantes das Igrejas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe. Por seu turno, José Manuel Imbamba, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, recordou que o encontro “acontece num momento em que o mundo atravessa uma noite densa de escuridão devido ao amontoar-se de tensões entre os Estados e de guerras, umas amplamente mediatizadas e outras esquecidas ou silenciadas, que se disseminam praticamente em todos os continentes, cujos horrores e crueldades bradam os céus”. “Essa cultura da violência tem provocado mortes indiscriminadas, movimentações forçadas de pessoas e famílias; tem produzido insegurança, incertezas e medos e tem lesado gravemente a dignidade da pessoa humana”, avisou o bispo. O também responsável da diocese angolana de Saurimo, alertou que se está “a agudizar ainda mais a crise do direito internacional, a pobreza, a injustiça social, o desrespeito pela vida e a proporcionar um ambiente em que a mentira vale mais do que a verdade, o mal vale mais do que bem” e que “os valores instrumentais valem mais do que os valores absolutos”. Perante esta crise de valores, “as Igrejas de expressão portuguesa pretendem ser pontes que unem” as sociedades dos vários países, procurando “fazer da hospitalidade um caminho indispensável para a promoção da cultura do encontro enriquecedor, do abraço acolhedor, da inclusão dignificante, do diálogo integrativo, da justiça restauradora, do amor renovador e da paz libertadora”, disse Imbamba. Por seu turno, José Ornelas criticou a tentativa atual da humanidade de construir uma Torre de Babel, “sem Deus”, um “projeto humano que quer fazer-se grande” e que impõe a mesma língua a todos, sem respeito da diversidade. Pelo contrário, defendeu uma “busca da internacionalidade e interculturalidade” que respeite os valores de cada comunidade, recordando que a Igreja tem procurado, “em cada época da história, criar unidade na diversidade”. O objetivo “não é conquistar o mundo, submetê-lo a um projeto único, humano”, mas “garantir a diversidade”, explicou. O também bispo de Leiria-Fátima reconheceu que a Igreja tem um passado sombrio no que respeita à relação com os países colonizados pela Europa. “A par do anúncio congregador e libertador, fraterno e universal da mensagem cristã”, o propósito da Igreja cobriu-se “também de sombras e foi contemporâneo silencioso e, por vezes, conivente, de crimes de abuso de poder e de atentado à dignidade das populações e culturas, de que a escravatura humana é escândalo e ferida, que não se pode esquecer”, afirmou o responsável da Igreja Católica portuguesa. “A verdade purificadora da memória comum é necessária para sarar feridas e criar um futuro de autêntica fraternidade”, acrescentou Ornelas, que também abordou os problemas das migrações e da mobilidade humana. “Esta mobilidade é objeto de muita discussão, manipulação e oportunismo, cuja fatura é paga pelos mais débeis, que andam à procura de vida digna para si e as suas famílias” e “é um tema que não pode passar ao lado das nossas preocupações”, disse. “A Igreja é peregrina por natureza: prepara-se para partir, acompanha os que partem, para que não caiam nas mãos de oportunistas e traficantes, e acolhe aqueles que chegam” e, no dia-a-dia, “tem de ser sempre um laboratório e um viveiro de convivências crioulas que geram novas parcerias e solidariedade humana e samaritana”, explicou.

quinta-feira, setembro 11

Sicários

Por estes dias não me sai da cabeça a referência, de autoria de Moedas, a sicários dirigida a dirigentes socialistas. Assassinos. Simplifico. Não pode ser engano pois em intervenções anteriores Moedas fez, por diversas vezes, referências que apontam no mesmo sentido. Hoje mesmo Tramp em reações ao atentado a um propagandista da extrema direita responsabilizou o discurso da esquerda pelo assassinato. Já muito se falou por estes dias, porventura de forma ligeira, acerca de Moedas e da sua postura politica. Tem razão de ser pois Moedas é na prática, na função de presidente da CML, uma das dez personalidades mais influentes na apolitica portuguesa. Como tantas vezes acontece desvaloriza-se a gravidade de um discurso politico que revela um populista radical de direita, encapotado. Tem todo o direito a exprimir o seu ponto de vista e a defender-se na arena pública, mas a mentira, por vezes arvorada na defesa da liberdade, mata a liberdade.

domingo, setembro 7

Guerra

Portugal não conta na guerra que está em curso. Sofrerá indiretamente as consequências, dependendo das orientações das potências europeias. Mas sempre será necessário acautelar o quinhão minimo de autonomia que a longa história reclama. A diplomacia tem a palavra e cuidado com os Açores sempre muito cobiçados em tempos conturbados.

quinta-feira, setembro 4

Aniversário

O meu pai Dimas nasceu no dia 4 de setembro, aniversário que nunca esqueço. A razão deve enraizar no afeto discreto que me dedicou, sem adornos nem exaltações.

segunda-feira, setembro 1

Setembro

1 de Setembro de 1943. Aquele que desespera dos acontecimentos é um cobarde, mas aquele que tem esperança na condição humana é um louco. Albert Camus, in Cadernos 2

sábado, agosto 30

Marcelo

Marcelo acerca de Trump disse o que todos pensam e falam, à vontade, ou à boca pequena. Falou numa inicitiva do PSD, partido do governo, que sempre pode responder à interpelação dos USA: não é para levar a sério, nem nós lhe damos importância, e segue a marinha ... mas...

terça-feira, agosto 26

Crimes, crimes, crimes ...

Não se deixem tomar pela raiva - foi o que disse Biden quando visitou Israel logo depois do 7 de outubro. Uma mensagem que a direção politica atual do governo israelita não levou a sério. Os moderados estão reféns da extrema direita o que parece ser um carma que ganha foros de cidade. Os crimes sucedem-se sem parar ao serviço de uma ideia expansionista à semelhança de outros tempos, conduzindo sempre a impensáveis tragédias humanas. Nós por cá todos bem ...

domingo, agosto 24

Reformas

Muita gente já pensou, e alguma deve ter expressado, como o fenómeno dos incêndios impata na designada, e anunciada, reforma do Estado. O que está em causa, e se revela uma vez mais, é de como o Estado mostra as suas insuficiências, ou se ausenta, em áreas cruciais face às quais os cidadãos nele confiam. Seria pois uma boa ideia priorizar as mudanças necessárias em áreas como a organização do território (coesão), proteção civil e forças armadas (segurança) e agricultura (mar e florestas). O Estado tem por obrigação cuidar de todos por igual e em todo o lugar. (Na fotografia eu, e a minha família direta do lado da mãe, em pleno campo algarvio).

sexta-feira, agosto 22

Incêndios

Fui visitar o que escrevi ao longo dos últimos 22 anos nestas páginas acerca de incêndios. Muita coisa. Está tudo na mesma exceto a área ardida que aumentou. A governação em geral - governos, corporações e famílias - cada vez mais, abandonaram o interior sem regresso. O Portugal maritimo esmagou o Portugal continental.

segunda-feira, agosto 18

Federico Garcia Lorca - pelo aniversário do seu assassinato

Operación García Lorca - Cada ciudad tiene su propio vía crucis. En el caso de Granada, se trata de un camino sinuoso e inquietante: el que va desde la calle de la Duquesa hacia los alrededores de Alfacar. Fue allí donde se produjo, el 18 de agosto de 1936, el martirio del poeta Federico García Lorca junto a tres hombres más: el maestro Dióscoro Galindo y los banderilleros anarquistas Joaquín Arcollas Cabezas y Francisco Galadí.

sexta-feira, agosto 15

15 agosto

Os cronistas do século XVII puderam ainda consultar uma memória, hoje perdida, procedente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na qual se descreve a celebração de grandes festas em Coimbra no dia da Assunção da Virgem Maria ao céu, a 15 de Agosto de 1139, e nos dias seguintes. A solene missa desse dia foi celebrada por D. Bernardo, bispo da dioceses, e o sermão pregado por D. João Peculiar. Os eruditos modernos, como Rui de Azevedo e A. de J. da Costa, fiados na autoridade de Frei António Brandão, que menciona a referida memória, admitem a autenticidade desta informação. Depois de termos examinados os vários indícios que apontámos acerca das celebrações feitas em Coimbra por ocasião do regresso de Ourique, essa notícia só vem confirmar os elementos que descobrimos por via dedutiva. Tivesse ou não havido aclamação no campo de batalha, é lógico admitir que o povo de Coimbra quisesse também aclamar o vencedor e passasse a chamar-lhe rei. Não faltavam os motivos para isso.
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”12 – Rei de Portugal”, pgs 120 e 126/127.

domingo, agosto 10

Incêndios

Os incêndios aí estão, com mais ou menos intensidade, como em todas os territórios mediterrânicos. Ocorrem no campo despovoado com ausência quase total de estruturas humanas, lembrando um modelo de desenvolvimento falhado. Sempre se fala de incendiários e estranho que a extrema direita ainda não tenha encontrado entre eles imigrantes. Nem entre o povo que desespera, nem entre os combatentes, nem nas imagens despudoradas das Tv s, nem nas notícias, nada de imigrantes.