Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, fevereiro 25
Francisco
Estou em fase de leitura da autobiografia Esperança de Francisco, o Papa. É um testemunho de vida muito forte de uma personalidade marcada pelos acontecimentos do seu tempo. Com ele a igreja mergulha na vida do seu povo com suas vitórias e derrotas, tristezas e alegrias, vícios e virtudes. Sempre do lado dos mais fracos, sem hesitações nem concessões. Um homem inteiro na sua fé. Um revolucionário. Que viva!
segunda-feira, fevereiro 24
sexta-feira, fevereiro 21
Esperança
Francisco, o Papa, agora gravemente enfermo, é filho e neto de emigrantes, idos nos anos 20 de Itália para a Argentina, onde nasceu. A sua especial sensibilidade para a questão dos migrantes é fácil de entender, daí as suas intervenções incisivas acerca do tema por palavras e atos. As politicas de Trump têm nele um lúcido adversário e espero que recupere da doença que o levou ao hospital para que a sua palavra continue a iluminar de esperança o campo dos homens de boa vontade..
quarta-feira, fevereiro 19
Rapina
Muitos anos atrás a minha mulher, que trabalhava para uma empresa americana, frente às torres de Trump, em Nova York, virou-se para o patrão e perguntou-lhe o que aquilo era. Ele, de súbito, respondeu-lhe: é de um vigarista chamado Trump. O vigarista fez carrrreira de sucesso. Hoje por hoje, no que respeita à Ucrânia, já entendemos o seu plano. De uma forma simples e direta já acordou com Putin dividir a Ucrânia ficando com a melhor parte. A Europa paga a reconstrução. É pura rapina. Falta afastar a liderança ucraniana, a bem ou mal, e substitui-la por um diretório de sua confiança. Vamos ver se corre tudo a preceito no seu plano já que não pode eliminar a Europa do tabuleiro.
terça-feira, fevereiro 18
Adélia Prado - Encontros Notáveis
Adélia Prado - Prémio Camões entregue hoje. Li muito dela, talvez tudo ou quase.
segunda-feira, fevereiro 17
O meu tio Ventura
Regressemos ao início. Na minha alta adolescência travei-me de razões, vezes sem conta, com o meu tio Ventura (irmão de minha mãe), no campo da politica. Ele foi regedor da freguesia e era um estrénuo defensor da ditadura, homem já feito, eu jovem, era defensor de tudo o seu contrário. E acabava tudo sempre em bem, as razões dos laços de família sobrepunham-se, invariávelmente, às desavenças politicas. O tempo fez o seu caminho, o 25 de abril o resto. Finalmente todos democratas, ainda bem. Mas... hoje regresso ao início, afinal parece que não. Os fascistas de antanho regressam sob novas vestes, em força. Não vou mais travar-me de razões com o meu tio Ventura que morreu com 99 anos, na espera paciente dos 100, com a vaca que tinha preparada para a matança celebrativa do centenário, a sobreviver, ainda bem. Os ventos da história vão perfilar os neofascistas, os ultraliberais e os democratas pífios na galeria dos açougueiros da ordem liberal democrata. Os campos do confronto estão a definir-se com uma rapidez alucinante. Entre nós adivinho que o primeiro defensor da nova ordem autoritária, a ser alçado ao poder deverá ser o Almirante. Tenho saudades do meu tio Ventura... e Almirantes nunca mais!
domingo, fevereiro 16
sábado, fevereiro 15
Os perigos para a liberdade - publicado faz 20 anos
«Rolão Preto, ao entrar no Palácio das Exposições, saudado romanamente pelos camisas azuis em guarda de honra». [18 de Fevereiro de 1933, fotografia a preto e branco - Revolução, n.º 292, Lisboa, Portugal - Fotografia publicada no Revolução - Diário Nacional-Sindicalista da Tarde (1932-1933), de segunda-feira, 20 de Fevereiro de 1933.]
O banquete de homenagem a Rolão Preto, de 18 de Fevereiro de 1933, comemorava o primeiro aniversário da publicação do diário Revolução, no início subintitulado Diário Académico Nacionalista da Tarde, cujo primeiro número tinha saído em 15 de Fevereiro de 1932. In “O Portal da História”
As corporações só conhecem a linguagem da força. Não vale a pena escrever lindas palavras em barras de sabão. É preciso esculpi-las no granito afrontando a dureza das pedras endurecidas pelo tempo. Os homens perdem a capacidade de se libertar da servidão quando nela nasceram e foram educados para obedecer. Ou quando já se esqueceram da servidão no que ela tem de mais abjecto. É o caso de Portugal e da maioria das democracias da Europa Ocidental.
O exercício da liberdade não dispensa a inteligência e a emoção de escolher - aceitar ou contestar, falar ou calar - em cada momento e em todo o lugar. O exercício da liberdade é o mais difícil de todos aqueles a que o homem é chamado a responder. Por isso valeu bem o sacrifício de milhões de homens e mulheres em duas guerras sangrentas na Europa em pleno século XX. As vantagens da liberdade são incomensuráveis para a humanidade mas nunca estão definitivamente garantidas. É uma ilusão perigosa pensar o contrário.
Falo a propósito das discussões acerca das medidas do governo socialista para fazer face ao deficit. Deficit, qual deficit? parecem perguntar muitos portugueses, comunistas e não só! Mas caso se não equilibrem as contas públicas ficam abertas as portas aos arautos da “ordem” (que ilustro, numa versão portuguesa de 1933), ou seja, da tirania que, na versão moderna, poderá assumir as mais surpreendentes fórmulas.
Penso nos resultados do referendo em França. Europa, qual Europa? Parecem perguntar as extremas direita e esquerda, parte dos socialistas e parte da direita tradicional francesa! Mas se a Europa não se mantiver unida, no essencial, ficam abertas as portas à guerra. Tirania e guerra marcham sempre a par na história.
As escolhas resultantes do voto popular são para respeitar. Quem, em Portugal, não percebeu que os socialistas são a única força capaz de realizar uma política de salvação nacional, não percebeu nada! Por isso lhe foi outorgada, em eleições livres, uma maioria absoluta.
Quem, na Europa (em França e não só!) não percebeu que o que está em jogo é o enfrentamento com o poder dos EUA (e da China), a nível global, preservando a paz na Europa e o “modelo social europeu”, não percebeu nada! Podem discutir-se os métodos e os ritmos mas o essencial está aí.
Portugal é uma ínfima parcela desta realidade. As corporações, em Portugal, por razões históricas, só conhecem a linguagem da força. Mas os democratas e os amantes da liberdade, dão privilégio à força da inteligência (razão) e da persuasão (diálogo).
Será suficiente? Uma velha conversa porventura mais actual do que muitos pensam.
quinta-feira, fevereiro 13
General Humberto Delgado - no dia do 60º aniversário do seu assassinato pela PIDE
Foi no dia 3 de Junho de 1958, ao fim da tarde, que Humberto Delgado chegou a Faro: “Ao cair do dia, em Faro, esperava-o uma invulgar concentração de agentes da PIDE, por toda a cidade e no hotel onde ficou hospedado.” “ – Tive de me refrear para não me atirar a eles”, confessou. “O Café Aliança serviu de palco improvisado, numa grande barafunda de populares amontoados à entrada, a revezarem-se para ouvir e ver o candidato presidencial”.
No dia seguinte (4 de Junho) Humberto Delgado rumou a Portimão, visita que o seu neto descreve a traços largos e da qual destaco um detalhe:
“À porta do cemitério, também sobressaiu em arroubos de euforia uma operária conserveira, de seu nome Maria da Conceição Ramos Matias, que utilizou nesse dia as suas moedas de poupança para oferecer flores ao general. Gritou-lhe palavras de ordem de sabor comunista e, rebentando de emoção, impôs o seu desejo de lhe cantar sozinha o Hino nacional, até que, por estar tanto calor, lhe desmaiou nos braços.”
De regresso a Faro é assinalado um almoço tardio e a arrancada para visitar Olhão. Lembro-me da aglomeração de povo à beira dos passeios nas ruas de Faro, acontecimento absolutamente inédito, só comparável com a passagem de algumas procissões e, muito mais tarde, em 1966, aquando da chegada a Faro do bispo Júlio Tavares Rebimbas.
Ninguém sabia ao certo, nem os percursos, nem os horários do General em campanha, mas o meu pai encontrou o caminho, e o momento certo, para se integrar na comitiva que percorreu os nove quilómetros ente Faro e Olhão, que eu acompanhei, ainda criança, certamente, a bordo do Ford Prefect (LH-14-11) familiar. Lembro-me ainda de ter andado na rua, pela mão de meu pai, assistindo à calorosa recepção do povo de Olhão ao General.
Que estranho influxo de coragem atravessou o coração das gentes para que ousassem mostrar, publicamente, a sua dissidência, desafiando um regime político temido pela repressão que exercia sobre os seus opositores? Nesse mesmo dia, 4 de Junho de 1958, a comitiva seguiu para Tavira, Vila Real de Santo António, subindo depois na direcção de Beja cidade na qual a campanha havia de terminar, em apoteose. (Transcrições de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”.)
segunda-feira, fevereiro 10
"Justiça"
"Está tudo prescrito: Tribunal da Relação de Lisboa anula coimas de 225 milhões de euros a 11 bancos". (In Expresso). Como seria de esperar a atividade da banca não é censurável pela justiça. De recurso em recurso chegará ao Supremo mas o resultado será o mesmo. Como soe dizer-se a justiça só funciona para os pequenos...
domingo, fevereiro 9
Radicalidade democrática
Outra ironia do nosso tempo. Ser radical hoje é estar do lado da democracia representativa, que alguns intitulam de liberal. O melhor caminho para assumir a radicalidade democrática é não ceder à chantagem dos autocratas, vistam as cores que vestirem. Nem amolecer na oposição a todas as formas de autocracia que se manifestam e insinuam nos planos ideológico e politico. Não há autocratas bons. Notei que o socialista em funções de presidente da AR, face à denúncia da saudação nazi do homem das malas, clara e inequivoca, afirmou nada ter visto... é frouxo e com estes frouxos o mal vencerá.
sexta-feira, fevereiro 7
Radicais
Suprema ironia. O tempo da história é longo e hoje somos capazes de assumir posições fundadas em ideias que ontem rejeitavamos. Ou vice versa. Nos tempos da revolução do século XX português, de finais dos anos 60 a meio dos 70, tomámos posições radicais, diziamos revolucionárias, juvenis e imaturas e desembaraçamo-nos delas, com mais ou menos convição, mas não das memórias e de uma réstia de esperança num futuro de igualdade com justiça e liberdade. Parece que esse tempo de esperança acabou, melhor dito, está sendo enclausurado em ameaças de trevas. Fomos nós radicais? Naquele tempo sim! as revoluções são processos radicais de todos os lados. E hoje, como ser radical de novo? Todos procuram os termos certos para definir esse radicalismo. Desconfio que as gerações jovens vão ter de pegar em armas, sejam elas quais forem, para combater os novos totalitarismos. Não é necessário esperar muito mais tempo para o enfrentamento geral que, aliás, já está em curso na Europa de leste e no Médio Oriente.
terça-feira, fevereiro 4
sábado, fevereiro 1
NEVE A SUL
Uma memória antiga. Na madrugada do dia 1 para 2 de fevereiro de 1954 a meteorologia fez uma surpresa ao sul de Portugal. Para surpresa de todos - pois as previsões não seriam tão meticulosas e divulgadas - nevou a sul. Da janela da casa onde nasci, em Faro, na manhã de dia 2 de fevereiro de 1954, pude ver pela primeira vez neve ainda assim abundantes. Foi uma festa que nunca mais esqueci, nem se repetiu pelo menos com aquela intensidade. Vejam só como as surpresas do clima são coisa antiga.
sexta-feira, janeiro 31
quinta-feira, janeiro 30
terça-feira, janeiro 28
Gaza - A Grande Marcha
A impressionante marcha de retorno dos palestinianos às suas casas em Gaza. A atualidade mistura-se com a história. (Fotografias de Veja)
segunda-feira, janeiro 27
domingo, janeiro 26
Imigração - uma ironia
Vamos lá ver as coisas com realismo. A imigração é relevante para a economia. Os paises com uma demografia que inverte a pirâmide etária, o chamado "invermo demográfico", como Portugal, carece de mão de obra que, apesar de todos os debates, só pode vir da imigração. Não se trata de uma questão ideológica mas antes de uma questão económica. Os principais interessados nessa mão de obra, predominantemente jovem, são os empresários que, nalguns setores de atividade, dependem absolutamente dela. Neste campo ao que assistimos é a uma situação de suprema ironia. A direita dificulta a imigração, contra os interesses da sua base de apoio, e a esquerda apoia-a, favorecendo o campo contrário à sua ideologia. Pedro Nuno declara-se no meio da refrega, apanha pancada de todos os lados, resta saber o que pensa, e sente, o povo o que só mais tarde saberemos.
quarta-feira, janeiro 22
Sombras
Quase todo o espaço público é ocupado pela violência. A violência intensifica-se, alastra-se e normaliza-se por todo o mundo. A novidade do nosso tempo é a velocidade e expontâneidade de informação em rede, que se tornou parte integrante, e relevante, desse manto de violência. Ao mesmo tempo renasce e difunde-se, como pano de fundo, sob novas formas, o ideário nazi-fascista, fundado na intolerância extrema ao diferente. As perpectivas de futuro são sombrias.
terça-feira, janeiro 21
O princípio de uma nova resistência
Trump, como expoente da extrema direira, é o patrão de um monumental circo de mentiras. Aos democratas, cidadãos decentes, coloca-se de novo a questão da resistência. Tantas gerações que já se confrontaram com a necessidade de resistir ao totalitarismo cujo avanço se esconde na ignorância e na mentira, sempre com o objetivo da expansão da ganância. O primeiro passo para resistir aos avanços da extrema direita é não abdicar nem um milimetro da liberdade de expressão do pensamento, liberdade de associação, liberdade de voto e do exercício do direito à indignação.
domingo, janeiro 19
Trump - uma nova tragédia
Amanhã Trump inicia funções e a sua politica é uma ameaça civilizacional para levar a sério. Não valem as posturas sonsas de desvalorização da ascenção de um novo totalitarismo. Não é aceitável, para os democratas e amantes da liberdade, deixar passar em claro, sem oposição frontal, as posições politicas contemporizadoras com Trump e seus aliados. Atente-se nas lições da história aquando da ascensão de totalitarismos, de raízes diversas, que desembocaram nas maiores tragédias para a humanidade. A partir de amanhã é dado o tiro de partida para uma nova mais que provável tragédia.
sábado, janeiro 18
Presidenciais
O que toda a gente pensa mas, à maneira portuguesa, mantem em reserva: o almirante, caso se apresente, ganhará as presidenciais. Salvo qualquer cataclismo o povo português que vota não perderá a oportunidade de dar uma lição aos politicos profissionais. E, em particular, a Marcelo. Pensam eles. Os restantes candidatos poderão marcar terreno partidário... ou não.
sexta-feira, janeiro 17
Coisa pública...
Tudo tem a sua explicação e temos que estar preparados para tudo. Esta da reversão do modelo das uniões de freguesia ultrapassa a minha capacidade de entendimento da bondade das decisões democráticas. Vão voltar a existir freguesias com menos fregueses que o meu condomínio. Vão ser criados centenas de lugares para eleitos politicos, presidentes, mesas de assembleias, lugares administrativos... Num contexto em que o discurso dominante é o de racionalizar a administração, poupar recursos e por aí fora. A única força politica que se opôs foi a IL que está preparar, ao que se diz, uma coligação autárquica com o PSD ... haja saúde!
segunda-feira, janeiro 13
Em homenagem a Rui Namorado no dia da sua morte
Um belo texto político acerca do almoço/convívio dos ex-MES de autoria de Rui Namorado, de novembro de 2011.
Algumas centenas de antigos militantes do MES comemoraram, ontem, na Costa da Caparica, os trinta anos da sua extinção. Estiveram presentes protagonistas das principais cisões e vários rostos da vida completa do MES. Estiveram presentes cidadãos que usaram a sua vida sem protagonismo na esfera pública, militantes de diversas causas generosas, militantes políticos sem exposição mediática, detentores de prestígios exteriores à política, deputados e ex-deputados, ex-Ministros, ex-Secretários de Estado, ex-Secretários Gerais do Partido Socialista, um ex-Presidente da República. Sem mesas de honra, sem primeiras filas, sem vénias, mas com um grande calor humano, com uma fraternidade subtil mas patente, bem dispostos. Gente com uma auto-imagem suficientemente afirmativa para pensar que o que fez, em conjunto, sob aquela bandeira, por pouco que tivesse sido, foi importante; mas com a auto-ironia bastante para saber que essa importância não justifica a empáfia da grandiloquência.
Se um voo rápido da imaginação nos levasse a ver toda aquela gente, apostando numa iniciativa política comum, é realista pensar-se que a paisagem política portuguesa seria outra. E mesmo que, num assomo de modéstia, a imaginação se limitasse ao espaço de um único partido (pensando naquele a que pertenço, penso no PS), é realista pensar-se que, se aqueles que ali estavam e são militantes do PS, traduzissem o sentido que atribuíram aos sonhos ali comemorados numa imaginação política actual, em que todos se reconhecessem, rapidamente nos afastaríamos de qualquer cinzentismo abafado. Mas todos sabemos que essa imaginação não é realizável, embora a devamos deixar pairar como sombra orientadora ou como amável e virtuosa ameaça, ainda que frágil e suave.
O tempo deixou, no que cada um de nós viu no rosto dos outros, a sua implacável marca e uma discreta melancolia. A memória foi-nos reconduzindo aos rostos dos nossos passados, num intercâmbio de recordações dispersas e calorosas, por vezes simplesmente intuídas, às vezes passageiras, sempre luminosas. As diferenças antigas tornaram-se pequenas e amigáveis. O essencial ficou de pé, como uma saudade da razão.
Vivemos um tempo em que algumas narrativas das grandes esquerdas já foram encerradas nos atalhos da história, enquanto outras parecem ter perdido o futuro, quando se deixaram extraviar demasiadas vezes nos seus presentes. Mas o tempo cruel do capitalismo agonizante não conseguiu fechar, na arca dos impossíveis e do esquecimento, as desamparadas narrativas das pequenas esquerdas. Elas que nasceram frágeis e minoritárias (quando eram enormes as narrativas dum realmente existente, que afinal não existia), questionando-se ao mesmo tempo que questionavam, subsistem com simplicidade, abertas a novos sonhos e a novas maneiras de sonhar um futuro.
Cientes da diversidade de opiniões ali presente, mas que a ninguém embaraçou, aquelas centenas de cidadãos, sob a superfície emocionada de uma simples efeméride, penso eu, que homenagearam a semente de utopia que há trinta e quarenta anos os animou. Uma utopia feita de palavras simples, virtuosamente indissociáveis, sedentas de uma sinergia insubstituível: liberdade e democracia; igualdade e justiça; fraternidade e solidariedade. Ou seja, sair do capitalismo pela mão do povo, através da sua vida e da sua força, através de mutações sociais politicamente sustentadas, com a ajuda (apenas ajuda, ainda que importante) de um Estado que seja democraticamente seu. Numa palavra, levar a democracia ao extremo de si própria.
O Rui Namorado morreu
Faleceu hoje o Prof. Rui Namorado, que dedicou muito do seu saber e energia ao setor da economia social e, em particular, ao cooperativismo, deixando-nos uma grande obra, na esteira de António Sérgio. Honra à sua memória!
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e Mestre em Ciências Jurídico-Empresariais pela mesma Faculdade, doutorou-se em Direito Económico na especialidade de Direito Cooperativo na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Exerceu funções docentes na Faculdade Economia da Universidade de Coimbra, desde 1979 até ser jubilado em Abril de 2011. Em 1981, foi um dos fundadores do Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (CECES/FEUC), tendo participado na sua coordenação até Dezembro de 2021.
Em 2016, foi distinguido com o Prémio Especial Personalidade do Ano dos Prémios Cooperação e Solidariedade António Sérgio, instituídos pela CASES.
Desde Janeiro de 2011, é membro do Conselho Nacional para a Economia Social (CNES). Desde Novembro de 2011 até Setembro de 2015, foi membro da direção do CIRIEC-Portugal. Foi membro do Conselho Nacional de Educação, 2000 a 2002. Desde 1996, pertenceu à Rede Portuguesa de Formação para o Terceiro Sector, tendo sido sucessivamente reeleito como Presidente da sua Comissão Diretiva, desde 1999 até à sua desativação em 2011.
Foi Deputado à Assembleia da República pelo Partido Socialista, de 1995 a 1999, tendo sido um dos vice-presidentes do respetivo grupo parlamentar de 1997 a 1999.
É autor de vários livros e participou em diversas coletâneas sobre temas cooperativos e da economia social. Publicou alguns livros de poemas e foi incluído em antologias poéticas.
Contra a pena de morte, sempre!
Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.
quinta-feira, janeiro 9
Pelo aniversário da morte de meu pai
No dia de aniversário da morte de meu pai Dimas, uma das poucas datas que nunca esqueço, relato um episódio que me foi lembrado, dias atrás, pelo meu amigo Eurico. Quando da minha primeira viagem para Lisboa, a propósito do ingressso na faculdade, ostentava uma gravata preta. Daí o Eurico perguntar da razão. Segundo ele a minha resposta foi: "Estou de luto pela sociedade". Apesar da idade adolescente a minha consciência social, pelos vistos, era alta. Deve-se a meu pai (e a meu irmão). Que estejam em descanso.
terça-feira, janeiro 7
A Primeira Imagem
Em 8 de janeiro de 2005 foi esta a primeira imagem publicada neste blogue. Fotografia do meu amigo Hélder Gonçalves (um grande fotógrafo!).
sexta-feira, janeiro 3
Pelo 65º aniversário da morte de Camus
1960 - No dia 3 de janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa reta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objetos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, um romance inacabado, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.
quarta-feira, janeiro 1
Ano Novo
Hoje é dia de Ano Novo que sempre foi importante na minha relação com o tempo. Surge-me na memória o "Golpe de Beja", tentativa de sublevação militar, destinada a derrubar a ditadura, realizado de 31 de dezembro para 1 de janeiro de 1962. Nessa madrugada regressava de casa de meus avós maternos, de Santo Estêvão, Tavira, para Faro, e era visivel a atividade policial, fora do vulgar, pois alguns dos sublevados do golpe frustado fugiram para sul. Hoje por hoje, dentro das fronteiras, reina a paz ainda sob os auspícios do acordo de regime saído do 25 de abril de 74. Até quando? A ver!
terça-feira, dezembro 31
2025
Não pensei nunca chegar a este dia no ativo no plano profissional, com saúde e capacidade de sonhar. Mas a vida é para viver dia a dia e, como diziam os antigos, o futuro a Deus pertence. Adivinho 2025 ainda mais conturbado por efeito das disputas de territórios e riquezas, ganancias e perfídias, o reino dos negócios da guerra. Alguma nova aliança entre os homemns de boa vontade tem que ser criada para combater a presente deriva autoritária e belicista. Tenho esperança, com os desejos de Bom Ano de 2025.
terça-feira, dezembro 24
NATAL
A sul, na minha cidade Natal, não chove nem venta, ressoam as memórias antigas que abraço sem temores. A todas e todos que por aqui passam deixo os desejos de um Bom Natal.
segunda-feira, dezembro 23
O caminho das figueiras
As figueiras e as suas sombras quentes são um laço que me prende à vida pela memória. Descia o caminho de casa à estrada e passava por elas, umas castelhanas, outras vulgares, de copas grandes e arredondadas, baixas e rasteiras e a todas conhecia de cor.
A minha mãe me ensinou o caminho para lhes chegar. Na época de verão, aí por Julho, os figos eram, quase sempre, suculentos. Arrancava-os com cuidado para uma cesta, primeiro os mais acessíveis, às minhas mãos de menino, depois os das ramadas mais altas, em bicos de pés.
Alguns sempre ficavam inacessíveis. Não me importava com esses. Nunca me importei com o que é inacessível a minhas mãos que não a meus olhos. Leitosos escorriam seiva e, por vezes, ressequidos, abriam fissuras finas por onde se iniciava a retirada da pele. Depois comia-os com prazer.
A apanha, a meio da tarde, era dolorosa. Ia-mos muitas vezes pela força do calor, como lá se diz, e ficava doente. Ou pelo sol que me fazia ferver a cabeça ou pelos figos que me descosiam o intestino. Ainda hoje algumas dessas figueiras estão à beira do mesmo caminho. A mais frondosa resiste defronte do antigo poço, abandonado, mas que noutros tempos alimentava de água o monte.
O prazer da sombra das figueiras, do cheiro ao campo, embebido no ar quente, do sabor dos frutos, colhidos à mão, nunca me deixou por um só momento. Somente, por vezes, descanso dele. É esse prazer físico da memória que me faz amar aqueles que me amam. E resistir às adversidades. (Fotografia em que a minha família materna posa, certamante para a Kodak do meu pai, no monte de onde sai o caminho das figueiras)
sábado, dezembro 21
Pelo cinquentenário do I Congresso do MES
O MES constituiu-se, formalizando-se, num Partido a custo pois as suas raízes beberam muito da ideologia libertária, que havia esmorecido ao longo do período da ditadura, mas que César de Oliveira fez retornar propondo, e fazendo vencer, a consigna que o MES adaptou nos seus primórdios: «A emancipação dos trabalhadores tem de ser obra dos próprios trabalhadores».
O MES foi, na verdade, um partido minoritário de elites, e de causas perdidas, nunca se assumindo como projecto politico de poder, abordando as eleições às quais concorreu – constituintes de 1975 e legislativas de 1976 - com um surpreendente espírito de cruzada pedagógica junto dos portugueses, que nunca haviam conhecido a cor da liberdade, razão pela qual, sem apelo nem agravo, em todas foi estrondosamente derrotado.
O MES foi, no seu âmago, um partido da esquerda radical, mais do que um partido esquerdista, lidando mal com alinhamentos ideológicos mesmo aquando da sua deriva marxista-leninista, reconheçamo-lo, uma mera proclamação artificial e dolorosamente patética. O MES foi um esboço de casa comum na qual se acolheram cidadãos desalinhados – livres de compromissos com o antigo regime - que aspiravam combater as brutais desigualdades e iniquas misérias herdadas do “Estado Novo”.
Nele se acolheram uma plêiade de altos quadros intelectuais, operários, sindicalistas, estudantis, activistas de movimentos sociais emergentes, com escassa experiência política, que na voragem de um singular tempo de brasa, sonhavam – sob diversos e contraditórios ideários socializantes - a mudar tudo na sociedade portuguesa fazendo do MES, na sua breve existência, antes e pós I Congresso de 21 e 22 de dezembro de 1974, um espaço de rebeldia e, no período fundador, de criatividade como revelam, por exemplo, as designações de inúmeras estruturas criadas e a obra gráfica, criada por Robin Fior, para a criação de uma imagem para o MES.
O MES foi, por fim, um partido que ousou auto extinguir-se – se bem que nem todos os que nele tomaram parte tenham concordado com o “sacrifício” - tendo cada um dos seus membros, ao longo do tempo, saído, em liberdade, dando caminho às suas vidas nos mais diversos caminhos. Extinguindo-se, por ato público o MES assumiu, de forma radical, o fracasso do seu projecto político salvando a essência dos sonhos que presidiram à sua criação. (Reprodução de excerto de um post de 2014 de entre muitos dos escritos acerca do MES que aspiro ainda a que dêem origem a um livro.)
I Congresso do MES - Cinquenta anos
Passam hoje 50 anos sobre a realização do I Congresso do MES. 21 e 22 de dezembro de 1974 - Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa.
quinta-feira, dezembro 19
ABSORTO - Aniversário
No dia 19 dezembro de 2003, pelas 16,20h, foi criado este blog com a seguinte frase: "Estreia absoluta. Um lugar de comunicação. Experiência para a primeira impressão dos outros. Uma primeira audição para inicio de trabalho." Eram tempos em que a chamada blogosfera usufruia de grandes audiências, ao contrário do que acontece hoje. Mas persisto!
terça-feira, dezembro 10
CAMUS - NOBEL - 10 DEZEMBRO 1957
Quando soube da atribuição do Prémio Nobel “pela sua importante obra literária, que foca com penetrante seriedade os problemas que se colocam nos nossos dias à consciência dos homems”, Albert Camus escrevu nos Cadernos: “Prémio Nobel: estranho sentimento de desânimo e melancolia. Aos vinte anos, pobre e nu, conheci a verdadeira fama”. Camus afirmou então que o Prémio deveria ter sido atribuido a André Malraux e manifestou dúvidas acerca da sua própria capacidade e força criadora que sempre o atormentaram. Após o anúncio da atribuição do Nobel sujeitou-se a ataques odiosos, que o não deixaram indiferente e comentou: “Assustado com aquilo que me acontece e que não pedi. E, para cúmulo, ataques tão infames que o coração se me aperta.”(Cadernos). Mas Camus, segundo todos os testemunhos, não podia, nem queria, recusar o Prémio. Telefonou, de imediato, à mãe, que sempre viveu na Argélia, como que a agradecer à sua origem a honra que lhe tinha batido à porta. Escreveu a Jean Grenier, o seu professor e mentor intelectual : “(…) quando recebi a notícia, o meu primeiro pensamento foi, depois de minha mãe, dirigido ao senhor. Sem o senhor, sem essa mão efectuosa que estendeu à criança pobre que eu era, sem a sua instrução e o seu exemplo nada disto tinha acontecido.” (citado a partir de Roger Quilliot). René Char, um amigo de todas as horas, não cabia em si de contente e manifesta esse contentamento de várias formas incluindo um artigo publicado, logo em 26 de Outubro de 1957, no Figaro littéraire, intitulado “Je veux parler d’ un ami”. No ínicio de Dezembro de 1957 Camus partiu com a mulher, Francine, para Estocolmo e, em todas as suas aparições em público, tinha a consciência que devia estar preparado para ser atacado a propósito da sua discrição a respeito do conflicto na Argélia que estava no auge. Albert Camus, a 10 de Dezembro de 1957, recebeu das mãos do Rei Gustavo VI da Suécia o diploma e, no banquete que se seguiu, proferiu o seu discurso de agradecimento. Logo num dos dias seguintes escreveu a Jean Grenier descrevendo, de forma sintética, o que sentia: “A corrida acaba, o touro está morto, ou quase.”
sexta-feira, dezembro 6
MÁRIO SOARES - CENTENÁRIO
Aqui deixo, no dia do centenário de Mário Soares o que escrevi, neste mesmo blogue (dando-me conta de quão antigo é), pelo seus 80º e 90º aniversários. O tempo não pára e o mais que tenho a acrescentar acerca do aniversariante é pouco. Somente replicar o que li, ou ouvi, um dia destes, acerca da personagem em questão: pode pensar-se o que se quiser, ser afável (ou feroz) adversário, admirador incondicional ou simpatizante complacente, Mário Soares será dos raros nomes, senão o único, que ficará na memória coletiva na história do século XX português.
Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma.
Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.
Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.
O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi.
No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora.
Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.
A partir de 1985 Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, mesmo de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas.
O que me interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.
domingo, dezembro 1
Uma vez mais - António Costa
Pode-se gostar ou não gostar da personagem, mas António Costa é uma figura cimeira na liderança política da Europa.
domingo, novembro 24
As inundações de 25 novembro de 1967
No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente. Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, havendo uma indicação para nos dirigirmos ao Técnico para paticipar na gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos. O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica. Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade de ação. Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão. No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.
Regresso
A recusa da "Associação 25 de abril" em participar na sessão evocativa do 25 de nevembro na AR, desloca o sentido da evocação para o terreno da propaganda politica da ultra direita. Nos tempos presentes tudo é possível, até o ressurgimento do lema Deus Pátria Família, um regresso à defesa das virtudes da ditadura. Preparem-se...
quinta-feira, novembro 21
Guerra
Uma faísca pode incendiar a Europa. Todos sabem, todos sentem, soltam-se esgares de preocupação, espera-se o milagre. Assim que um projetil, ou quejando, cair em país da NATO, está o caldo entornado. Nunca estivemos tão próximo desde 1945. Quem luta pela paz?
sábado, novembro 16
Nova barbárie
A equipa de Tramp é uma galeria de horrores. Aguardemos pelo naufrágio da quadrilha que ameaça uma nova barbárie. Os estragos vão ser monstruosos.
sábado, novembro 9
Tramp
Os USA vão ser dirigidos nos próximos tempos por um louco. O povo votou e elevou à presidência um louco criminoso. É inamaginável e faz antever tempos sombrios, desde logo, para os americanos e para o mundo. Não vale a pena balbuciar meias palavras de tolerância perante os crimes que se adivinham das decisões de um criminoso. Não se trata de uma questão da direita ou da esquerda politicas, nem da democracia e do uso que dela fazem os povos. O que está em causa são os valores básicos essenciais em que assenta a vida, nos planos individual e coletivo, que asseguram a liberdade. Para resistir é necessário, em primeiro lugar, não desistir de pensar livremente.
sexta-feira, novembro 8
ALBERT CAMUS - 7 NOVEMBRO 1913
Paul Valéry, desdenhando das biografias, escreveu um dia: “Ainda que pouco saibamos sobre Homero, permanece para nós intacta a beleza marítima da Odisseia”. Mas o exemplo de Homero, talvez rapsodo de textos alheios, não parece adequar-se à vida e obra de Albert Camus. Sabida a vida de Albert Camus nos damos conta de que alguns autores fazem também da vida uma obra. Quase nada na sua vida é provável, quase tudo é a demonstração de uma alargada coerência estilística que vai do pensamento ao gesto, do gesto à palavra, e da forma da palavra ao conteúdo da palavra. E por isso quanto mais sabemos sobre a vida de Albert Camus mais ela nos persuade da verdade da obra. E da urgência de a lermos, se andamos sedentos de verdade.
quinta-feira, novembro 7
Um jantar emblemático
Na sequência do IV Congresso do MES, realizado a 8 de Julho de 1979, marcado pela vitória da moção intitulada «Nova Prática, Novo Programa, Outro Caminho», foi aberto o caminho para a auto-crítica em relação a algumas orientações políticas anteriores e para uma demarcação, assumida e sem regresso, do MES face à chamada «Esquerda Revolucionária». Foi Vítor Wengorovius quem assumiu as funções de porta-voz desta ruptura que haveria de anteceder a extinção do MES, formalizada em 7 de Novembro de 1981, no emblemático jantar/festa realizado no pavilhão sobrevivente da Exposição do Mundo Português (ironias da história!).
quarta-feira, novembro 6
Uma realidade
Trump, admirador de ditadores, venceu. As instituições democráticas americanas vão resistir. Como disse Sena "Liberdade, liberdade tem cuidado que te matam!"
segunda-feira, novembro 4
domingo, novembro 3
sábado, novembro 2
Jorge de Sena
Jorge de Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919. Engenheiro de profissão dedicou a sua vida à literatura, sendo grande como poeta, romancista, contista, tradutor e estudioso de obras alheias e é, para mim, com Pessoa, o poeta mais importante do século XX português.
Retive, do período de 1953/54, um conjunto de referências à escrita dos 21 sonetos que compõem “As Evidências”, com data de publicação de 1955, que mais tarde viriam a integrar “Poesia I” em cujo prefácio, à 2ª edição, escrito pouco antes da sua morte, lhes faz referência:
“… Nos princípios de 1954, entre Fevereiro e Abril, escrevi os 21 sonetos de As Evidências, sequência que não queria publicar como parte de um livro de poemas, aonde ficasse submersa, mas para a qual não encontrava editor. Foi quando, nesse ano, me foi oferecida, se não estou em erro, paralelamente por Armindo Rodrigues e por João José Cachofel, a possibilidade de uma edição daqueles sonetos na série “Cancioneiro Geral” do Centro Bibliográfico. O livrinho ficou impresso nos primeiros dias de Janeiro de 1955, foi logo apreendido pela PIDE que assaltou então o dito Centro, e só pôde ser distribuído um mês depois de repetidas visitas à Censura, para onde se entrava por uma portinha da Calçada da Glória, embora os censores estivessem realmente instalados no Palácio Foz ocupado pelo SNP ou SNI, ou lá como se chamava na altura. O livro era, além de subversivo, pornográfico, segundo me repetia sistematicamente, com um sorriso ameno e algum sarcasmo nos olhos pontilhados de ramela branca, por trás de uns óculos de aro finamente metálico, suponho que o subdirector que era um major ou tenente-coronel. Eu contestava que o livro, ora essa, não era nem uma coisa nem outra, e ele, dando-me palmadinhas no joelho mais próximo, dizia: - Ora, ora … nós sabemos -. Ao fim de um mês destas periódicas sessões, o livro foi libertado, e para dizer a pura verdade evidente, era realmente subversivo e, se não propriamente pornográfico, sem dúvida que respeitavelmente obsceno. …”
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