quarta-feira, junho 1

António Ramos Rosa


António Ramos Rosa

CHINA


Garantir a disciplina [Uma criança chinesa vestida com um uniforme militar espera a sua vez de entrar em cena numa cerimónia que comemora o Dia Mundial da Criança na Cidade Proibida, em Pequim.] As autoridades chinesas aproveitam as férias nesta altura do ano para mostrar às crianças os seus programas na esperança de garantir um “desenvolvimento correcto” da juventude. Foto: Elizabeth Dalziel/AP

Uma imagem, cuidada e tradicional, da China militarista de uniforme e pose militar. É a imagem que o Ocidente se habituou a consumir da China. Imagem perigosa pois esconde uma outra China, a da criação, iniciativa e produção que suga os investimentos do ocidente e invade os seus mercados.

Que ninguém pense que a regulação das relações da China com o ocidente possa ser realizada pela via da guerra. Nunca ninguém, algum dia, ganhará pela guerra, uma disputa com a China. Nunca ninguém ganhou.

Solução: compreender a realidade da China, em todas as suas vertentes; negociar pacientemente tudo o que houver para negociar e alcançar um acordo global e duradoiro.

Foto e legenda em destaque no “Publico” on line de hoje.

terça-feira, maio 31

POEMA DUM FUNCIONÁRIO CANSADO


Foto de Fabiola Narváez

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediàvelmente perdido no meu cansaço

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma só noite comprida
num quarto só.

António Ramos Rosa

Cadernos de Poesia – Fascículo Nove – Segunda Série
Setembro de 1951

(Curiosamente a edição fac-simile da qual foi retirado este celebrado poema de um dos maiores poetas contemporâneo portugueses, por sinal, nado na minha cidade de Faro, reproduz os exemplares dos “Cadernos de Poesia” pertencentes ao poeta Albano Martins autor do poema que, neste blog, antes dei à estampa.)

Frutos


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Quando a amada oferece
o seu corpo, ela sabe
que dos frutos apenas
se colhe o sabor.
É então
que os dedos
separam as películas,
que a lâmina desce e a água
e o fogo se misturam.
E é então que a vida
e a morte convivem
sob o mesmo tecto.

Albano Martins

Escrito a vermelho

segunda-feira, maio 30

Margarida Delgado (3)


v o u
m e r g u l h a r
n o
a z u l . . .

In Sabor a Sal

Deficit, qual deficit? Europa, qual Europa?


«Rolão Preto, ao entrar no Palácio das Exposições, saudado romanamente pelos camisas azuis em guarda de honra». [18 de Fevereiro de 1933, fotografia a preto e branco - Revolução, n.º 292, Lisboa, Portugal - Fotografia publicada no Revolução - Diário Nacional-Sindicalista da Tarde (1932-1933), de segunda-feira, 20 de Fevereiro de 1933.]

O banquete de homenagem a Rolão Preto, de 18 de Fevereiro de 1933, comemorava o primeiro aniversário da publicação do diário Revolução, no início subintitulado Diário Académico Nacionalista da Tarde, cujo primeiro número tinha saído em 15 de Fevereiro de 1932. In “O Portal da História”

As corporações só conhecem a linguagem da força. Não vale a pena escrever lindas palavras em barras de sabão. É preciso esculpi-las no granito afrontando a dureza das pedras endurecidas pelo tempo. Os homens perdem a capacidade de se libertar da servidão quando nela nasceram e foram educados para obedecer. Ou quando já se esqueceram da servidão no que ela tem de mais abjecto. É o caso de Portugal e da maioria das democracias da Europa Ocidental.
O exercício da liberdade não dispensa a inteligência e a emoção de escolher - aceitar ou contestar, falar ou calar - em cada momento e em todo o lugar. O exercício da liberdade é o mais difícil de todos aqueles a que o homem é chamado a responder. Por isso valeu bem o sacrifício de milhões de homens e mulheres em duas guerras sangrentas na Europa em pleno século XX. As vantagens da liberdade são incomensuráveis para a humanidade mas nunca estão definitivamente garantidas. É uma ilusão perigosa pensar o contrário.
Falo a propósito das discussões acerca das medidas do governo socialista para fazer face ao deficit. Deficit, qual deficit? parecem perguntar muitos portugueses, comunistas e não só! Mas caso se não equilibrem as contas públicas ficam abertas as portas aos arautos da “ordem” (que ilustro, numa versão portuguesa de 1933), ou seja, da tirania que, na versão moderna, poderá assumir as mais surpreendentes fórmulas.
Penso nos resultados do referendo em França. Europa, qual Europa? Parecem perguntar as extremas direita e esquerda, parte dos socialistas e parte da direita tradicional francesa! Mas se a Europa não se mantiver unida, no essencial, ficam abertas as portas à guerra. Tirania e guerra marcham sempre a par na história.
As escolhas resultantes do voto popular são para respeitar. Quem, em Portugal, não percebeu que os socialistas são a única força capaz de realizar uma política de salvação nacional, não percebeu nada! Por isso lhe foi outorgada, em eleições livres, uma maioria absoluta.
Quem, na Europa (em França e não só!) não percebeu que o que está em jogo é o enfrentamento com o poder dos EUA (e da China), a nível global, preservando a paz na Europa e o “modelo social europeu”, não percebeu nada! Podem discutir-se os métodos e os ritmos mas o essencial está aí.
Portugal é uma ínfima parcela desta realidade. As corporações, em Portugal, por razões históricas, só conhecem a linguagem da força. Mas os democratas e os amantes da liberdade, dão privilégio à força da inteligência (razão) e da persuasão (diálogo).
Será suficiente? Uma velha conversa porventura mais actual do que muitos possam pensar!

CEREJAS


Do Dias com Árvores

domingo, maio 29

França: Change? Não!


“Foto de António José Alegria, do amistad”

A propósito de uma pequena digressão/pesquisa que fiz, com outra finalidade, fixei a citação que adianto reproduzo.

As primeiras sondagens divulgadas apontam para a vitória do Não no referendo, realizado em França, à chamada “Constituição Europeia”.

Sejam quais forem as consequências políticas imediatas deste resultado é assinalável a participação estimada de 80% do eleitorado francês. Aí está, para os democratas, uma vitória. A vitória da liberdade.

Se o Não ganhou o medo venceu; o nacionalismo venceu; a memória das guerras na Europa perdeu; o proteccionismo venceu; o internacionalismo perdeu; a Europa na disputa com os EUA perdeu; o cepticismo e o pessimismo venceram. Que persista a democracia e a paz que tudo se há-de arranjar!

“O único problema contemporâneo: poderá transformar-se o mundo sem se acreditar no poder absoluto da razão? Apesar das ilusões racionalistas, mesmo marxistas, toda a história do mundo é a história da liberdade. Como poderiam ser determinados os caminhos da liberdade? É decerto falso dizer que o que é determinado, é o que já não vive. Mas só é determinado o que já se viveu. O próprio Deus, se existisse, não poderia modificar o passado. Mas o futuro não lhe pertence nem mais nem menos do que ao homem.”

Camus – Cadernos (Caderno nº5 – Setembro 1945/Abril 1948).

Não, Sim?

Agora mesmo a poucos minutos de se saberem – publicamente - as projecções dos resultados do referendo em França. Ontem o Margens de Erro deixava pairar a dúvida. Não, Sim?

Fifty fifty, finalmente

Dois Livros


Imagem do Pentimento

Abriu a Feira do Livro. Ainda lá não fui. Como alguém diz é um lugar de culto. Sempre lá vou, pelo menos uma vez. É o equivalente às feiras tradicionais da nossa meninice. Escrevo, habitualmente, notas a lápis nos livros que lá compro. Poucos mas bons, para mim. Livros com um significado especial pois ficam colados às diversas fases da minha vida e as datas permitem mais tarde encontrar o seu lugar na memória. Muito mais tarde não interessarão a ninguém. Mas o que interessa isso? Estamos a cuidar simplesmente da liberdade de escolher o que nos dá prazer. De escolher aquilo de que se gosta. Mais nada.

Entretanto comprei dois livros fora da feira onde ainda não fui. Uma pequena traição.

- “Por Amor a Che”, de Ana Menéndez, da Civilização Editora (muito interessante!);

- “Cadernos de Poesia”, de Luís Adriano Carlos e Joana Matos Frias, da “Campo das Letras”.

Este último contém a reprodução fac-similada dos “Cadernos de Poesia” que, logo na introdução, os autores caracterizam através de uma referência a Jorge de Sena que, mais tarde, também viria a fazer parte do grupo: “Em 1958, nas páginas do Diário Popular, Jorge de Sena, traduziu de forma desconcertante o espírito de independência dos Cadernos de Poesia, fundados em 1940 por José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti e Tomaz Kim: “aos chamados poetas dos cadernos nada os irmana, absolutamente nada do que habitualmente aglutina um grupo. Tudo os separa”.”

São umas centenas de páginas de poemas (e estudos acerca de poesia) de variados autores, grande parte dos quais desapareceram de circulação, decerto das antologias e, muitas vezes, das publicações dos próprios autores. Publicarei aqui, ao longo do tempo, alguns desses poemas.

Como por exemplo este de Alexandre O´Neill.

A CENTRAL DAS FRASES

Já te disse que são os do primeiro
e afinal não podemos telefonar
ai nem queiras saber o engenheiro
se me dão licença eu vou contar

penses nisso era só o que faltava
não as outras duas é que são as tais
mas o senhor presidente autorizava
na avenida centenas de pardais

de facto muito inteligente
o´ filha por aqui fazes favor
que veio ontem p´ra falar co´a gente
é mesmo lá ao fim do corredor

In “Tempo de Fantasmas” – Cadernos de Poesia
Fascículo Onze * Segunda Série
Novembro de 1951

Fabiola Narváez


Apresentando Fabiola Narváez

sexta-feira, maio 27

DANÇANDO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Dançando. A imagem faz-me lembrar a dança do debate político, da direita para a esquerda; da esquerda para a direita ... Estive umas horas largas a digerir o conteúdo das medidas anunciadas na 4ª feira passada por José Sócrates.

É sempre necessário conhecer a matéria antes de perorar acerca dela. Não é? Podemos até não ser especialistas mas, caso haja decência e bom senso, dá para perceber de que lado está a razão. Já digeri. As medidas de combate ao deficit apontam para mais longe.

É inevitável, por exemplo, mexer na idade de reforma, no modelo de protecção social da função pública, cortar privilégios da classe política e dirigente de topo ... só para começar! Se queremos manter o essencial do chamado “estado social português” é preciso cuidar de garantir a sua viabilidade.

Uma vez mais têm que ser os socialistas a tomar as medidas difíceis. Já tinha acontecido o mesmo nos anos 80. Com Mário Soares foram tomadas as medidas de austeridade que prepararam a adesão à UE de 1985 e deram de mão beijada o governo a um Cavaco que resmungava contra a própria adesão. Época de vacas magras. Lembram-se?

Depois vieram os fundos comunitários sempre com a direita no governo. Entre 1985 e 1995 o governo foi dirigido por Cavaco. Vacas gordas. A direita parece que, em Portugal, se coloca sempre no lugar dos vícios que atribui à esquerda.

A direita ideológica é um grupúsculo sem expressão política. A direita política é uma excrescência do Estado Novo que, em 30 anos, nunca ganhou autonomia face à direita dos interesses. Em Portugal a direita que manda, que põe e dispõe, no estado ou na sociedade, no governo central ou local, nas corporações ou colectividades, é a direita dos interesses. Para esta direita o Estado é o altar da celebração dos negócios e ... pouco mais. Dançando!

A minha posição é de apoio às medidas do governo. A desenvolver ao longo da próxima semana.

quarta-feira, maio 25

Almocreve das Petas - deficit



A ler os “Ecos do défice ou a moléstia da "coisa””, no Almocreve das Petas, que vale a pena.

MERGULHO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Escrevo pouco depois do anúncio das medidas de combate ao deficit sem conhecer ainda os seus detalhes. O deficit é, em termos simples, o “gap” entre as despesas e as receitas do Estado. É um clássico das finanças públicas e, em Portugal, um tema antigo.

Em 1928 num célebre discurso de tomada de posse, como ministro das finanças, Salazar já abordava o tema do deficit anunciando, em plena ditadura militar, a ditadura das finanças, prenunciando a ditadura que havia de perdurar até ao 25 de Abril de 74. Salazar dispôs de 46 anos (!) para, em ditadura, consolidar as contas públicas.

Hoje vivemos em democracia integrando o espaço da União Europeia. O anúncio das medidas de combate ao deficit não podem deixar de levar em conta essa realidade e são, aliás, um resultado do cumprimento de regras ditadas por essa mesma UE.

Sócrates dispõe, na prática, de 3 anos para reduzir o défice em 3,83%, ou seja, cerca de 1,27% por ano. É um esforço brutal, mas inevitável, para um país que quer pertencer a uma comunidade de nações democráticas como a UE.

Outra questão é o modo de promover, planear e executar as medidas de redução do deficit, ou seja, a questão política propriamente dita. Aqui é que vale a pena fazer incidir a nossa atenção.
Em democracia os sacrifícios que se pedem aos cidadãos, para serem exequíveis, carecem de ser assumidos pela maioria como necessários e inevitáveis. Todos os que conhecem um pouco de história sabem que é assim.

O Presidente Roosevelt, por exemplo, demorou anos a preparar a opinião pública americana antes de tomar a decisão, que sabia inevitável, de fazer os Estados Unidos entrar na Segunda Guerra Mundial.

Aliás a história da liderança da América por Roosevelt, após 1932 até à sua morte, imagine-se (!) em 1945, é notável.

As decisões que exigem sacrifícios aos povos têm que ser assumidas colectivamente, serem concentradas no tempo, comunicadas de forma determinada e convincente, não perderem de vista a equidade e tocarem a corda sensível de um valor, um pouco em desuso, que se chama patriotismo.

Vamos ver se as políticas que vão ser anunciadas apontarão no caminho certo, ou seja, se os sacrifícios exigidos à comunidade serão assumidos por todos e por todos suportados.

DÉFICIT

Ainda em busca na net de notícias acerca das medidas anunciada pelo PM - que tardam em aparecer mesmo na Lusa - deparo com este extraordinário post no INCURSÕES.

"Seisvirgulaoitentaetrês

Acompanhei esta manhã a visita do Senhor Ministro da Justiça a um dos centros de reeducação de menores, geridos pelo IRS (...não, é o outro, o Instituto de Reinserção Social).

O Centro conta com modelares instalações, nas quais não faltam piscina e picadeiro e estábulo com vários cavalos, para aulas de equitação. Nele trabalham 31 funcionários administrativos, de todas as categorias, desde director e sub-director a tratador de cavalos. Para além destes 31 administrativos, conta ainda com a indispensável colaboração de 9 professores, médico e até um sacerdote, embora estes últimos não trabalhem ali a tempo integral.

Ao todo são mais de 50 (cinquenta) funcionários e prestadores de serviços que, diariamente, ali labutam de forma esforçada, em prol da reinserção social de jovens que, por uma razão ou por outra, se desviaram das normas sociais estabelecidas ou, como dirá o sacerdote, que pecaram.

Um último pormenor: estão internados neste centro 9 (nove) jovens."

terça-feira, maio 24

ANTÓNIO GUTERRES


Escultura no Aeroporto de Faro - Foto de Marg. Ramos

Eh pá! O Guterres já lá vai! para “Alto-comissário da ONU para os refugiados”

Este é o site do ACNUR em português. No site do ACNUR, em inglês, já é dada a notícia da escolha de Guterres. Veja aqui.

Com que então Freitas do Amaral seria um mau Ministro dos Negócios Estrangeiros? Blá, blá, blá ... Então esta não é também uma vitória da diplomacia portuguesa?

HOPPER


Hopper para conhecer o desfio

CHINA BELA


"Blue" Kuang Jian 2000 [Oil on canvas 56" x 42"]

Kuang Jian was born in 1961 in Hefei City, Anhui province. He began studying art privately in 1974 and in 1979 was accepted into the Academy of Arts of the People's Liberation Army, Beijing. Since his graduation in 1983 he has been an art director for the Army Day Movie Studio, Beijing. He was awarded the Bronze prize at the Seventh National Exhibition in 1989 and has participated in shows in Australia, Hong Kong, Taiwan, Japan and Germany. He currently resides in Beijing.

Ver Aqui

(Das andanças de Marg. Ramos pela China)