quarta-feira, outubro 5

UMA LÁGRIMA


Lágrima de Cláudia Perenzalez

uma lágrima
não minha
mas dela
caída
no recado
da despedida

as mãos
me escaparam
de seu corpo
distante
que esquecera
e procurara
tarde de mais

a lágrima secara

In “ Ir pela sua mão”
Editora Ausência - 2003

REPÚBLICA


Imagem e texto in “O Portal da História”

A CONSTITUIÇÃO DE 1911

Texto constitucional aprovado, após largo debate, em 21 de Agosto de 1911, pela Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrágio directo, em consequência da revolução republicana de Outubro de 1910.

A República foi proclamada em Lisboa em 5 de Outubro de 1910. Desse mesmo dia data a organização do Governo Provisório, que, dispondo dos mais largos poderes, se ocupou da administração do País e foi presidida por Teófilo Braga. A Assembleia Constituinte reuniu-se, pela primeira vez, em 19 de Junho de 1911; sancionou a revolução republicana, e veio a eleger uma comissão encarregada de elaborar o projecto-base do novo texto constitucional.

Foram apresentados à Assembleia textos como o de Teófilo Braga. Basílio Teles publicou também umas bases de Constituição. A discussão que precedeu a aprovação da Constituição foi, bastante larga, incidindo principalmente sobre o problema do presidencialismo, orientação que foi rejeitada, e sobre a questão da existência de uma ou duas Câmaras.

Veja aqui uma breve história da República (1910 a 1926)

"O que ilumina o mundo ..."


EXPO (Lisboa) - Fotografia de “Sombra de Prata”
in Olhares

“O que ilumina o mundo e o torna suportável é o habitual sentimento que temos dos nossos laços com ele – mais particularmente do que nos liga aos seres. As relações com os seres ajudam-nos sempre a continuar porque pressupõem desenvolvimentos, um futuro – e também porque vivemos como se a nossa única tarefa fosse precisamente o manter relações com os seres.

Mas nos dias em que nos tornamos conscientes de que não é a nossa única tarefa, sobretudo nos dias em que compreendemos que só a nossa vontade conserva esses seres ligados a nós – deixem de escrever ou de falar, isolem-se e verão como eles fundem em vosso redor – verão como a maioria está na realidade de costas voltadas (não por malícia, mas por indiferença) e que o resto conserva sempre a possibilidade de se interessar por outra coisa, quando imaginamos desta forma tudo quanto entra de contingente, de jogo das circunstâncias no que costuma chamar-se um amor ou uma amizade, então o mundo regressa à sua noite e nós a esse grande frio de que a ternura humana por um momento nos tinha afastado.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

EMPATES


Isaltino e Seara à frente, respectivamente, em Oeiras e Sintra, em todas as sondagens mas por diferenças mínimas. Sendo assim estamos perante empates técnicos nas disputas eleitorais entre Isaltino Morais e Teresa Zambujo e Fernando Seara e João Soares. Tudo pode acontecer!

terça-feira, outubro 4

JANIS


JANIS JOPLIN - 19 de Janeiro de 1943 - 4 de Outubro de 1970.

"O Dia do Tempo"


“Correrias da minha infância” – Fotografia de Hélder Gonçalves

O meu filho (14 anos) acabou de ler ontem, quase de um só fôlego, as 800 páginas de “Eldest”, de Christopher Paolini. Boa leitura? Má leitura? Foi escolha dele, leitura dele, prazer dele. Cada um toma as leituras que quer. As leituras não se medem aos palmos mas eu nunca li, de um só fôlego, (ou quase), um livro de 800 páginas.

O mais extraordinário é que ele lê nos intervalos de uma parafernália tremenda de mensagens, imagens e sons. É interessante como a leitura exige, como sempre, recolhimento. Os saberes estratificam-se no silêncio e, ao mesmo tempo, na trepidação de uma cascata de interesses contraditórios.

Nesta estrada, repleta de encruzilhadas, as leituras impostas pela escola são uma espécie de violentação da liberdade de escolha: ele nunca escolheria Camões (“Os Lusíadas”) ou Gil Vicente (“O Auto da Barca do Inferno” e o “O Auto da Índia”). São as leituras “chatas” que, no caso de Gil Vicente, quase sei de cor. Sorte dele.

Os desejos e as obrigações exigem um balanceamento difícil das nossas disponibilidades. Em todas as idades e condições. Na maioria dos casos um balanceamento impossível. É essa a raiz de um dos dramas maiores da nossa sociedade: e escola e suas taxas avassaladoras de insucesso e abandono escolar.

É preciso tempo (em todos os sentidos) para ganhar disponibilidade e nunca há tempo para nada mesmo quando não se tem nada para fazer. É esta uma marca terrível do nosso tempo. Devia ser criado o “dia do tempo”.

Desconhecida


Marilyn Monroe

“Agora que sabe o seu preço, sente-se frustrado. A condição da posse é a ignorância. Até mesmo na ordem física: só possuímos bem a desconhecida.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

segunda-feira, outubro 3

ALGO DE PODRE NO REINO DE GEORGE W. (2)


Continue a acompanhar no NEW YORK ON TIME "Algo de Podre no Reino de George W. (2)".

O QUE EU QUERIA


Teresa Dias Coelho - CLOUDS 2000 [Oil on canvas 46 x 73 cm]

O que eu queria não posso pedir que escapa
À sem razão de não obter o que eu queria era
Neste dia assim aberto um olhar liso e claro
Na direcção do meu sorriso que espera longo.
Aguento, aguento-o, dia após dia, abro e fecho
A mão e agarro o que eu queria num momento
Mas no outro se me cava a ruga funda no meio
Da testa e se me enche o fundo da pele de suor.
O que eu queria não posso dizer senão talvez
A alguém que és tu que já o sabes bem melhor
Do que eu quando digo que não falo mais nisso.
O que eu queria me desses neste dia maduro
Era o teu sorriso vibrante fixado para sempre
Na vida para além de mim e do que eu queria.

22/9/81

(Um dos primeiros poemas que escrevi, com intencionalidade,
dedicado à G.)

domingo, outubro 2

LUIZ PACHECO


Acabei de ler o “Diário Remendado (1971-1975)” de Luiz Pacheco, da D. Quixote. Uma diário autobiográfico, ou algo que se aproxima do género. Não se trata, certamente, de uma obra-prima mas é leitura muito interessante para aqueles que se interessam pelo percurso de alguns dos chamados escritores portugueses malditos do nosso tempo.

Ao que consta do posfácio de João Pedro George, “biógrafo improvável” de Pacheco, segundo as palavras do próprio, este texto “é um fragmento de um diário muito mais vasto”. O que supõe que outros diários possam vir a surgir no futuro.

Retenho duas curiosidades que me tocaram pessoalmente: a descrição dos acontecimentos do dia 25 de Abril de 1974, por Pacheco, que termina com estas duas frases esplêndidas: “Foi bonito e foi rápido. Já posso morrer mais descansadinho.”

Ainda a revelação de que Aldina, uma “pintora com biografia”, mulher de António José Forte, segundo Pacheco, votou no MES nas eleições para a Assembleia Constituinte de 25 de Abril de 1975. Uma boa companhia.

Veja aqui uma parte da obra de Luiz Pacheco.

ALL-STARS


Uma relíquia: as primeiras All-Stars de meu filho.

sábado, outubro 1

ALGO DE PODRE NO REINO DE GEORGE W.


Leia no NEW YORK ON TIME Algo de podre no reino de George W.

Agora que tanto se fala de corrupção em Portugal, para não falar do Brasil, vale a pena conhecer os mais recentes escândalos de corrupção no "reino de Bush" ou, de como “o exemplo vem de cima”.

O PAÍS DO AMOR


Fotografia de Delphine Le Berre Apresentando Xupacabras

“O desejo físico brutal é fácil. Mas o desejo ao mesmo tempo que a ternura exige tempo. É preciso atravessar todo o país do amor antes de encontrar a chama do desejo. Será por isso que, ao princípio, desejamos tão dificilmente o que amamos?”

Albert Camus


Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

Sei-os de cor


E deus criou a mulher

Sei-os de cor (em quatro andamentos e um poema) - Desculpem lá qualquer coisinha mas este é um post absolutamente extraordinário

FARO - O PS VAI GANHAR?


Faro - Cidade Velha

O desenlaçe das eleições autárquicas em Faro interessam-me muito, além do mais, por ser a minha cidade.

A última sondagem conhecida da universidade católica, bastante credível, pela sua metodologia, fazem crer que o PS pode mesmo ganhar.

Ver em Margens de erro

sexta-feira, setembro 30

AI!


Sabor – Fotografia de Hélder Gonçalves

O grito deixa no vento
Uma sombra de cipreste.

(Deixai-me neste campo
chorando.)

Tudo se perdeu no mundo.
Não ficou mais que silêncio.

(Deixai-me neste campo
chorando.)

O horizonte sem luz
está mordido de fogueiras.

(Já vos disse que me deixeis
neste campo
chorando.)

Federico Garcia Lorca
Traduzido por Eugénio de Andrade

AY!

El grito deja en el viento
una somba de ciprés.

(Dejadme en este campo
llorando.)

Todo se ha roto en el mundo.
No queda más que el silencio.

(Dejadme en este campo
llorando.)

El horizonte sin luz
está mordido de hogueras.

(Ya os he dicho que me dejéis
en este campo
llorando.)

DEMOCRACIA


La Nueva Democracia (1945)David Siqueiros

Muita gente é execrável. É a nossa observação que torna execráveis muitas personagens. Para nós são execráveis. No entanto, para outros, são possuidores de excelsas virtudes.

A democracia é podermos rejeitar livremente os que nos repugnam na vida pública. É o exercício individual da livre escolha que encerra, em si mesma, extraordinárias vantagens. Porque do outro lado permanecem livres aqueles que rejeitam os que nós escolhemos.

É nesse jogo múltiplo de rejeição e escolha, sem censura, que reside a vantagem da democracia. Ela permite corrigir os seus próprios erros embora com um cortejo enorme de jogos no seu seio.

Não perder de vista esta vantagem pois, além do mais, resulta do sacrifício da vida e liberdade de gerações inteiras.

Mais vale a angústia de vermos escolhido, em eleições livres, alguém que julgamos execrável do que suportar o peso do silêncio sepulcral da tirania.

O BELO E O AZUL


Imagem daqui

“O belo diz Nietzche depois de Stendhal, é uma promessa de felicidade. Mas se ele próprio não é a felicidade, que poderá afinal prometer?”

*

“...Foi quando tudo ficou coberto de neve que reparei que as portas e as janelas eram azuis.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

quinta-feira, setembro 29

Portugal no Global Competitiveness Report


NO ANO DE EINSTEIN- Fotografia de Hélder Gonçalves

Portugal ocupa a 22ª posição no ranking do Global Competitiveness Report tendo subido dois lugares face a 2004. Olhando para desagregação dos indicadores verificam-se alguns dados surpreendentes face à tradicional maledicência nacional. Imaginem que me senti recompensado.

Afinal sempre vale a pena trabalhar para a modernização do país contra ventos e marés. E, apesar de todos os pontos fracos, Portugal sempre é melhor do que os portugueses o pintam. Haja deus!

Veja o quadro com a classificação dos países (Comparação 2004/2005)

O SILÊNCIO


Fotografia de Hélder Gonçalves

Ouve, meu filho, o silêncio.
É um silêncio ondulado,
um silêncio
donde resvalam ecos e vales,
e que inclina a fronte
para o chão.

Federico Garcia Lorca
Traduzido por Eugénio de Andrade

El silencio

Oye, hijo mío, el silencio.
Es un silencio ondulado,
un silencio
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.