Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, fevereiro 1
2/2/1954 - Neve a sul
Na madrugada do dia 1 para 2 de fevereiro de 1954 a meteorologia fez uma surpresa ao sul de Portugal. Para surpresa de todos - pois as previsões não seriam tão meticulosas e divulgadas - nevou a sul. Da janela da casa onde nasci, em Faro, na manhã de dia 2 de fevereiro de 1954, pude ver pela primeira vez neve ainda assim abundantes. Foi uma festa que nunca mais esqueci, nem se repetiu pelo menos com aquela intensidade. Vejam só como as surpresas do clima são coisa antiga.
terça-feira, janeiro 28
Tempo e futuro
O tempo passa como um raio deixando o seu rasto de luz e esperança. Creio que o homem é natureza e acredito sempre num futuro promissor para a humanidade. Muitas notícias apontam no sentido contrário mas não esmorece em mim esse otimismo da vontade.
quinta-feira, janeiro 9
Ir pela sua mão
Em memória de meu pai
Ir pela sua mão era caminhar
para um paraíso sem nome,
sonhar uma aventura terna
sabendo de cor o caminho
de regresso a casa a pé
sem guia nem vertigens
Ir pela sua mão aberta
à ternura de mão solitária
era saborear um engano
sem mácula, sobreviver
e nada dever aos outros
que se não pudesse devolver
Ir pela sua mão desarmada
não deixava rasto no chão
e a minha cabeça voava à roda
do meu coração que batia
como agora quando me escapo
à rotina do bater do dia
Ir pela sua mão lembra-me
sempre o dobrar dos dias,
homens tristes de ombros
postos nas esquinas luzidias
esperando taciturnos perder
o sentido do seu próprio corpo
Ir pela sua mão seria partir
do nada ao especial feito,
rasgar um caminho incerto
de mágoas, uma alegria banal,
sagradas confidências guardadas
entre nós que se não confiam
Ir pela sua mão dava acesso
ao mundo, mas ninguém soube
das suas amantes que eu vi,
nem dos gritos do seu olhar
que se abria dolente para mim
pedindo em silêncio aceitação
Eu tudo lhe dei sempre sem pedir
nada em troca, somente por vezes
a sua mão para ir nela confiante
em busca de um caminho qualquer
que não sabia onde levava nem
isso de verdade nada interessava.
(In "Ir pela sua mão" - Maio 2003 - Editora Ausência.)
Ir pela sua mão era caminhar
para um paraíso sem nome,
sonhar uma aventura terna
sabendo de cor o caminho
de regresso a casa a pé
sem guia nem vertigens
Ir pela sua mão aberta
à ternura de mão solitária
era saborear um engano
sem mácula, sobreviver
e nada dever aos outros
que se não pudesse devolver
Ir pela sua mão desarmada
não deixava rasto no chão
e a minha cabeça voava à roda
do meu coração que batia
como agora quando me escapo
à rotina do bater do dia
Ir pela sua mão lembra-me
sempre o dobrar dos dias,
homens tristes de ombros
postos nas esquinas luzidias
esperando taciturnos perder
o sentido do seu próprio corpo
Ir pela sua mão seria partir
do nada ao especial feito,
rasgar um caminho incerto
de mágoas, uma alegria banal,
sagradas confidências guardadas
entre nós que se não confiam
Ir pela sua mão dava acesso
ao mundo, mas ninguém soube
das suas amantes que eu vi,
nem dos gritos do seu olhar
que se abria dolente para mim
pedindo em silêncio aceitação
Eu tudo lhe dei sempre sem pedir
nada em troca, somente por vezes
a sua mão para ir nela confiante
em busca de um caminho qualquer
que não sabia onde levava nem
isso de verdade nada interessava.
(In "Ir pela sua mão" - Maio 2003 - Editora Ausência.)
sábado, janeiro 4
4 janeiro - 60 anos após a morte de Albert Camus
Camus publicou em vida dezanove obras, de 1937 a 1959, entre as quais se destacam os romances (“L’Étranger” em 1942, “La Peste” em 1947), as novelas (“La Chute” em 1956, “L’Exil et le Royaume” em 1957) as peças de teatro (“Caligula” e “Le Malentendu" em 1944, “L’État de siège" em 1948, “Les Justes” em 1950), e os ensaios (“L’Envers et l’Endroit" em 1937, “Noces” em 1939, “Le Mythe de Sisyphe” em 1942, “Les lettres à un ami allemand” em 1945, “L´Homme révolté” em 1951 e”LÊté” em 1954). É necessário ainda juntar três recolhas de ensaios políticos (“Les Actuelles”), “Les deux Discours de Suède” (pronunciados aquando da atribuição do Nobel) e a contribuição para a obra de Arthur Koestler intitulada “Réflexions sur la peine capitale”.
Outras obras foram editadas após a sua morte entre as quais se contam o “diário” dos seus pensamentos e leituras, assim como notas de trabalho, publicado sob o título “Carnets”; o diploma de estudos superiores de 1936: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme”, publicado pela “La Pléiade”; o romance inédito, “La Morte heureuse”, cuja redacção data de 1937; o manuscrito inacabado, encontrado na pasta de Camus depois do acidente de viação que o vitimou:“Le Premier Homme”, esboço do que viria a tornar-se o seu grande romance quasi autobiográfico e ainda a sua correspondência com o amigo Jean Grenier.
terça-feira, dezembro 31
2020
Bom Ano de 2020. Esperança no futuro. Vida vivida como melhor cada um deseje. Trabalho e saúde. Liberdade.
quinta-feira, dezembro 19
16 anos
Passam hoje 16 anos desde o dia em que criei este blog. Foi uma decisão de momento, tardia, numa fase difícil da minha vida. Não me arrependo e mantenho-o vivo apesar do declínio dos blogs, alimentando-o com menos regularidade mas sem desistir dele. Um dia destes vou recomeçar a escrever mais intensamente aqui e talvez também poesia.
Fotografia de Hélder Gonçalves
Fotografia de Hélder Gonçalves
quarta-feira, dezembro 11
Esperança
Tantas efemérides têm passado sem que delas aqui dê notícias. A minha fadiga é demasiada e busco resistir a ela como noutras ocasiões de acontecimentos nefastos. Seis meses exatos sobre um desses acontecimentos brutais que nos atingem no mais fundo do ser. Depois deste longo tempo de sofrimento surgem sinais de esperança consistentes que espero se confirmem num próximo futuro.
quarta-feira, dezembro 4
FUTURO
Seis meses (menos uma semana) despois, hoje foi dado um passo adiante na concretização da esperança no futuro.
terça-feira, novembro 19
Sinais encorajadores
Dizem que vai chover nos próximos dias, uma boa notícia para o equilíbrio ecológico, económico e social. Pelo lado pessoal, e familiar, as notícias dão conta e apresentam melhorias apontando no bom caminho. Ainda há caminho a percorrer mas os sinais são encorajadores. O tempo, no entanto, deixa as suas marcas.
quinta-feira, novembro 14
DIAS
Dizem que vai arrefecer, a meteorologia é, no nosso tempo, quase infalível. Semana a semana, dia a dia, a sair da zona cinzenta, com muito caminho por fazer, mas já se pressente que existe caminho firme para trilhar.
domingo, novembro 3
Vida
Difíceis estes estes últimos meses, uma prova de resistência, sem perder a esperança, acreditar sempre, sentir como todos os problemas à nossa volta têm um valor relativo face à importância da vida. Mais difícil ainda para quem acredita no Sagrado mas não acredita em Deus.
domingo, outubro 27
Pelo aniversário do meu filho Manuel
O texto abaixo foi escrito, treze anos atrás, a pedido do meu filho Manuel, para integrar o “portfolio” da disciplina de português do 10º ano. Publico-o como celebração do seu aniversário e em homenagem à sua mãe que só aparentemente dele está ausente. A professora, por sua vez, com razão, estranhou a ausência de parágrafos. Mas o texto, de facto, é mesmo assim. Uma espécie de mancha compacta povoada de palavras que exprimem uma imagem absolutamente subjectiva de alguém a quem queremos mais do que tudo.
O meu filho pediu-me para escrever um texto acerca dele próprio. Este é o texto mais difícil de escrever. Quando tinha a idade que ele tem agora as minhas dificuldades nos estudos eram mais acentuadas. A descoberta do corpo, nos alvores da adolescência, é fonte de prazeres e de medos. Julgo que sofri mais nessa fase da vida. Subjectividades. Nunca seria capaz de pedir aos meus pais que escrevessem um texto acerca de mim. Não que não fossem capazes apesar do nível de escolaridade que alcançaram ser mais baixo do que aquele que me deixaram de herança. Mas porque o olhar do meu filho acerca do papel dos pais mudou. Assim como mudou o seu olhar acerca do papel do professor e da escola. Ele tem, ao contrário dos pais na sua idade, mais capacidade de crítica e mais autonomia para expressar as suas opiniões. Gosta de participar e excede-se, porventura, na sua vontade de partilhar o espaço comum. Desde criança que exercita a sua curiosidade ouvindo todas as notícias. Mas, ao contrário das aparências, é tímido. Uma herança familiar. Receia enfrentar o desconhecido mas gosta de ouvir as discussões que transcendem a sua capacidade de entendimento. Gosta de discutir os temas da política e, em regra, é capaz de formular sínteses coerentes e equilibradas. Precisa de participar em actividades colectivas. Não sendo o teatro, ou a música, que seja o “parlamento”. Exercitará a capacidade de argumentação, a arte da palavra e as vantagens da síntese. Tem aprendido, progressivamente, a gerir a autonomia que lhe é oferecida e a organizar os seus tempos. Amadureceu a consciência de que precisa de trabalhar mais tempo e de forma mais organizada. É gentil. Vive no seio de uma família estruturada, uma tradição familiar que enraíza nas gerações passadas. É seguro. Desde criança que se enfurece quando lhe escapa das mãos qualquer objecto. Aprendeu a ouvir música para a qual sempre manifestou uma especial predilecção. É apreciador da natureza e da sua preservação, em particular, dos animais. Em criança aprendeu a pescar e a arranjar o peixe de que conhece todas as espécies. Aprecia os amigos, honra a intimidade e guarda os segredos. Entusiasma-se e distrai-se. Amadurece devagar. Sonha.
O meu filho pediu-me para escrever um texto acerca dele próprio. Este é o texto mais difícil de escrever. Quando tinha a idade que ele tem agora as minhas dificuldades nos estudos eram mais acentuadas. A descoberta do corpo, nos alvores da adolescência, é fonte de prazeres e de medos. Julgo que sofri mais nessa fase da vida. Subjectividades. Nunca seria capaz de pedir aos meus pais que escrevessem um texto acerca de mim. Não que não fossem capazes apesar do nível de escolaridade que alcançaram ser mais baixo do que aquele que me deixaram de herança. Mas porque o olhar do meu filho acerca do papel dos pais mudou. Assim como mudou o seu olhar acerca do papel do professor e da escola. Ele tem, ao contrário dos pais na sua idade, mais capacidade de crítica e mais autonomia para expressar as suas opiniões. Gosta de participar e excede-se, porventura, na sua vontade de partilhar o espaço comum. Desde criança que exercita a sua curiosidade ouvindo todas as notícias. Mas, ao contrário das aparências, é tímido. Uma herança familiar. Receia enfrentar o desconhecido mas gosta de ouvir as discussões que transcendem a sua capacidade de entendimento. Gosta de discutir os temas da política e, em regra, é capaz de formular sínteses coerentes e equilibradas. Precisa de participar em actividades colectivas. Não sendo o teatro, ou a música, que seja o “parlamento”. Exercitará a capacidade de argumentação, a arte da palavra e as vantagens da síntese. Tem aprendido, progressivamente, a gerir a autonomia que lhe é oferecida e a organizar os seus tempos. Amadureceu a consciência de que precisa de trabalhar mais tempo e de forma mais organizada. É gentil. Vive no seio de uma família estruturada, uma tradição familiar que enraíza nas gerações passadas. É seguro. Desde criança que se enfurece quando lhe escapa das mãos qualquer objecto. Aprendeu a ouvir música para a qual sempre manifestou uma especial predilecção. É apreciador da natureza e da sua preservação, em particular, dos animais. Em criança aprendeu a pescar e a arranjar o peixe de que conhece todas as espécies. Aprecia os amigos, honra a intimidade e guarda os segredos. Entusiasma-se e distrai-se. Amadurece devagar. Sonha.
segunda-feira, outubro 14
A banca
Vou escrever uma coisa muito crua. Não confio nos gestores da banca. Desconfiança que não é de agora apesar da minha formação académica de base ser, imaginem, em finanças. Apreciei uma afirmação recente do PR que disse que duvida que tenham aprendido com as lições do passado recente. É da sua natureza nunca aprenderem desde que foram possuídos pela fúria ultra liberal ostentatória (ler Francisco - o Papa). Apresentam-se como os donos de riquezas que não são suas mas de quem lhes confia as poupanças. Falta-lhes modéstia e sentido de serviços em favor do bem comum e dos mais desfavorecidos - no caso da banca pública - e de verdadeira responsabilidade social no caso da banca privada. Ninguém tem coragem de lhes fazer frente e gabam-se das mentiras que sabem, pagando, fazer passar por verdades. De tempos a tempos os impostos vergam-se à sua falta de escrúpulos, e eles sabem.
Eleições legislativas
O PS ganhou as eleições legislativas mas, por vezes, parece a quem ouve certos propagandistas que as perdeu. Mas ganhou-as e está em condições vantajosas de formar governo e ninguém terá a coragem, à esquerda, de lhe barrar o caminho. Dizem que esse bom senso não vai durar sempre. Mal daqueles que não são capazes de ver com olhos de ver a realidade. Se quiserem uma vitória, daqui a uns anos, da direita extremista, extrema direita, ou dos protofascistas, como lhes quiserem chamar, comecem desde já a minar a maioria socialista do PS (e já agora o reforço do PSD no seu lugar de centro direita). Se quiserem que Portugal, em paz e concórdia, no contexto das disputas democráticas, avance no sentido do progresso preparem-se para apoiar, nas questões essenciais, o governo PS assim como, em janeiro de 2021, a recandidatura presidencial de Marcelo.
sexta-feira, outubro 4
ÀS URNAS!
Uma última palavra acerca das eleições legislativas que terão o seu desfecho no próximo domingo. Votarei no PS. Na verdade sempre votei no PS após ter votado no MES as duas únicas vezes que, antes de alegremente se finar, foi a votos: em 25 de abril de 1975 e 25 de abril de 1976, respetivamente para a Assembleia Constituinte e para a 1ª Assembleia Legislativa. O meu voto, em eleições democráticas, tem a mesma importância do voto de qualquer outro cidadão, daí a sua importância. Ninguém é mais importante que outrem nesta matéria de votar, somos todos iguais. Acresce que o meu voto, em eleições livres, não é condicionado por ninguém, sou eu próprio que, em consciência, decido. O voto livre e democrático é uma conquista civilizacional extraordinária pela qual vale a pena lutar pois, apesar de todos os seus defeitos, é a mais poderosa barreira aos populismos e a todas as tentações ditatoriais, que as há! A melhor forma de defender esta conquista extraordinária, salvaguardando a democracia e a liberdade, é exercer, em pleno, o direito ao voto. Como tal sempre os democratas proclamaram em todos os tempos: às urnas! às urnas!
domingo, setembro 29
Voto no PS
A uma semana das eleições legislativas de 6 de outubro já se vota. Hoje será o dia do voto antecipado "normal" que este ano atingiu um volume significativo de inscritos. Mas já se votou dias atrás nos hospitais, unidade de cuidados continuados e prisões, nestes casos com muito pouca divulgação e mesmo desconhecimento, e desinteresse, das próprias administrações dessas unidade (sei do que falo). A direita vocifera utilizando todos os meios contra o PS. A esquerda da esquerda segue-lhe os passos à sua maneira e não hesitará, à semelhança do que tem acontecido por esse mundo fora, e a história comprova, em aliar-se à direita para derrubar o PS. O futuro dirá como as espúrias alianças entre parte do poder judicial e as extremas (ainda não plenamente reveladas) irão evoluir sendo certo que já contam com a colaboração de uma multidão de idiotas úteis e, em breve, com um canal aberto de TV dominado financeiramente pelos espanhóis, a futura CMTVI. (o mais perigoso movimento em curso para fazer nascer, com expressão politica, a extrema direita em Portugal). Os democratas não têm outro caminho se não, nestas legislativas, dar a vitória ao PS, ou seja, a um bloco politico que garanta o equilíbrio entre justiça social e desenvolvimento económico, liberdade e justiça, nacionalismo e europeísmo.
domingo, setembro 22
VOTAR SEMPRE
Faltam 15 dias para o voto nas eleições legislativas. Ao contrário do voto nos partidos nos quais não voto, nem nunca votei, o pior é o não voto, ou seja, a ausência voluntária nas urnas. Após quase meio século de ditadura, com um ou outro simulacro de eleições sempre falsificadas, o abstencionista é um cobarde cujo desinteresse esconde uma vontade do quanto pior melhor, no tempo que é o nosso, um facilitador da tirania, ou seja, da supressão da liberdade.
domingo, setembro 15
Setembro
Setembro é um mês de bons augúrios. Desde ontem um pouco melhores expetativas neste inferno do calor de setembro. Redobrada a esperança.
sexta-feira, setembro 6
Um tempo especial
Têm sido difíceis estes últimos meses roubando-me tempo e disponibilidade intelectual para alimentar, como sempre é meu desejo, este modesto blog. Eu sei que a vida continua e basta passar em revista o que se escreve nas redes sociais, para além de seus horrores, para nos darmos conta dos sinais do nosso tempo. Espero, com convicção e esperança, vir um dia destes a reganhar a energia necessária para tornar este espaço mais interessante.
Subscrever:
Mensagens (Atom)