Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, janeiro 26
PALPITES XXXVI
Sejamos claros acerca da crise política na Madeira. O que está no subtexto das intervenções de todos os interventores politicos, ou opinadores encartados, é de como inaugurar e fazer perdurar uma governação alternativa ao PSD na Madeira. Como derrubar uma oligarquia enraizada vai para 50 anos por via pacífica conforme as regras da democracia?
quinta-feira, janeiro 25
ANTÓNIO SÉRGIO
Ontem com o Secretário de Estado da Segurança Social, Gabriel Bastos, na Cerimónia de entrega do Prémio António Sérgio, certamente num momento em que atuava o Fernando Tordo ou o Paulo de Carvalho (magníficos!). No topo do salão da Voz do Operário reluz a inscrição: "Trabalhadores, Uni-vos". Que vivam!
quarta-feira, janeiro 24
PALPITES XXXV
A partir de ontem, com o conhecimento das listas do PS às legislativas de 10 de março, o jogo virou. PNS deixou de ser para a direita um perigoso esquerdista, passando a ser, simplesmente, o lider do PS. Nada mau para PNS.
terça-feira, janeiro 23
MULHERES III
O PS apresenta 10 mulheres (em 22) como cabeças de lista às eleições legislativas de 10 de março. Notável!
segunda-feira, janeiro 22
PALPITES XXXIV
As ditaduras afastam os povos da responsabilidade da tomada das decisões. Lembro-me do discurso da falta de maturidade do povo para votar. Quanto menos for chamado a pronunciar-se acerca das grandes questões nacionais, em particular, as escolhas de governo, mais o povo se sentirá afastado dos desígnios da democracia.
Confiar? Desconfiar? O povo desconfia. Terá razão? O populismo espreita. Delegamos o poder através do voto. Será que nos vão devolver o poder, em tempo útil, para escolhermos de novo? Uma só partícula de poder a cada um de nós. Mas o suficiente para que nos sintamos reconfortados por termos influenciado as escolhas que comprometem toda a comunidade.
Não é o tempo oportuno? Mas se não escolhermos a participação popular, mesmo quando a mesma parece excessiva, estamos a abrir o caminho aos populistas. Os populistas fingem que usam o poder para servir o povo mas servem-se dele para alcançar os seus objectivos particulares.
sábado, janeiro 20
PALPITES XXXIII
Num dos dias desta semana frequentei uma urgência hospitalar do SNS, em Lisboa, durante umas largas horas. Não como utente, mas como acompanhante. É impressionante, ao contrário de muitas notícias postas a correr, a organização e capacidade de resposta que testemunhei. Atendimento correto sem atropelos, pessoal maioritáriamente jovem atento e empenhado. Espero que um dia se faça a história do SNS deste periodo de notícias alarmantes.
PALPITES XXXII
A guerra geral deixou de ser uma inevitável impossibilidade. Passou a ser uma possibilidade real. Em plena disputa eleitoral na qual os partidos apresentam seus programas e esgrimem argumentos, não se ouve uma palavra acerca da guerra.
quinta-feira, janeiro 18
MULHERES II
Todos sabem o que vai acontecer. As mulheres são maioritárias na sociedade. É certo que nem todas as maiorias geram diferenças de qualidade. Muito menos garantem a conquista do poder. Mas no caso das mulheres, no mundo ocidental, há um detalhe decisivo: o fenómeno crescente da feminização do trabalho.
Vai longe o tempo heróico das utopias feministas que, em Portugal, foram protagonizadas por Maria Veleda ou Carolina Beatriz Ângelo.
As mulheres são já maioritárias num conjunto alargado de profissões e exercem uma forte influência social. Toda a gente sabe quais são essas profissões. Com quotas, ou sem quotas, hoje, é a sociedade que “empurra” as mulheres para a ocupação de lugares no topo das instâncias de decisão política. Este movimento, salvo qualquer cataclismo imprevisível, é irreversível.
As mulheres vão ocupar o poder. Não é por serem mulheres nem sequer por serem mais ou menos competentes que os homens. Não é por uma questão de beleza física ou de sedução mediática. Pois se a maioria do eleitorado é constituído por mulheres … É por encarnarem uma forma diferente de olhar os problemas da sociedade. É por abrirem um espaço vital para a esperança na reabilitação da política. (Na foto a minha mãe em jovem).
terça-feira, janeiro 16
MULHERES - I
A propósito da chegada, em boa hora, à agenda politica do tema da igualdade de género, ou seja, da posição das mulheres nas nossas sociedades (em todos os seus diversos modos e facetas), deixo uma série de posts versando o tema. A luta é antiga e deixo a homenagem a MARIA VELEDA - notável combatente republicana dos primórdios da luta pelos direitos das mulheres. Nascida na minha cidade e freguesia - Faro, São Pedro, 26 de fevereiro de 1871.
segunda-feira, janeiro 15
PALPITES XXXI
Outro dos pontos que os democratas têm que cuidar neste periodo é o das guerras. Nós estamos, geograficamente, muito longe do epicentro das guerras que se travam na Europa. Os portugueses vêem a guerra como realidade distante. Assistimos às cenas de guerras no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Mas pertencemos à Europa a todos os títulos e compete-nos, por pertença, dever e interesse tomar posição. Logo espera-se que os partidos se prenunciem, de forma clara, acerca das guerras. De momento ouve-se um profundo silêncio.
domingo, janeiro 14
PALPITES XXX
Ser democrata é ser capaz de tolerar as ideias dos adversários, combatê-las sem receio do debate e confronto democrático. Neste periodo eleitoral dois dos temas que deveriam ser preocupação de todos: estado social e imposto progressivo, duas das maiores conquistas do século XX, nos países europeus e na América do Norte. Com suas diferenças e modelações são peças fundamentais para combater as desigualdades.
sexta-feira, janeiro 12
CONTRA A PENA DE MORTE!
Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.
PALPITES XXIX
Ouvi ontem por acaso alguém recordar que o PPM, em 2019, se coligou com o partido da extrema direita nas europeias. Fiz uma pesquisa rápida para confirmar o que já não me lembrava. Nada contra as coligações que são legitimas. Estranha é a coligação que o PSD agora criou integrando o PPM. Que sentirão os democratas republicanos que militam no PSD!
terça-feira, janeiro 9
NO ANIVERSÁRIO DA MORTE DO MEU PAI DIMAS
Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia. Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas. Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE. Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.
segunda-feira, janeiro 8
domingo, janeiro 7
PALPITES XXVIII
Ainda no rescaldo do dia de hoje que assinalou o inicio da campanha eleitoral - Congresso do PS, apresentação da AD - na bolha mediática, alguns apontamentos pessoais. É a primeira vez que um lider do PS é nascido no pós 25 de abril. PNS deve ter votado pela primeira vez em eleições nos anos 90, enquanto eu votei em todas as eleições desde 74 (e mesmos antes, nas farsas eleitorais pós 65). Votei sempre no PS, exceto enquanto existiu o MES e foi às urnas. Não conheço PNS, nem de perto nem de longe, nunca o vi ao vivo, tenho dele vagas impressões, que não evitam que aprecie a sua vontade de fazer diferente. O PS, e o seu lider, enquanto forem o alvo de todas as atenções, debates e conversas, terão bastas possibilidades de vencer eleições. A notoriedade é a chave do sucesso eleitoral, desde que os que se apresentam a votos não façam grossas asneiras e apresentem, de forma clara, e decente, as suas ideias. A direita, que tem entre os seus pessoas decentes, tem muitos mais obstáculos no caminho - desde logo o populismo mais desbragado - do que a esquerda de que o PS é, e será, a principal força, e referência, para a maioria dos portugueses.
PALPITES XXVII
Tenho a perceção que o PS ultrapassou de forma muito positiva esta transição politica, com unidade interna e discurso positivo. O encerramento do Congresso foi marcado pela intervenção de encerramento de PNS. Gostei. Sempre encarei a sua candidatura à liderança como a que melhor servirá, no próximo futuro, as causas que são sintetizadas por uma velha tríade: liberdade, igualdade, fraternidade. E sempre pensei que PNS seria o melhor lider do PS, previsivelmente, como lider da oposição. Hoje através das suas palavras apontou alguns caminhos interessantes muito me surpreendendo no conjunto da intervenção e, particularmente, na parte inicial ao dar ênfase à questão da cooperação, no sentido amplo. Pode ter iniciado um caminho que leve o PS a ganhar as eleições. Não sei o que acontecerá no dia 10 de março mas, em qualquer caso, pode ganhar nos Açores (4 fev) o que seria um bom indício.
sábado, janeiro 6
ALBERT CAMUS - 6 JANEIRO 1960
Le 6 janvier 1960, une foule d´anonymes et quelques amis se retrouvent devant la grande maison de Lourmarin où le corps d´Albert Camus a été transporté dans la nuit. Quatre villageois portent le cercueil que suivent son épouse, son frère Lucien, René Char, Jules Roy, Emmanuel Roblès, Louis Guilloux, Gaston Gallimard et quelques amis moins connu, parmi lesquels les jeunes footballeurs du village. Le cortège avance lentement dans cette journée un peut froide et atone de ce « pays solennel et austère – malgré sa beauté bouleversante ».
Devant le caveau, Francine Camus jette une rose sur le cercueil. Le maire prononce une courte allocution et le silence n´est troublé que par le bruit de la terre sue le bois de la bière.
L´heure est de recueillement. Les communiqués officiels, les télégrammes affluent. Tous unanimes dans l´hommage et l´affliction conjugués.
Les temps ont changé, et ils sont nombreux, les détracteurs d´hier qui saluent aujourd´hui la disparition de celui aux côtés duquel ils avaient obstinément refusé de marcher. Celui qui, au terme de tant d´attaques et de malveillance, avait choisi de s´enfermer dans un douloureux silence.
Les premiers tirs étaient venus de gauche, et plus particulièrement du parti communiste qui ne pardonnait pas à cet ex-compagnon de route de prendre du recul, de regarder en face certaines réalités. De dire l´intolérable : le stalinisme, les camps, les idéaux mis au pas par des tyrans de l´histoire.
In Les Derniers Jours de la vie d´Albert Camus, José Lenzini, Actes Sud
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