Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, março 25
25 de ABRIL (2) - O GOLPE DAS CALDAS - 16 MARÇO 1974
Cumpria, como Oficial Miliciano, o serviço militar obrigatório no 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (2º GCAM), onde hoje está instalada, no Campo Grande, em Lisboa, a "Universidade Lusófona". Depois de conhecidas as notícias do avanço da coluna militar, a partir das Caldas da Rainha, instalou-se uma grande agitação no quartel. Era sábado e eu estava lá talvez porque estivesse de serviço. Finalmente surgia uma manifestação concreta de revolta militar mas pairavam no ar notórias dúvidas e incerteza acerca do destino do golpe.
Pela manhã desse dia recebi ordem do Comandante para recolher ao quarto. Estive, de facto, preso por um breve periodo. Após o golpe ter fracassado, na manhã seguinte, mandaram-me sair. Fiquei aliviado. Iniciava-se, assim, a fase final do verdadeiro e decisivo golpe militar.
Não o podíamos adivinhar mas o "Estado Novo" que, desde a ditadura militar, instaurada pelo golpe de 28 de Maio de 1926, iria perfazer 48 anos, estava a breves semanas do fim. Várias gerações de portugueses viveram toda, ou grande parte, das suas vidas sem conhecerem a cor da liberdade, pesando sobre as cabeças dos conspiradores a responsabilidade de pôr fim ao pesadelo.
domingo, março 24
25 de abril (1)
A celebração do cinquentenário do 25 de abril encontrará, no contexto político atual, muitos detratores. Os saudosistas do passado, dos tempos da "outra senhora", adeptos confessos, ou envergonhados, da tirania manifestar-se-ão, de forma mais ou menos aberta, contra a celebração do dia da liberdade. Como sempre em épocas de crises agudas mesmo alguns democratas deslizam suavemente para o manto onde se acoitam os amantes da tirania. É um clássico. São os que dispõem daquela peculiar vocação de cheirar os ares do tempo buscando beneficiar do que julgam vir a ser um novo regime politico ou, no mínimo, um novo governo inclinado para a extrema direita. Ora ao que venho é para afirmar que as datas simbólicas que afirmam os valores da liberdade e da democracia (além de outras em que incluo as religiosas) têm que ser celebradas nos espaços próprios, no caso do 25 de abril, na rua e na AR. E assim será, sabendo-se que muitos tentarão resgar um pacto que tem perdurado desde o 25 de abril de 74 no qual todas as forças politicas convergiam em torno da defesa da liberdade. Os próximos tempos serão de duras lutas, novamente, para assegurar que os seus detratores, e inimigos, serão derrotados. Que viva o 25 de abril!
sexta-feira, março 22
ELEIÇÕES (4)
Finalizadas as eleições legislativas ficamos com os seus efeitos. Uma mudança drástica através da ascensão da extrema direita. Não vale a pena suavizar a dimensão deste movimento. Era este o resultado pretendido com a narrativa da mudança. Para os democratas abre-se um tempo de resistência sendo certo que, à semelhança do pós 25 de abril, em que todos, de súbito, se apresentavam à sociedade como antifascistas, hoje todos se apresentam, ou são apresentados, como democratas. Mas uma parte significativa desses democratas anseia pelo regresso ao passado. Veja-se a manchete do Expresso de hoje certamente oriunda de fontes bem posicionadas que diz que o governo da AD aspira a governar por decreto evitando a AR. Eis uma hipérbole muito pouco sofisticada de apelo à desvalorização da democracia. Sinais ...
quinta-feira, março 21
DIA MUNDIAL DA POESIA
Como as palavras as imagens, que tomamos como nossas, são um bocado do imaginário que sobrevive à decapitação dos sonhos. Caminhamos por entre escombros.
Quando minha mãe morreu nos meus braços não chorei. Só chorei quando, velando o seu corpo, me surgiu pela frente uma vizinha que frequentava a minha infância. O imaginário, naquele breve momento, tomou de assalto as minhas defesas que ruíram com estrondo.
Percebi a leveza insustentável dos corpos depois de mortos e a infinita fraqueza que se esconde por detrás da nossa aparente normalidade.
segunda-feira, março 18
ELEIÇÕES (3)
Das eleições legislativas de 10M saiu uma situação politica que abre ainda mais as portas a um clima de ameaças e de medo de que existem já sinais alarmantes. A narrativa de que o PS é que criou o ambiente, senão mesmo o intrumento politico dessa instalação do medo faz o seu caminho. No entanto o lider do partido da extrema direita nasceu e cresceu no PSD. Mas resvalou para o extremo do espectro politico da direita e tem como objetivo tomar de assalto a direita toda. A ideia é a de minar o PSD, destruindo-o, e aprisionar o PS à chamada extrema esquerda, menorizando-o. Quem dirige esta orquestra orientada para a destruição da democracia e da liberdade?. Os grandes interesses já falaram, através de dirigentes de topo, e porta vozes diversos, sinalizando os beneficios que pretendem obter. Interessa-lhes menos o regime que o lucro económico. E a orquestra toca sozinha?
domingo, março 17
ELEIÇÕES (2)
A política tem facetas que não se recomendam. Não sei se algum dia se conhecerá a verdadeira génese da queda do governo cessante. A narrativa da mudança vinha de trás envolta, certamente, em múltiplas manobras ao mais alto nível. O que podemos perguntar honestamente, como cidadãos honrados, é quando se dá pública notícia do processo que lançou suspeitas sobre António Costa? Os democratas não poderão descansar enquanto reinar o silêncio. Serão meses, serão anos, quem se acoberta sob esse silêncio? O resultado das eleições não foi suficiente para alcançar os objetivos pre definidos pelos mentores e promotores da mudança. O que se seguirá? Em breve terão a maçada da comemoração dos 50 anos do 25 de abril!
ELEIÇÕES (1)
Uma semana após o voto algumas reflexões breves. Os sociólogos que estudam as eleições dizem que os mais velhos votaram mais no PS. Se está em curso um processo imparável de envelhecimento demográfico será sinal de decadência do PS acolher mais que outros o voto dos mais velhos?
sexta-feira, março 15
A BANCA
O anúncio dos resultados da CGD completa o naipe de resultados da banca. Nada contra os resultados positivos, mal seria o seu contrário. Mas não exagerem com o gáudio minimizando a importância da margem financeira nesses resultados. Pagar pouco a quem nos confia as poupanças e cobrar muito a quem nos pede emprestado, não merece encómios especiais nem diploma de mérito. Se ao mesmo tempo somos contemplados com o discurso da direita da mudança com os cofres cheios, pelo demérito socialista ... estamos conversados.
quinta-feira, março 14
VOTO (6)
A narrativa em voga é clara: mudança, a direita ao poder. No entanto subsiste o problema do voto. Esse problema desdobra-se em várias substilezas. A abstenção baixou uma coisa boa mas muitos, no seu íntimo, não acham assim tão boa. O voto na extrema direita alimentou-se, em boa medida, desses novos eleitores. O PR na véspera do voto fez constar que não queria a extrema direita no governo, ou seja, reforçou o "não é não". O PR entrou na campanha mas de nada serviu. A extrema direita no seu conjunto andou pelos 20% dos votos. Paradoxo da narrativa da mudança: a ascenção da extrema direita faz parte da mudança de que falam mas não a querem a partilhar o bolo. Outra substileza é a da desconsideração das formalidades no tratamento do voto. É obrigatório contá-los todos para obter o resultado final. É obrigatório para apurar a maioria considerar os partidos já que as coligações se desfazem após a votação. Só no dia 20 de março se saberá quem ganhou e o que conta é o número de mandatos de cada partido. Aguardemos!
terça-feira, março 12
VOTO (5)
Outro aspeto estranho destas eleições é a falta de referências à ausência de conflitos no dia do voto. Certamente que haverá queixas e reclamações, como sempre acontece, mas não aconteceu um único boicote, nem os animadores climáticos lançaram tinta aos candidatos notáveis na hora do voto(somente na sede da candidatura da AD, pela noite). Tudo pacifico e em paz. Uma grande lição de civismo.
VOTO (4)
Coisas curiosas, nunca vistas. PNS fechou o resultado das eleições antes do fim do escrutínio. Passou à oposição antes do fim do jogo. O PR inicia consultas aos partidos antes do fim do escrutínio. Diga-se que estas consultas não são uma ideia de ocasião mas uma obrigação legal. Coloca, nas consultas, a AD como última força a ser recebida para consulta, dia 20 de março, o mesmo dia da contagem dos votos da emigração que fecham o escrutinio. Recebe uma coligação como se fosse um partido quando são pelo menos três partidos dois dos quais vão ter grupos parlamentares autónomos (sem contar o caso da Madeira ainda mais especial). O resultado final das eleições, cujos resultados são muito apertados, não é certo pois o PS pode acabar com mais deputados, e ganhar! Uma hipótese teórica, dirão, mas se quisermos ser sérios não à vencedores antes do fim do jogo. Qual a pressa? O desrespeito pelos votos dos emigrantes como se fossem excedentários quando são iguais aos outros. No mínimo, tudo muito estranho!
segunda-feira, março 11
VOTO (3)
Eleições. Os resultados dizem tudo. Nada inesperado, seguindo a trajetória do que vem acontecendo na Europa (Itália, Eslováquia, Países Baixos, Hungria...),pois não vivemos num paraíso. O PR está perdido no seu labirinto. Um clássico dos conspiradores sofisticados. O povo está lixado. Os grandes interesses deliram enquanto escolhem os comissários. É sempre assim e será de novo, na boca do cofre, regurgitando os grupos de interesse trocam mensagens alvitrando como distribuir o dote socialista sem conhecer as pedras do caminho. Mais certo é que tropeçem e cedo entreguem o poder a quem seja capaz de repor a ordem nas contas...
domingo, março 10
VOTO (2)
A participação nas eleiçoes legislativas de hoje está a ser muito superior à de 2022. É uma boa surpresa. Há eleitores que acordaram para a vida civica certamente por força da incerteza provocada pela abrupta interrupção do anterior mandato do governo. Daqui vai resultar um quadro politico muito complexo desde logo pelo fato quase inevitável da maioria depender do partido anti sistema. Apetece-me dizer antecipando os resultados: entendam-se ...
VOTO
Estou na antecâmara do voto, uma vez mais, após todas as anteriores participações, sem falhar nenhuma. Não espero uma grande participação. Ao contrário do PR penso que um novo ciclo histórico só começará quando ele próprio sair de Belém (janeiro de 2026). O exercício do voto, em democracia, na sua simplicidade, tem um valor incalculável. A liberdade não tem preço.
sexta-feira, março 8
MULHERES
A terra e o corpo eram o mundo possível; a terra penetrava os poros, tisnava a pele, sujava as feridas; a terra cantava sob a correria dos pés descalços; a terra e os corpos entoavam as canções de embalar e de trabalho, da eira ao arado, do varejo ao rabisco; olhava as mulheres como se fossem rainhas que um dia haviam de dançar mil danças rodopiando nos braços do seu par; via-as sempre a dançar em seus sorrisos e suas gritas; as mulheres do tempo de as ver somente com uma admiração que me vinha de dentro. Não sabia nada delas mas via-as e amava-as como se fossem a terra que segurava as minhas raízes ao chão da vida. (4/2/2008) Nas fotografias - A minha mãe e Guida.
AS RAZÕES DO MEU VOTO NO PS (5)
A razão do meu voto no PS, a titulo individual, assenta, desde logo, na tradição. Sempre me reconheci nos ideais socialistas que defendia de forma titubeante nas discussões acaloradas com o meu tio Ventura, homem honrado defensor do Estado Novo. Sempre o mesmo inconformismo perante a injustiça dos homens e do mundo, pela defesa do bem comum, pela aproximação à igualdade, contra qualquer tipo de opressão, pela liberdade individual, correndo os riscos do excesso que, por vezes, se pode virar contra as virtudes da crença nos amanhãs que cantam. Participei pela primeira vez na ação política numa reunião da oposição democrática, em 1965, em Faro, ainda estudante liceal. Na mesa presidia Luis Filipe Madeira, curiosamente, pai da cabeça de lista do PS pelo Algarve. Estava presente a tradição do reviralho, pinceladas de republicanismo, vozes de socialistas democráticos e olhares, além da PIDE, de comunistas sempre presentes. A tradição politica é isto, um caminho que se faz caminhando, sincero desprendimento, abertura para a diferença, olhando e ouvindo, ideias que geram ação para mudar o mundo. Sempre a ideia de mudar o mundo. Hoje como mudar um mundo à beira da guerra de que por aqui ninguém trás para a riblata da política. O PS deveria defender a paz com fervor tal como o tem vindo a fazer Guterres. Aí sim enraízaria numa tradição socialista pacifista (que não precisa de ser ingénua), e em cuja corrente me sentiria feliz. Mesmo assim acredito que é o PS que está mais próximo dessa tradição pacifista. Adiante. A tradição politica na qual me sinto hoje integrado é, pois, a do socialismo, humanista incremental, ou seja, reformista que o PS encarna (também uma parte do PSD submerso pela onda populista).
quinta-feira, março 7
AS RAZÕES DO MEU VOTO NO PS (4)
No presente poucos se referem à situação económico financeira alcançada após oito anos de governo do PS (com ou sem maioria absoluta). É um enigma que nem o PS em campanha arvore esses indicadores como bandeira. Mas a realidade é mais forte do que o esquecimento. O deficit e a divida pública situam-se em níveis de assinalável dimensão positiva. Ainda hoje foi noticidao que a França e a Alemanha entraram em crise orçamental e não se antevê, mantendo-se a politica adotada em Portugal, que possamos cair de novo em crise. O mesmo com o emprego que continua em alta, com a inflação em baixa, ou seja, nada aconselha a mudanças que ponham em causa esta trajetória. O PS, através dos seus governos, tem sido uma garantia de estabilidade orçamental e de crescimento económico que nada fica a dever à maioria dos países da UE.
quarta-feira, março 6
AS RAZÕES DO MEU VOTO NO PS (3)
É pela política que o PS vai lá! É pela política que o PS pode aspirar a ganhar eleições! Uma das linhas distintivas do PS em relação aos restantes partidos é a questão da liberdade. A defesa da liberdade pode ser penosa para outros partidos, menos para o PS. É a bandeira da liberdade que o PS não pode, em circunstância alguma, deixar de levantar porque é ela que distingue o PS, pela história e pela acção quotidiana, dos restantes partidos, à sua esquerda e à sua direita. Albert Camus, no conturbado período do pós guerra (1945) escreveu: “Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.” (…) [In Cadernos nº 4]. E Jorge de Sena, nos alvores da Revolução de Abril, em 4 de Junho de 1974, escreveu no magnífico poema “Cantiga de Maio” este verso emblemático: “Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam.” Será o eleitorado de esquerda capaz de compreender o que está em jogo nestas eleições?
terça-feira, março 5
AS RAZÕES DO MEU VOTO NO PS (2)
Todos sabem o que vai acontecer. As mulheres são maioritárias na sociedade. É certo que nem todas as maiorias geram diferenças de qualidade. Muito menos garantem a conquista do poder. Mas no caso das mulheres, no mundo ocidental, há um detalhe decisivo: o fenómeno crescente da feminização do trabalho. Vai longe o tempo heróico das utopias feministas que, em Portugal, foram protagonizadas por Maria Veleda ou Carolina Beatriz Ângelo. As mulheres são já maioritárias num conjunto alargado de profissões e exercem uma forte influência social. Toda a gente sabe quais são essas profissões. Com quotas, ou sem quotas, hoje, é a sociedade que “empurra” as mulheres para a ocupação de lugares no topo das instâncias de decisão política. Este movimento, salvo qualquer cataclismo imprevisível, é irreversível. As mulheres vão ocupar o poder. Não é por serem mulheres nem sequer por serem mais ou menos competentes que os homens. Não é por uma questão de beleza física ou de sedução mediática. Pois se a maioria do eleitorado é constituído por mulheres … É por encarnarem uma forma diferente de olhar os problemas da sociedade. É por abrirem um espaço vital para a esperança na reabilitação da política. (O PS apresenta no territorio nacional, pela primeira vez, listas para as eleições legislativas de 10 de março, com dez cabeça de lista mulheres em vinte.) Fotografia de minha mãe.
segunda-feira, março 4
AS RAZÕES DO MEU VOTO NO PS (1)
A democracia mede-se pelo grau de respeito pelas liberdades fundamentais que radicam no direito de escolha. Escolher é o contrário de ser forçado. Escolher é poder, perante várias alternativas, decidir qual é a que se adequa aos interesses e valores de cada um. O direito de escolha não limita ninguém. A sua impossibilidade condiciona. A ausência do direito de escolha contraria a liberdade, legitimando ditaduras e discriminações. Os cidadãos têm direito de escolher entre casar ou viver em união de facto; têm direito a decidir, perante a sua consciência, divorciar-se ou sujeitar-se à violência de uma relação insatisfatória; têm direito a escolher a pessoa com quem querem viver e a forma como o querem fazer, sem discriminações em função do sexo, da etnia, da orientação sexual, da deficiência ou da religião; têm direito a decidir se querem ou não ter filhos; têm direito de errar e de não ser condenados a viver ou a condenar outrem a viver os efeitos desse erro. Ajudar os cidadãos a ter a liberdade de escolher (o casamento, a união de facto, o aborto, o divórcio, a transmissão dos bens) é uma das funções mais nobres do Estado Democrático. Não o compreender, não o aceitar e não o defender deixa dúvidas sobre o grau de tolerância e de respeito pela dignidade dos seres humanos.
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