Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, abril 10
Politica - 12
Coisas simples: os revolucionários do nosso tempo, com Trump à cabeça, avançam contra a ordem estabelecida tendo em vista a sua destruição. Quem diria? O que está a acontecer não é um episódio fugaz, mas uma tendência em continuidade. "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam". Jorge de Sena
terça-feira, abril 8
Gaza
"Gaza é hoje um "campo de extermínio" e civis estão num ciclo de morte sem fim", António Guterres in telegrama da Lusa. É dificil ler esta declaração/apelo sem sentir revolta.
domingo, abril 6
Politica - 11
Coisas simples: na politica contemporânea os únicos revolucionários são de extrema direita. São contra os regimes de democracia representativa e visam destruí-los por dentro ou, se falharem o seu propósito pela via pacifica, através da violência. Os sociais democratas (socialistas, liberais e outros) disputam o tempo, o modo e o grau de politicas conservadoras no sentido daquelas que visam conservar o regime democrático. Desta vez não posso estar do lado dos revolucionários, apesar de ser anticapitalista como sempre, desde o princípio do tempo. (Isto vem a propósito das reações ao programa do PS que, dentro do campo social democrático, mostram que existem fações vivas que se debatem).
quinta-feira, abril 3
Politica - 10
Coisas simples: como já identificado por muitos especialistas, o reforço do orçamento em defesa, e respectivas despesas, vai gerar crescimento da dívida, erosão do excedente, compressão da despesa com o "estado social" (um hibrido de todos estes efeitos). Não vale a pena a maçada dos malabalismos retóricos que a coisa é séria, instantânea e pesada. A insinuação de V. Ex.ª o emproado da abertura de corredor verde para a contratação destas despesas, a concretizar-se, abriria portas (portas, Deus nos cuide) à atividade do MP multiplicada por 100.
terça-feira, abril 1
Politica - 9
Coisas simples: Medina disse que não pretende integrar as listas de candidatos a deputados nas legislativas. Eu também não. Alguém o convidou? A mim também não! Ao PS não interessa ganhar estas eleições e alguns ganham distância. Vitórias de Pirro, são as piores.
domingo, março 30
Politica - 8
Coisas simples: “A extrema-esquerda está a destruir a esquerda democrática por dentro”, diz Barreto. Pensei que, nos nossos dias, o mais relevante fosse a extrema direita a destruir a democracia por dentro.
sexta-feira, março 28
Politica - 7
Coisas simples: algures pelo final do ano de 1975 Portugal tornou-se numa democracia pluralista. Em eleições livres elegem-se deputados apresentados à sociedade por partidos politicos. Assim se forma uma assembleia que foi batizada da República, de onde emana o governo. Não é a assembleia que emana do governo.
quinta-feira, março 27
Dia Mundial do Teatro
O dia 27 de março é consagrado como Dia Mundial do Teatro. Sempre assinalo esta data não por mera celebração de uma efeméride mas porque o teatro desempenhou um papel muito importante na minha vida. Na alta adolescência, por altura do meu 6ª ano do liceu, num tempo de trevas culturais, o meu irmão deve ter impulsionado a minha aproximação à atividade teatral. As relações com o Dr. Emílio Campos Coroa haviam sido estreitadas e daí resultou a minha integração no Grupo de Teatro do Circulo Cultural do Algarve - mais tarde "Teatro Lethes" - após ter já sido iniciado pelo Dr. Joaquim Magalhães nas atividades teatrais do liceu. Foi uma oportunidade de intensa sociabilização, aprendizagem da arte do teatro e exigente exercício de enfrentamento dos públicos. Muita entrada em cena, muito palco e fala e obrigatório conhecimento de dramaturgos de referência. Somente a minha saída da cidade de Faro para Lisboa me separou desta experiência que marcou a minha formação pessoal e cultural para sempre. Bem hajam aqueles que me impulsionaram e acompanharam nessa formalizável experiência teatral. (Na foto "Nuvens", de Teresa Dias Coelho)
quarta-feira, março 26
Ética
“Persistem ainda algumas dúvidas pessoais sobre a ética. Supomos que viver eticamente será uma tarefa difícil, desconfortável, de abnegação e, geralmente, sem qualquer recompensa. Concebemos a ética separada do interesse pessoal; supomos que aqueles que fazem fortunas com negócios baseados em informação privilegiada ignoram a ética, embora sigam eficazmente o interesse pessoal (desde que não sejam apanhados). Fazemos exactamente o mesmo quando preferimos um emprego mais bem pago, ainda que tal signifique que vamos ajudar a fabricar ou a promover um produto que não faz bem nenhum ou que provoca doenças nas pessoas. Por outro lado, pensa-se que aqueles que deixam escapar as oportunidades de progredir na sua carreira por causa de “escrúpulos” éticos acerca da natureza do trabalho, ou que desistem do seu bem-estar a favor de boas causas, estão a sacrificar os seus próprios interesses para obedecer aos ditames da ética. Pior ainda, podemos vê-los como papalvos, que deixam escapar todo o divertimento que podiam estar a ter, enquanto os outros tiram partido da sua vã generosidade.”
segunda-feira, março 24
Politica - 6
Coisas simples. Diz o cronista "a esquerda está a desaparecer", no tempo do prec dizia-se o mesmo da direita. As autocracias crescem em número e violência. O ditador turco (da Nato) mandou prender o seu opositor. O ditador americano (da Nato) mandou prender um palestiano com autorização de residência. O ditador israelita ... todos têm impetos imperiais de conquista à maneira do século XIX. As democracias prevertidas e os povos a sofrer com a guerra. Estamos em guerra.
sábado, março 22
Politica - 5
Coisas simples. A crise da habitação: o incentivo à procura sem aumento da oferta faz subir os preços. Aumentar a despesa na defesa faz com que aumente o deficit, ou mingue o estado social ou cresça a dívida (ou um hibrido de todas, é escolher). Dois mega problemas para qualquer governo nos próximos tempos, em modo explosivo no tempo e na dimensão.
sexta-feira, março 21
Dia Mundial da Poesia
Como as palavras as imagens, que tomamos como nossas, são um bocado do imaginário que sobrevive à decapitação dos sonhos. Caminhamos por entre escombros.
Quando minha mãe morreu nos meus braços não chorei. Só chorei quando, velando o seu corpo, me surgiu pela frente uma vizinha que frequentava a minha infância. O imaginário, naquele breve momento, tomou de assalto as minhas defesas que ruíram com estrondo.
Percebi a leveza insustentável dos corpos depois de mortos e a infinita fraqueza que se esconde por detrás da nossa aparente normalidade.
quarta-feira, março 19
Dia do pai
O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
terça-feira, março 18
MARÇO
“18 de Março de 41.
Os montes por cima de Argel transbordam de flores na primavera. O aroma a mel das flores derrama-se pelas ruazinhas. Enormes ciprestes negros deixam jorrar dos seus cumes reflexos de glicínias e de espinheiros cujo percurso se mantém dissimulado no interior. Um vento suave, o golfo imenso e plano. Um desejo forte e simples – e o absurdo de abandonar tudo isto.” -
Albert Camus -
Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
domingo, março 16
16 de março 1974
Cumpria, como Oficial Miliciano, o serviço militar obrigatório no 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (2º GCAM), onde hoje está instalada, no Campo Grande, em Lisboa, a "Universidade Lusófona". Depois de conhecidas as notícias do avanço da coluna militar, a partir das Caldas da Rainha, instalou-se uma grande agitação no quartel. 16 de março era sábado e eu estava lá talvez porque estivesse de serviço. Finalmente surgia uma manifestação concreta de revolta militar mas pairavam no ar notórias dúvidas e incerteza acerca do destino do golpe. Pela manhã desse dia recebi ordem do Comandante para recolher ao quarto. Estive, de facto, preso por um breve periodo. Após o golpe ter fracassado, na manhã seguinte, mandaram-me sair. Fiquei aliviado. Iniciava-se, assim, a fase final do verdadeiro e decisivo golpe militar. Não o podíamos adivinhar mas o "Estado Novo" que, desde a ditadura militar, instaurada pelo golpe de 28 de Maio de 1926, iria perfazer 48 anos, estava a breves semanas do fim. Várias gerações de portugueses viveram toda, ou grande parte, das suas vidas sem conhecerem a cor da liberdade, pesando sobre as cabeças dos conspiradores a responsabilidade de pôr fim ao pesadelo.
sábado, março 15
Politica - 4
Desde 25 de abril até ao presente o cargo de 1º Ministro foi desempenhado por 17 personalidades. Passando em revista a lista pode dizer-se que em Portugal não existe a tradição do 1º Ministro rico, ao contrário de outros países, como é o caso, mais recentemente, dos USA, Alemanha e Canadá. Não conheço nada do património destas personalidades mas, por cá, são todos, com mais ou menos larguesa, remediados. Nos primeiros tempos não havia obrigação declarativa de património e pertenças (interesses). Com o tempo as coisas evoluiram e hoje nada pode ser omitido nas declarações obrigatórias. Falta, ao que parece, em alguns casos, cumprir com a ética republicana... que não se compadece com burocracia. Eis-los:
Adelino da Palma Carlos,
Vasco Gonçalves,
Pinheiro de Azevedo,
Mário Soares,
Alfredo da Costa,
Mota Pinto,
Maria de Lurdes Pintasilgo,
Francisco de Sá Carneiro,
Francisco Pinto Balsemão,
Aníbal Cavaco Silva,
António Guterres,
José Manuel Durão Barroso,
Pedro Santana Lopes,
José Sócrates,
Pedro Passos Coelho,
António Costa,
Luis Montenegro,
quinta-feira, março 13
Politica - 3
Já aconteceu outras vezes no passado. Lembro-mo da ascensão de Santana Lopes a 1º ministro, para ser simpático, um erro de casting de Sampaio. Todo esse episódio foi
um momento de tragicomédia em que a política pura, a que eleva acima da defesa dos interesses particulares o interesse geral, ameaça ser submersa pela pura traficância de interesses, arremesso de ódios e promessas populistas.
segunda-feira, março 10
Politica -2
Chegados aqui vamos ter eleições. Um ano depois de outras que nos trouxeram aqui. Não confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro do homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade. Convém não diabolizar as eleições, como exercício dessa liberdade.
sábado, março 8
Politica
A minha juventude fui muito marcado pela leitura de Albert Camus. Não sei já identificar, com precisão, a origem desse interesse mas o certo é que me iniciei em Camus através da leitura dos Cadernos. O encanto estava, e está, na escrita fragmentada um misto de diário e reflexão filosófica. Uma das reflexões que sublinhei pelos meus 20 anos foi esta: “Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.” A violência na politica é algo terrível e daí o insucesso de muitas incursões daqueles que não são capazes de "matar o adversário". Há muitos exemplos entre nós que não vou referir mas que só dignificam os seus percursos pessoais. E agora aqui chegados? (Continua).
Mulheres
“As rosas retardatárias de Santa Maria Novella e as mulheres, neste domingo de manhã em Florença. Os seios libertos, os olhos e os lábios que vos fazem bater o coração, a boca seca e um calor nos rins.” Albert Camus, in Núpcias
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