sábado, novembro 29

O exílio da Corte

Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.

quarta-feira, novembro 26

Abril

O trabalho que o 25 de abril deu a fazer foram anos e sacrificios sem fim de uma multidão de gente que sempre acreditou que a ditadura teria um fim mas não era fácil acreditar e muitos desistiram pois acreditar sempre é dificil, um dia uns dez antes de abril dei por mim sem saber do lado certo da história e tanta coisa me podia acontecer.

terça-feira, novembro 25

As trágicas inundações de 25 novembro de 1967

No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. Chovia muito, mas não estranhei porque, ao contrário de hoje, era normal chover nesta época do ano. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente. Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, e devo ter-me dirigido ao Técnico para me juntar à gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos. O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica. Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade de ação. Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão. No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.

segunda-feira, novembro 24

25 de abril

Durante todo aquele tempo desde a madrugada de abril os rostos vincados vozes ao longo das ruas incrédulas perdidas nos olhos que sabia me olharem longe sem sabermos como fazer o encontro no dia claro que amanheceu o único que recordo e celebro.

sexta-feira, novembro 21

Os candidatos presidenciais de 2005 - 28 novembro a pensar no 25

Parece ser claro que se desenharam dois nacionalismos na disputa presidencial: um nacionalismo de direita, encarnado por Cavaco Silva, e um nacionalismo de esquerda, o “quadrado vazio” que Manuel Alegre tenta preencher. Mário Soares, na verdade, o único verdadeiro patriota, com provas dadas, é esconjurado por aqueles que ele próprio defendeu, na primeira linha, no 25 de Novembro. Falo com à-vontade pois, à época, estava do outro lado. É verdadeiramente vergonhoso o apagamento de Mário Soares da efeméride – mal amanhada – do 25 de Novembro de 1975. O que seria daqueles militares que se pavoneiam como heróis da vitória da democracia representativa – a chamada ala moderada – incluindo a esfinge que dá pelo nome de Ramalho Eanes – não fora o papel político desempenhado por Mário Soares. Cavaco não desempenhou papel nenhum, em coisa nenhuma, verdadeiramente importante na história recente de Portugal. Governar 10 anos, com 1 milhão de contos a entrar no país, em cada dia, não é glória para ninguém. Sê-lo-ia se Portugal apresentasse, hoje, níveis de desenvolvimento socio-económico, no mínimo, semelhantes à vizinha Espanha cujo deficit das contas públicas anda ao nível dos 0%. Alegre, além de poeta e deputado, sempre foi um ajudante de Mário Soares e nada mais. Representa, nestas presidenciais, uma fracção do PS à qual se juntaram algumas personalidades e cidadãos de boa vontade. O problema de Mário Soares é estar “entalado” entre dois nacionalismos, de sinais contrários, como no 25 de Novembro, estava “entalado” entre dois radicalismos de sinais opostos. Soares, no fundo, é um internacionalista. Tem uma visão da Europa próxima do federalismo e uma visão do mundo que se opõe à luta entre todos os radicalismos, sejam de natureza económica, religiosa ou militar. Os políticos paroquiais levam a melhor sobre os políticos universais. A imagem de um presidente messiânico – autoritário ou sonhador – que vende a panaceia da cura dos males da nação tem vantagens na conjuntura actual. A imagem de um velho político lutador pela justiça e liberdade tem a desvantagem de representar a realidade, pura e dura, dos males da nação arrostando com os malefícios dos efeitos imediatos das políticas destinadas a corrigi-los. Soares é o candidato da situação. Todos os outros são candidatos da oposição. Irónico! O problema é quando, mais tarde, passados, no máximo, dois anos todos se derem conta que afinal os males são os mesmos e o Messias, vencedor de hoje, amanhã, virou besta.

quinta-feira, novembro 20

AR

Por razões de trabalho fui ontem à Assembleia da República e na entrada lateral, enquanto esperava, pelas 10h da manhã vi sair uma fila interminável de trabalhadoras. Seriam talvez umas trinta que estariam largando o serviço prestado a partir de manhã cedo, para que o edificio possa ser utilizado pelos que lá trabalham. Foi fácil verificar que eram, exceto uma, todas imigrantes.

quarta-feira, novembro 19

Presidenciais - 2

Apesar da maçada estou a assistir aos debates presidenciais, como se fosse um dever, herança de um passado atento à politica. Nada de novo. Pelo que pude verificar há 32 putativos candidadatos e entre eles somente 4 mulheres. Vão restar uns 8 com hipóteses de obterem acima de 0,5%. Nem um fora do caucasiano, branco mais branco não há, apesar da diversidade que se pode observar nas ruas e espaços comuns. Nos dois debates os lugares comuns são mais que muitos. O debate politico está mais pobre. Faltam 26...

segunda-feira, novembro 17

Presidenciais

Vão hoje começar os debates entre candidados nas eleições presidenciais (alguns segundo critério que não entendo), e segundo modelo tradicional. A minha primeira impressão de debates que ainda não vi pois não existiram é: uma grande maçada!

sábado, novembro 15

1867

Deparei-me hoje com um artigo na revista do Expresso acerca de António Pereira de Figueiredo que foi o tradutor da bíblia para português. Nunca tinha dado atenção à personagem mas recebi de herança uma bíblia editada em 1867 que ostenta o seu nome. Curioso este ano de 1867 pois nele foram aprovados o Código civil, o Código cooperativo e abolida a pena de morte. Um ano de grandes reformas que, no essencial, perduraram até ao presente.

sexta-feira, novembro 14

Justiça

O tema é um clássico, tão antigo quanto o homem em sociedade. Um homem a julgar outro homem. Quem nos defende da violência silenciosa dos atrasos da justiça? Ou da sua ação tendenciosa eivada de preconceitos e mal entendidos. Tantos erros de comunicação que escondem outros que nunca saberemos dos seus segredos. Quem nos defende?

quarta-feira, novembro 12

Greve Geral

Compreendo a perplexidade de muita gente com a convocação da greve geral de 11 dezembro. Uma greve geral é um último recurso dos trabalhadores, através das suas organizações de classe, os sindicatos, em situações limite nas quais se incluem a perda total de direitos dos trabalhadores, tentativa de derrube do regime democrático, iminência de guerra com mobilização militar... A maioria pode ter interiorizado que nenhuma destas situações está, no presente, em causa. Mas têm mesmo a certeza? Camus lembra que "A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação "por peça"." Hoje uma greve geral pode nem sequer desencadear qualquer movimento do mesmo tipo, mas pode ser desencadeada por um processo silencioso de descontentamento com a intransigência na defesa de valores absolutos, dispensando o debate autentico em prol de acordos equilibrados. E mais não digo.

terça-feira, novembro 11

A nova linha editorial do CM

"A greve geral marcada para dezembro foi diminuída pelo primeiro-ministro com a velha tese de que as centrais sindicais estão ao serviço do PS e do PCP. A velha cassete da manipulação política do movimento sindical que dá para tudo, incluindo para algumas tragédias históricas, como aconteceu nos anos 70 na América do Sul, quando a CIA fomentava golpes de Estado com a cartilha anticomunista. Os tempos são diferentes, obviamente, mas a estratificação social e económica mudou pouco. Temos um Governo próximo dos patrões, fraco na sensibilidade social, agarrado a chavões como a competitividade, que olha para o trabalho como um mero instrumento do seu próprio poder, quanto mais barato e descartável, melhor. Uns têm cada vez mais poder e dinheiro, outros vivem vidas marcadas pela falta de casa, saúde, educação. No meio, Governos, como o atual, incapazes de impor a sua própria visão sobre a economia à bolha a empresários que andam, há uns bons trinta anos, a produzir impunemente escaldões no erário público, de que o Novo Banco e o BPN são ainda trágicos exemplos e despesa pesada. Tudo por conta do Zé pagante, apesar de cada vez mais precário, mais endividado, menos valorizado e menos no centro da política." Eduardo Dâmaso, in Correio da Manhã

domingo, novembro 9

Benfica

Uma formidável lição de associativismo foi a que resultou das eleições no Benfica - enquanto clube com a forma de associação. Sabiam que integra a economia social? Pois sim. Até se discutiu, de forma aberta, acerca dos modelos de representação pelo voto, neste caso fora do principio basilar de "uma cabeça um voto". Em todo o caso uma lição de associativismo.

sábado, novembro 8

Um caso notável

Um muçulmano foi eleito em Nova York. Trata-se de um acontecimento notável. Podia um cristão ser eleito num país muçulmano? Primeiro era necessário que a democracia existisse, segundo que a tolerância religiosa o admitisse.

quarta-feira, novembro 5

Saúde (2)

Ainda a saúde. Continuo sem médico de família, pago impostos e muito, todos pagamos muito, conforme as nossas possibilidades, e conforme as expetativas, e as regras gerais, temos direito a médico de família. O que aconteceu, recentemente, é bastante inqueitante. A mais alta responsável pela saúde no governo, que não conheço, e mostra ser uma pessoa diligente, fez afirmações inaceitáveis, embora na corrente dos tempos atuais. Como tem sido muito comentado mas receio não seja apreendido pela maioria entrou no terreno da xenofonia e do racismo. Sim os pobres que são, com os remediados, a maioria da população tem direito ao SNS. Em igualdade com os ricos que dele beneficiam sempre que os privados se deparam com situações complexas e de dificil abordagem e resolução. Tenho experiência familiar do que afirmo. O processo que está em curso, próprio de um governo com o perfil do atual - nada de estranhar - é a privatização da saúde alavancada pela degradação do SNS. Negócios, negócios... é uma banalidade o que digo mas é o que é... e não sei que esperar deste governo com outra ministra, ou de governo diverso deste, com equilíbrio, justiça e compaixão.

domingo, novembro 2

sábado, novembro 1

quinta-feira, outubro 30

Ephemera

Fui hoje, a convite da Ephemera, participar na inauguração da exposição, na Mitra em Lisboa, de parte do arquivo de Sá Carneiro. Foi um encontro de dirigentes atuais e antigos do PSD com algumas intervenções muito interessantes por mostrarem as inúmeras facetas politico ideológicas do PSD. Pacheco Pareira é alma de um arquivo monumental no qual um dia destes já me propus trabalhar numa área muito especifica.

quarta-feira, outubro 29

Saúde

Desde 2023, após um longo período, foi-me atribuido médico de familia. Foi uma experiência positiva estabelecendo-se uma relação de confiança com consultas e outras iniciativas relevantes. Desde há uns meses acabou e devo confessar que sinto a falta e me interrogo acerca da politica pública na área da saúde. Nada que não se saiba destas falhas, o que quer que seja, mas é sempre diferente quando nos toca. Todos os indícios apontam para uma crise sistémica que a comunidade tem de encarar e resolver através de um debate nacional estruturado e lançado em bases sérias. Não sei quem será capaz de tomar a iniciativa.

segunda-feira, outubro 27

Aniversário

No dia de aniversário do meu filho Manuel saudo a vida que irrompe e nos preserva do esquecimento do mundo.