sexta-feira, outubro 7

Bem vistas as coisas ...


Fotografia in “on Namah Shivaya”

”Bem vistas as coisas, se fizermos uma análise sincera da contestação social às medidas anunciadas, e concretizadas, pelo governo socialista, muitas corporações sentir-se-iam bem mais confortáveis com um governo de direita.”

Já está disponível no site do “Semanário Económico” o artigo que subscrevo com os título e "entrada" em epígrafe.

quinta-feira, outubro 6

Lisboa e Porto/Últimas Sondagens


Fotografia de José Marafona

As sondagens mais recentes, para as eleições autárquicas, em Lisboa e Porto, dão vantagem à direita. Com algumas curiosidades. No Porto, tomando sempre como referência as sondagens da U. Católica (para mim, as mais credíveis), a coligação PSD/PP desce 12 pontos entre Julho e Outubro e o PS sobe 7 pontos, no mesmo período. A diferença, na sondagem mais recente, cifra-se em 7 pontos. Vejam os comentários... .

Em Lisboa a diferença, entre PSD e PS, cifra-se nos 5 pontos, favoráveis ao PSD. Aqui, entre Julho e Outubro, o PSD mantém a mesma pontuação (36) e o PS desce 10 pontos. Mas é necessário levar em conta, em qualquer caso, o enorme peso dos indecisos.

A minha expectativa é que, no Porto, o PS se vai aproximar do PSD, até ao fim, podendo acontecer uma surpresa. Em Lisboa, apesar da diferença actual, entre PSD e PS, ser menor do que no Porto, será mais difícil ao PS captar o voto dos indecisos.

Em qualquer caso ninguém deve contar com vitórias antecipadas. Em Lisboa e Porto a direita tem mais hipóteses de ganhar mas o PS pode “marcar no último minuto”. Ninguém vai ficar de pernas cruzadas …

Actualização - as mais recentes sondagens da Intercampos (presenciais) mostram uma subida do PS em Lisboa e no Porto. Se os seus resultados colassem á realidade, o que duvido, significaria um volte face, ou seja, aquele golo do PS no último minuto.

Ver no Margens de erro.

O Poeta em Lisboa


BB - 1956

Quatro horas da tarde.
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.

Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.

Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.

Pede um cigarro. Fuma.
Labaredas loucas saem-lhe da garganta.
Da bruma
espreita-o uma mulher nua, branca, branca.

Fuma mais. Outra vez.
E atira um braço decepado para a mesa.
Não pensa no fim do mês.
A noite é a sua única certeza.

Sai de novo para o mundo.
Fechada à chave a humanidade janta.
Livre, vagabundo
dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.

Sonâmbulo, magnífico
segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado.
Um luar terrífico
vela o seu passo transtornado.

Seis da madrugada.
A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa.
Defende-se à dentada
da vida proletária, aristocrática, burguesa.

Febre alta, violenta
e dois olhos terríveis, extraordinários, belos.
Fiel, atenta
a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos.

António José Forte

Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda.

Judith and Holofernes


Francesco Furini - Judith and Holofernes -1636 [Oil on canvas, 116 x 151 cm Galleria Nazionale d'Arte Antica, Rome]

Obra que me ocorre divulgar após passar, por breves instantes, pelos debates televisivos entre candidatos às eleições autárquicas, sem prejuízo da beleza intrínseca da pintura que muito aprecio.

Nos debates está a avaliar-se o quê? A obra realizada? Como? Quais os critérios e os termos de comparação para afirmar que este candidato é mais capaz do que aquele. E a propaganda: os cartazes, as palavras de ordem, os formatos, a imagem física dos candidatos, os suportes utilizados? (após um circuito pela zona rural do concelho de Sintra).

Nas campanhas eleitorais não se exigem prodígios na arte de debater no lugar do puro confronto, nem exposições de arte no lugar da propaganda. Mas que diabo, um pouco mais de decência e de bom gosto sempre ajudavam a prestigiar a nobre arte da política.

quarta-feira, outubro 5

UMA LÁGRIMA


Lágrima de Cláudia Perenzalez

uma lágrima
não minha
mas dela
caída
no recado
da despedida

as mãos
me escaparam
de seu corpo
distante
que esquecera
e procurara
tarde de mais

a lágrima secara

In “ Ir pela sua mão”
Editora Ausência - 2003

REPÚBLICA


Imagem e texto in “O Portal da História”

A CONSTITUIÇÃO DE 1911

Texto constitucional aprovado, após largo debate, em 21 de Agosto de 1911, pela Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrágio directo, em consequência da revolução republicana de Outubro de 1910.

A República foi proclamada em Lisboa em 5 de Outubro de 1910. Desse mesmo dia data a organização do Governo Provisório, que, dispondo dos mais largos poderes, se ocupou da administração do País e foi presidida por Teófilo Braga. A Assembleia Constituinte reuniu-se, pela primeira vez, em 19 de Junho de 1911; sancionou a revolução republicana, e veio a eleger uma comissão encarregada de elaborar o projecto-base do novo texto constitucional.

Foram apresentados à Assembleia textos como o de Teófilo Braga. Basílio Teles publicou também umas bases de Constituição. A discussão que precedeu a aprovação da Constituição foi, bastante larga, incidindo principalmente sobre o problema do presidencialismo, orientação que foi rejeitada, e sobre a questão da existência de uma ou duas Câmaras.

Veja aqui uma breve história da República (1910 a 1926)

"O que ilumina o mundo ..."


EXPO (Lisboa) - Fotografia de “Sombra de Prata”
in Olhares

“O que ilumina o mundo e o torna suportável é o habitual sentimento que temos dos nossos laços com ele – mais particularmente do que nos liga aos seres. As relações com os seres ajudam-nos sempre a continuar porque pressupõem desenvolvimentos, um futuro – e também porque vivemos como se a nossa única tarefa fosse precisamente o manter relações com os seres.

Mas nos dias em que nos tornamos conscientes de que não é a nossa única tarefa, sobretudo nos dias em que compreendemos que só a nossa vontade conserva esses seres ligados a nós – deixem de escrever ou de falar, isolem-se e verão como eles fundem em vosso redor – verão como a maioria está na realidade de costas voltadas (não por malícia, mas por indiferença) e que o resto conserva sempre a possibilidade de se interessar por outra coisa, quando imaginamos desta forma tudo quanto entra de contingente, de jogo das circunstâncias no que costuma chamar-se um amor ou uma amizade, então o mundo regressa à sua noite e nós a esse grande frio de que a ternura humana por um momento nos tinha afastado.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

EMPATES


Isaltino e Seara à frente, respectivamente, em Oeiras e Sintra, em todas as sondagens mas por diferenças mínimas. Sendo assim estamos perante empates técnicos nas disputas eleitorais entre Isaltino Morais e Teresa Zambujo e Fernando Seara e João Soares. Tudo pode acontecer!

terça-feira, outubro 4

JANIS


JANIS JOPLIN - 19 de Janeiro de 1943 - 4 de Outubro de 1970.

"O Dia do Tempo"


“Correrias da minha infância” – Fotografia de Hélder Gonçalves

O meu filho (14 anos) acabou de ler ontem, quase de um só fôlego, as 800 páginas de “Eldest”, de Christopher Paolini. Boa leitura? Má leitura? Foi escolha dele, leitura dele, prazer dele. Cada um toma as leituras que quer. As leituras não se medem aos palmos mas eu nunca li, de um só fôlego, (ou quase), um livro de 800 páginas.

O mais extraordinário é que ele lê nos intervalos de uma parafernália tremenda de mensagens, imagens e sons. É interessante como a leitura exige, como sempre, recolhimento. Os saberes estratificam-se no silêncio e, ao mesmo tempo, na trepidação de uma cascata de interesses contraditórios.

Nesta estrada, repleta de encruzilhadas, as leituras impostas pela escola são uma espécie de violentação da liberdade de escolha: ele nunca escolheria Camões (“Os Lusíadas”) ou Gil Vicente (“O Auto da Barca do Inferno” e o “O Auto da Índia”). São as leituras “chatas” que, no caso de Gil Vicente, quase sei de cor. Sorte dele.

Os desejos e as obrigações exigem um balanceamento difícil das nossas disponibilidades. Em todas as idades e condições. Na maioria dos casos um balanceamento impossível. É essa a raiz de um dos dramas maiores da nossa sociedade: e escola e suas taxas avassaladoras de insucesso e abandono escolar.

É preciso tempo (em todos os sentidos) para ganhar disponibilidade e nunca há tempo para nada mesmo quando não se tem nada para fazer. É esta uma marca terrível do nosso tempo. Devia ser criado o “dia do tempo”.

Desconhecida


Marilyn Monroe

“Agora que sabe o seu preço, sente-se frustrado. A condição da posse é a ignorância. Até mesmo na ordem física: só possuímos bem a desconhecida.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

segunda-feira, outubro 3

ALGO DE PODRE NO REINO DE GEORGE W. (2)


Continue a acompanhar no NEW YORK ON TIME "Algo de Podre no Reino de George W. (2)".

O QUE EU QUERIA


Teresa Dias Coelho - CLOUDS 2000 [Oil on canvas 46 x 73 cm]

O que eu queria não posso pedir que escapa
À sem razão de não obter o que eu queria era
Neste dia assim aberto um olhar liso e claro
Na direcção do meu sorriso que espera longo.
Aguento, aguento-o, dia após dia, abro e fecho
A mão e agarro o que eu queria num momento
Mas no outro se me cava a ruga funda no meio
Da testa e se me enche o fundo da pele de suor.
O que eu queria não posso dizer senão talvez
A alguém que és tu que já o sabes bem melhor
Do que eu quando digo que não falo mais nisso.
O que eu queria me desses neste dia maduro
Era o teu sorriso vibrante fixado para sempre
Na vida para além de mim e do que eu queria.

22/9/81

(Um dos primeiros poemas que escrevi, com intencionalidade,
dedicado à G.)

domingo, outubro 2

LUIZ PACHECO


Acabei de ler o “Diário Remendado (1971-1975)” de Luiz Pacheco, da D. Quixote. Uma diário autobiográfico, ou algo que se aproxima do género. Não se trata, certamente, de uma obra-prima mas é leitura muito interessante para aqueles que se interessam pelo percurso de alguns dos chamados escritores portugueses malditos do nosso tempo.

Ao que consta do posfácio de João Pedro George, “biógrafo improvável” de Pacheco, segundo as palavras do próprio, este texto “é um fragmento de um diário muito mais vasto”. O que supõe que outros diários possam vir a surgir no futuro.

Retenho duas curiosidades que me tocaram pessoalmente: a descrição dos acontecimentos do dia 25 de Abril de 1974, por Pacheco, que termina com estas duas frases esplêndidas: “Foi bonito e foi rápido. Já posso morrer mais descansadinho.”

Ainda a revelação de que Aldina, uma “pintora com biografia”, mulher de António José Forte, segundo Pacheco, votou no MES nas eleições para a Assembleia Constituinte de 25 de Abril de 1975. Uma boa companhia.

Veja aqui uma parte da obra de Luiz Pacheco.

ALL-STARS


Uma relíquia: as primeiras All-Stars de meu filho.

sábado, outubro 1

ALGO DE PODRE NO REINO DE GEORGE W.


Leia no NEW YORK ON TIME Algo de podre no reino de George W.

Agora que tanto se fala de corrupção em Portugal, para não falar do Brasil, vale a pena conhecer os mais recentes escândalos de corrupção no "reino de Bush" ou, de como “o exemplo vem de cima”.

O PAÍS DO AMOR


Fotografia de Delphine Le Berre Apresentando Xupacabras

“O desejo físico brutal é fácil. Mas o desejo ao mesmo tempo que a ternura exige tempo. É preciso atravessar todo o país do amor antes de encontrar a chama do desejo. Será por isso que, ao princípio, desejamos tão dificilmente o que amamos?”

Albert Camus


Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

Sei-os de cor


E deus criou a mulher

Sei-os de cor (em quatro andamentos e um poema) - Desculpem lá qualquer coisinha mas este é um post absolutamente extraordinário

FARO - O PS VAI GANHAR?


Faro - Cidade Velha

O desenlaçe das eleições autárquicas em Faro interessam-me muito, além do mais, por ser a minha cidade.

A última sondagem conhecida da universidade católica, bastante credível, pela sua metodologia, fazem crer que o PS pode mesmo ganhar.

Ver em Margens de erro

sexta-feira, setembro 30

AI!


Sabor – Fotografia de Hélder Gonçalves

O grito deixa no vento
Uma sombra de cipreste.

(Deixai-me neste campo
chorando.)

Tudo se perdeu no mundo.
Não ficou mais que silêncio.

(Deixai-me neste campo
chorando.)

O horizonte sem luz
está mordido de fogueiras.

(Já vos disse que me deixeis
neste campo
chorando.)

Federico Garcia Lorca
Traduzido por Eugénio de Andrade

AY!

El grito deja en el viento
una somba de ciprés.

(Dejadme en este campo
llorando.)

Todo se ha roto en el mundo.
No queda más que el silencio.

(Dejadme en este campo
llorando.)

El horizonte sin luz
está mordido de hogueras.

(Ya os he dicho que me dejéis
en este campo
llorando.)