quinta-feira, outubro 17

O País

O país é pequeno, pobre e periférico. Rico em história e espírito, pobre na fazenda. Os dois processos em curso na comunicação (e um deles no tribunal) mostram à evidência como se tecem os fios que sustentam espertos desvalidos e as elites falidas em vias da insolvência. O BES/GES, dito de outro modo, a banca, e a bola, dito de outro modo, o futebol, antros insondáveis de corrupção. Tanto que faz falta a banca ética e o futebol jogo, que passam por utopias. Segue a dança que se não sabe se no presente, outros, ou os mesmos, modernizados ou transfigurados, não se afadigam, na casa das máquinas, a surripiar a pouca fortuna produzida pela boa gente de trabalho.

segunda-feira, outubro 14

Debate

Um dos aspetos que me suscita maior perplexidade, na questão atual do Orçamento de Estado, é o cerco ao PS tomando como uma das armas de arremeço o debate, a contraposição de ideias, o exercício do contraditório. Salvo a avaliação dos estilos de cada um dos interventores o que resta de saudável na vida democrática, senão o debate de ideias. E a verdade é que, obervando objetivamente o panorama, somente no PS aflora o debate - interno e externo - empurrado, pelo unanimismo dos restantes partidos, para o campo de uma realidade estranha e, quiçá, censurável

quarta-feira, outubro 9

Democracia e liberdade

A grande vantagem da democracia parlamentar é acolher as mais diversas opiniões organizadas, mais ou menos virulentas, mais ou menos assertivas, mais ou menos coloridas, mais ou menos cínicas; a grande vantagem da democracia é servir de palco à liberdade, através da livre expressão de opiniões diversas, que se confrontam, e da afirmação dos espíritos críticos que, sem reserva mental, criam espaços de confluência mesmo quando no ruído imediato tudo parece ser divergência. É um labirinto que cada um de nós pode entender melhor se for capaz de reflectir um tempinho acerca da sua experiência pessoal, profissional ou familiar. Tudo se ganha, e nada se perde, com o exercício da liberdade. Essa liberdade que os mais jovens consideram natural e os mais velhos ostentam como uma conquista. Mas mesmo na democracia é preciso exercitá-la pois a democracia é um lugar que, por ausência do exercício da liberdade, se pode tornar a antecâmara da tirania. A história ensina-nos, com abundantes ilustrações de eventos trágicos, que não vale a pena citar, como a democracia é delicada. Por isso, neste debate, como noutros, compreendo bem, e aprecio, a energia, e a plasticidade discursiva do 1º ministro, e as réplicas não menos notáveis, e tenazes, de alguns dos tenores da actual oposição parlamentar. O debate político exige uma forte capacidade de argumentação, fundadas convicções, conhecimento dos detalhes, fina sensibilidade para passar no crivo do julgamento público, instantâneo, que a mediatização absoluta dos nossos dias, impõe, de forma implacável, como uma espécie de ditadura que, paradoxalmente é, ao mesmo tempo, a última salvaguarda da liberdade.

terça-feira, outubro 8

Liberdade de imprensa

Qualquer um de nós tem a experiência pessoal de aceder à informação mais cedo do que os meios de comunicação tradicionais. A sua lentidão chega a ser enervante para qualquer internauta amador, mediano e sénior, como é o meu caso. Quanto mais para os jovens formados na era digital. Alguma imprensa tradicional tenta recuperar audiências através de enlaces com a “imprensa digital”. Pode ser que dê para adiar, ou atenuar, as perdas mas é um pouco como aquela fase dos primórdios do cinema a cores em que se tentou colorir a fita a preto e branco. . Não dá porque a revolução tecnológica não vai parar e, pelo contrário, vai acelerar a democratização do acesso à produção e divulgação, simultânea, de conteúdos (maus, assim-assim e de boa qualidade) na esfera das chamadas redes sociais. Esta dinâmica parece não ter regresso, inviabilizando a apropriação pelo velho modelo de imprensa dos novos suportes tecnológicos que explodem e se consolidam, quer em quantidade, quer em qualidade. Acrescentemos ainda a IA. Os governos esbracejam mas não invertem o sentido do progresso restando-lhes, sendo democraticos, cuidar da liberdade de imprensa. A coisa está difícil!

domingo, outubro 6

Guerra iminente

Tudo aponta para que no 1º aniversário do massacre de 7 de outubro o governo de Israel, apoiado diretamente pelos USA, lançe um ataque contra o Irão. Se assim for estará aberta a porta para uma guerra regional, senão mais além. Os USA, no caso, assumem a partilha do comando militar no terreno ( e politico) o que não acontece na Ucrânea em vias de ser abandonada à sua sorte. Mas as armas são as mesmas e colocar-se-á a questão de saber das razões pelas quais a Ucrânia não pode usar armas americanas para atacar alvos militares no Rússia, se Israel as pode usar para atacar o Irão. No meio de tudo, por cá, discutem-se detalhes de um acordo orçamental, quando as bases do dito podem ser radicalmemnte alteradas pela guerra iminente.

sábado, outubro 5

República, sempre!

Às 8,30 da manhã passava pela Rua do Ouro, em triunfo, a artilharia, que era delirantemente ovacionada pelo povo. As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível! A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana. O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana. (…) Vê-se muita gente no castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8,40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo. O governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, Coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luís Gomes, fazenda, Basílio Telles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado. Governador Civil, Eusébio Leão. Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República. (Transcrito de O Século, quarta feira, 5 de Outubro de 1910, publicação de última hora.) Raúl Brandão, in Memórias “O meu diário” – Volume II Perspectivas & Realidades

quinta-feira, outubro 3

ANTÓNIO GUTERRES

O governo de Israel, que não o seu povo, assume-se como dono da verdade, isento do cumprimento das leis internacionais, atacando ferozmente uma personalidade que luta pela paz e concórdia entre os povos e as nações. Para não esquecer!

domingo, setembro 29

Folgas

O Médio Oriente incendeia-se ameaçando um conflito alargado, não se vislumbrando uma solução de paz, pelo menos, até às eleições nos USA. Países como Portugal, energeticamente dependentes, deveriam acautelar os efeitos de um eventual choque provocado pela disrrupção de cadeias de abastecimento. Não deixar de dispôr de folgas em stoks a todos os níveis incluindo orçamental. No debate do OE não se fala no assunto...

sexta-feira, setembro 27

Água

Tomo conhecimento de que foi estabelecido um pré acordo com Espanha acerca da gestão da água, ou seja, para simplificar, dos caudais dos rios e Alqueva. Sabemos que a água é um bem escasso e uma das grande questões, pois briga com a independência nacional, que pode gerar uma crise séria entre os dois países ibéricos. Mas podemos estar certos que não vai ser tema de debate público, como se de uma banalidade se tratasse.

terça-feira, setembro 24

Politica

A politica, ao contrário do que alguns querem fazer crer, é uma actividade nobre. Mesmo nos tempos que correm em que proliferam os seus detractores sempre, pela sua parte, a praticando mesmo quando a denigrem. O ambiente de crise social, em todos os tempos, encosta o discurso político à tentação do messianismo. Nada a fazer pois dele emerge a própria natureza humana. Mas não confundo todos os políticos com a massa da qual emergem. Nem os seus discursos que sendo todos feitos de palavras advêm de diversas formações filosóficas e experiências de vida. Nem confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro da homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade. Convém não diabolizar as eleições, como exercício dessa liberdade.

sábado, setembro 21

Sofia Loren - 90 anos

Sofia Loren nasceu a 20 de Setembro de 1934. É uma das mulheres mais fotografadas de sempre. Um traço forte gravado no meu imaginário. Parabéns.

quinta-feira, setembro 19

Catástrofes

Ocorrem acontecimentos catastróficos todos os dias, horas e minutos. Na vida pessoal e profissional, na saúde e na educação, na vida familiar e comunitária, não vale a pena exemplificar. Na maior parte dos casos não têm repercussão pública, ficam com cada um, com cada família, com cada comunidade. Os grandes acontecimentos catastróficos, envolvendo grandes comunidades regionais, nacionais ou globais, como as epidemias, tarramotos, atentados, guerras ou incêndios florestais afetam-nos a todos, por incidência direta ou indireta. De uns e outros retiram-se ensinamentos que permitem mudar de vida no plano individual ou coletivo. Mas será sempre mais dificil mudar de vida se enfraquece a confiança em quem governa ou cresce a incapacidade da sociedade em gerar laços de verdadeira cooperação e solidariedade, para além dos votos piedosos.

domingo, setembro 15

A manifestação

Faziam travessuras revolucionárias pelo MES perto da porta do quartel, em Cascais, no imediato pós 25 de abril. Alguém de dentro se lembrou de os prender e enviar para a PSP, criando um mal estar próprio da época. Eram 3, ou 4, mas o quarto ninguém se lembra já qual seria. Gerou-se um movimento reclamando a sua libertação e foi convocada uma manifestação. As pressões resultaram e foram libertados. A manifestção estava convocada e restava saber o que fazer com ela. Decidiram mantê-la e foi encabeçada pelos detidos reclamando a sua própria libertação. (Episódio contado ontem num almoço evocativo dos 50 anos do 25A.)

quinta-feira, setembro 12

Pelos 50 anos do nº 0 do jornal "Esquerda Socialista"

O MES, como todos os partidos nascidos com o 25 de Abril, também criou a sua própria imprensa. Aquando da eclosão do 25 de Abril, somente o PCP dispunha de uma verdadeira imprensa própria, com tradição e enraizamento. Os diversos movimentos de base que haviam de confluir no MES produziam folhas volantes, opúsculos, boletins, mais ou menos ao sabor dos acontecimentos, e conforme as necessidades do momento. Salvo, claro está, as colaborações individuais de muitos dos seus fundadores em publicações marcantes da sociedade portuguesa dos anos 60. Esta é uma breve resenha da história da imprensa do MES, como sempre, apoiada em documentação que tenho em minha posse e, não somente, em impressões subjectivas. O grande entusiasta da criação de um jornal do MES foi César de Oliveira mas a própria natureza do Movimento, criado pela confluência de correntes surgidas de lutas sectoriais, tornou a tarefa mais difícil. A “Comissão de Imprensa” foi criada numa reunião da Comissão Politica realizada em 12/6/74 sendo encabeçada por Eduardo Ferro Rodrigues e César de Oliveira mas o Jornal só viria ser publicado em 11 de Setembro. Ao contrário do que se poderia supor a primeira ideia formalizada para título do jornal do MES não foi “Esquerda Socialista” mas “A Luta Operária” e integra uma proposta subscrita por aquela “Comissão de Imprensa” titulada: “PROPOSTA – JORNAL DO MOVIMENTO DE ESQUERDA SOCIALISTA” – A apresentar à I Assembleia Nacional de Militantes do MES”. Trata-se de uma proposta detalhada que além do título propõe uma periodicidade semanal, o dia da publicação (5ª feira), o formato (tablóide), nº de páginas: 12 e subtítulos: “Órgão do Movimento de Esquerda Socialista” e “ O socialismo em Portugal será obra dos Trabalhadores Portugueses”. Desta proposta inicial sobreviveu quase tudo, menos o título que havia de ser substituído por “Esquerda Socialista” já que o anterior, conforme consta num documento posterior, “não ganhou o suficiente apoio”. Mas não restam dúvidas que foi César de Oliveira o verdadeiro impulsionador da criação do Jornal do qual foi director interino dos 7 primeiros números da 1ºa fase, que decorreu entre Setembro de 1974 e o I Congressos de Dezembro desse ano, na qual foram publicados 11 números. O número zero, já com César de Oliveira ao leme, foi publicado em 12 de Setembro de 1974, merecendo a megalómana tiragem de 100.000 exemplares e no seu editorial são apontados os 6 objectivos que devia prosseguir: “a) a informação e a análise das lutas; b) a informação e análise da realidade portuguesa; c) a promoção do debate político entre os militantes do MES; d) a divulgação das posições do MES à escala e regional; e) a divulgação e análise das experiências internacionais e f) contribuir para a elevação do nível de consciência das classes trabalhadoras …”. É claro que a avantajada tiragem também foi devidamente explicada mas não evitou, apesar das vendas estimadas entre 20 e 30.000 exemplares, ter sido, ainda antes da edição do nº1, acumulada uma dívida de 176 contos. O nº 1, com o subtítulo “Órgão do Movimento de Esquerda Socialista” saiu a 16 de Outubro de 1974, com uma tiragem de 35.000 exemplares, e até ao I Congresso de Dezembro, saíram regularmente, sem falhas, 11 números. Parte da tiragem era então vendida ao preço de 2$50, com 12 páginas e a duas cores. César de Oliveira, em carta publicada no nº 7, demite-se de Director interino, justificando essa demissão por razões pessoais às quais se sobrepunham, certamente, a evolução e o teor do debate e as consequentes divergências que haviam de desembocar na primeira dissidência consumada aquando do I Congresso. Entre o nº 7 e o nº 11 a Direcção do “Esquerda Socialista” foi assumida por Rogério de Jesus consumando, como se afirma num documento posterior, “a vitória duma “certa concepção obreirista que derrotou o intelectualismo dos “doutores” que vieram a dar origem ao GIS e à actual esquerda do PS”. Não posso deixar de referir o papel marcante, nesta fase iniciar, entre os esquecidos criadores do movimento o designer Robin Fior, um estrangeiro em Lisboa por altura da eclosão do 25 de Abril. Foi ele que desenhou o símbolo do MES o único, adoptado pelos partidos portugueses, com uma declarada feição feminil; Robin foi também o autor da linha gráfica da primeira série do jornal "Esquerda Socialista" e concebeu um conjunto de cartazes surpreendentes pela sua ousada modernidade. Os materiais gráficos do MES, em particular, os da sua fase inicial, alcançaram uma rara qualidade que bem merecia uma cuidada recolha, estudo e divulgação pública.

segunda-feira, setembro 9

Outro pré candidato

É um daqueles casos que permitiria ao Almirante Américo Tomáz, com a sua habitual clarividência, afirmar: "tive que o demitir porque o nomeei!"

sábado, setembro 7

Cavaco

Cavaco publicou um artigo mas ninguém prestou cavaco. Era acerca do despesismo. Um recado ao governo por entreposta pessoa, no caso, o PS. Haja paciência!