segunda-feira, março 10

Politica -2

Chegados aqui vamos ter eleições. Um ano depois de outras que nos trouxeram aqui. Não confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro do homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade. Convém não diabolizar as eleições, como exercício dessa liberdade.

sábado, março 8

Politica

A minha juventude fui muito marcado pela leitura de Albert Camus. Não sei já identificar, com precisão, a origem desse interesse mas o certo é que me iniciei em Camus através da leitura dos Cadernos. O encanto estava, e está, na escrita fragmentada um misto de diário e reflexão filosófica. Uma das reflexões que sublinhei pelos meus 20 anos foi esta: “Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.” A violência na politica é algo terrível e daí o insucesso de muitas incursões daqueles que não são capazes de "matar o adversário". Há muitos exemplos entre nós que não vou referir mas que só dignificam os seus percursos pessoais. E agora aqui chegados? (Continua).

Mulheres

“As rosas retardatárias de Santa Maria Novella e as mulheres, neste domingo de manhã em Florença. Os seios libertos, os olhos e os lábios que vos fazem bater o coração, a boca seca e um calor nos rins.” Albert Camus, in Núpcias

sexta-feira, março 7

A corte chega ao destino final, Rio de Janeiro

Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.

quarta-feira, março 5

Crise politica

Crise politica. Uma má ideia. Não descortino a sua origem profunda. Sempre penso nos negócios de estado. Os grandes interesses escolhem ou influenciam a escolha dos governos. Hoje, aliás como sempre, em democracia, o povo escolhe e os grandes interesses acolhem, ou não. Nada sei das tramas de bastidores. Ninguém vai sair a ganhar com a presente crise politica. As lideranças partidárias são frágeis e hesitantes nas frentes interna e externa. Farão escolhas, desde programas a candidatos, limitadas às suas escassas competências e limitados circulos de aparelho. Sem golpe de asa. Espero estar enganado mas a tendência natural redundará num deslizamento para a direita.

sexta-feira, fevereiro 28

Zelensky

As notícias de hoje são alentadoras. Ainda há quem faça frente aos ditames da força com a força da dignidade. Ao contrário de um revés, a atitude de Zelensky na Casa Branca ao enfrentar Trump, é uma vitória para todos os homens de boa vontade. Aconteça o que acontecer, Que viva!

quinta-feira, fevereiro 27

Vitor Wengorovius -pelo vigésimo aniversário da sua morte

O mais brilhante tribuno do movimento estudantil durante a crise académica de 1961/62. Eu não tinha idade para o conhecer nessa época mas os testemunhos dos seus contemporâneos são eloquentes. Só o conheci como veterano no processo de criação do MES bastante antes do 25 de Abril. Era uma figura pujante de energia e criatividade, prolixo, solidário e desprendido. Era a personificação do excesso para seu prejuízo pessoal e benefício da comunidade. Um socialista católico puro e impoluto, crente e destemido, desprendido do poder e amante da partilha. Privei com ele, nele confiava em pleno, com ele aprendi a confiar, talvez a confiar demais. Não me arrependo de ter acreditado na luz que emanava da sua dedicação às causas utópicas que as suas palavras nunca eram capazes de desenhar até ao fim. As suas palavras perseguiam a realidade que se escapava como um permanente exercício de criação. Com ele fui a encontros clandestinos com o Pedro Ramos de Almeida, representante do PCP, buscando as alianças necessárias ao sucesso da luta anti fascista e nunca fomos apanhados pela polícia política. Ouvi horas das suas conversas, intervenções e discursos, aprendi a ouvir, aprendi a faceta fascinante do excesso da palavra (não só com ele) e sofri, em silêncio, o lancinante drama do seu percurso pessoal perdido no labirinto das rupturas intelectuais e sentimentais. Morreu a 27 de Fevereiro de 2005 mas viverá para sempre no coração daqueles que, verdadeiramente, o conheceram.

terça-feira, fevereiro 25

Francisco

Estou em fase de leitura da autobiografia Esperança de Francisco, o Papa. É um testemunho de vida muito forte de uma personalidade marcada pelos acontecimentos do seu tempo. Com ele a igreja mergulha na vida do seu povo com suas vitórias e derrotas, tristezas e alegrias, vícios e virtudes. Sempre do lado dos mais fracos, sem hesitações nem concessões. Um homem inteiro na sua fé. Um revolucionário. Que viva!

sexta-feira, fevereiro 21

Esperança

Francisco, o Papa, agora gravemente enfermo, é filho e neto de emigrantes, idos nos anos 20 de Itália para a Argentina, onde nasceu. A sua especial sensibilidade para a questão dos migrantes é fácil de entender, daí as suas intervenções incisivas acerca do tema por palavras e atos. As politicas de Trump têm nele um lúcido adversário e espero que recupere da doença que o levou ao hospital para que a sua palavra continue a iluminar de esperança o campo dos homens de boa vontade..

quarta-feira, fevereiro 19

Rapina

Muitos anos atrás a minha mulher, que trabalhava para uma empresa americana, frente às torres de Trump, em Nova York, virou-se para o patrão e perguntou-lhe o que aquilo era. Ele, de súbito, respondeu-lhe: é de um vigarista chamado Trump. O vigarista fez carrrreira de sucesso. Hoje por hoje, no que respeita à Ucrânia, já entendemos o seu plano. De uma forma simples e direta já acordou com Putin dividir a Ucrânia ficando com a melhor parte. A Europa paga a reconstrução. É pura rapina. Falta afastar a liderança ucraniana, a bem ou mal, e substitui-la por um diretório de sua confiança. Vamos ver se corre tudo a preceito no seu plano já que não pode eliminar a Europa do tabuleiro.

terça-feira, fevereiro 18

segunda-feira, fevereiro 17

O meu tio Ventura

Regressemos ao início. Na minha alta adolescência travei-me de razões, vezes sem conta, com o meu tio Ventura (irmão de minha mãe), no campo da politica. Ele foi regedor da freguesia e era um estrénuo defensor da ditadura, homem já feito, eu jovem, era defensor de tudo o seu contrário. E acabava tudo sempre em bem, as razões dos laços de família sobrepunham-se, invariávelmente, às desavenças politicas. O tempo fez o seu caminho, o 25 de abril o resto. Finalmente todos democratas, ainda bem. Mas... hoje regresso ao início, afinal parece que não. Os fascistas de antanho regressam sob novas vestes, em força. Não vou mais travar-me de razões com o meu tio Ventura que morreu com 99 anos, na espera paciente dos 100, com a vaca que tinha preparada para a matança celebrativa do centenário, a sobreviver, ainda bem. Os ventos da história vão perfilar os neofascistas, os ultraliberais e os democratas pífios na galeria dos açougueiros da ordem liberal democrata. Os campos do confronto estão a definir-se com uma rapidez alucinante. Entre nós adivinho que o primeiro defensor da nova ordem autoritária, a ser alçado ao poder deverá ser o Almirante. Tenho saudades do meu tio Ventura... e Almirantes nunca mais!

sábado, fevereiro 15

Os perigos para a liberdade - publicado faz 20 anos

«Rolão Preto, ao entrar no Palácio das Exposições, saudado romanamente pelos camisas azuis em guarda de honra». [18 de Fevereiro de 1933, fotografia a preto e branco - Revolução, n.º 292, Lisboa, Portugal - Fotografia publicada no Revolução - Diário Nacional-Sindicalista da Tarde (1932-1933), de segunda-feira, 20 de Fevereiro de 1933.] O banquete de homenagem a Rolão Preto, de 18 de Fevereiro de 1933, comemorava o primeiro aniversário da publicação do diário Revolução, no início subintitulado Diário Académico Nacionalista da Tarde, cujo primeiro número tinha saído em 15 de Fevereiro de 1932. In “O Portal da História” As corporações só conhecem a linguagem da força. Não vale a pena escrever lindas palavras em barras de sabão. É preciso esculpi-las no granito afrontando a dureza das pedras endurecidas pelo tempo. Os homens perdem a capacidade de se libertar da servidão quando nela nasceram e foram educados para obedecer. Ou quando já se esqueceram da servidão no que ela tem de mais abjecto. É o caso de Portugal e da maioria das democracias da Europa Ocidental. O exercício da liberdade não dispensa a inteligência e a emoção de escolher - aceitar ou contestar, falar ou calar - em cada momento e em todo o lugar. O exercício da liberdade é o mais difícil de todos aqueles a que o homem é chamado a responder. Por isso valeu bem o sacrifício de milhões de homens e mulheres em duas guerras sangrentas na Europa em pleno século XX. As vantagens da liberdade são incomensuráveis para a humanidade mas nunca estão definitivamente garantidas. É uma ilusão perigosa pensar o contrário. Falo a propósito das discussões acerca das medidas do governo socialista para fazer face ao deficit. Deficit, qual deficit? parecem perguntar muitos portugueses, comunistas e não só! Mas caso se não equilibrem as contas públicas ficam abertas as portas aos arautos da “ordem” (que ilustro, numa versão portuguesa de 1933), ou seja, da tirania que, na versão moderna, poderá assumir as mais surpreendentes fórmulas. Penso nos resultados do referendo em França. Europa, qual Europa? Parecem perguntar as extremas direita e esquerda, parte dos socialistas e parte da direita tradicional francesa! Mas se a Europa não se mantiver unida, no essencial, ficam abertas as portas à guerra. Tirania e guerra marcham sempre a par na história. As escolhas resultantes do voto popular são para respeitar. Quem, em Portugal, não percebeu que os socialistas são a única força capaz de realizar uma política de salvação nacional, não percebeu nada! Por isso lhe foi outorgada, em eleições livres, uma maioria absoluta. Quem, na Europa (em França e não só!) não percebeu que o que está em jogo é o enfrentamento com o poder dos EUA (e da China), a nível global, preservando a paz na Europa e o “modelo social europeu”, não percebeu nada! Podem discutir-se os métodos e os ritmos mas o essencial está aí. Portugal é uma ínfima parcela desta realidade. As corporações, em Portugal, por razões históricas, só conhecem a linguagem da força. Mas os democratas e os amantes da liberdade, dão privilégio à força da inteligência (razão) e da persuasão (diálogo). Será suficiente? Uma velha conversa porventura mais actual do que muitos pensam.

quinta-feira, fevereiro 13

General Humberto Delgado - no dia do 60º aniversário do seu assassinato pela PIDE

Foi no dia 3 de Junho de 1958, ao fim da tarde, que Humberto Delgado chegou a Faro: “Ao cair do dia, em Faro, esperava-o uma invulgar concentração de agentes da PIDE, por toda a cidade e no hotel onde ficou hospedado.” “ – Tive de me refrear para não me atirar a eles”, confessou. “O Café Aliança serviu de palco improvisado, numa grande barafunda de populares amontoados à entrada, a revezarem-se para ouvir e ver o candidato presidencial”. No dia seguinte (4 de Junho) Humberto Delgado rumou a Portimão, visita que o seu neto descreve a traços largos e da qual destaco um detalhe: “À porta do cemitério, também sobressaiu em arroubos de euforia uma operária conserveira, de seu nome Maria da Conceição Ramos Matias, que utilizou nesse dia as suas moedas de poupança para oferecer flores ao general. Gritou-lhe palavras de ordem de sabor comunista e, rebentando de emoção, impôs o seu desejo de lhe cantar sozinha o Hino nacional, até que, por estar tanto calor, lhe desmaiou nos braços.” De regresso a Faro é assinalado um almoço tardio e a arrancada para visitar Olhão. Lembro-me da aglomeração de povo à beira dos passeios nas ruas de Faro, acontecimento absolutamente inédito, só comparável com a passagem de algumas procissões e, muito mais tarde, em 1966, aquando da chegada a Faro do bispo Júlio Tavares Rebimbas. Ninguém sabia ao certo, nem os percursos, nem os horários do General em campanha, mas o meu pai encontrou o caminho, e o momento certo, para se integrar na comitiva que percorreu os nove quilómetros ente Faro e Olhão, que eu acompanhei, ainda criança, certamente, a bordo do Ford Prefect (LH-14-11) familiar. Lembro-me ainda de ter andado na rua, pela mão de meu pai, assistindo à calorosa recepção do povo de Olhão ao General. Que estranho influxo de coragem atravessou o coração das gentes para que ousassem mostrar, publicamente, a sua dissidência, desafiando um regime político temido pela repressão que exercia sobre os seus opositores? Nesse mesmo dia, 4 de Junho de 1958, a comitiva seguiu para Tavira, Vila Real de Santo António, subindo depois na direcção de Beja cidade na qual a campanha havia de terminar, em apoteose. (Transcrições de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”.)

segunda-feira, fevereiro 10

"Justiça"

"Está tudo prescrito: Tribunal da Relação de Lisboa anula coimas de 225 milhões de euros a 11 bancos". (In Expresso). Como seria de esperar a atividade da banca não é censurável pela justiça. De recurso em recurso chegará ao Supremo mas o resultado será o mesmo. Como soe dizer-se a justiça só funciona para os pequenos...