segunda-feira, junho 6

Hector Berlioz



Muitos ficaram felizes com a derrota de Sócrates mesmo muitos daqueles que antes o apoiaram. O pior mal não é a adversidade na luta por fazer vencer uma ideia é a ausência de ideias pelas quais valha a pena lutar. Um dia, mais tarde que cedo, se sentirá a sua falta. Adiante, por agora, pois chegará o tempo próprio para tentar entender o ódio que Sócrates suscitou em tanta “gente de bem”.

Mas o futuro continua a precisar de ideias renovadoras, projectos mobilizadores e gestores ousados cuja acção convergente as exigências do Memorando de Entendimento não dispensa. A começar na própria reforma da democracia representativa pois não se pode desvalorizar o facto de ter sido a ABSTENÇÃO a grande vencedora destas eleições com 41,1% dos votos (mesmo com muitos eleitores fantasmas!).

Hoje, na hora da derrota, Sócrates deve ter sentido o velho sentimento da ingratidão que se apossa dos grandes lutadores quando perdem. Mas o seu discurso de derrota foi uma notável lição de política democrática, assumindo as responsabilidades pelo resultado, retirando as consequências e reafirmando, ao mesmo tempo, de forma positiva e inequívoca, os valores do único partido da esquerda democrática portuguesa – O Partido Socialista - quer seja chamado a exerçer funções de governo, quer seja chamado a ser oposição.

O PS é um partido nacional, fundador da democracia em Portugal e, seja qual for a sua futura liderança,  desempenhará em tempo de oposição um papel central na política portuguesa. Ninguém pense que é possível fazer frente aos desafios que se perfilam no horizonte da vida nacional se o futuro governo de maioria, centro direita, assentar a sua orientação política na hostilização da esquerda derrotada nestas eleições e, muito menos, hostilizando o Partido Socialista.

1 comentário:

vai tudo abaixo disse...

Grande parte dos votos no PSD foram votos de apoiantes do PS, que não se reviam no PS de Sócrates. Sócrates "secou" o PS, que deixou de ter oposição interna. Sem oposição interna não há discussão e, sem esta, não há idéias. Isto foi compreendido por alguns (Costa, Cravinho, Carrilho, Benavente, Neto, etc.), mas não foi seguido pela maioria dentro do PS. Uma maioria que é composta de carneiros e de oportunistas à espera de lugares no aparelho de estado. É natural, num partido sem ideologia e onde o clientelismo é regra. Onde estão os socialistas de esquerda, no PS? Onde está o Ferro dos anos noventa, que regressou a Portugal para fazer esta triste figura? Não se curem não e ainda vão passar 10 anos na oposição!