Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, outubro 10
Silvio Berlusconi desafiado por Giuseppe Verdi.
No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do país, que invoca a escravidão dos Judeus na Babilónia, uma obra não só musical, mas também política, à época em que a Itália estava sujeita ao império dos Habsburgos (1840).
Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente, à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno - ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, o que contribuiu para politizar o evento.
Como Mutti declararia ao TIME, houve, já de início, uma incomum ovação, clima que se transformou numa verdadeira «noite de revolução» quando se sentiu uma atmosfera de tensão ao iniciarem-se os acordes do coral «Va pensiero», o famoso hino contra a dominação. «Há situações que não se podem descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expecativa do hino, clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o côro entoa - 'Ó minha pátria, tão bela e perdida'».
Ao terminar o hino, os aplausos da plateia interrompem a ópera e o público manifesta-se com gritos de «bis», «viva Itália», «viva Verdi». Das galerias são lançados papéis com mensagens políticas.
Não sendo usual dar bis durante uma ópera, e embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro La Sacala de Milão, o maestro hesitou, pois, como ele depois disse: «não cabia um simples bis; havia de ter um propósito particular». Dado que o público já havia revelado o seu sentimento patriótico fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o público e, com ele, o próprio Berlusconi.
Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da seguinte forma, e reagindo a um grito de «longa vida à Itália» disse:
- «Sim, longa vida à Itália mas... [aplausos] não tenho mais 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto concordo com o vosso pedido de bis para Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o côro que cantava 'Ó meu pais, belo e perdido', eu pensava que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente 'bela e perdida' [aplausos retumbantes, incluindo dos artistas da peça].
Reina aqui um 'clima italiano'; eu, Mutti, me calei por longos anos. Gostaria agora... nós deveriamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, o teatro da capital, e com um côro que cantou magnificamente, e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos.»
Foi assim que Mutti convidou o público a cantar.Toda a ópera de Roma se levantou... O coro também. Foi um momento magnífico na ópera! Vê-se, também, o pranto dos artistas.
Aquela noite não foi apenas uma apresentação do Nabuco mas, sobretudo, uma declaração do teatro da capital dirigida aos políticos.
Obrigada à Luisa Alegre
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