quinta-feira, fevereiro 23

ESPANTO, HORROR, INDIGNAÇÃO ...

Posted by Picasa Ron Mueck

“Ministro "chocado" com envolvimento de crianças na morte de um sem-abrigo
O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, lamentou hoje o alegado envolvimento de um grupo de 12 crianças e adolescentes no homicídio de um sem-abrigo, no Porto, afirmando que está "chocado".”

In Público on line

Chocado ando eu há muito tempo com muitas coisas. Algumas delas oriundas da própria área da responsabilidade do meu amigo, e actual Ministro, Vieira da Silva. Um Ministro toma sobre si responsabilidades e obrigações pesadas. Opta. Decide. Nomeia e exonera. Avalia o desempenho das organizações que tutela.

O governo sabe que existem instituições que se definem como concentracionárias. Não sei se esta designação está fora de moda mas aplica-se a instituições como prisões, conventos, quartéis, reformatórios …

Algumas delas não podem ser extintas por razões óbvias. Outras, no entanto, deviam conhecer o destino das velharias sem préstimo que só podem originar males maiores à sociedade.

Ao estado devia exigir-se a tarefa higiénica de extinguir a maior parte das instituições que albergam os designados jovens em risco. A começar pela Casa Pia e por aí adiante …

A época dos reformatórios já acabou há muito. Neles se esconderam - e escondem - as maiores misérias e, quiçá, os crimes mais hediondos. Os jovens não devem ser, por princípio, internados em instituições públicas. O estado que assuma as suas responsabilidades, em pleno, através de mecanismos que apoiem a integração dos jovens na sociedade, através de famílias ou instituições, não públicas, de pequena dimensão e com projectos socialmente reconhecidos pela comunidade.

Tarefa controversa, difícil e complexa. Eu sei. Mas para que servem, hoje, os governos? Para gerir a chamada “mudança na continuidade”, na linha da célebre consigna do governo de Marcelo Caetano?

EFEITOS SECUNDÁRIOS

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

(…)
Banho lustral de ausência é este tempo
de pés postos na terra em puro esquecimento
E vamo-nos perdendo de nós mesmos, vamos
dispersos em bocados, vítimas do vento
ficando aqui, ali, nalgum lugar que amamos
(…)

Ruy Belo

EFEITOS SECUNDÁRIOS
Boca Bilingue

quarta-feira, fevereiro 22

POETANDO

Posted by Picasa Van Gogh - A igreja em Auvers - 1890

Acabei de escrever o artigo mensal, a publicar em breve, pelo “Semanário Económico”, ao qual dei o singelo título de LIBERDADE. Ficou-me, no entanto, a dúvida se não deveria juntar-lhe uma lista de autores e livros acerca do tema.

Coloquei em epígrafe um verso de Jorge de Sena, embora com riscos de repetição: “Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam.” Mas poderia ter escolhido esta frase de Albert Camus: «Explication des horreurs modernes par la peur. Atome, procès soviétique, etc. La trahison de la gauche intellectuelle.»(*)

Frase escrita, certamente, no rescaldo da ruptura com Sartre e outros intelectuais da “Temps Modernes” apoiantes, à época, da política da União Soviética.

A Liberdade pode parecer um tema tão simplório, ou mesmo irrelevante, para alguns intelectuais do nosso tempo que fiquei preocupado com o entendimento que pudessem fazer da minha sanidade mental. Ingenuidade da minha parte pois, na sua maioria, eles, na verdade, não se preocupam com nada!

Mas está tudo bem, graças a Deus. É que tenho andado a fazer uma recolha de poemas do grupo de poetas dos “Cadernos de Poesia”+ António Gedeão. Quais sejam: Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal, Tomaz Kim e Jorge de Sena. E ao lê-los, pela primeira vez, ou ao relê-los, pela enésima, compreende-se tão bem a questão da Liberdade, os seus meandros e os difíceis caminhos da sua conquista. Calafrios é o que sinto ao ler alguns deles!

Sabem que esses poetas eram todos – com excepção de Tomaz Kim – de formação académica técnico-científica bebendo a sua “inspiração” na tradição poética anglo-saxónica? Trataram de letras, mas não eram de letras. A sua obra representa uma ruptura assinalável com a tradição poética predominante na sua época – anos 1940/50 – e coincide, no tempo cronológico, com a escrita de Albert Camus a qual, recorrentemente, reproduzo.

Talvez não seja um acaso a coincidência dos títulos! Cadernos versus Cadernos!

(*) Albert Camus - “Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)- Gallimard

terça-feira, fevereiro 21

"...La mer sous la lune, ..."

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

««En mer. La mer sous la lune, ses étendues silencieuse. Oui, c´est ici que je me sens le droit de mourir tranquille, ici que je puis dire : « J´étais faible, j´ai fait pourtant ce que j´ai pu. »»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

sem título (VI)

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

o tempo corre desvairado e na poeira de seus passos
meu filho se fez homem

21 de Fevereiro de 2006

Mick Jagger, en una reunión del APA

Posted by Picasa Uma notícia - e fotografia - de sociedade recolhidas no El País, on line, de hoje. Os mundos se cruzam e uma vedeta do espectáculo (de língua inglesa) acompanha o seu filho numa escola bilingue português/ inglês. O nosso pequeno mundo …

“El líder de los Rolling Stones, Mick Jagger, que el sábado por la noche dio con su banda un apoteósico concierto en la playa de Copacabana, en Río de Janeiro, se presentó ayer en una reunión de padres de familia del colegio bilingüe Saint Paul, en el barrio de Jardins de Sao Paulo, donde estudia su hijo pequeño, Lucas, de seis años, según el canal de televisión Globo. Lucas Jagger es hijo del rockero, de 62 años, y de la modelo brasileña y presentadora de televisión Luciana Giménez. (REUTERS)”

segunda-feira, fevereiro 20

"sou sítio..."

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

(…)
sou sítio onde se nega que se morre
(…)

Ruy Belo


EM CIMA DE MEUS DIAS
Boca Bilingue

GOVERNO - UM ANO

Posted by Picasa Fui apoiante convicto da candidatura de Mário Soares. Não me arrependo. Apoiei, e apoio, as linhas gerais da política do governo socialista. Posso vir a arrepender-me! Mas, hoje por hoje, não vejo outra saída mais promissora para o futuro da comunidade.

Claro que prefiro, nesta fase da minha vida, as digressões pela poesia – a obra de Ruy Belo é fascinante – as leituras e releituras de Camus dão-me prazer – o que pode fazer crer que desmereço a importância da política que, na verdade, sempre me fascinou.

Não esqueço a política nem menosprezo a sua importância. Mas seria hipócrita negar que me afasto dela irremediavelmente observando os seus jogos, omissões, injustiças, cobardias e silêncios. O meu ponto de observação da política encontra-se num lugar cada vez mais distante dela. Muitos factos sustentam esta convicção mas, por ora, não os vou desenvolver..

O meu é, provavelmente, o ponto de vista do cidadão comum, ou melhor, do cidadão comum/cumpridor. E, face à minha história de vida, é este o mais incómodo dos lugares. O cidadão comum/cumpridor é, em regra, julgado pelas suas acções correndo o risco, paradoxal, de ser perseguido exactamente por ser cidadão/cumpridor. Compreenda quem quiser e puder.

Os governos têm por obrigação zelar pelo interesse geral, ou seja, pelo interesse de toda a comunidade. Se este governo o não fizer com justiça, bom senso e sentido de futuro, será severamente punido. Não é só uma questão de alcançar as metas quantitativas - déficit e outros indicadores macro-económicos - que fixou para o próximo futuro. É uma questão de escolher os objectivos qualitativos certos destinados a modernizar o estado e a sociedade assim como as pessoas competentes para os fazer cumprir.

É uma questão de ser capaz de valorizar e fazer justiça aos dirigentes e cidadãos que trabalham e cumprem. E esses são a maioria ao contrário do que, muitas vezes, se quer fazer crer.

Tenho as maiores dúvidas acerca de muitas escolhas do governo mas não tenho dúvidas de que este é o único governo que, neste tempo, poderia merecer a minha escolha. Veremos o que nos diz o futuro. Aqueles que escolheram a propaganda negativa para atacar Sócrates, como se documenta com a imagem acima, devem, esses sim, estar mil vezes arrependidos.

domingo, fevereiro 19

sem título (V)

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

subindo a montanha do tempo descubro
as mãos vazias de nada

19 de Fevereiro de 2006

Lágrimas

Posted by Picasa Ron Mueck

«Quand ma mère avait les yeux détournés de moi, je n´ai jamais pu la regarder sans avoir les larmes aux yeux. »

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

sexta-feira, fevereiro 17

sem título (IV)

Posted by Picasa Van Gogh - O semeador

as cidades ocupam o lugar dos campos abandonados
mas é neles que me revejo


17 de Fevereiro de 2006

"Digam que foi mentira ..."

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

(…)
Digam que foi mentira, que não sou ninguém,
que atravesso apenas ruas da cidade abandonada
fechada como boca onde não encontro nada:
não encontro respostas para tudo o que pergunto nem
na verdade pergunto coisas por aí além
Eu não vivi ali em tempo algum
(…)

Ruy Belo

EM CIMA DE MEUS DIAS
Boca Bilingue

quinta-feira, fevereiro 16

EDUARDO

Posted by Picasa Fotografia de Hélder Gonçalves

O Eduardo pai do Eduardo ontem morreu. Era Eduardo como eu tal como era Eduardo um avô meu. Era um Eduardo que conheci e que me cobria de atenções e lisonjas. Era uma voz quente num sorriso corpulento ressoando assentimento. Quando o conheci afinal era novo e para mim nunca envelheceu. Era alguém que estou certo sempre nos compreendeu. Agradeço! Receba onde quer que se encontre o abraço sentido vertical e amigo deste seu Eduardo!

Margarida Delgado

(A Morte)



Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha? Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.
É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente.
Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo. É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!
Albert Camus, in “A Queda”
Sublinhados de Ana Alves – “Cadernos de Camus”

A medida das coisas

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Em pequeno não sabia a exacta medida das coisas
Parecia-me enorme uma rua pequena uma avenida
Uma ideia de largura sem margens um riacho o rio
Da minha vida e o sorriso escancarado a felicidade

A verdade é que nunca soube medir a medida certa
Das coisas e me venderam milímetros de felicidade
Por quilómetros de prazer e eu crente na verdade fui
Tornando minhas as ilusões que não me pertenciam

Lisboa, 10 de Janeiro de 2006

GENTE


Pareceu-me uma das duas notícias mais interessantes do dia. Aqui está como os mundos se cruzam. Parece uma brincadeira mas não é.

Vejam a notícia que nos diz que a Juventus lançou um processo judicial contra Figo após as suas declarações no fim do jogo Inter-Juventus. Com a imagem de Sharapova ganha a imagem da Rússia com a postura desportiva e humana de Figo ganha a imagem de Portugal.

Em qualquer dos casos: Gente!

quarta-feira, fevereiro 15

terça-feira, fevereiro 14

PARE, ESCUTE E OLHE!

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Os que pensam que as guerras estão muito longe, que as epidemias estão muito longe, que as injustiças estão muito longe, que as ignomínias estão muito longe, estão muito enganados.

Todos os males do mundo, que se anunciam, estão demasiado perto de nós. No entanto, em Portugal, estão encobertos pelo silêncio e pela cobardia de titulares dos órgãos públicos, semi-públicos e privados.

O país da neutralidade suicida, do silêncio cúmplice, do frete encomendado e da vingança póstuma, regurgita de actividade diante dos nossos olhos. Pare, escute e olhe!

Até o Dr. Portas já reapareceu!

PROPAGANDA NAZI

Posted by Picasa Postkarte zur Ausstellung "Der Ewige Jude"
Wien, 1938 Lithographie [15 x 10,5 cm DHM, BerlinPk 96/416]

A PIQUE

Posted by Picasa Dos States para o mundo, a peçonha e o divertimento. Se carregares, segurando o rato sobre boneco, podes apertar com ele e conduzir o movimento como preferires...mas também é bom vê-lo despenhar-se em queda livre! Experimenta.

segunda-feira, fevereiro 13

sem título (III)

Posted by Picasa Van Gogh – Vinha vermelha em Arles - 1888

no fim do tempo as cores belas do poente

12 de Fevereiro de 2006

EM CIMA DE MEUS DIAS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Muita gente me tem falado a meu respeito
como quem me chamasse pelo nome e eu me voltasse
e nesse nome dito nessa boca fosse toda a minha vida
e eu morresse quando entre pinhais quem me chamara a fechasse

(…)

Ruy Belo


EM CIMA DE MEUS DIAS
Boca Bilingue

domingo, fevereiro 12

LEITURAS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Ontem não comprei o “Expresso”, hoje não comprei o “Público”. Os jornais, ora, do Senhor Oliveira nunca comprei. Nestes três dias não comprei jornais.

Mas farto-me de ler. Leio os cabeçalhos nas bancas e folheio-os na pastelaria. Este fim-de-semana até deu para ler três livros. Poesia de autores de que darei, em breve, notícia através de uns excertos. O Portugal desconhecido no seu melhor ao qual ninguém dá importância nenhuma. O meu filho, de vez em quando, por causa do Sporting, pede-me para comprar o “Record”. Não fora o acesso gratuito a alguns jornais, nacionais e internacionais, via net e estaria a tornar-me – quanto aos jornais impressos – num cidadão comum! Ler só de borla!

O Henrique Monteiro e o José Manuel Fernandes vão continuar a obedecer à voz dos respectivos donos. Um dia correm o risco de se verem, de novo, à frente de órgãos de comunicação do género “O Grito do Povo”.

Mas o Pacheco Pereira vai recompensá-los, daqui a uns 20 anos, com um estudo acerca do seu papel no apagamento da influência e, posterior, liquidação dos títulos que dirigem. Nada mau!