quinta-feira, abril 22

POETAS

Não esperava por esta do Francisco Sarsfield Cabral. Sinceramente não esperava por esta. Um dos "10 grandes educadores da opinião pública portuguesa", no caso, pertencente à minoria decente dos mesmos, resolveu falar, no DN, acerca do 25 de Abril.

Tudo bem. Eis senão quando me deparo com esta frase: "A ilusão do império colonial desvaneceu-se de maneira trágica para africanos e europeus, sobretudo em Angola. E os portugueses continuam a ser o que sempre foram: incultos, desorganizados, pobres, complexados e poetas" ...

Os poetas são metidos no mesmo monte infecto da gente espúria, incapaz, nociva, enfim, lixo...Se o prestígio de Portugal no Mundo estivesse entregue aos poetas Portugal era um grande país: Camões, Pessoa, Sena, Sofia, …tantos, tantos…

Ao ponto a que chegou o nacional-comentarismo.

25 de Abril - notas pessoais

O renascimento da liberdade


Era a velha questão da liberdade que se jogava naquelas horas. Participei, com os meus dois camaradas, João Mário e António, num daqueles momentos raros da história das nações em que algo de essencial muda.

A mudança do destino da vida de toda uma comunidade e de um povo. Um daqueles momentos raros de fusão em que um regime, que no dia anterior parecia inexpugnável, cai fulminado como se nunca tivesse tido apoiantes e seguidores. Assistimos e participamos, ao vivo, a uma página ímpar da nossa história, aos últimos minutos de um regime de opressão e ao renascimento de um regime de liberdade.

Estamos todos vivos e os nossos nomes são verdadeiros: António Cavalheiro Dias, João Mário Anjos e Eduardo Graça.

De saída daquela situação de acompanhantes anónimos da coluna militar, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, ainda nos cruzamos com a coluna de Cavalaria 7 que vinha ao encontro dos revoltosos. Era comandada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, meu conterrâneo, que ainda outro dia vi num pequeno café da minha cidade de Faro. Ironia da história: Salgueiro Maia, o vencedor, está morto e Junqueira dos Reis, o vencido, está vivo.

O caminho de regresso ao nosso objectivo passou pela Ajuda onde o pessoal da Polícia Militar (PM) discutia o que fazer na entrada de Monsanto.

Ao longo destas digressão pela cidade sempre pensei que a desproporção de forças era demasiado grande, enorme e arrasadora, e que a coluna revoltosa não seria capaz de resistir a um ataque determinado. Receie que fosse destroçada em poucos minutos.

(27 de 32 continua)

quarta-feira, abril 21

ROLAND BARTHES

Descobri agora, nestas buscas a propósito do 25 de Abril, o original de um livro artesanal que fiz, pouco tempo depois da morte de Roland Barthes, talvez no decurso de 1981, com fragmentos da sua obra declaradamente autobiográfica, "Roland Barthes por Roland Barthes", editada em Portugal, em 1976, pelas "Edições 70", a partir de uma edição francesa de 1975.

Um dia destes, quando o blog colectivo, que está em preparação e do qual vou ser co-editor, estiver "na rua" vou editar aqui esse livro artesanal composto por 23 páginas A4, com citações do livro autobiográfico de Barthes com breves comentários meus. Esta leitura de Barthes foi uma das que me deram mais prazer em toda a vida.

Os textos de Barthes, vertidos neste livro, foram escritos, curiosamente, no período de 6 de Agosto de 1973 a 3 de Setembro de 1974 abarcando, portanto, a época da revolução portuguesa do 25 de Abril.
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A convergência vai demorar 92 anos

É PRECISO MUITO OPTIMISMO OH VASCONCELOS!

25 de Abril - notas pessoais

Rua do Arsenal


Tomada a decisão de ver com os próprios olhos o desenvolvimento da acção militar fomos sempre atrás da coluna atravessando a baixa no sentido do Terreiro do Paço. Chegada à Rua do Arsenal a coluna parou. Os tanques posicionaram-se no terreno. Havia um vaso de guerra no Tejo e a discussão era se estava a favor ou contra o movimento revoltoso.

Decidimos que chegara a hora de abandonar o local pois não era aquela a nossa guerra. Não podíamos ficar mais tempo sacrificando a nossa própria missão. Ultrapassamos a coluna facilmente e seguimos em frente. Sempre fiquei com a convicção que a vitória da Revolução foi decidida na Rua do Arsenal antes dos acontecimentos do Largo do Carmo.

O povo ainda não tinha descido à rua. Estávamos na fase das puras operações militares, propriamente ditas, sem as quais não seria possível desencadear o verdadeiro processo político que precipitaria a queda do regime.

Afinal as forças armadas estavam a prestar um serviço público que poderia redundar num pesadelo para os seus protagonistas.

(26 de 32 continua)

MÁRIO SOARES

Acabei de ver uma grande entrevista de Mário Soares no programa "Sociedade Aberta" na SIC Notícias. Plena de vigor e de capacidade de afirmação dos valores essenciais do 25 de Abril: defesa da liberdade cidadã, das conquistas sociais, da concórdia nacional, da descolonização, sem a qual não seria possível a democracia, em suma, do progresso humano.

Não vale a pena perder tempo com os anões conservadores da política portuguesa depois de ouvir Mário Soares. Nem ficarmos preocupados, em demasia, com os ERRES da efeméride abrilista. Ninguém escapa, mesmo quem queira trocar as voltas à história, à nova realidade política e social que o 25 de Abril implantou em Portugal.

Mário Soares é, sem dúvida, quem melhor encarna os valores desse Portugal contemporâneo, na essência, democrático e progressista.

terça-feira, abril 20

Operação "mãos limpas" no futebol?

O Expresso on line informa que Avelino Ferreira Torres foi procurado pela PJ mas está em parte incerta. Ao mesmo tempo notícia a detenção de Valentim Loureiro.

Pode ser uma operação "mãos limpas" à portuguesa no futebol. Se assim for ainda bem apesar da imagem do país no estrangeiro se degradar ainda mais a curto prazo.

Mas mais vale correr esse risco a deixar "correr o marfim".

FUTEBOL

Uma paixão antiga. Desde criança, como milhões de crianças pelo mundo, sou um apaixonado pelo futebol. A prenda que mais me marcou na vida foi a primeira bola que meu pai me ofereceu em dia de aniversário. Uma bola de borracha com aquele cheiro tão característico.

No estádio de S. Luís, em Faro, vi jogos e treinos sem fim. Em todas as divisões possíveis e imaginárias. O futebol é um jogo fascinante. Desde logo porque é jogado com os pés, excepto o guarda redes. As mãos ficam de fora.

Ao ar livre. Faça chuva ou faça sol. O futebol sobreviverá a alguns dos seus dirigentes. A este tropel miserável de corruptores e corrompidos que invadiram o futebol profissional.

Sabem que também há o outro futebol, amador, praticado por amor ao jogo? Esse tem mais jogadores que espectadores. O espectáculo aí são os próprios jogadores protagonistas e espectadores do seu próprio jogo.

25 de Abril - notas pessoais

Na peugada da coluna de Salgueiro Maia


Perante o dilema de entrar, de imediato, no Quartel do Campo Grande ou seguir atrás da coluna militar tomamos a opção de perseguir a coluna. Mas antes deixamos o João Mário Anjos no quartel. Eu com o António Dias ao volante do Datsun 1200, matrícula HA-79-46, seguimos atrás da coluna de Salgueiro Maia.

A caminho da Avenida da República pensei com os meus botões na fraqueza aparente da força militar que havia de ser decisiva no destino do 25 de Abril. Um soldado que era visível num dos carros apresentava um aspecto de uma fragilidade impressionante.

Era uma coluna militar pouco convincente, pelo aspecto exterior, ostentando sinais de fraca capacidade militar. Na Avenida da Liberdade lembro-me de ter visto um polícia tomar a iniciativa de mandar parar um ou outro carro para não perturbar o avanço da coluna. Seriam 4 horas da madrugada e saíam clientes do "Cantinho do Artista" no Parque Mayer.

Éramos, certamente, os únicos perseguidores e acompanhantes exteriores daquela força e queríamos viver os acontecimentos ao vivo.

(25 de 32 continua)

segunda-feira, abril 19

POEMA DE 28 DE MAIO AO CONTRÁRIO


Gigante foi a luz que acesa se estendeu
por sobre as trevas de um povo prisioneiro

Ninguém esperava que no primeiro impulso
de um movimento militar se abrissem todas as janelas

e todas as portas. Mas abriram-se e por elas
a luz e as vozes foram restituídas.

Todos agora, exército e povo, os militares e os políticos,
e quantos nunca pensaram que a política é coisa

de todos os dias ter de aprender-se a ver,
a falar e a ouvir, lá onde na caverna

só sombras de fantasmas existiam.
Todos têm de aprender a governar e a governar-se n`alma

e a fazer governo a liberdade e as vozes
e o direito de existir-se à luz do dia

como gente viva num país que é ela.
Todos têm de aprender que a liberdade não existe

apenas porque é dada, pois pode ser tirada,
ou apenas porque é conquistada, pois pode ser

licença em que não reste senão ela perder-se.
Têm de aprender que não pode ter-se num só dia

o que se perdeu em décadas. E que a Justiça
é a Liberdade que pensa mais nos outros que em si mesma.

Santa Bárbara, 28/5/74

Jorge de Sena


POEMAS "POLÍTICOS E AFINS" (1972-1977)
In "40 ANOS DE SERVIDÃO"




GOVERNO DE ZAPATERO

Um aspecto pouco realçado do novo governo socialista de Espanha: a paridade. O número de ministras (mulheres) é igual ao de ministros (homens). Julgo que é uma novidade absoluta em governos de países meridionais. Sinal de um grande avanço civilizacional. Talvez mais eficaz no combate ao radicalismo islâmico do que mil soldados no Iraque. Á atenção dos socialistas portugueses.

O Voto em Branco

O voto em branco ganhou um adepto em Luís Delgado. O almoço de Saramago com Durão Barroso começa a produzir efeitos. Delgado, um dos 10 grandes educadores da opinião pública portuguesa, mostra desacordo com a escolha de Deus Pinheiro e revela o seu voto nas eleições europeias: branco.

Deus Pinheiro não é assim muito mobilizador. Tem o ar de estar sempre de regresso de uma partida de golf ou de um cruzeiro nas Caraíbas. A esquerda e, em particular, o PS que não entre em euforias.

Luís Delgado está farto de se enganar. Deus Pinheiro pode ser melhor candidato do que se possa pensar.

domingo, abril 18

25 de Abril - notas pessoais

Finalmente sinais de acção


Retenho muito viva na memória a imagem do carro do combate que encabeçava a coluna a irromper diante de nós. Tinha surgido na escuridão da noite uma coluna militar que tomaria a direcção do centro da cidade. Vislumbramos um carro "nívea" da polícia na penumbra que não esboçou qualquer movimento.

O Campo Grande não era como hoje. Havia um desnível e o carro de combate que vinha na nossa direcção deu um salto rápido para tomar contacto de novo com o chão. Foi uma espécie de salto mágico que desde esse momento, com frequência, me assalta a memória.

A comoção que sentimos é indescritível. Era um sonho que se tornara realidade. Fomos, certamente, os únicos que assistimos e registamos, ao vivo, esse momento. Esta é a primeira vez que ele é relatado. Soubemos, mais tarde, que aquela era a coluna, oriunda de Santarém, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia.

Naquele momento colocava-se a opção de cumprir o nosso objectivo e entrar no quartel do Campo Grande ou seguir atrás daquela surpresa entusiasmante.

(24 de 32 continua)

Zapatero cumpre promessa

Zapatero anuncia retirada imediata das tropas espanholas do Iraque

O novo primeiro-ministro espanhol, que ontem prestou juramento, vai mesmo retirar as tropas espanholas do Iraque. A confirmação foi feita hoje, pelo próprio, num inesperado encontro com jornalistas em Moncloa: os soldados vão abandonar o Iraque "no menor tempo e com a maior segurança possíveis".

VEJA AQUI NOTICIA DO EL MUNDO (clique: elmundo.es). Espera-se conferência de imprensa de Durão Barroso a comentar a decisão do Governo de Espanha. Manda a coerência...


Um cartaz em Nova Yorque

Retomei a leitura do livro "Saudades de Nova Yorque", de Pedro Paixão. Num dos seus capítulos sucintos refere que, um dia, viajando em Nova Yorque, viu um cartaz enorme onde dizia: "Considera suportável que a sua geração tenha visto duplicar o número de imigrantes?"

É, por coincidência, o tema de um artigo que estou a escrever para publicar, em breve, no "Semanário Económico".

Entre 1991 e 2001 o número de imigrantes aumentou, em Portugal, 83%. Não foi assim preciso uma geração para que o número de imigrantes quase tenha duplicado no nosso país. Como todos os estudos provam, com riscos e dificuldades de integração, foi suportável para Portugal acolher estes imigrantes.

E ainda fazem faltam muitos mais. Os imigrantes são uma exigência demográfica e uma necessidade económica do Ocidente. O nosso país não é excepção e a imigração representa, no essencial, um benefício para Portugal.

Assim hajam políticas realistas na definição das necessidades em mão de obra imigrante e humanismo na promoção da integração social das suas comunidades.


sábado, abril 17

O gato


Com um lindo salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pega corre
Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga

Vinícius de Moraes


25 de Abril - notas pessoais

A espera sem fim


Nessa espera sem fim da madrugada de 24 de Abril de 1974 a certa altura alguém me acordou com incontida emoção. Tinha passado a canção.

Era mesmo a sério. A noite ia alta. Saímos os três. Eu e o João Mário metemo-nos no carro do António Dias que, conduzido por ele, caminhou para a 2ª Circular a caminho do Campo Grande. O Milhomens saiu para a baixa da cidade.

O nosso objectivo era tomar posição dentro do 2º GCAM o mais cedo possível. Mas, ao contrário do que aconselhava a prudência, não o fizemos logo. Antes fomos dar uma volta de carro pelas redondezas a ver o que se estaria a passar na EPAM.

Passamos defronte da EPAM e conseguimos ver o Teixeirinha junto ao muro, equipado de arreios, preparado para integrar o grupo que ocuparia a RTP. Não observamos nenhum outro sinal da acção iminente.

Regressamos à 2ª Circular para reforçar a observação do movimento começando a desconfiar que ia ser um novo 16 de Março. Um fracasso. Encetamos, de novo, o caminho do quartel do Campo Grande.

Ao entrar no Campo Grande surgiu, inesperadamente, diante de nós, uma coluna militar.

(23 de 32 continua- republicado depois de uma correcção)


ALDINA DUARTE

Volto a Aldina Duarte, e à sua entrevista a Ana Sousa Dias, para assinalar a minha surpresa pelo extraordinário impacto do seu desempenho. As pesquisas buscando o seu nome, que têm desembocado no absorto, são em número muito superior ao normal.

Espero que a Aldina Duarte, que não conheço, seja capaz de manter-se fiel às suas próprias convicções, resista às armadilhas da popularidade, que está na sua mão alcançar, desenvolva a sua arte e seja feliz.

Um dia destes vou vê-la ao "Senhor Vinho", mesmo ao lado de uma mercearia onde tantas vezes almocei, em ambiente familiar, pertinho do GEBEI, na rua das Praças, onde trabalhei, alguns anos, no seio de uma equipa extraordinária.

Mas estas são contas de outro rosário.

sexta-feira, abril 16

Sentido de Estado…

Segundo a comunicação social, e todos nós que pudemos ouvir, Durão Barroso afirmou:
"O novo Governo espanhol anunciou que ia retirar as tropas do Iraque e imediatamente disse que ia aumentar a presença no Afeganistão. Sentiu necessidade de o dizer, reparem nisso. Imediatamente a Al-Qaeda reforçou as ameaças contra Espanha. E neste momento a situação naquele país não é de forma alguma mais segura do que em Portugal, bem pelo contrário".

Esta afirmação vai certamente sair cara a Durão Barroso e...a Portugal. Comparações acerca da segurança entre dois países vizinhos feitas pelo Primeiro-ministro do Governo de um desses países? Depois do que aconteceu em Espanha? Para uma "conversa de café" não estava mal! Mas para Chefe de Governo não pode ser verdade...estranha noção do Sentido de Estado.

Abril com "R"


Trinta anos depois querem tirar o r
se puderem vai a cedilha e o til
trinta anos depois alguém que berre
r de revolução r de Abril
r até de porra r vezes dois
r de renascer trinta anos depois

Trinta anos depois ainda nos resta
da liberdade o l mas qualquer dia
democracia fica sem o d.
Alguém que faça um f para a festa
alguém que venha perguntar porquê
e traga um grande p de poesia.

Trinta anos depois a vida é tua
agarra as letras todas e com elas
escreve a palavra amor (onde somos sempre dois)
escreve a palavra amor em cada rua
e então verás de novo as caravelas
a passar por aqui: trinta anos depois.

Manuel Alegre

(Enviado por MM. Sim, bonito)