sexta-feira, fevereiro 11

"Nada Será Esquecido"

O "Público", de hoje, deu-me a ler um relato de campanha do PS, em Lisboa, com duas referências que me tocaram: a energia de Jorge Coelho e as intensas manifestações de afecto dirigidas a Ferro.

O povo não esquece e, como diz Correia de Campos, “nada será esquecido”.

"Semi-Democracia"

Santana Lopes criou uma nova categoria de democracia: "Semi". Desde que as notícias da democracia não lhe sejam favoráveis é semi. Faltam 9 dias.

Líder do PSD diz que Portugal "parece estar a cair numa situação de semi-democracia"
Santana Lopes acusa orgãos de comunicação social de fazerem campanha

quinta-feira, fevereiro 10

Obrigado a Portugal


Estas duas imagens são a minha homenagem à liberdade reconquistada em 1945 com a derrota do nazi-fascismo. E caso algum sobrevivente se reconheça neste programa antigo - tantos eram jovens - maior será a minha felicidade.

Programa


Esta imagem e a anterior são fragmentos
de um programa antigo, de 19 de Dezembro de 1940,
em época de guerra. Refugiados de toda a Europa,
devastada pela ofensiva nazi, procuravam
um porto de abrigo e uma plataforma
de onde embarcar para outras paragens.
Quase todos judeus.

Muitos artistas de todas as artes.
O Teatro da Trindade, que tão bem conheço,
serviu de palco para que os refugiados agradecessem
o acolhimento dos portugueses. Esse espírito solidário
de um povo que nem o regime ditatorial foi capaz de quebrar.

A liberdade acaba sempre por vencer a tirania.
Mas é preciso não vergar a espinha às ameaças
dos novos aspirantes a ditadores.
Eles com os seus cânticos populistas,
quais aves predadoras, volteiam no ar
em torno das nossas cabeças.
O esquecimento é a sua arma.
É preciso lembrar ao povo, sem saudosismo,
o terrível passado das ideologias nacional-populistas.

Populismo em Estado Puro

“CDS, o partido revolucionário do séc. XXI
Pires de Lima responsabiliza esquerda por salários baixos”

Onde é que eu já ouvi isto? Pelo menos os mais velhos conhecem a herança salazarista: ditadura= miséria cívica e material.

Os dirigentes do CDS/PP são os depositários históricos dessa herança e eles sabem que a ditadura salazarista também se apresentou como uma Revolução Nacional.

Não brinquem com a memória de um povo que sofreu 48 anos de ditadura, em grande parte, sob a direcção de um "partido revolucionário". São coisas sérias demais!

Veja aqui um exemplo ilustrativo.



A Crise do PSD

Tudo indica que a crise está instalada no PSD. Para lavar e durar.

Ver aqui, aqui e aqui.


quarta-feira, fevereiro 9

Luciana


“Seja como for, hoje rompeu
uma ponta de sol e desço à
beira rio. Levo Luciana comigo.
Conheço-a ainda mal. Cabelo
azulado, um pouco mais claro
do que a asa do corvo, voz
com o toque da tal rouquidão
que excita não há dúvida os
homens. Fala de montanhas
cobertas de neve, uma fonte
para encher a bilha, searas,
fruta, o corpo nu na espuma
duma corrente. Coisas naturais
e ingénuas, o que é, a voz velada
dá-lhes a lentidão, o erotismo,
dos sonhos mais fundos.
Eis o que sei a respeito dela.”

“O Aprendiz de Feiticeiro”
Carlos de Oliveira

Fragmentos – (Chuva)
pag: 15, 16 e 17 (2 de 6)

Marcelo na RTP

Todos sabemos que a política não é um paraíso onde a virtude floresça. Alguns protagonistas distinguem-se, no entanto, pela sua falta de vergonha a confundir as questões e a mentir ao povo. É o caso da tomada de posição do PSD acerca de Marcelo como futuro comentador na RTP.

Sócrates colocou uma questão pertinente. A RTP não é, de facto, uma entidade privada como a TVI ou a SIC. A RTP, pela sua natureza, tem obrigações de serviço público que os canais privados não têm.

Já antes Vital Moreira tinha colocado a questão nos termos em que deve ser colocada.

Tudo mudará de figura se o PSD quisesse privatizar a RTP. Mas para isso precisava ser governo. Como não vai ser deixa o terreno minado. Na RTP e não só...


Imigração nos Programas Eleitorais do PS, PSD e CDS/PP

Finalmente consegui o acesso à leitura do programa eleitoral do CDS/PP. Interessava-me conhecer a abordagem do CDS/PP à questão da imigração. Afinal a posição do CDS/PP é assim como uma espécie de "célula adormecida" usando a linguagem da luta anti-terrorrista tão do agrado da direita radical.

Insere a questão da imigração no capítulo da "Segurança", tal como o PSD, assume a neutralização da natureza "fracturante" da questão e dispersa a sua abordagem em alíneas ao longo daquele capítulo. Ao contrário dos partidos liberais, conservadores e de extrema direita (vejam-se os casos do Partido Conservador Britânico e dos partidos da coligação de direita que acabou de vencer as eleições na Dinamarca) não coloca a imigração como uma questão prioritária nos planos ideológico, social e político.

A imigração para o CDS/PP como que "passou à clandestinidade". Não será, certamente, falta de coragem mas cálculo estratégico tendo em vista eventuais acordos ou alianças com o PSD ... ou o PS.

Por sua vez o PDS resume a questão a dois parágrafos onde se perfilam as mesmas ideias contidas no programa do PS. Pela sua irrelevância (estranha opção da direcção do PSD) não trancrevo esses parágrafos no link abaixo.

Por fim o PS apresenta a questão da imigração num capítulo autónomo, inserindo-a no contexto das políticas sociais, muito bem estruturado, actualizado e completo. As minhas congratulações e esperanças de que, no essencial, caso o PS venha a constituir governo, tal programa seja concretizado.

Ver os programas do PS e do CDS/PP, referentes à questão da imigração, no IRAOFUNDOEVOLTAR.

Chuva

“Temos o inverno à porta. A cidade pressente-o: vai-me cair o céu em cima e o céu agora não é a transparência leve de Agosto ou Setembro, uma coisa de nada, etérea como os escritores dizem, longe disso, é o peso das nuvens carregado de electricidade, a ameaça quase a desabar. Pressinto-o eu também: vai de facto cair não tarda muito. Basta ver como a cidade se tornou um desenho aguado e fusco a tinta da china. O clarão de barro a cozer extinguiu-se nos telhados, desapareceu a chama trémula dos grãos de areia, que me enchia o quarto toda a tarde, vinda de Montes Claros. E a propósito: os escritores já não chamam etéreo a nada nem ao céu de verão.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Chuva) – pag. 15,16 e 17 (1 de 6)

terça-feira, fevereiro 8

Homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen

A Fundação das Casas de Fronteira e Alorna promove uma homenagem a Sophia que inclui a "leitura integral da sua Obra Poética segundo a edição definitiva da Editorial Caminho, editada em 2004."

16 de Fevereiro, 2, 16, e 30 de Março, 13 e 27 de Abril,
11 e 25 de Maio, 8, 22 e 29 de Junho de 2005


III CICLO DE MÚSICA E
POESIA PORTUGUESA DO SÉC. XX
HOMENAGEM A SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Segundo o programa "Dado o carácter especial de homenagem de que este ciclo se reveste, entendeu a Fundação dar a possibilidade a outras pessoas, para além dos leitores que colaborarão regularmente nas sessões, de a ela se associarem lendo um poema em voz alta. Bastará para isso que nos informe atempadamente, por carta ou e-mail (cristinasousa@ip.pt), do poema que escolheu e que compareça na respectiva sessão. Caso a escolha recaia num poema que esteja “tomado”, será informado do facto e terá a possibilidade de alterar a sua escolha."

Faltam 11 dias

Santana Lopes, com ar displicente, no lugar de “Homem de Estado” chama os jornalistas e dá explicações acerca das questões eleitorais. Acrescenta um passeio com os filhos pelos jardins de S. Bento. Explica porque não faz campanha fazendo-a na residência oficial do primeiro-ministro. À sombra e à conta do Estado. Assim vamos cantando e rindo. Só o tempo resolve a cegeira que o bom senso não é capaz resolver.Faltam 11 dias.

A Hora das Grandes Decisões

A notícia não é inocente. Se for verdade o xadrez eleitoral fica mais claro: PS com maioria absoluta nas legislativas, quer dizer que Sócrates “elimina” Santana, “inibe” Guterres e “impulsiona” Cavaco.

A partir de Janeiro de 2006 à maioria absoluta do PS (8 ano de governo, no cenário mais favorável) corresponderia a presidência de Cavaco (10 anos no cenário mais provável).

É a possibilidade da concretização de um cenário com a obtenção do máximo denominador comum de estabilidade política e autoridade democrática.

Caso o PS não alcance a maioria absoluta nas legislativas tudo será diferente. A ver vamos!



"Olho-te nos olhos e pergunto-me de que côr serão teus sonhos..."


Terça-feira gorda. O Dr. Santana Lopes não faz campanha eleitoral no Carnaval. Mas assinou ontem um protocolo. Com pompa e circunstância. Ainda se fosse a inauguração do novo aeroporto da Ota. Como primeiro-ministro valia a pena o desaforo. Mas não tem obra para apresentar. Uns livros e um protocolo para dar uso civil a um aeroporto militar. Ainda por cima sem a presença do ministro da defesa. Até deu para o Eng.º Sócrates dar um elogio ao Dr. Portas.

Não sei o que se passa na cabeça do dito cujo mas tenho para mim que está a tentar colocar-se no papel do que ele pensa ser o sentimento do cidadão comum. Descrédito nos políticos. Mal por mal antes o Pombal! Esta estratégia do Dr. Santana, e do seu círculo restrito de amigos, ou está muito bem urdida ou está à deriva. Inclino-me mais para a segunda hipótese.

O Dr. Santana entrou naquela fase de roda livre em que tudo se pode esperar. Ou me aceitam como sou ou nada feito! O PSD que se lixe! Acho que o Dr. Santana vai acabar na “Quinta das Celebridades II” a ganhar umas massas e a aproveitar da notoriedade do cargo de “primeiro” e da campanha eleitoral.

De cada vez que lhe vejo o olhar a imagem que dele transparece é o vazio.

Fotografia de Helder Gonçalves- Granada, 2003

segunda-feira, fevereiro 7

Mário de Sá-Carneiro

Quasi

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d´espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quasi vivido...

Quasi o amor, quasi o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quasi, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos d´alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos d´herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

..................................................................
..................................................................

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Paris, 13-5-1913

Mário de Sá-Carneiro

"Só"

“Estou de facto só. Apesar de tu existires, Gelnaa, rejeito em bloco o passado, o presente, o futuro e escrevo as duas palavras, desolação, desilusão, que tanto ponderei. Para quê afinal se hoje não tenho outras?”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 14 (3 de 3)

"O Chumbo"

Na vida como na política o carácter dos homens determina o essencial da sua acção. Não é possível esconder todo o tempo a perversidade do carácter dos homens públicos. Em democracia essa é mesmo uma tarefa impossível.

Ao fim de algum tempo a propaganda que transformara um político num decisor perfeito como que se desmorona. Isso acontece quando o carácter do homem político se revela vulgar, atreito a preocupar-se com as tarefas mesquinhas, os juízos preconceituosos e as decisões sectárias, quando não persecutórias.

O carácter dos homens é, no fundo, o essencial na política. Bagão Félix é uma expressão da verdadeira natureza do mal na política. A dissimulação levada aos limites torna-se uma obsessão perigosa para a própria democracia. Até Santana Lopes foi obrigado a reconhecer isso quando “dispensou” Bagão Félix de um seu governo virtual que o povo português, por sua vez, também já dispensou.

Estamos a 12 dias das eleições. Santana esbraceja qual naufrago que agarra, desesperado, todos os sobreviventes, arrastando-os para o fundo. Bem vistas as coisas é provável que só venham a sobreviver os que ficaram fora do "barco do santanismo" ou os que se protegeram com o silêncio autentico da vergonha.

Leia-se: "O Chumbo", de Nicolau Santos, in “Expresso on line” (acesso integral à leitura só para assinantes):

“O Presidente da República vai vetar a nova Lei Orgânica do Ministério das Finanças. Faz Jorge Sampaio muito bem. Sob essa capa, o que o ministro das Finanças pretende é acabar com a autonomia administrativa e financeira de entidades reguladoras, como o Instituto de Seguros de Portugal e a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, e passar a controlá-las do Terreiro do Paço.”

sábado, fevereiro 5

Debate a Dois

Eleições e Debates. Programas e protagonistas. Já temos assistido a muitos. Soares, Cunhal, Freitas, Sá Carneiro, Pintassilgo, Mota Pinto, Eanes, Sampaio, Cavaco, Constâncio, Ferro, Durão.

Santana, Sócrates. Este foi mais um. Mas ficou à vista de toda a gente que um só debate não é suficiente. Seriam necessários dois ou três. A Sócrates não interessavam? Tenho as maiores duvidas. Pois Sócrates os ganharia a todos. Foi um erro da estratégia do PS. Santana não suportaria ser confrontado com as “trapalhadas” e não chegou a sê-lo. Aí saiu beneficiado.

Além do mais, e mais importante, não se abordaram diversas questões centrais da política nacional. Isto é um assunto sério. Salvo alguma referência telegráfica nem uma palavra acerca da educação, saúde, justiça, imigração, demografia, defesa, segurança, Europa, relações externas…A complexidade dos problemas da governação não foram revelados.

Eu vi, na íntegra, um dos debates entre Bush e Kerry. Aí se revelavam, com mais clareza, as diferenças dos programas e das personalidades. Aqui parece um jogo das escondidas. Sócrates acabou por se diferenciar puxando para a primeira linha as questões sociais. Curioso jogo que eu tinha previsto, num post antigo, comentando o Congresso do PS.

Sócrates marcou a diferença onde recusara a diferença no debate interno. Mesmo na questão do que “é vencer” as eleições no discurso de Sócrates aflorou um lapso, ou uma “fraqueza”, quando não atacou, logo na primeira frase: “para o PS vencer é obter a maioria absoluta”. A sua resposta foi um acto falhado lembrando o discurso de Guterres em 1999.

Por outro lado Alegre hoje surgiu em Beja a reforçar a linha da esquerda socialista que Ferro encarnaria com mais autenticidade. Com um PSD desfeito e Santana Lopes desacreditado a maioria absoluta joga-se, afinal, à esquerda. Suprema ironia, com profundas consequências futuras, para Sócrates que surge perante a opinião pública com um programa político de centro-esquerda.

O debate serviu, ao menos, para mostrar, e isso é positivo, que Santana e Sócrates são diferentes.

Ver esta análise bastante interessante.