O Dr. Bagão Félix ainda publica legislação, despachos e portarias.
Um dia destes recebi uma citação das finanças com ameaça de penhora de bens. Como descrevi num post anterior fui a correr às finanças saber de que se tratava. Era uma quantia irrisória que resultou, conforme me foi dito, de um acerto provocado por questões informáticas. Não havia, de facto, dívida alguma. A quantia era pequena e para evitar o calvário das reclamações a que o contribuinte se sujeita paguei.
Mas, a partir de agora, olharei os funcionários das finanças como patrões com interesse directo nos resultados das cobranças. Como responsáveis directos pelos erros e omissões. Desconfiarei sempre da boa fé das suas contas. Não perdoarei as desatenções e as esperas. Nenhum erro se pode perdoar a quem dele pode beneficiar.
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, março 24
ENQUANTO HÁ FORÇA

Enquanto há força
No braço que vinga
Que venham ventos
Virar-nos as quilhas
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Cantai também
Levanta o braço
Faz dele uma barra
Que venha a brisa
Lavar-nos a cara
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Dançai também
José Afonso
quarta-feira, março 23
Gracias a la vida

Gracias a la vida (Mercedes Sosa)
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abecedario
con él, las palabras que pienso y declaro
madre, amigo, hermano
y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos
playas y desiertos, montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano
cuando miro el bueno tan lejos del malo
cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida, gracias a la vida
(Agradecendo à Colombina)
terça-feira, março 22

Haverá quem ache estranho as minhas deambulações pelas memórias, pelos antepassados, pelos caminhos e lugares da infância.
Essa estranheza não me estranha. Mas nenhum percurso se faz sem passado, sem enlaçar outros percursos, sem comunicação, sem resposta mesmo quando nos julgamos imortais.
Alguém, além de nós, que nos compreenda e acredite é o maior anseio do homem.
Creio nos meus porque sei que me acompanham sempre mesmo quando parece que os não acompanho.
Poucos desses estão fora da família natural. Nela reside o segredo da minha crença no futuro do homem.
Fotografia de Hélder Gonçalves

No Cimo do Monte
Subi este fim-de-semana ao cimo do monte onde brilha a casa
dos meus avós maternos José Fernandes de Brito (7/11/1891- 12/10/1979)
e Rosa da Conceição Marques (1/1/1892 - 7/12/1984)
no sítio de Sinagoga, Santo Estêvão, Tavira. Do terraço,
ao alto, pintado de branco puro, avista-se a costa algarvia,
de lés a lés, desde Espanha às cercanias de Olhão.
Muita terra, arvoredos, céu azul, lugares camponeses,
aldeias piscatórios e as praias todas. No sentido do norte o
barrocal com a sua vegetação característica a que sempre ouvi
chamar de mato. Tomei o compromisso, para com a minha mãe,
de manter aquela casa, através das gerações, para que os vindouros
possam nela rever-se na vida dos seus antepassados camponeses.
Para que com essa memória se não perca o sentido do tempo e
da honra da pertença a uma família camponesa honrada e a um
povo e dela se possa imaginar até a vista das sandálias que a minha
mulher um dia fotografou abandonadas numa daquelas praias à
distância de um golpe de olhar à mistura com as copas das árvores.
segunda-feira, março 21
Viva o Retrocesso !
Hoje é dia de apresentação e discussão do programa do governo socialista no Parlamento.
Passam para a opinião pública bastantes boas ideias. Retive algumas. Orçamento de estado plurianual a partir de 2006. Uma revolução. Podem crer! Se for para fazer.
Combate à pobreza a começar pelos idosos com 80 anos ou mais e a "deslizar", anualmente, até aos 65 anos. Boa ideia para medir sensatamente o impacto social e financeiro da medida.
Redução das férias judiciais de dois para um mês. E outras, muitas outras, no terreno da economia. Talvez tenham saltado para a opinião pública ideias demais. Mas se o governo não apresentasse ideias no princípio de vida ...
Assim o governo acredita-se desde que seja capaz de acompanhar os anúncios com as concretizações. Os representantes das corporações atacam.
Os representantes dos sindicatos resignam-se e esperam. Aliás são sempre os mesmos e já seria hora de mudarem de elenco! É o Carvalho e o Proença, o Proença e o Carvalho. Bolas!
Desta vez o representante dos farmacêuticos deu um ar da sua graça. Denunciou o "retrocesso" da venda de medicamentos fora das farmácias. Que falta de imaginação!
Os agentes da justiça atacam a redução das férias judiciais.
Não acreditam? Se as corporações estão contra as medidas anunciadas pelo governo é porque elas devem ser boas. É um critério um pouco grosseiro mas, infelizmente, com grandes hipóteses de ser justo.
"Diário do Governo" - 5
Passam para a opinião pública bastantes boas ideias. Retive algumas. Orçamento de estado plurianual a partir de 2006. Uma revolução. Podem crer! Se for para fazer.
Combate à pobreza a começar pelos idosos com 80 anos ou mais e a "deslizar", anualmente, até aos 65 anos. Boa ideia para medir sensatamente o impacto social e financeiro da medida.
Redução das férias judiciais de dois para um mês. E outras, muitas outras, no terreno da economia. Talvez tenham saltado para a opinião pública ideias demais. Mas se o governo não apresentasse ideias no princípio de vida ...
Assim o governo acredita-se desde que seja capaz de acompanhar os anúncios com as concretizações. Os representantes das corporações atacam.
Os representantes dos sindicatos resignam-se e esperam. Aliás são sempre os mesmos e já seria hora de mudarem de elenco! É o Carvalho e o Proença, o Proença e o Carvalho. Bolas!
Desta vez o representante dos farmacêuticos deu um ar da sua graça. Denunciou o "retrocesso" da venda de medicamentos fora das farmácias. Que falta de imaginação!
Os agentes da justiça atacam a redução das férias judiciais.
Não acreditam? Se as corporações estão contra as medidas anunciadas pelo governo é porque elas devem ser boas. É um critério um pouco grosseiro mas, infelizmente, com grandes hipóteses de ser justo.
"Diário do Governo" - 5
domingo, março 20

As terras a sul estão da mesma cor como sempre as conheci. Aqui e ali despontam uns tímidos tons de verde. Todos estão conformados ao castanho tisnado da descrença. Agora já não é a "pesada herança" mas o presságio futuro da desgraça. Mudam os tempos mas não mudam as vontades. Fotografia de Helder Gonçalves
Crise Lamentável
Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente,
Não ter juízo nos meus livros - mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.
Não ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia para quebrar as roscas
Desta engrenagem que emperrando vai.
- Não mandar telegramas ao meu Pai,
- Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me e sair - não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
- Pôr termo a isto de viver na lua,
- Perder a “frousse” das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento -
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento.
Que tudo em mim é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
E sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Paris, Janeiro de 1916
Mário de Sá-Carneiro
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente,
Não ter juízo nos meus livros - mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.
Não ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia para quebrar as roscas
Desta engrenagem que emperrando vai.
- Não mandar telegramas ao meu Pai,
- Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me e sair - não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
- Pôr termo a isto de viver na lua,
- Perder a “frousse” das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento -
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento.
Que tudo em mim é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
E sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Paris, Janeiro de 1916
Mário de Sá-Carneiro

O LIVRO - Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido. No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se. Almada Negreiros In "A invenção do dia claro" - 1921
sábado, março 19
Seca
Ao descer o caminho do campo da minha infância vi as figueiras secas que parecem peças de uma arte por inventar. Percebi uns laivos de rebentos nas pontas dos ramos, uma esperança de redenção. A seca é muito mais grave que Pedro Santana Lopes. A seca veio para ficar, todos já percebemos. Santana já partiu, mas ainda não percebeu. Ele e o Expresso que lhe dá direito a manchete.
Hoje a Sul
Um passeio pelas ruas da minha infância. Coelho de Melo, Brito Cabreira, Emiliano da Costa. A meio das ruas caminho e reparo nas portas e janelas que me separam da vivência dos seus interiores. Alumínio no lugar da madeira. Alcatrão no lugar da terra batida. Sem gente, sem alma, sem vozes, sem murmúrios. Um deserto.
Comprei 4 livros (em Faro compro sempre livros de poesia)
- João Lúcio – Poesias Completas - toda a gente se esqueceu deste poeta algarvio (1880/1918);
- Poesia de Vítor Matos de Sá (1926/1975)– Desconhecia a sua poesia belíssima;
- Natércia Freire -Obra poética –Vol I Poesias escolhidas 1942-52 ;
- Obra Poética Completa de Federico Garcia Lorca – edição brasileira da Martins Fontes (bilingue).
Deu-me prazer esta incursão pelas memórias e pelas compras.
Comprei 4 livros (em Faro compro sempre livros de poesia)
- João Lúcio – Poesias Completas - toda a gente se esqueceu deste poeta algarvio (1880/1918);
- Poesia de Vítor Matos de Sá (1926/1975)– Desconhecia a sua poesia belíssima;
- Natércia Freire -Obra poética –Vol I Poesias escolhidas 1942-52 ;
- Obra Poética Completa de Federico Garcia Lorca – edição brasileira da Martins Fontes (bilingue).
Deu-me prazer esta incursão pelas memórias e pelas compras.
sexta-feira, março 18
A Imigração no Programa de Governo do PS
"Portugal optou por uma política de abertura regulada à imigração, adoptando uma estratégia em torno de três eixos: regulação, fiscalização e integração. Esta estratégia foi inspirada na estratégia da União Europeia de criação de políticas comuns de estrangeiros e de asilo, a qual merece total adesão do Governo."
Esta é a primeira frase do programa de governo do PS respeitante à imigração. O capítulo integral referente a este tema pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
Esta é a primeira frase do programa de governo do PS respeitante à imigração. O capítulo integral referente a este tema pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
quinta-feira, março 17
Primavera
Imigração
Portugal surgiu num inquérito de opinião como um país xenófobo.
Os imigrantes seriam malqueridos pelo povo português. O inquérito é de 2003. Será que existe alguma relação entre esta revelação e o facto de Portugal ter sido governado, até há dias atrás, por uma coligação de direita que integrava o PP?
Se o povo português é xenófobo porque razão não votou em massa no PP? Nenhum partido assumiu politicamente, de forma aberta, a xenofobia! Ou o povo português não é xenófobo? Os inquéritos são muito traiçoeiros! O Presidente da República ficou surpreendido? A legislação não é adequada? Não havia política para a imigração? E vai haver, no futuro, política para a imigração?
O partido socialista apresentou, no seu programa eleitoral, uma política muito bem estruturada para a imigração. O programa do governo socialista foi aprovado hoje. Todos os portugueses esperam que seja para cumprir. O programa não é xenófobo antes se fundamenta na integração social dos imigrantes e na aceitação da diversidade étnica e cultural.
"Diário do Governo" - 4
Os imigrantes seriam malqueridos pelo povo português. O inquérito é de 2003. Será que existe alguma relação entre esta revelação e o facto de Portugal ter sido governado, até há dias atrás, por uma coligação de direita que integrava o PP?
Se o povo português é xenófobo porque razão não votou em massa no PP? Nenhum partido assumiu politicamente, de forma aberta, a xenofobia! Ou o povo português não é xenófobo? Os inquéritos são muito traiçoeiros! O Presidente da República ficou surpreendido? A legislação não é adequada? Não havia política para a imigração? E vai haver, no futuro, política para a imigração?
O partido socialista apresentou, no seu programa eleitoral, uma política muito bem estruturada para a imigração. O programa do governo socialista foi aprovado hoje. Todos os portugueses esperam que seja para cumprir. O programa não é xenófobo antes se fundamenta na integração social dos imigrantes e na aceitação da diversidade étnica e cultural.
"Diário do Governo" - 4
Subscrever:
Comentários (Atom)



