domingo, abril 29

Aniversário (um dia após)


Reconheço o amor nos olhos que me olham com desmedida atenção enquanto durmo. Os olhos de minha mãe adoravam ter esperança no futuro no qual jogava a sua crença de ir mais longe. A primeira mulher da minha vida. A mais ousada na sua imprevisível arte de romper barreiras e chegar mais além. A fonte da força que me mantém de pé contra todas as adversidades. Uma mulher de um só homem que não era homem de uma só mulher. A fidelidade nascida da tradição que não na fraqueza ou na futilidade. A irreverência herdada da rudeza do campo, das agruras da natureza à força de puxar a besta e de encaminhar a água à raiz certa não fosse perder-se uma gota. A escola da escassez sonhando a fartura que havia de vir fruto do trabalho honrado. Não perder tempo chorando o tempo perdido. Fazer do tempo um passeio para espairecer e voltar ao arado da vida com sonhos lá dentro. A mulher que se fez a si própria descobrindo os outros e o que se pode e se não pode fazer com eles. Aceitar mudar e escolher o caminho da mudança. Tactear o caminho levando ao colo os seus amores. A primeira mulher que acreditou no caminho hesitante que me havia de fazer homem. Sem saber para onde ia ao certo. Nem ninguém sabia, ninguém nunca sabe, mas não duvidou que havia de chegar a um lugar onde brilharia o sol e sou capaz de a lembrar como a minha primeira mulher. Aquela que mais me amou, sempre me amou além do que a vida pode conter de riqueza material. Um dia ao fim de uma longa caminhada sem sequer saber dos meus males escolheu morrer nos meus braços. A mais sublime homenagem que alguém pode prestar a alguém. De súbito suavemente, na alegria da celebração da juventude, deixou para sempre a esfusiante tradição de me abraçar como se fosse a criança que para ela nunca deixara de ser. [21/1/2008]

[Fotografia de família retratando minha mãe, um dia após o meu aniversário, em homenagem às famílias de sangue e alargada nas quais encontro apoio e alento para prosseguir em frente.]

sexta-feira, abril 27

ALBERT CAMUS (Apontamento fotográfico) 8


Albert Camus au cap Sounion, lors de son premier voyage en Gréce, en 1955.
"Je me révolte, donc nous sommes."
Le Figaro, hors-série
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quinta-feira, abril 26

ALBERT CAMUS (Apontamento fotográfico) 7


Albert Camus e Catherine Sellers nos ensaios de "Requiem pour une nonne", em 1957.
Camus tinha uma paixão pelo teatro tendo sido dramaturgo, encenador e ator:
"Le théatre n´est pas en jeu, c´est là ma conviction."
in Le Figaro, hors-série
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quarta-feira, abril 25

25 DE ABRIL

No 38º aniversário do 25 de Abril lembro-me dos passos que dei nesse dia distante. Era uma 4ª feira. Basta consultar o calendário. Estava no tropa e devo ter frequentado, nesse dia, o quartel do Campo Grande. O chamado, na gíria, 2º Grupo (de Companhias de Administração Militar).

Há dois anos atrás o Leite Pereira contou-me que, estando lá colocado, viu a minha ficha de suspeito quando ela lá chegou antecedendo o meu ingresso. Uma notícia que me surpreendeu apesar de tudo mas que fazia parte da rotina da época. Fervilhavam os boatos. Sabia que um golpe estava preparado para a madrugada de 24 para 25. A fonte era credível. Acreditei. Fiz por acreditar. Temi um banho de sangue. Pensei nos meus pais. No meu irmão. Na minha namorada. Mas julgo que mantive a descrição.

Como já contei, outras vezes, avisei os amigos civis mais íntimos. Organizei-me com os amigos militares que se haviam tornado conjurados. Não imaginava o que viria a passar-se após a arrancada da operação, um golpe militar, tornado revolução pela adesão popular. Um daqueles raros momentos de fusão que mudam o curso da história. Curto e fulminante.

[Versão adaptada de um post anterior.]

terça-feira, abril 24

ALBERT CAMUS (Apontamento fotográfico) 6


Albert Camus - Deux Magots, 1945

"En somme je vais parler de ceux que j´aimais. Et de cela seulement. Joie profonde."in Cadernos

Le Figaro, hors-série
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segunda-feira, abril 23

sexta-feira, abril 20

quarta-feira, abril 18

ALBERT CAMUS (apontamento fotográfico) 3


No final de Outubro de 1957 em Paris. Desde 17 de Outubro que a notícia da atribuição do Nobel era oficial. Camus escreveu nos Cadernos: " Nobel. Etrange sentiment d´accablement et de mélancolie."
Le Figaro , hors-série
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segunda-feira, abril 16

Albert Camus (apontamento fotográfico) 2


"Alger républicain ne sait pas tout, mais tout ce qu´il sait, il le dit."
Camus, jornalista, au centro, posa com a redação do jornal Alger républicain em 1938.
[Le Figaro - hors-série.]
 
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sexta-feira, abril 13

ALBERT CAMUS (apontamento fotográfico)



O meu amigo Carlos Pratas, conhecedor do meu gosto pela obra de Albert Camus, deixou-me um dia destes, sem aviso, um exemplar da Revista Le Figaro dedicada, exclusivamente, ao cinquentenário da sua morte. Melhor forma de expressar a sua amizade não poderia ter encontrado e retribuo o seu gesto com a publicação de algumas das fotografias que ilustram aquela magnifica edição. Não conhecia uma parte delas e interrompo a longa série de postes musicais - um silêncio da palavra que não do espírito - para dar à estampa algumas, ou fragmentos delas, como é caso desta (na Grécia, 1958) com um excerto do texto que a acompanha:  "J´ai grandi dans la mer et la pauvreté m´a été fastueuse, puis j´ai perdu la mer, tous les luxes m´ont alors paru gris, la misère intolérable."   (É a luz da sua Argélia que irradia do seu olhar e da sua obra.)        
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