La cogida y la muerte
A las cinco de la tarde.
Eran las cinco
en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la
tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo
demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.
El viento se
llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y
níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las
cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la
tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las
campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas
grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡ Y el toro solo corazón
arriba !
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue
llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a
las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de
la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la
tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la
tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El
toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba
de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a
las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco
de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y
el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la
tarde.
¡ Ay qué terribles cinco de la tarde !
¡ Eran las cinco en todos
los relojes !
¡ Eran las cinco en sombra de la tarde !
Federico Garcia Lorca
[A poesia sempre esteve muito presente neste blogue pela simples razão do meu gosto por ela. Ainda mais a partir de outubro de 2001, após a morte de minha mãe, quando retomei eu próprio o exercício da escrita intencional de poesia e, ao mesmo tempo, da leitura da obra de poetas que conhecia menos bem. É o caso de Lorca. Este post é de março de 2004. ]
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, dezembro 2
sábado, dezembro 1
BOLO DE GILA
Para a Bel
No outro dia num pequeno café/restaurante aqui
para os lados de Campolide serviram-me um doce de sobremesa. Senti o sabor da
gila e da amêndoa, uma textura que me reenviou para o “bolo de gila” da minha mãe. Uma
especialidade. São os momentos em que nos reencontramos, de verdade, com a vida.
Lembrei-me de uma história que ela contava. Já tarde, decidiu tirar a carta de
condução. Fez o que tinha que fazer. Código, lições de condução, exames. Em
todos passou. Aprovada. Carta na mão. Alegria. Era mais um passo na afirmação da
sua autonomia. O examinador, segundo ela, era muito simpático. Vai daí minha
mãe, como sempre fazia, sem falsos pudores, preparou, com esmero, um bolo de
gila para lhe oferecer. Dirigiu-se a ele e o Eng.º não quis receber a prenda. A
minha mãe tomou-se de uma indignação sem limites. Insistiu. Voltou a insistir.
Não compreendia os problemas do homem que, finalmente, se deu por vencido e
aceitou o bolo. Cedência a uma manifestação de regozijo? Ou aceitação do
pagamento de um favor? O que a minha mãe queria era festejar!
[Post de novembro de 2009, dedicado à minha cunhada Bel. O bolo de gila era o favorito de minha mãe e, apropósito, uma pequena história revelando o seu caráter. Um dos postes mais lidos deste blogue desde que existe contagem e, além do mais, um dos mais felizes (para mim).]
sexta-feira, novembro 30
A POESIA ESTÁ NA RUA
“A Poesia Está Na Rua” na recta final. Descobri agora, no site de
Daniel Faria, a imagem que foi criada para o projecto da Associação de
Jornalistas e Homens de Letras do Porto e do INATEL, em 1999, pelo
25º Aniversário do 25 de Abril.
Por triste ironia do destino Daniel Faria havia de morrer pouco tempo depois da concretização deste projecto.
O exercício de juntar uma das 94 fotografias, que o Hélder Gonçalves me disponibilizou, a cada um dos poemas que constam daquela colecção, torna-se cada vez mais difícil.
A partir de hoje o ritmo de publicação vai passar a ser quase diário culminando, salvo qualquer imprevisto, no próprio dia 25 de Abril.
[Post de 9 de abril de 2007 lembrando uma iniciativa emblemática do INATEL, a partir de uma ideia da Manuela Espirito Santo (que viva!) e que muito prazer (e trabalho) nos deu! Repliquei os poemas todos deste projeto até ao dia 25 de abril de 2007.]
Por triste ironia do destino Daniel Faria havia de morrer pouco tempo depois da concretização deste projecto.
O exercício de juntar uma das 94 fotografias, que o Hélder Gonçalves me disponibilizou, a cada um dos poemas que constam daquela colecção, torna-se cada vez mais difícil.
A partir de hoje o ritmo de publicação vai passar a ser quase diário culminando, salvo qualquer imprevisto, no próprio dia 25 de Abril.
[Post de 9 de abril de 2007 lembrando uma iniciativa emblemática do INATEL, a partir de uma ideia da Manuela Espirito Santo (que viva!) e que muito prazer (e trabalho) nos deu! Repliquei os poemas todos deste projeto até ao dia 25 de abril de 2007.]
MARTÍN PALERMO - O HERÓI PROVÁVEL
No último jogo Argentina-Peru, Martín Palermo, de 35 anos, o
único futebolista do mundo que falhou três penáltis no mesmo jogo, foi o herói
provável. O encanto do futebol que hoje, pelas 19,45 horas, em Guimarães, não
gostaria de ver quebrado!
[Este post improvável de outubro de 2009 é dos que tem maior audiência. Vá saber-se porquê!]
[Este post improvável de outubro de 2009 é dos que tem maior audiência. Vá saber-se porquê!]
quinta-feira, novembro 29
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Igual - desigual
Eu desconfiava:
Todas as histórias em quadrinhos são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os "best-sellers" são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas, e rondóis são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.
Todas as histórias em quadrinhos são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os "best-sellers" são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas, e rondóis são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.
Carlos Drummond de Andrade
[Post de fevereiro de 2004 na busca de um registo para contribuir, modestamente, para a divulgação dos poetas do modernismo brasileiro, sabendo que Drummond de Andrade é um dos maiores. Drummond foi tardiamente divulgado na Europa como referiu, recentemente, na TV portuguesa (Câmara Clara), o escritor brasileiro António Torres.]
NUNO TEOTÓNIO PEREIRA - 90 ANOS
No dia do nonagésimo aniversário do Nuno Teotónio Pereira, em sua homenagem,
reproduzo uma peça que escrevi para o blogue Os Caminhos da Memória que melhor
não seria capaz de escrever neste preciso dia:
Nuno Teotónio Pereira foi, recentemente, evocado numa cerimónia comemorativa do 85º aniversário da Associação de Inquilinos Lisbonenses. Um dia, pelos idos de 2004, numa série de postas, fiz-lhe uma breve, e escassa, referência considerando que é uma das personalidades mais marcantes da história do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Fiquei com uma dívida por pagar.
O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose.
Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976.
As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas.
Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo.
Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado.
Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização.
Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, à distância de 35 anos, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente.
Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte.
Se há uma personalidade que não merecia sair derrotada da aventura política do MES é o Nuno Teotónio Pereira a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.
Que viva!
[O primeiro de uma série de postes que mereceram a maior audiência neste blogue desde que existe registo de audiência. Este é de janeiro de 2012 e reproduz um poste do blogue (já sem atividade) Os Caminhos da Memória para o qual escrevi uma série de postes acerca do MES que um dia republicarei, a ver onde e como.]
Nuno Teotónio Pereira foi, recentemente, evocado numa cerimónia comemorativa do 85º aniversário da Associação de Inquilinos Lisbonenses. Um dia, pelos idos de 2004, numa série de postas, fiz-lhe uma breve, e escassa, referência considerando que é uma das personalidades mais marcantes da história do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Fiquei com uma dívida por pagar.
O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose.
Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976.
As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas.
Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo.
Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado.
Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização.
Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, à distância de 35 anos, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente.
Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte.
Se há uma personalidade que não merecia sair derrotada da aventura política do MES é o Nuno Teotónio Pereira a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.
Que viva!
[O primeiro de uma série de postes que mereceram a maior audiência neste blogue desde que existe registo de audiência. Este é de janeiro de 2012 e reproduz um poste do blogue (já sem atividade) Os Caminhos da Memória para o qual escrevi uma série de postes acerca do MES que um dia republicarei, a ver onde e como.]
quarta-feira, novembro 28
A GRANDE MÚSICA. PRESENTE!
Para não esquecer a grande música retomo um poste de 3 de setembro de 2011. Concluí que já lido com a música viva neste blogue faz muito tempo.
NO DIA SEGUINTE
Jantar com os amigos
Fotografia de Hélder Gonçalves |
[O segundo poste deste blogue, no dia seguinte à sua criação, 20 de dezembro de 2003, refletindo a propósito de um jantar de amigos, acerca do próprio ato de criar um blogue.]
terça-feira, novembro 27
CAMUS - A PRIMEIRA CITAÇÃO
Citação
Camus
[Em 21 de dezembro de 2003 coloquei no absorto, inaugurado dois dias antes, a primeira citação de Albert Camus. Muitas outras se haviam de seguir.]
segunda-feira, novembro 26
FATAL
Poema
Os moços tão bonitos me doem,
impertinentes como limões novos.
Eu pareço uma atriz em decadência,
mas, como sei disso, o que sou
é uma mulher com um radar poderoso.
Por isso, quando eles não me vêem
como se dissessem: acomoda-te no teu galho
eu penso: bonitos como potros. Não me servem.
Vou esperar que ganhem indecisão. E espero.
Quando cuidam que não,
estão todos no meu bolso.
Adélia Prado
[No dia 23 de dezembro de 2003 pouco tempo após ter conhecido, tardiamente, a poesia da Adélia Prado, pela qual me apaixonei, coloquei o poema Fatal.]
domingo, novembro 25
O PRIMEIRO COMENTÁRIO
Comentário: ainda o jantar
É, é isso mesmo; os jantares são mesmo para isso. Eu acho que até podia não haver comida (hi!hi!hi!)...de contrário come-se imenso e assim podemos ter menos jantares. Isso se nos preocuparmos em manter a boa saúde física...A ideia das saladas da tua mulher é óptima, o pior é que para além das saladas comem-se muitas outras coisas ...Eu tinha anunciado que era um jantar soft! E fiz um esforço...mas...
Beijos
MM
[A 23 de dezembro de 2003 postei um comentário - um acontecimento raro nos primeiros dias do blogue - e que só poderia ter vindo de uma amiga a quem dera conhecimento pessoal da sua criação.]
AS INUNDAÇÕES DE NOVEMBRO DE 1967
Poste de 20 de novembro de 2007, que reponho hoje, lembrando a passagem de 45 anos sobre as trágicas inundações de 1967.
No contexto da descrição sucinta dos últimos dois anos de Salazar à frente do governo de Portugal, no livro “ a história da PIDE”, Irene Flunser Pimentel – Circulo de Leitores/Temas e Debates, descreve-se um acontecimento marcante sobre o qual passam, nos próximos dias, 40 anos:
“O dia 25 de Novembro de 1967 foi marcado por chuvas diluvianas, em Lisboa e arredores, que causaram centenas de mortos, não sendo divulgada na imprensa a magnitude do desastre nem o número de vítimas. Muitos estudantes de Lisboa mobilizaram-se para ajudar as populações, apercebendo-se, nesse contacto, das terríveis condições em que viviam muitos portugueses. Entretanto, tinha havido no seio do regime o caso dos ballets roses, conforme noticiou, em Dezembro, o jornal inglês Sunday Telegraph.”
Participei numa das brigadas de estudantes que acorreu em apoio às populações dos arredores de Lisboa. Coube-me, com partida do Instituto Superior Técnico, desembarcar, se não erro, em Alhandra no meio de um ambiente desolador de destruição e morte. Lembro a complexa operação logística e as pás a remover a lama que engolira ruas e casas. O regime surpreendido pelas dimensões do desastre e pela prontidão da acção politico/solidária dos estudantes não foi capaz de suster o movimento.
Foi, certamente, este um dos mais significativos actos simbólicos que assinalou o início do fim da ditadura. Pouco tempo depois, em Fevereiro de 1968, Mário Soares foi preso, deportado e sujeito a residência fixa em São Tomé e Principe. Em 7 de Setembro de 1968 Salazar foi operado a um hematoma, após a queda da cadeira e, “no dia 17, após convocar uma reunião do Conselho de Estado, o Presidente ra República anunciou que iria nomear novo presidente do Conselho de Ministros. Dez dias depois, informou que, “atormentado entre os seus sentimentos afectivos de gratidão”, decidira exonerar Salazar e nomear Marcelo Caetano” [pag. 184]
Confesso que tinha perdido a noção exacta da cronologia destes acontecimentos e fiquei surpreendido com a proximidade entre as grandes inundações de 25/26 de Novembro de 1967 e o mês de Setembro de 1968 que marca o fim político do ditador.
No contexto da descrição sucinta dos últimos dois anos de Salazar à frente do governo de Portugal, no livro “ a história da PIDE”, Irene Flunser Pimentel – Circulo de Leitores/Temas e Debates, descreve-se um acontecimento marcante sobre o qual passam, nos próximos dias, 40 anos:
“O dia 25 de Novembro de 1967 foi marcado por chuvas diluvianas, em Lisboa e arredores, que causaram centenas de mortos, não sendo divulgada na imprensa a magnitude do desastre nem o número de vítimas. Muitos estudantes de Lisboa mobilizaram-se para ajudar as populações, apercebendo-se, nesse contacto, das terríveis condições em que viviam muitos portugueses. Entretanto, tinha havido no seio do regime o caso dos ballets roses, conforme noticiou, em Dezembro, o jornal inglês Sunday Telegraph.”
Participei numa das brigadas de estudantes que acorreu em apoio às populações dos arredores de Lisboa. Coube-me, com partida do Instituto Superior Técnico, desembarcar, se não erro, em Alhandra no meio de um ambiente desolador de destruição e morte. Lembro a complexa operação logística e as pás a remover a lama que engolira ruas e casas. O regime surpreendido pelas dimensões do desastre e pela prontidão da acção politico/solidária dos estudantes não foi capaz de suster o movimento.
Foi, certamente, este um dos mais significativos actos simbólicos que assinalou o início do fim da ditadura. Pouco tempo depois, em Fevereiro de 1968, Mário Soares foi preso, deportado e sujeito a residência fixa em São Tomé e Principe. Em 7 de Setembro de 1968 Salazar foi operado a um hematoma, após a queda da cadeira e, “no dia 17, após convocar uma reunião do Conselho de Estado, o Presidente ra República anunciou que iria nomear novo presidente do Conselho de Ministros. Dez dias depois, informou que, “atormentado entre os seus sentimentos afectivos de gratidão”, decidira exonerar Salazar e nomear Marcelo Caetano” [pag. 184]
Confesso que tinha perdido a noção exacta da cronologia destes acontecimentos e fiquei surpreendido com a proximidade entre as grandes inundações de 25/26 de Novembro de 1967 e o mês de Setembro de 1968 que marca o fim político do ditador.
. Fotografia de Chip Forelli
sábado, novembro 24
POESIA E TURISMO
Coincidências
Cinza,
os sinos dobrados
já pela tarde fria.
Porque arde em mim ainda,
de mágoa e bronze,
o sol do dia?
(Poema VIII, In Turismo
Trabalho Poético - Circulo de Leitores)
TURISMO (2003)
Actividade de grande relevância na vida social e na economia portuguesa contemporânea mas que só ganhou expressão, como fenómeno de massas, a partir dos anos 60.
O Turismo tinha ganho, na Europa, uma nova natureza, a partir de 1936, com a institucionalização das “férias pagas”, conquista popular adoptada legalmente pelo Governo da Frente Popular, em França, logo seguida pela Bélgica. À época o título da obra de Carlos de Oliveira é, pois, de uma ousadia extraordinária.
Eis como um título une duas áreas tão distintas interessando à reflexão de tantas e diversificadas
pessoas. Eu sou uma delas. Por isso a poesia e o turismo vão surgir com frequência entre os temas a tratar na programação do Absorto.
[Anunciava neste poste de 23 de dezembro de 2003 que haveria de tratar, com freqência, no absorto, os temas do turismo e da poesia. Da poesia sim, do turismo, não!]
sexta-feira, novembro 23
A MÚSICA NA ESCOLA
Ideias Para o Futuro - 1
Muito interessante entrevista de Rui Vieira
Nery à revista “Pública” de 21 de Dezembro de 2003. O mais interessante, para
mim, resume-se à defesa do reforço do papel da música na escola. A ideia “da
massificação do ensino da música desde o início da escolaridade” não é original,
como refere, apontando o caso da Hungria, mas é uma ideia forte para o futuro. É
uma ideia a abordar e aprofundar no âmbito científico e político. Os argumentos
a favor da bondade da ideia são expostos de forma breve mas entende-se que se
estribam num vasto conjunto de boas e fundamentadas razões: a música favorece a
aprendizagem da matemática e, em geral, das ciências; é um potente veículo de
equilíbrio emocional; é uma arte potenciadora da sociabilização das crianças; é
um factor de formação ética e cívica e é uma “componente fundamental do
património cultural da Humanidade”. Também concordo que existem, hoje, em
Portugal, recursos humanos e técnicos que permitiriam forjar um projecto viável
para a generalização do ensino da música nas escolas.
[Poste de 23 de dezembro de 2003 acerca da música, um tema que me é tão caro. Tal inclinação é, aliás, demontrada pela predominância da música no absorto dos últimos tempos.]
quinta-feira, novembro 22
PRANTO PELO DIA DE HOJE
Citação 2
Nunca
choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas.
Sophia de Melo Breyner Andresen
In “Livro Sexto” – 1962
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas.
Sophia de Melo Breyner Andresen
In “Livro Sexto” – 1962
[No dia 28 de dezembro de 2003 recuperei um dos poemas mais marcantes de Sophia.]
quarta-feira, novembro 21
REGRESSO DAS FÉRIAS DE NATAL - 2003
De regresso de umas pequenas férias, voluntariamente, sem computador. Nestes
dias nada queria inscrever nestas páginas dedicadas às viagens na nossa terra a
propósito das tradicionais festas de família que a época convoca. Fazem-se
envios de votos de Natal Feliz. Tomam-se refeições demais (os que podem ter
aceso a elas) e escondem-se, o melhor possível, os dramas do quotidiano. Em Faro
uma mulher passa por mim na rua, a chorar, enquanto fala ao telemóvel: deixem-me
ficar só, só…e sente-se o frio da rua entrar dentro de nós. Nesta quadra
festiva, este ano, respira-se um ar mais pesado que é difícil de esconder.
[Um post de 28 de dezembro de 2003 que poderia ser escrito aquando do regresso das férias de Natal deste ano da graça de 2012 que deverão ser passadas na mesma cidade, como sempre, toda a vida, a minha cidade Natal.]
[Um post de 28 de dezembro de 2003 que poderia ser escrito aquando do regresso das férias de Natal deste ano da graça de 2012 que deverão ser passadas na mesma cidade, como sempre, toda a vida, a minha cidade Natal.]
terça-feira, novembro 20
A SOLIDARIEDADE
Ideias para o futuro-2
Uma ideia para o futuro em Portugal é a
criação, na estrutura do Governo de uma “Secretaria de Estado para as Pessoas
Idosas”.
O envelhecimento da população é um forte desafio que se coloca à sobrevivência das sociedades democráticas. Todos os indicadores apontam no sentido da população idosa se tornar, a médio prazo, maioritária nas sociedades ocidentais. Trata-se de um fenómeno que impõe a adopção de medidas inovadoras em diversas áreas cruciais da organização das nossas sociedades.
O modelo de financiamento da segurança social ocupa o centro dessas mudanças. Um dos grandes desafios das políticas sociais, que valorizem a dignidade do homem acima dos interesses financeiros da banca e das seguradoras, é a criação de um novo modelo de solidariedade intergeracional.
Este desafio exige que sejam repensadas questões tais como a idade de reforma, a duração da jornada de trabalho e sua flexibilização, assim como políticas de imigração, integradas, justas e aceitáveis por todos os cidadãos.
Muitos acontecimentos recentes – desde a persistência de João Paulo II, ostentando em público a sua velhice, até aos efeitos calamitosos das “vagas de incêndios e de calor” - colocaram em destaque a urgência da definição de políticas autónomas para os cidadãos idosos.
O combate à tragédia silenciosa da solidão e abandono dos idosos exige a serena coragem de mudanças em que o Estado, os empresários e as entidades de vocação social, estabeleçam pactos de solidariedade honrando a dignidade da vida, vivida até ao fim, por todos os cidadãos.
O Estado, em particular, tem de assumir plenamente a sua responsabilidade na criação de condições para o desenvolvimento de políticas activas de integração dos mais idosos numa sociedade em que o culto da juventude impera, cada vez mais competitiva, xenófoba, insensível às diferenças, hipócrita e hostil aos idosos.
O envelhecimento da população é um forte desafio que se coloca à sobrevivência das sociedades democráticas. Todos os indicadores apontam no sentido da população idosa se tornar, a médio prazo, maioritária nas sociedades ocidentais. Trata-se de um fenómeno que impõe a adopção de medidas inovadoras em diversas áreas cruciais da organização das nossas sociedades.
O modelo de financiamento da segurança social ocupa o centro dessas mudanças. Um dos grandes desafios das políticas sociais, que valorizem a dignidade do homem acima dos interesses financeiros da banca e das seguradoras, é a criação de um novo modelo de solidariedade intergeracional.
Este desafio exige que sejam repensadas questões tais como a idade de reforma, a duração da jornada de trabalho e sua flexibilização, assim como políticas de imigração, integradas, justas e aceitáveis por todos os cidadãos.
Muitos acontecimentos recentes – desde a persistência de João Paulo II, ostentando em público a sua velhice, até aos efeitos calamitosos das “vagas de incêndios e de calor” - colocaram em destaque a urgência da definição de políticas autónomas para os cidadãos idosos.
O combate à tragédia silenciosa da solidão e abandono dos idosos exige a serena coragem de mudanças em que o Estado, os empresários e as entidades de vocação social, estabeleçam pactos de solidariedade honrando a dignidade da vida, vivida até ao fim, por todos os cidadãos.
O Estado, em particular, tem de assumir plenamente a sua responsabilidade na criação de condições para o desenvolvimento de políticas activas de integração dos mais idosos numa sociedade em que o culto da juventude impera, cada vez mais competitiva, xenófoba, insensível às diferenças, hipócrita e hostil aos idosos.
[Poste de 29 de dezembro de 2003 abordando o envelhecimento demográfico, uma faceta da tão decantada questão da reforma do estado social, afinal, um tema recorrente e antigo.]
segunda-feira, novembro 19
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