Albert
Camus, in Noces (1936/37)
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, junho 12
CAMUS
Je comprends ici
ce qu´on appelle gloire: le droit d´aimer sans mesure. Il n´y a qu´un seul
amour dans ce monde. Étreindre un corps de femme, c´est aussi retenir contre
soi cette joie étrange qui descend du ciel vers la mer.
terça-feira, junho 11
EVIDÊNCIAS - XI
Um 11º soneto.
Marinha pousa a névoa iluminada,
e dentro dela os pássaros cantando
são crepitar das ondas doce e brando
na fímbria oculta e só adivinhada.
Verdes ao longe os montes na dourada
encosta pelos tempos deslisando,
suspensos pairam no frescor de quando
eram da sombra a forma congelada.
Ao pé de mim respiras. No teu seio,
como nas grutas fundas e sombrias
os animais pintados adormecem,
sereno seca um amoroso veio.
Um após outro hão-de secar-se os dias
na teia ténue que das eras tecem.
Jorge de Sena
Marinha pousa a névoa iluminada,
e dentro dela os pássaros cantando
são crepitar das ondas doce e brando
na fímbria oculta e só adivinhada.
Verdes ao longe os montes na dourada
encosta pelos tempos deslisando,
suspensos pairam no frescor de quando
eram da sombra a forma congelada.
Ao pé de mim respiras. No teu seio,
como nas grutas fundas e sombrias
os animais pintados adormecem,
sereno seca um amoroso veio.
Um após outro hão-de secar-se os dias
na teia ténue que das eras tecem.
Jorge de Sena
segunda-feira, junho 10
A sociedade dos negociantes
A sociedade dos negociantes pode definir-se como uma
sociedade na qual as coisas desaparecem em proveito dos signos. Quando uma
classe dirigente avalia as suas riquezas, já não pelo hectare de terra nem pelo
lingote de oiro mas pelo número de cifras que idealmente correspondem a um
certo número de operações de câmbio, dedica-se ao mesmo tempo a pôr uma certa espécie
de mistificação como centro da sua experiência e do seu universo. Uma sociedade
fundada nos signos é, na sua essência, uma sociedade artificial em que a
realidade carnal do homem se acha mistificada. Ninguém então se admirará de que
essa sociedade tenha escolhido, para dela fazer a sua religião, uma moral de
princípios formais, e de que grave as palavras liberdade e igualdade tanto nas
suas prisões como nos seus templos financeiros. Entretanto, não é impunemente
que se prostituem as palavras. O valor hoje mais caluniado é certamente o valor
da liberdade. Bons espíritos (…) fazem doutrina de ela não ser senão um obstáculo
ao verdadeiro progresso. Mas se disparates tão solenes puderam ser proferidos
foi porque, durante cem anos, a sociedade negociante fez da liberdade um uso
exclusivo e unilateral, considerou-a mais como um direito do que como um dever
e não receou pôr, tão frequentemente quanto pôde, uma liberdade de princípio ao
serviço de uma opressão de facto.
Albert Camus, in Discursos da Suécia (Conferência de 14 de
dezembro de 1957 - Universidade de Upsala).
LUÍS DE CAMÕES
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n´alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e doi não sei porquê.
_________________________________________
Let Love devise new ways, new wiles
to kill me, and new forms of disdain;
he´ll take away no hope of mine,
since he can´t take what I don´t have.
Look at the hopes that hold me up!
See how precarious my defenses!
For I, not fearing reverses or changes,
am tossed by the sea, having lost my ship.
Though disappointment can´t exist
where there´s no hope, there Love has hidden
a bane that kills and remains unseen,
for he placed in my soul some time ago
I don´t know what, nor where it was born,
nor how it got there, nor why it aches.
“Luís de Camões – Sonnets and others poems”, edição bilingue, tradução e introdução de Richard Zenith.
domingo, junho 9
sábado, junho 8
EVIDÊNCIAS - X
1 de Março
Esta manhã, um 10º soneto. Suponho que apenas faltam mais dois.
Fui ao aeroporto despedir-me do Couvreur, que ia na viagem que seria para mim. Como o avião vinha atrasado, aproveitei para procurar o Zé que há tanto tempo não via. E li-lhe os dez sonetos, de que ele gostou, achando que a “coisa” ainda vai a meio.(…)
X
Rígidos seios de redondas, brancas,
frágeis e frescas inserções macias,
cinturas, coxas rodeando as ancas
em que se esconde o corredor dos dias;
torsos de finas, penugentas, frias,
enxutas linhas que nos rins se prendem,
sexos, testículos, que inertes pendem,
de hirsutas liras, longas e vazias
da crepitante música tangida,
húmida e tersa, na sangrenta lida
que a inflada ponta penetrante trila;
dedos e nádegas, e pernas, dentes.
Assim, no jeito infiel de adolescentes,
a carne espera, incerta, mas tranquila.
Jorge de Sena
27-2-54 [O soneto a que se refere Sena no “Diário” deve ser, na verdade, o 11º publicado em “Poesia I”].
sexta-feira, junho 7
EVIDÊNCIAS - IX
Esta manhã, um 9º soneto, obsceníssimo, mas demasiado formal, por demasiado “descritivo”. No entanto, é de certo modo o que eu queria fazer no sentido da violência. O Casais, a quem no café (a nossa “tertúlia” é este “tête-à-tête”, em que ele se torna muito mais o delicado que não quer, prudentemente, ser) o mostrei e ao de ontem, sentiu isso mesmo, porque disse: “Não gosto que se fale cerebralmente dessas coisas” (tomando cerebral pelo impressionismo descritivo). Vai proferir uma conferência sobre o Pessoa no Inst. Britânico; e ao Estorninho disse que para as influências inglesas era eu e não ele. Gostou muito do outro soneto. E achou, como eu acho, notável o artigo que o Lemos me mandou, e que vou rever para enviar ao C. Barreto.
IX
Com a mão brincando sem virtude ou vício,
o sexo antes do sexo pressentido,
conhecem-se as crianças, que, dormindo,
irão morrendo em sexo e juventude.
Da vã cidade o pálido bulício
em sonhos se dilui. Sombras sorrindo
afastam-se, crianças conduzindo
à virgindade ansiosa, austera e rude.
Pelas esquinas, no limiar da terra,
lá onde os sóis os prados ainda rasam
e as ervas vibram num tremor obscuro,
nocturno o espaço os milhares de olhos cerra,
sombras serão as crianças que se atrasam,
e a Graça, alheada, é o gesto ainda futuro.
Jorge de Sena
IX
Com a mão brincando sem virtude ou vício,
o sexo antes do sexo pressentido,
conhecem-se as crianças, que, dormindo,
irão morrendo em sexo e juventude.
Da vã cidade o pálido bulício
em sonhos se dilui. Sombras sorrindo
afastam-se, crianças conduzindo
à virgindade ansiosa, austera e rude.
Pelas esquinas, no limiar da terra,
lá onde os sóis os prados ainda rasam
e as ervas vibram num tremor obscuro,
nocturno o espaço os milhares de olhos cerra,
sombras serão as crianças que se atrasam,
e a Graça, alheada, é o gesto ainda futuro.
Jorge de Sena
quinta-feira, junho 6
L’été libertaire d’Albert Camus
«La liberté n’est pas un cadeau qu’on reçoit d’un Etat ou d’un chef, mais un bien que l’on conquiert tous les jours, par l’effort de chacun et l’union de tous.»
(...)
On comprend mieux pourquoi la gauche n’a jamais aimé Camus : trop proche des insoumis. La droite, elle, a espéré le récupérer - mais l’antitotalitarisme de l’écrivain, qui l’a mené à Bakounine, le père de l’anarchie, a débouché, comme nous le rappelle activement l’exposition de Lourmarin, sur la non-violence, jamais sur des interventions armées, fussent-elles disculpées par le droit d’ingérence. «Tuer les hommes ne sert à rien que tuer encore.» .
(...)
On comprend mieux pourquoi la gauche n’a jamais aimé Camus : trop proche des insoumis. La droite, elle, a espéré le récupérer - mais l’antitotalitarisme de l’écrivain, qui l’a mené à Bakounine, le père de l’anarchie, a débouché, comme nous le rappelle activement l’exposition de Lourmarin, sur la non-violence, jamais sur des interventions armées, fussent-elles disculpées par le droit d’ingérence. «Tuer les hommes ne sert à rien que tuer encore.» .
quarta-feira, junho 5
terça-feira, junho 4
EVIDÊNCIAS - VIII
Um 8º soneto (que deverá ocupar o lugar do 7º), um dos mais belos senão o mais belo – e que me emocionou tanto, que julguei que ia escrever logo outro. Mas era só emoção dele.
VIII
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa …
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa …
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena
segunda-feira, junho 3
Encontro (ou paixão) inviável
A rua onde nasci,
a cidade branca, o ar do tempo, as vizinhas apetecíveis, a mãe, o pai, o irmão,
a gente do povo, o coro dos cães, a feira, a escassez, os avós, a terra, os
frutos, as flores, os figos, a dor, a dança, o céu azul, o mar largo, a
salmoira, a cesta, a eira, o milho, o poço, a nora, os bois, a prima, a morte,
a miséria, …
A existência
parada, os livros de quadradinhos, o fascínio pelo Brasil, a mobília, a luz, a
mesa de trabalho, o bibe, a pia, a missa, as beatas, a procissão, o café, o
cansaço da caminhada, a bola, o jogo, o livro sagrado, …
22/5/2012
LIBERDADE
"Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade. A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito.
(...)
A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."
Albert Camus, in Cadernos
(...)
A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."
Albert Camus, in Cadernos
domingo, junho 2
EVIDÊNCIAS VII
(…) Trabalhei no serviço o dia inteiro e, à tarde, escrevi em três horas de expectativa tenteada, um 7º soneto, que me parece o penúltimo das “evidências”.
25
Dei os sete sonetos (até agora) ao Casais (que já ouvira os 3 primeiros) a ler. Achou de “primeiríssima ordem” os 5 primeiros – com a reserva do final violento do 3º, que o choca -, menos bom o 6º, e o 7º ainda que muito bom, pareceu-lhe desviado da linha dos outros.
VII
25
Dei os sete sonetos (até agora) ao Casais (que já ouvira os 3 primeiros) a ler. Achou de “primeiríssima ordem” os 5 primeiros – com a reserva do final violento do 3º, que o choca -, menos bom o 6º, e o 7º ainda que muito bom, pareceu-lhe desviado da linha dos outros.
VII
Atentos sobre a terra ao que sem nós
connosco é o movimento em que levados
vamos criando qual somos criados
na recessão dos mundos fugitivos,
é nossa a luz que vemos, nossa a voz
com que a dizemos de astros apagados,
é nossa a carne com que estamos vivos,
e é dela a só ternura que abraçados
connosco esquece a distinção das cousas.
Humano escutarás, único vais
na numerosa multidão esquecida.
Ímpio de ti, se juras e não ousas
que teus vivos desejos se ergam tais
como em ti próprio aguarda uma outra vida.
Jorge de Sena
22-2-1954
connosco é o movimento em que levados
vamos criando qual somos criados
na recessão dos mundos fugitivos,
é nossa a luz que vemos, nossa a voz
com que a dizemos de astros apagados,
é nossa a carne com que estamos vivos,
e é dela a só ternura que abraçados
connosco esquece a distinção das cousas.
Humano escutarás, único vais
na numerosa multidão esquecida.
Ímpio de ti, se juras e não ousas
que teus vivos desejos se ergam tais
como em ti próprio aguarda uma outra vida.
Jorge de Sena
22-2-1954
sábado, junho 1
1128
Retomando um velho post de uma série que resultou da leitura entusiasmada da obra de Mattoso acerca do nosso primeiro rei para ilustrar como a força nunca está ausente da política nos momentos decisivos. E ilustrando também como, no plano simbólico e material, Portugal é uma nação antiga que apesar de todas as vicissitudes, existe desde 1128.
Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).
Fotografia de Hélder Gonçalves
Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).
Fotografia de Hélder Gonçalves
sexta-feira, maio 31
Variações
Experiência II
Quero
de ti o corpo
seio
ventre aberto
Quero
o beijo de ti
sei
do sexo ao certo
Quero
de ti isso
o
lugar exacto só
Quero
a mão agora
logo
não sei já
Que
não quero sei
é
perder-me aqui
Mas
perder-me sei
Ao
certo que me quero
Quero
aonde ser
nada
mais senão eu
Agora
já sabes
o
que eu quero
Eu
é que não sei!
6/11/1980
[In Primeiros
Poemas, edição de autor, Dez. 2007]
quinta-feira, maio 30
quarta-feira, maio 29
EVIDÊNCIAS VI
Concluí pela manhã o 6º soneto.
VI
Ambígua identidade, incauto amor
que o vento esculpe em pedras do deserto
como as que, vagas, pelo mar incerto
o mesmo vento aos areais conduz;
serena insaciedade, ausente ardor,
limiar a que a não-vida a descoberto
assoma viva qual se fôra perto
a fímbria clara exposta a contra-luz;
marcado e repetido, ou imperceptível
e como que perene, o suceder
das coisas, cujo ser é noutras ser
a forma contornada e previsível;
- demoram-se as estátuas, e quebradas
serão tristeza de outras não talhadas.
Jorge de Sena
Subscrever:
Mensagens (Atom)