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sábado, junho 1

1128

Retomando um velho post de uma série que resultou da leitura entusiasmada da obra de Mattoso acerca do nosso primeiro rei para ilustrar como a força nunca está ausente da política nos momentos decisivos. E ilustrando também como, no plano simbólico e material, Portugal é uma nação antiga que apesar de todas as vicissitudes, existe desde 1128.

Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a
Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).

Fotografia de Hélder Gonçalves


quarta-feira, outubro 31

D. JOÃO PECULIAR (II)

Continuando a discorrer acerca da figura de D. João Peculiar que desempenhou um papel central na orientação da política de Afonso Henriques.

“Uma vez escolhido, [para Bispo do Porto] D. João Peculiar mostrou, desde logo, a sua natureza decidida e empreendedora ao dirigir-se a Burgos, ainda antes de ter sido sagrado bispo, para tomar parte no concilio que aí se celebrou a partir de 4 de Outubro de 1136 na presença do legado papal, o cardeal Guido de Vico.

(...) De regresso a Portugal, João Peculiar tomou conta da sua diocese, mas a 4 de Julho de 1137 acompanhou a Tui, juntamente com Paio Peres, arcebispo de Braga, o principe D. Afonso, para assistir ao juramento de vassalagem que nesse dia ele prestou a seu primo o imperador Afonso VII, como vimos noutro capítulo.”

“D. João desempenhou por pouco tempo as funções de bispo do Porto. (...)” tendo sido “eleito arcebispo de Braga, a função eclesiástica mais importante de Portugal, aquela que, por causa das tentativas de absorção empreendidas por Diego Gelmírez e da necessidade de lhe resistir, o obrigou a desenvolver intensos contactos com os poderes políticos portugueses e leoneses e com a cúria romana.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”13 – Os auxiliares”, pgs 131/133. (29).
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sábado, outubro 20

D. JOÃO PECULIAR (I)

O papel de conselheiro para a resolução de problemas concretos e para a orientação da política régia, pelo menos em questões de maior importância, deve ter pertencido sobretudo a D. João Peculiar. O infante encontrou-se com ele pela primeira vez, provavelmente, em 1132, quando preparava , com Telo e Teotónio, a fundação de Santa Cruz. (…)

Afonso deve ter também acompanhado com atenção o relato da viagem que Peculiar fez à França e à Itália em 1135, quando ele, no regresso, lhe terá contado, sem dúvida, como decorrera o Concílio de Pisa e as acções do papa Inocêncio II.(…)

A adesão de Afonso à escolha de João Peculiar para bispo do Porto depois da morte do prelado anterior , D. Hugo, deve, por isso, ter sido decisiva. Não era a primeira vez que Afonso intervinha na designação de um bispo. Em 1128, a seguir à Batalha de S. Mamede, participou na eleição de Bernardo, arcediago de Braga de origem francesa, para Bispo de Coimbra. (…)

A eleição realizou-se, pois, por volta do dia 10 de Junho de 1136, talvez em Coimbra, para evitar uma escolha favorável aos membros do clero portuense adeptos de Gelmírez, que deviam ser bastantes. De facto, embora o pouco escrupuloso arcebispo de Compostela já então tivesse perdido grande parte da influência que exercera no reino de Leão e Castela durante a década de 1120, era ainda respeitado ou temido. Viria a morrer a 6 de Abril de 1140, e a sua sucessão daria lugar a um período muito conturbado da vida eclesiástica compostelana, o que não deixaria de favorecer o episcopado poprtuguês.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”13 – Os auxiliares”, pgs 130/131. (28). [Fotografia de Abílio Nestor.]
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quinta-feira, outubro 18

AFONSO HENRIQUES - REI DE PORTUGAL

Retomando o fio à meada, no caso, o regresso a Coimbra de Afonso Henriques, vencedor da Batalha de Ourique.

Na verdade, o título de rei aparece pela primeira vez num documento autêntico em 10 de Abril de 1140, por sinal o primeiro dos que hoje se conhecem entre os bem datados produzidos pela chancelaria régia depois da batalha de Ourique. (...)

Os cronistas do século XVII puderam ainda consultar uma memória, hoje perdida, procedente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na qual se descreve a celebração de grandes festas em Coimbra no dia da Assunção da Virgem Maria ao céu, a 15 de Agosto de 1139, e nos dias seguintes. A solene missa desse dia foi celebrada por D. Bernardo, bispo da dioceses, e o sermão pregado por D. João Peculiar. Os eruditos modernos, como Rui de Azevedo e A. de J. da Costa, fiados na autoridade de Frei António Brandão, que menciona a referida memória, admitem a autenticidade desta informação. Depois de termos examinados os vários indícios que apontámos acerca das celebrações feitas em Coimbra por ocasião do regresso de Ourique, essa notícia só vem confirmar os elementos que descobrimos por via dedutiva. Tivesse ou não havido aclamação no campo de batalha, é lógico admitir que o povo de Coimbra quisesse também aclamar o vencedor e passasse a chamar-lhe rei. Não faltavam os motivos para isso.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”12 – Rei de Portugal”, pgs 120 e 126/127. (27).
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sábado, setembro 22

OURIQUE

Posted by PicasaIlustração daqui

"A guerra de civilizações, que a 'inteligência' ocidental persiste em pretender que não existe, entrou numa nova fase". - Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 22-09-2007

Hoje concordo com VPV na sua prédica acerca das últimas ameaças dos fundamentalistas islâmicos. A matéria que consiste numa ameaça ao território andaluz, ou seja, a Espanha e Portugal, dá uma inusitada actualidade à obra de José Mattoso que tenho vindo a citar: “D. Afonso Henriques”. É que não chegou o tempo do longo reinado do nosso primeiro monarca para concluir a obra da chamada reconquista cristã. Hoje, para espanto dos mais distraídos, uma facção islâmica pode acalentar as esperanças de uma vitória na sua guerra de desgaste, aproveitando os erros e as divisões do mundo ocidental. Prossigamos com uma citação acerca da batalha de Ourique decisiva no triunfo da estratégia de Afonso Henriques na consolidação da reconquista e do espaço físico que deu origem ao nosso actual Portugal.

(...) Afonso Henriques, na Primavera ou princípio do Verão de 1139, resolveu organizar um grande fossado em pleno Gharb. (...) Podemos admitir com alguma segurança que o rei e as suas tropas atravessaram o Tejo fora das linhas almorávidas, talvez a leste de Santarém. E durante mais de um mês, aproveitando a concentração de combatentes em torno de Oreja, assolaram as povoações menos bem defendidas na retaguarda inimiga, chegando até à Andaluzia. Tendo conhecimento disso, o governador de Córdoba reuniu algumas tropas e tentou eliminar os atacantes. A batalha deu-se numa região que os cronistas do século XII mal sabiam identificar e que por isso designaram como a campina de Ourique, vasta região de transumância bem para lá do Tejo. As tropas comandadas ou enviadas por Az-Zubay b.´Umar foram vencidas, e tiveram de retirar com perdas importantes. Afonso Henriques regressou a Coimbra com grandes despojos.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”11.Ourique”, pg. 118 (26).
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quinta-feira, setembro 20

COIMBRA (II)

Desde a sua conquista aos muçulmanos por Fernando Magno em 1064, que Coimbra se podia considerar a cidade mais importante de Portugal. O Porto, “cidade minúscula”, não chegaria a ocupar, por meados do século XII, 4 hectares; Braga mantinha ainda o perímetro da época romana, mas os seus pouco mais de 15 hectares não estavam densamente ocupados. Coimbra, porém, dispunha de uma muralha construída durante a época árabe que englobava uma área de 22 hectares, a mais extensa de todo o território. Para se avaliar estes dados quantitativos, basta dizer que Lisboa ocupava, também dentro das suas muralhas, por altura da conquista, uma área de 15,68 hectares, Silves, 15 hectares, e Évora, 16 hectares. Todas as outras cidades, quer do território cristão, quer muçulmano, abrangiam superfícies muito menores.

(...) Menos de um século depois da conquista, por volta de 1150, a sua área urbanizada deve ter atingido uns 37 a 40 hectares e compreendia oito paróquias urbanas, além da Sé: São Pedro, São Bartolomeu, São João, Santa Justa, São Cristóvão, São Tiago e São João das Donas (ou Santa Cruz). (...) Com efeito talvez não houvesse em Portugal, antes de 1147, nenhuma outra cidade com mais do que duas ou três paróquias urbanas. Lisboa, por exemplo, tinha quatro igrejas em 1160, e Santarém três pela mesma época. Ambas se desenvolveram depois dessa data, mas quando Afonso Henriques se estabeleceu em Coimbra mantinham-se ainda em posição bastante inferior.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”10. A defesa de Coimbra”, pg. 105 (25).
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sábado, setembro 15

A FRONTEIRA

Os combates feudais não puseram em causa o traçado da fronteira entre Portugal e a Galiza que, por consenso largamente aceite, seguia o curso do rio Minho e, mais para leste, o do rio Lima. (...) antes de meados do século XII, Portugal já era considerado um “reino”, o que significa, pelo menos, que tinha um território próprio.

Apesar disso, Afonso Henriques não desistiu facilmente de incorporar no seu reino os condados do Sul da Galiza. Em 1140, voltaria a tentar apoderar-se do território de Toroño, e na década de 1160 retomaria as suas pretensões sobre os distritos de além-Minho, conseguindo, até, uma posição de supremacia que o então rei de Leão Fernando II teve dificuldade em abalar, até que a conjuntura se alterou para sempre devido ao “infortúnio” de Badajoz.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”9. “A homenagem a Afonso VII”, pg. 104 (24).
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domingo, setembro 9

Movimento religioso feminino

(…) “Com efeito, a partir de 1147, o rei concentra a sua política no povoamento e reestruturação do Entre Douro e Mondego, sobretudo nos territórios recém-conquistados. Nessa altura, os seus principais objectivos orientam-se para a defesa e consolidação do território a fim de evitar a sua recuperação pelos sarracenos. Esta concentração de esforços tinha como contrapartida um certo alheamento para com os territórios de regime senhorial a norte da serra de Estrela. Dir-se-ia, pois, que Afonso Henriques considerava o movimento religioso feminino como um assunto que não lhe dizia respeito a si, mas aos nobres e à Igreja. De facto, eram eles os primeiros interessados em proteger os mosteiros onde podiam professar as viúvas e as filhas excluídas do casamento. Como é evidente, este aspecto da política régia não diminui em nada o importante papel desempenhado pelo nosso primeiro rei na história religiosa do seu tempo: mas mostra quais eram as suas preferências espirituais e, ao mesmo tempo, de que maneira ele as articulava com as suas responsabilidades de soberano. Confirma o que anteriormente vimos acerca da sua progressiva consciência daquilo a que podemos chamar, com evidente anacronismo, as suas funções de chefe de Estado. Foi essa consciência que o levou a tornar-se cada vez mais independente da aristocracia nortenha e que o orientou na escolha dos seus auxiliares, nas suas actividades militares, na política de repovoamento, nas relações com o papa, com os bispos e com os outros soberanos.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”8. “Eremitas, cistercienses e monjas”, pg. 97 (23).
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sábado, setembro 1

OS EREMITAS

O interesse de Afonso Henriques pelas novas formas de vida religiosa que apareciam no Condado Portucalense manifestou-se, como vimos, no apoio concedido aos Templários e Hospitalários e na protecção aos fundadores de Santa Cruz de Coimbra. (…) Os eremitas são, por sua própria natureza, avessos a soluções institucionais, mas inserem-se na mesma corrente inovadora. Formaram, talvez, a sua corrente mais radical, como haviam sido no século IV, os do Egipto e da Síria. Inovadores, inconformistas, avessos a qualquer espécie de organização, representam bem a energia, o entusiasmo, a criatividade e o desprendimento que caracterizam o fenómeno religioso no século XII. Também apareceram em Portugal, de forma espontânea, com as mesmas características do que no resto da Europa.
(…)
Afonso Henriques também acompanhou o movimento eremítico português. Fê-lo, mesmo, com uma surpreendente precocidade, porque o primeiro diploma autêntico que dele se conhece é justamente, como já vimos, uma carta de couto em favor dos eremitas de São Vicente de Fragoso, no actual concelho de Barcelos, datada de 4 de Dezembro de 1127, ou seja, meio ano antes da batalha de São Mamede.
(…)
Um dos aspectos mais importantes do fenómeno eremítico do século XII é o facto de ter sido absorvido pelos movimentos contemporâneos mais institucionalizados, em particular pela ordem de Cister e pela ordem premonstratense.
(…)
(Os eremitérios) integraram-se em movimentos religiosos da corrente renovadora da época, na qual, apesar das diferenças que separavam entre si os três ramos de monges, cónegos regrantes e eremitas, se influenciaram umas às outras. Seja com for, Afonso Henriques, ao proteger os eremitas, devia apreciar vivamente o seu fervor e o seu dinamismo.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”8. “Eremitas, cistercienses e monjas”, pgs. 90/94 (22).
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domingo, agosto 26

SANTA CRUZ DE COIMBRA

Como já antes disse concluí, no período de férias, a leitura de “D. Afonso Henriques”, de José Mattoso. Os últimos sublinhados de leitura que aqui deixei datam de há mais de um mês. Vou agora reiniciar a sua publicação quer pelo interesse que a leitura me suscitou, quer pelo importância que atribuo à divulgação da história da vida do governante que mais tempo exerceu o poder em Portugal tendo sido aquele que, na verdade, assumiu, nas circunstâncias do seu tempo, a responsabilidade pela fundação da nacionalidade. As notas de leitura constam sempre de excertos cuja selecção é meramente subjectiva e, neste suporte, nunca podem ser excessivamente longas.

“Santa Cruz de Coimbra, graças a um conjunto raro de circunstâncias, é a instituição religiosa medieval portuguesa acerca da qual possuímos, de longe, mais informações, graças ao facto dos seus cónegos terem redigido, ainda durante o século XII, ou seja, bastante perto dos acontecimentos que relatam, não só três textos narrativos ainda impregnados do fervor do impulso inicial – a Vida de Telo (o Fundador) -, a Vida de Teotónio (o primeiro prior) e a Vida de Martinho de Soure (o clérigo exemplar) , como também vários textos normativos muito pormenorizados. (…) Estes textos desmentem a impressão de região periférica com que tantas vezes, frequentemente com razão, se classifica Portugal no contexto da história europeia.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”7. Santa Cruz”, pgs. 83/84 (21).
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sábado, julho 14

COIMBRA

A mudança de residência de Afonso Henriques de Guimarães para Coimbra em 1131 constitui, no entanto, um facto da maior importância histórica, pelo seu significado próprio e pelas consequências que teve na vida nacional.
(…)
Assim a instalação de Afonso Henriques em Coimbra, ao mesmo tempo que confere uma força enorme à corrente cultural e institucional de carácter mediterrânico, encaminha o futuro país para a síntese que absorve não só a separação entre o condado de Portucale e o de Coimbra mas também a oposição cultural entre o Norte e o Sul, para os integrar numa só entidade política, apesar de nela continuarem a existir regiões com características bem diferentes umas das outras. As duas grandes regiões do Norte e do Sul, porém, tornam-se verdadeiramente complementares. Agem e reagem uma sobre a outra, como dois pólos opostos, mas indissoluvelmente ligados entre si por uma corrente que se alimenta da sua própria diferença.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”6. Coimbra”, pgs. 75/79 (20).
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domingo, julho 8

FERNÃO PERES CATIVO

“Não menos paradoxal do que a franca colaboração prestada pelos fidalgos de origem galega durante os primeiros anos do governo de Afonso Henriques (…) é o facto de um dos seus principais auxiliares, Fernão Peres Cativo, ser, talvez, um parente muito próximo de Fernão Peres de Trava. Como vimos, desempenhou as funções de alferes- mor entre 1129 ou 1130 e 1136, e de mordomo-mor entre 1146 e 1155. Foi, portanto, um dos principais auxiliares do nosso primeiro rei durante mais de um quarto de século desde que assumiu o poder.
(…)
Ora, segundo afirma o
Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, Fernão Cativo era filho do Conde de Sobrado.(…) Se Fernão Peres Cativo era filho do conde de Sobrado, era também irmão de Fernão Peres de Trava. Se este surpreendente parentesco é verídico, teríamos, assim, que um dos principais auxiliares de Afonso Henriques membro da sua corte desde Dezembro de 1128 teria sido o próprio irmão do seu principal inimigo, Fernão Peres de Trava. A hipótese de identificação não parece ter ocorrido a nenhum investigador, ou, se ocorreu, deve ter parecido tão inverosímil que ninguém se atreveu a exprimi-la ou sequer discuti-la.
(…)
…Afonso Henriques contou, afinal, com uma grande quantidade de adeptos galegos, além das famílias de Entre Douro e Minho, ao passo que o senhor de Trava não foi apoiado por nenhum dos seus primos vindos para Portugal nem pelo seu próprio meio-irmão.
(…)
Seja com for, Afonso Henriques sabia escolher bem os seus colaboradores. Fernão Mendes Cativo foi, sem dúvida alguma, um fiel vassalo.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”5. As relações com a Galiza e o reino de Leão”, pgs. 72/74 (19).
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quinta-feira, julho 5

As relações com a Galiza e o reino de Leão

“As concessões de D. Teresa e de Afonso Henriques aos Templários e às instituições que protegiam os peregrinos da Terra Santa colocam o Condado Portucalense na órbita do grande movimento que projecta a Cristandade em direcção a Jerusalém, o que, só por si, desmente o carácter periférico que quase sempre se atribui à história portuguesa. Nos anos seguintes, esta característica, por assim dizer “europeia”, acentuar-se-á ainda mais devido à repetida conjugação da conquista do território com as expedições de cruzados que se lhe seguiram, até ao princípio do século XIII. ”
(…)
A vitória obtida em São Mamede excluiu Fernão Mendes de Trava das funções que desempenhava em Portugal, e retirou o poder a D. Teresa. O conde não tinha outra alternativa senão abandonar o condado.
(…)
Procurando na documentação da época os indícios dos acontecimentos verificamos, em primeiro lugar, que Fernão Peres se retirou, de facto, para a Galiza com a “rainha" D. Teresa, decerto já com as duas filhas que dela teve, Sancha e Teresa Fernandes, sem dúvida ainda pequenas.”
(…)
D. Teresa morre em 1 de Novembro de 1130 e sucedem-se um conjunto de acontecimentos que comprovam a renúncia de Peres de Trava ao Condado Portucalense o que leva José Mattoso a concluir:

“A reconciliação do senhor de Trava com Afonso Henriques foi, portanto, anterior à morte da “rainha”. Estes factos contrariam as especulações de sentido quase freudiano que por vezes se atribuem ao comportamento do nosso primeiro rei para com sua mãe, obviamente fantasistas, embora inspiradas nas fontes narrativas de carácter popular que exploram o conflito entre eles e o interpretam como origem de uma severa maldição.” [sublinhado de minha autoria].

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”5. As relações com a Galiza e o reino de Leão”, pgs. 67/68 (18).
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segunda-feira, julho 2

OS TEMPLÁRIOS (II)

Posted by PicasaOs Templários

Ainda a propósito dos Templários. “São Bernardo passou a apoiar os Templários, que lhe parecia representarem um modelo ideal de regeneração de um sector importante da sociedade. Escreveu então o seu célebre tratado Elogio da Nova Milícia (De laude novae militiae)

Adoptando uma forma literária colorida e vigorosa, o abade de Claraval tece um rasgado elogio àqueles que põem as suas armas ao serviço de Deus e, sem medo, consagram a sua vida a guiar os pobres e os fracos pelos caminhos terrestres percorridos por Jesus Cristo. Os cavaleiros mundanos vivem no luxo, amolecidos sob as suas túnicas de seda e cobertos de ouro, cultivam a frivolidade e a ligeireza, são conduzidos pela vaidade e o desejo de uma glória vã. Não formam uma "milícia" mas uma malícia. Os novos cavaleiros, pelo contrário, defendem, na Terra Santa, a “herança e a casa de Deus” manchada pelos infiéis.”
(…)
“O apoio de São Bernardo que, na década de 1130, e durante os vinte anos que se seguiram, se tornou a mais influente personalidade do mundo cristão, dissipou as reticências que ainda rodeavam o projecto templário. Em 1139, o papa Inocêncio II aprovou sem reservas a nova milícia, por meio da bula Omne datum optimum, e concedeu-lhe a protecção papal, tornando-a dependente da Santa Sé e isenta de jurisdição episcopal.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”,”Os Templários”, pg. 60 (17).
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quarta-feira, junho 27

OS TEMPLÁRIOS

Posted by PicasaO Selo dos Templários

“Em Março de 1129, Afonso Henriques confirma a doação que D. Teresa, sua mãe, havia feito do castelo e do termo de Soure à Ordem Militar do Templo de Jerusalém, exactamente um ano antes”. É assim que José Mattoso abre o Capítulo 4, intitulado “O Apelo de Jerusalém”, da sua obra “D. Afonso Henriques”.

Mais à frente prossegue: “O acto a que nos referimos, isto é, a doação de D. Teresa e dos seus barões à Ordem do Templo, e, logo a seguir, a sua confirmação por Afonso Henriques, depois de ter assumido o poder, representam, de facto, a decidida participação do Condado Portucalense nesse amplo movimento de expansão europeia e de projecção da cristandade para fora do espaço onde, até então, tinha estado encerrada.”
(…)
“Trata-se, na verdade, de um acto surpreendente pela sua precocidade, visto que, em Março de 1128, os templários não tinham ainda sido aprovados como uma ordem religiosa, constituíam uma comunidade com pouco mais de uma dúzia de membros e eram desconhecidos na maior parte da Europa.”

E logo de seguida Mattoso faz uma distinção muito interessante: “Além disso, nunca ninguém tinha tido a ideia de criar um exército de monges nem um convento de soldados. O estado de vida religiosa opunha-se à profissão das armas. A função dos milites (os que combatem) considerava-se não só diferente da função dos oratores (os que rezam) mas era incompatível com ela. (…) “Unir num só “estado” cavaleiros e monges parecia uma inovação absurda”.
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In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”, “Entre o oriente e o ocidente” e “Uma novidade no mundo cristão””, pgs. 58/59 (16).
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domingo, junho 24

BATALHA DE SÃO MAMEDE - UMA EFEMÉRIDE ANTIGA

Posted by PicasaImagem daqui

Há exactamente 879 anos, no dia 24 de Junho de 1128, travou-se a batalha de São Mamede que é tomada como tendo sido o início do reinado de Afonso Henriques. Diz a lenda que, ao primeiro embate, com as forças do conde de Trava, seu padrasto, Afonso Henriques teria fugido. O relato mais conhecido acerca do começo do reinado de Afonso Henriques atribuía a vitória de São Mamede aos nobres e não ao Infante:

É este o relato na versão mais antiga da IV Crónica Breve de Santa Cruz em texto que data do princípio do século XIV:

“A fazenda foi feita, e foi arrincado Afonso Anriques e foi mui maltreito. E el, indo a ua légua de Guimarães, achou-se com Soeiro Meedes Mãos d’Água, que o viinha ajudar em a fazenda, e disse-lhe: “como viides, senhor, assi?” Respondeu Afonso Henriques: “Venho mui mal, ca me arrincou meu padrasto e minha madre, que está na fazenda com ele.” E Soeiro Meedes lhe disse: “Nom fezeste siso, que aa batalha fostes sem mim, mas tornade-vos comigo e prenderemos vosso padrasto e vossa madre co ele”. E el disse: “Deus aguise que seja assi,” E Soeiro Mendes lhe disse: “ vós verêes que assi seerá.” E tornou-se entonces com el a batalha, e venceu-a e prendeu seu padrasto e sua madre.” (Simplifiquei alguma pontuação.)

Eis o relato que concede à lenda o seu lugar na história da batalha de São Mamede e aos nobres o papel decisivo na vitória de Afonso Henriques que, assim, teria ficado na sua dependência.

José Mattoso, de cuja biografia de Afonso Henriques retiro os elementos que aqui vos deixo, remata o capítulo 3 da sua obra, intitulado: “Os primeiros passos de um jovem príncipe”, com as seguintes palavras:

“ (…) Tomando como fundamento a evolução dos sinais de validação usados na chancelaria régia, dir-se-ia que só mais tarde, a partir dos anos 1150-1160, se atribuiria à autoridade do fundador da monarquia o carácter de um carisma pessoal. Estes indícios devem relacionar-se com o papel que os barões portucalenses desempenharam na “revolução” que expulsou os Travas e deu o poder a Afonso Henriques, deixando-o, todavia, dependente da nobreza nortenha até ele se emancipar da sua influência, à medida que foi assumindo um papel cada vez mais decisivo na condução da guerra santa.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”, pgs. 47 e 57 (15).
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quinta-feira, junho 21

Os primeiros passos de um jovem príncipe

Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a
Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).
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domingo, junho 17

AFONSO HENRIQUES NA COMUNICAÇÃO

Anoto duas peças jornalísticas, publicadas na edição on line do Expresso de hoje, com origem na agência Lusa, nas quais José Mattoso se pronuncia acerca de D. Afonso Henriques. Na primeira aborda a questão da abertura do túmulo do nosso primeiro Rei e na outra questões relacionadas com a própria biografia de D. Afonso Henriques.

Mesmo que o tratamento jornalístico dado às declarações de José Mattoso me suscitem as maiores reservas, em particular, no que respeita à biografia que, como é público e notório conheço, sempre é melhor que o silêncio.

No que respeita ao tratamento jornalístico da biografia de D. Afonso Henriques a minha discordância prende-se mais com o enfoque do que com o conteúdo que, no essencial, é correcto. Mesmo nestas pequenas incursões pelos temas da nossa história não somos capazes de relativizar e colocar no contexto as realizações dos portugueses.

No caso desta notícia, relatando uma entrevista com um historiador infatigável em buscar a verdade histórica, qual a razão para puxar para título Afonso Henriques foi mais "um caudilho" do que um grande general?

Na biografia de José Mattoso são postos em evidência tantos aspectos importantes e interessantes da vida e da acção de Afonso Henriques que se torna penoso ser confrontado com um destaque que é, afinal, uma forma de denegrir a própria imagem da formação de Portugal. É que não me parece razoável, face ao teor da obra de José Mattoso, sintetizar a natureza do papel de Afonso Henriques como própria de um “caudilho” versus um “general”.

Terei tempo para dar nota das razões da minha discordância. Mas se é assim que nos sentimos bem connosco próprios e como só uma minoria de portugueses lerá a obra em causa …talvez a RTP pudesse realizar uma série histórica com base na obra de Mattoso com o seu aconselhamento pessoal! A RTP teria uma boa oportunidade para dar aos portugueses menos exploração do populismo fácil e mais serviço público! …
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sábado, junho 16

S. MAMEDE

“Se é bem claro que, logo após o cerco de Guimarães, se verificou uma aliança entre D. Afonso Henriques e as nobres que tinham abandonado a corte em 1122 e em 1125, é mais difícil decidir a quem pertenceu a iniciativa deste acordo. Mas as circunstâncias em que se deu o cerco, e a participação que nele tiveram pelo menos alguns dos nobres revoltados contra D. Teresa, devem ter facilitado as decisões imediatas, tanto da parte do infante como da parte dos nobres. Estes viram que podiam contar com um chefe decidido. Podiam tê-lo do seu lado se encorajassem as suas ambições.”
(…)
“…pode afirmar-se, com segurança, que o infante começou, pouco depois do cerco de Guimarães, a exercer actos de soberania, como foram as cartas de couto ao eremitério de
São Vicente de Fragoso em Dezembro de 1127 e ao mosteiro de Manhente em Janeiro de 1128 e ainda a já citada confirmação do foral de Guimarães em Abril de 1128. Apropriou-se, portanto, do governo do condado contra a vontade de sua mãe.”
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“A confrontação armada era inevitável. Deu-se, como se sabe, em São Mamede, perto de Guimarães, no dia 24 de Junho de 1128, quando se comemorava a festa litúrgica de São João Baptista. As tropas de Fernão Peres e as cavaleiros fiéis a D. Teresa, vindos, sem dúvida, das regiões de Coimbra e Viseu, atravessaram o Douro e dirigiram-se a Guimarães, onde D. Afonso Henriques devia então estar, e a batalha deu-se, portanto, perto do seu castelo.” [
Ver a transcrição do texto dos Anais acerca de São Mamede.]
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“São Mamede foi o primeiro acto de um movimento irreversível que explica, mais do qualquer acontecimento ou intervenção pessoal, as razões imediatas da independência do Condado Portucalense, como entidade política que precedeu o reino de Portugal.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”Revolta e tomada do poder” e “S. Mamede”, pgs. 43/46 (13).
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quarta-feira, junho 13

O cerco de Guimarães

Posted by PicasaCastelo de Guimarães

Cerco de Guimarães por Afonso VII – Setembro ou Outubro de 1127. Primeiros actos de soberania de Afonso Henriques. (Cronologia).

O cerco de Guimarães “inspirou o episódio mais importante da célebre narrativa acerca dos feitos de Egas Moniz, redigida cerca de cento e cinquenta anos depois, segundo parece, pelo trovador João Soares Coelho, que se apresentava como trineto do “Aio”.
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“É verdade que o papel atribuído ao infante na defesa de Guimarães, ainda antes da Batalha de São Mamede, coloca um problema histórico de grande importância. De facto, temos de admitir que, se houve resistência à demonstração de força de Afonso VII, e se a cidade foi defendida pelo infante naquela data, este devia agir em nome de D. Teresa. Por outro lado, se Afonso VII invadiu Portugal nessa ocasião, foi, decerto, na sequência do pacto provisório assinado em Ricobayo, isto é, para resolver o problema da submissão de D. Teresa, até ali deixado em suspenso.”
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... o episódio do cerco de Guimarães tem um significado histórico muito importante. Em primeiro lugar, representa a primeira confrontação dos nobres de Entre Douro e Minho (…) com o rei de Leão e Castela, o que quer dizer que este passou a ter de defrontar o conjunto da nobreza regional portucalense. A questão da vassalagem do Condado Portucalense deixou, por isso, de se poder resolver só por meio de conversações com a rainha. Em segundo lugar, significa que, a partir dali, o infante passou a desempenhar um papel preponderante na evolução dos acontecimentos do condado. Em terceiro lugar, verifica-se que o problema da relação política do condado com o rei de Leão ficava, na prática, suspenso, pelo facto de a submissão vassálica ter sido prestada por quem não tinha autoridade para o fazer; mas a sua aceitação nestas condições significava também que Afonso VII se contentou com uma solução que salvava a honra das partes mas não resolvia o problema de fundo.
De facto, parece ser este último aspecto o que dá sentido histórico ao episódio a que o trovador João Soares Coelho deu forma literária, e que torna Egas Moniz o alegado protagonista de uma solução equívoca.”
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“Se alguma relação existe entre a lenda e a realidade, é apenas a de que a submissão do infante na primeira confrontação com seu primo não foi definitiva. Não sabemos se o “Aio”, fosse ele quem fosse, desempenhou nisso algum papel.”
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“A actuação de Afonso Henriques em Guimarães projectou-o para o centro dos acontecimentos mais importantes do ponto de vista político.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”O cerco de Guimarães””, pgs. 41/43. (12)
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