Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, outubro 10
quarta-feira, outubro 9
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (10)
Como já antes escrevi algures, aquando da minha última estadia em Faro de férias, por sinal, curtas demais, o alfarrabista que faz venda na esquina da rua que frequento, trouxe-me um conjunto de livros de Camus em português. Sempre aparece uma surpresa. Desta vez fiquei a saber que existe mais um livro de autor português acerca de Camus: “Do Absurdo à Solidariedade – a visão do mundo de albert camus”, de Hélder Ribeiro. O livro é muito interessante, pelo menos para mim, e estou a finalizar a sua leitura. Foi dele que repesquei a citação seguinte que tem o interesse de, para surpresa de muitos, reforçar a ideia de que Camus não se considerava um autor existencialista o que muitos estudiosos da sua obra têm assinalado de forma abundante. Qual o interesse da questão? Que mais não seja a citação evidencia como os autores são desapropriados do seu papel e do lugar da sua obra na história e se toma por verdade adquirida uma mentira vulgar.
Eis a citação de Camus cujas fontes, referenciadas no livro em apreço, aqui se omitem:
Começo a estar ligeiramente (muito ligeiramente) incomodado pela confusão contínua que me confunde com o existencialismo. Enquanto o mal-entendido passa nos jornais, a coisa não é tão grave. Mas ao chegar às revistas, prova bastante a falta de informação em que se encontra a crítica. Uma vez que Troyat escreve que toda a peça de A. Camus não é senão uma ilustração dos princípios existencialistas de J.-P. Sartre, sinto-me na obrigação de precisar três pontos:
3 – Não é pelo facto de dizermos que o mundo é absurdo que se aceita a filosofia existencialista. Nesse caso, 80% dos passageiros do metro, a acreditarmos nas conversas que aí ouvimos, são existencialistas. E não posso acreditar nisso. O existencialismo é uma doutrina completa, uma visão do mundo, que supõe uma metafísica e uma moral.
(Postado em 30 de setembro de 2012. Abordo um tema dos mais interessantes a respeito de Camus. Porquê? Porque refuta, nas palavras do próprio, o autor existencialista que não assume ter sido e, na verdade, não foi. Palavras escritas ainda nos tempo de uma relação fraternal com Sartre que havia de romper-se de forma brutal mais tarde - outro dos temas que valerá a pena abordar.)
Eis a citação de Camus cujas fontes, referenciadas no livro em apreço, aqui se omitem:
Começo a estar ligeiramente (muito ligeiramente) incomodado pela confusão contínua que me confunde com o existencialismo. Enquanto o mal-entendido passa nos jornais, a coisa não é tão grave. Mas ao chegar às revistas, prova bastante a falta de informação em que se encontra a crítica. Uma vez que Troyat escreve que toda a peça de A. Camus não é senão uma ilustração dos princípios existencialistas de J.-P. Sartre, sinto-me na obrigação de precisar três pontos:
1 – Calígula foi escrito em 1938. Nessa época, o existencialismo francês não existia na sua versão actual, ateia. Nesse tempo, ainda Sartre não tinha publicado as obras onde devia dar forma a essa filosofia.
2 – O único livro de ideias que eu escrevi – Le Mythe de Sisyphe – foi dirigido precisamente contra as ideias existencialistas. Uma parte dessa crítica aplica-se ainda, no seu espirito, à filosofia de Sartre.3 – Não é pelo facto de dizermos que o mundo é absurdo que se aceita a filosofia existencialista. Nesse caso, 80% dos passageiros do metro, a acreditarmos nas conversas que aí ouvimos, são existencialistas. E não posso acreditar nisso. O existencialismo é uma doutrina completa, uma visão do mundo, que supõe uma metafísica e uma moral.
Embora me aperceba da importância histórica desse movimento, não tenho suficiente confiança na razão para entrar num sistema. Não nutro muito gosto pela demasiado célebre filosofia existencial e, para dizer tudo, creio que as suas conclusões são falsas. Mas ela representa, pelo menos, uma grande aventura do pensamento. Sartre e eu não acreditamos em Deus, é verdade. E também não acreditamos no racionalismo absoluto. Não, não sou existencialista. Sartre e eu ficamos admirados de ver os nossos nomes sempre associados.
Pensamos mesmo um dia publicar um pequeno anúncio onde assinaremos não ter nada em comum e nos recusaremos a responder ao que cada um deve ao outro. Porque, enfim, é uma brincadeira. Sartre e eu publicámos todos os nossos livros antes de nos conhecermos. E quando nos conhecemos foi para constatar as nossas diferenças. Sartre é existencialista e o único livro de ideias que eu publiquei era dirigido contra as filosofias ditas existencialistas. (Postado em 30 de setembro de 2012. Abordo um tema dos mais interessantes a respeito de Camus. Porquê? Porque refuta, nas palavras do próprio, o autor existencialista que não assume ter sido e, na verdade, não foi. Palavras escritas ainda nos tempo de uma relação fraternal com Sartre que havia de romper-se de forma brutal mais tarde - outro dos temas que valerá a pena abordar.)
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (9)
Há rostos que se casam estreitamente com uma parte inteira dos nossos impulsos e com os quais comunicamos tão bem desde o princípio, que se torna impossível pensar séria e justamente diante deles, mas unicamente falar docemente, silenciosamente, utilizando palavras gastas e baças, às quais só o sentimento de uma íntima cumplicidade confere um novo valor.
Albert Camus, in Escritos de Juventude - “O PÁTIO” (Abril de 1933):
terça-feira, outubro 8
segunda-feira, outubro 7
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (8)
A um mês do dia em que se celebra o centenário do nascimento de Albert Camus (7/11/1913) aqui vos deixo algumas imagens ilustrando a sua dedicação, e amor, pelo teatro (e pelas mulheres), pelos filhos (gémeos), pelos amigos (na fotografia com Char) e pelo jornalismo.
domingo, outubro 6
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (7)
Tanto tempo passado, como decifrar os caminhos do meu encontro com Albert Camus? Sou levado a crer que me seduziu o ambiente mediterrânico que trespassa a sua escrita. Talvez me tenha atraído o autor existencialista, que hoje sei não ter sido, ou a sua atracção pelo tema do suicídio, ou o alcance político que o apego à defesa da liberdade assume no seu pensamento e acção cívica.
O que sei é que um dia pelos meus vinte anos, ou talvez dezanove, cursando um curso superior da área das ciências económicas, caíram-me nas mãos os três pequenos volumes dos Cadernos editados, em Portugal, na Colecção Miniatura, pela Livros do Brasil. Devo tê-los comprado por iniciativa própria, buscando o mero prazer da leitura, impulsionado pela curiosidade de conhecer um autor/personagem, oriundo do sul, como eu, atraído pela sua escrita concisa, demasiado perfeita, segundo alguns detractores, feita de fragmentos que se sobrepõem e interagem.
A minha memória navega por entre uma nebulosa repleta de impressões fortes mas difusas. A escrita fragmentada ajudou, certamente, no entusiasmo da escolha e os sublinhados, a traço grosso, que os livros estoicamente suportaram, testemunham a cronologia íntima de um leitor frente ao objecto do seu desejo.
No Cadernos I, ao cimo, na página 25, escrevi, a esferográfica azul, em perfeito alinhamento gráfico com a palavra Abril, “ – 3 – 1968 – Faro – Cais”. O texto sublinhado de Camus cuja leitura datei diz mais acerca da minha escolha que todas as palavras que possa escrever:
“Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se pedem como balões. Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas mouros de conversa à espera que venha a noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de reconhecimento.”
Esta, como outras das minhas escolhas de juventude, podia ser uma escolha actual. As minhas escolhas actuais vão mais além mas encaminham-se, quase sempre, para uma faceta da reflexão de Camus em que olha a mãe natureza e os outros homens com assumido desprendimento pelas coisas materiais sempre deixando transparecer um problema nunca resolvido na sua vida: a sua relação com o sucesso. Como transparece no texto final do Caderno nº 1:
“ (…) Não é necessário entregarmo-nos para parecer mas apenas para dar. Há muito mais força num homem que não parece senão quando é preciso. Ir até ao fim, é saber guardar o seu segredo. Sofri por estar só, mas por ter guardado o meu segredo venci o sofrimento de estar só. E hoje não conheço maior glória que viver só e ignorado. Escrever, minha profunda alegria! (…)”
O prazer dos meus reencontros com Camus renasce quando afloram à memória os momentos felizes da minha juventude, vivida sob o céu azul nas terras do sul, entre uma sinfonia de abraços apertados como se cada dia fora a despedida do mundo, o último dia, o primeiro do último abraço, aquele que marca o prazer de tudo começar. Quente a juventude, rebelde a paixão.
“ … a criança morrera naquele adolescente magro e vigoroso, de cabelos revoltos e olhar arrebatado, que trabalhara todo o Verão para levar um salário para casa e acabava de ser nomeado guarda-redes titular da equipa do liceu e, três dias antes, saboreara pela primeira vez, quase desfalecido, o contacto com a boca de uma jovem.” *
Como tantos outros leitores apaixonados também sinto que em cada livro leio sempre o mesmo livro e, passados 50 anos sobre a trágica morte de Camus, sou capaz de ouvir os seus passos por entre as suas palavras e a actualidade do seu pensamento não deixa nunca de me surpreender:
« Aquilo a que chama cepticismo das novas gerações – mentira. Desde quando o homem que recusa acreditar no mentiroso é o céptico”*
*«O Primeiro Homem»
Publicado em As Artes entre as Letras, edição de 11 de Agosto de 2010
sábado, outubro 5
sexta-feira, outubro 4
5 de OUTUBRO
Toda a noite ouço o estampido brutal do canhão, que por vezes chega ao auge, para depois cair sobre a cidade um silêncio mortal, um silêncio pior. Que se passa? Distingo o assobio das granadas, e de quando em quando, um despadaçar de beiral que cai à rua. E isto dura até de madrugada. De manhã as tropas do Rossio rendem-se e os marinheiros desembarcam na Alfândega. Às oito e meia está proclamada a República. Passa aqui na Rua de S. Mamede um resto de Caçadores 5, soldados exaustos, entre populares que os aclamam.
O rei fugiu. Um genro do Cayola, oficial de Infantaria 16, contou ao Maximiliano: Acompanham-no no parque das Necessidades o Sabugosa, o Faial, o Tarouca e o Ravara. Um deles dizia-lhe: - Vossa Majestade já fez o que tinha a fazer. – O rei estava lívido e num gesto maquinal tirava e metia os anéis nos dedos.
Um farmacêutico da Ericeira assegurou que o viu chegar a Mafra dentro dum automóvel. O D. Afonso embarcou no Estoril, mostrando aos que o acompanharam até ao fim uma carteira com duzentos mil réis. – É o que levo ... – A D. Amélia partiu também de Sintra para Mafra. Tinha-se espalhado entre o povo que fora a raínha quem mandara assassinar o dr. Bombarda. Se a apanham matam-na.
Raúl Brandão
Memórias “O meu diário”– Volume II
Perspectivas & Realidades
O rei fugiu. Um genro do Cayola, oficial de Infantaria 16, contou ao Maximiliano: Acompanham-no no parque das Necessidades o Sabugosa, o Faial, o Tarouca e o Ravara. Um deles dizia-lhe: - Vossa Majestade já fez o que tinha a fazer. – O rei estava lívido e num gesto maquinal tirava e metia os anéis nos dedos.
Um farmacêutico da Ericeira assegurou que o viu chegar a Mafra dentro dum automóvel. O D. Afonso embarcou no Estoril, mostrando aos que o acompanharam até ao fim uma carteira com duzentos mil réis. – É o que levo ... – A D. Amélia partiu também de Sintra para Mafra. Tinha-se espalhado entre o povo que fora a raínha quem mandara assassinar o dr. Bombarda. Se a apanham matam-na.
Raúl Brandão
Memórias “O meu diário”– Volume II
Perspectivas & Realidades
quinta-feira, outubro 3
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (5)
OS DEVERES DA AMIZADE AJUDAM A SUPORTAR OS PRAZERES DA SOCIEDADE
A frase em título, respigada dos meus sublinhados dos Cadernos, é uma das que mais me marcou, aquando da primeira leitura da obra de Camus, pelos meus 20 anos, era ele somente um pouco mais velho, como autor, do que eu como seu leitor. Aquela frase contém todo um programa de vida, que tentei tomar como meu, e sublinhei-a a traço grosso. Sei, hoje, como o esquecimento mata as ilusões da juventude. Mas nunca me esqueci dessa leitura inaugural de Camus, através dos Cadernos, e entendi, mais tarde, o significado profundo da sua obra que, ao longo dos anos, fui sendo capaz de ler, e reler, penetrando mais fundo no âmago da sua interpretação dos acontecimentos do seu tempo e da visão de um homem confrontado com o absurdo da existência.
PABLO NERUDA
"E numa certa manhã tudo ardia,
numa manhã o fogo
saltava da terra
devorando os seres,
e ardia,
havia pólvora,
e sangue.
Bandidos com aviões e mouros,
bandidos com anéis nos dedos e duquesas,
bandidos com frades negros e suas bendições
vinham pelo céu matar crianças,
e o sangue delas escorria pelas ruas
sem ruído algum, corria como sangue de criança.
Chacais que seriam alvo de desprezo de outros chacais,
pedras que o cardo seco morderia
e cuspiria, víboras que as próprias víboras abominariam!
Face a face com vocês vi o sangue
da Espanha erguer-se
para afogá-los em uma onda
de orgulho e de facas!
Generais
traidores:
vejam minha casa morta,
vejam a Espanha alquebrada:
de todas as casas sai um metal
que arde,
em vez de flores,
mas de cada oco da Espanha
a Espanha emerge
e de cada criança morta sai um rifle
com olhos,
e de cada crime nascem balas
que um dia encontrarão o caminho
do coração de vocês.
E vocês me perguntarão:
por que os poemas dele
não falam de sonhos, e de folhas
e dos grandes vulcões de sua terra natal.
Venham e vejam o sangue nas ruas,
venham e vejamo sangue nas ruas,
venham e vejam o sangue nas ruas!"
Pablo Neruda
(Excerto do poema “Explico Algunas cosas” de Pablo Neruda, citado por Harold Pinter na Conferência de atribuição do Prémio Nobel da Literatura.)
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Explico algunas cosas
Preguntaréis: ¿Y dónde están las lilas?
¿Y la metafísica cubierta de amapolas?
¿Y la lluvia que a menudo golpeaba
sus palabras llenándolas
de agujeros y pájaros?
Os voy a contar todo lo que me pasa.
Yo vivía en un barrio
de Madrid, con campanas,
con relojes, con árboles.
Desde allí se veía
el rostro seco de Castilla
como un océano de cuero.
Mi casa era llamada
la casa de las flores, porque por todas partes
estallaban geranios: era
una bella casa
con perros y chiquillos.
Raúl, ¿te acuerdas?
¿Te acuerdas, Rafael?
Federico, ¿te acuerdas
debajo de la tierra,
te acuerdas de mi casa con balcones en donde
la luz de junio ahogaba flores en tu boca?
¡Hermano, hermano!
Todo
eran grandes voces, sal de mercaderías,
aglomeraciones de pan palpitante,
mercados de mi barrio de Argüelles con su estatua
como un tintero pálido entre las merluzas:
el aceite llegaba a las cucharas,
un profundo latido
de pies y manos llenaba las calles,
metros, litros, esencia
aguda de la vida,
pescados hacinados,
contextura de techos con sol frío en el cual
la flecha se fatiga,
delirante marfil fino de las patatas,
tomates repetidos hasta el mar.
Y una mañana todo estaba ardiendo
y una mañana las hogueras
salían de la tierra
devorando seres,
y desde entonces fuego,
pólvora desde entonces, y desde entonces
sangre.
Bandidos con aviones y con moros,
bandidos con sortijas y duquesas,
bandidos con frailes negros bendiciendo
venían por el cielo a matar niños,
y por las calles la sangre de los niños
corría simplemente, como sangre de niños.
¡Chacales que el chacal rechazaría,
piedras que el cardo seco mordería escupiendo,
víboras que las víboras odiarían!
¡Frente a vosotros he visto la sangre
de España levantarse
para ahogaros en una sola ola
de orgullo y de cuchillos!
Generales
traidores:
mirad mi casa muerta,
mirad España rota:
pero de cada casa muerta sale metal ardiendo
en vez de flores,
pero de cada hueco de España
sale España,
pero de cada niño muerto sale un fusil con ojos,
pero de cada crimen nacen balas
que os hallarán un día el sitio
del corazón.
Preguntaréis: ¿por qué su poesía
no nos habla del sueño, de las hojas,
de los grandes volcanes de su país natal?
¡Venid a ver la sangre por las calles,
venid a verla sangre por las calles,
venid a ver la sangre por las calles!
Pablo Neruda
quarta-feira, outubro 2
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (4)
“Je comprends ici ce qu´on appelle gloire: le droit d´aimer sans mesure. Il n´y a qu´un seul amour dans ce monde. Étreindre un corps de femme, c´est aussi retenir contre soi cette joie étrange qui descend du ciel vers la mer.»
Albert Camus, in “Noces à Tipasa” - Argel 1938
Stèle en mémoire des "Noces à Tipaza" d'Albert Camus
Albert Camus, in “Noces à Tipasa” - Argel 1938
Stèle en mémoire des "Noces à Tipaza" d'Albert Camus
terça-feira, outubro 1
POLITICA - 20
Um dia após as eleições autárquicas os comentadores
invadiram os écrans. É natural. Peroram acerca dos resultados e tudo o mais. São
de todas as qualidades e feitios os comentadores com mais ou menos vulto em
credibilidade e audiência. São úteis os comentadores pois preenchem o tempo e
no nosso país, em regra, não falam mal dos políticos nem lançam a politica na
lama. Na apreciação dos resultados destas eleições persiste para mim um enigma
e atrevo-me a entrar num terreno que nem conheço muito bem mas intuo como
relevante na vida dos partidos e das suas lideranças. Ora supondo que o PS,
apesar de perder votos face às anteriores eleições autárquicas, ganhou 149+1 presidências
de Câmara num total de 308, ou seja, quase metade, e os resultados são
alicerçados, no caso do PS, em escolhas pelas concelhias partidárias dos candidatos, como pode alguém ameaçar a liderança de Seguro? As
concelhias são a base de apoio dos líderes partidários. Ganhando quase metade das presidências em outros tantos concelhos, gostemos ou não de
Seguro, o resultado destas autárquicas foram o melhor terreno eleitoral para o reforçar como líder
do PS. Os partidos, vencedores ou vencidos, são a
base da democracia e pela parte que me toca não confio, sem prejuízo dos seus
méritos, nos chamados candidatos independentes. Antes prefiro um candidato partidário que assume com honra a derrota do que um independente a dar lições de moral do alto do palanque da vitória.
segunda-feira, setembro 30
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (3)
.“São raros aqueles que continuam a ser pródigos depois de terem adquirido os seus meios. Esses são os reis da vida, que se devem saudar com discrição.”
(…)
“ – a miséria é uma fortaleza sem ponte levadiça.”
(…)
“De resto, como fazer compreender que uma criança pobre pode por vezes ter vergonha sem nunca invejar coisa alguma?”
(…)
“E, à noite, deitado, morto de cansaço, no silêncio do quarto onde a mãe dormia levemente, ainda ouvia uivar dentro dele o tumulto e furor do vento que amaria ao longo de toda a vida.”
(…)
“ … a criança morrera naquele adolescente magro e vigoroso, de cabelos revoltos e olhar arrebatado, que trabalhara todo o Verão para levar um salário para casa e acabava de ser nomeado guarda-redes titular da equipa do liceu e, três dias antes, saboreara pela primeira vez, quase desfalecido, o contacto com a boca de uma jovem.”
In “O Primeiro Homem”, de Albert Camus.
domingo, setembro 29
Frank O´Hara (Lana Turner has collapsed!)
Lana Turner has collapsed!
I was trotting along and suddenly
it started raining and snowing
and you said it was hailing
but hailing hits you on the head
hard so it was really snowing and
raining and I was in such a hurry
to meet you but the traffic
was acting exactly like the sky
and suddenly I see a headline
LANA TURNER HAS COLLAPSED!
there is no snow in Hollywood
there is no rain in California
I have been to lots of parties
and acted perfectly disgraceful
but I never actually collapsed
oh Lana Turner we love you get up
1962
Poema
Lana Turner desmaiou!
Eu deambulava e de repente
começou a chover e a nevar
e tu disseste que caía granizo
mas o granizo acerta na cabeça
com força por isso estava a nevar
e a chover e eu tinha tanta pressa
ia ao teu encontro mas o tráfego
comportava-se exactamente como o céu
e subitamente vi um cabeçalho
LANA TURNER DESMAIOU!
não há neve em Hollywood
não há chuva na Califórnia
eu estive numa data de festas
e portei-me de forma desgraçada
mas nunca tive um desmaio
oh Lana Turner amamos-te levanta-te
Frank O'Hara
In “Vinte e Cinco Poemas à Hora do Almoço”
Assiro & Alvim
Tradução de José Alberto Oliveira
Assiro & Alvim
Tradução de José Alberto Oliveira
Fotografia de Helder Gonçalves
VOTAR SEMPRE
VOTAR FOI DESDE SEMPRE PARA MIM PERTENÇA DO SAGRADO. MAIS DO QUE UMA ESCOLHA LIVRE DE REPRESENTANTES, COM SEUS DEFEITOS E VIRTUDES, UMA PARTILHA DO PODER EM COMUNIDADE.
ASSIM FOI SEMPRE MESMO NAS ELEIÇÕES CONDICIONADAS, E VICIADAS, ANTES DO 25 DE ABRIL (VOTEI EM 1969 E PARTICIPEI NA AÇÃO POLÍTICA, PELA PRIMEIRA VEZ, NA "CAMPANHA" DE 1965 ...).
VOTEI EM TODAS AS ELEIÇÕES DESDE O 25 DE ABRIL DE 1974 E, EM CADA UMA, SEJA QUAL FOR A SITUAÇÃO DO "ÂNIMO" E DA "RIQUEZA", SEJA DO LADO DO PODER OU DA OPOSIÇÃO, SINTO-ME COMO UM COMBATENTE ARMADO SIMPLESMENTE DE UMA VIBRANTE VONTADE DE PARTICIPAR.
sábado, setembro 28
ALBERT CAMUS - CENTENÁRIO (2)
Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.
É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo.
É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!
sexta-feira, setembro 27
ANTÓNIO COSTA
Reproduzo, na íntegra, o post de outubro de 2009 a propósito das eleições autárquicas do próximo domingo em coerência com o sentido do meu voto. Desta forma poderei continuar a orgulhar-me de ter votado em todas as eleições democráticas realizadas em Portugal desde o 25 de abril de 1974. Com respeito pelos adversários, vencedores ou vencidos, o mais importante é afirmar, em cada eleição, pelo exercício do voto livre a confiança no regime democrático.
A vitória, por maioria absoluta, de António Costa, em Lisboa, significará, no plano político nacional, a vitória do PS nas eleições autárquicas. Se tal acontecer, apesar de todas as leituras, desde as heranças do passado, passando pelos genes políticos do candidato, até aos sinais de novos alinhamentos da esquerda no futuro, será uma vitória política do PS com expressão nacional. Em Lisboa vencerá, nesse caso, a renovação dos autarcas (pois Costa é, em todos os sentidos, o rosto de uma nova liderança autárquica), fundada numa aliança política original de esquerda. Costa conseguiu o milagre de criar uma coligação política informal assente num consenso programático, da esquerda radical à direita moderada, sem lançar ao lixo, antes pelo contrário, o PS tornando-o numa plataforma de encontro de vontades e de fusão de políticas modernizadoras. Mas para que esta experiência frutifique é preciso que António Costa ganha nas urnas. E PARA QUE GANHE É PRECISO VOTAR ANTÓNIO COSTA, OU SEJA, PS. VAMOS A ISSO!
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