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segunda-feira, setembro 21

Notas políticas (1)

Breves notas políticas até às eleições presidenciais. Hoje por hoje dão-se conta comentaristas e quejandos que o CDS/PP vai desaparecer do mapa politico português. Qual a supresa? A minha curiosidade está onde votarão nas próximas eleiçoes - regionais, presidenciais, autárquicas e legislativas - os seus mais notáveis dirigentes ainda vivos.

segunda-feira, agosto 10

O texto político

"O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obtinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico." Escrevi nesta pagina: "visitam-se lugares e acontecimentos mas, de facto, visitamo-nos a nós próprios apertando os contactos entre os "viajantes". Quando assim não sucede a viagem reduz-se à excursão." "Roland Barthes por Roland Barthes"

sábado, maio 25

VOTAR SEMPRE

Tenho escrito sempre na véspera de eleições desde que frequento estes espaços de comunicação - vulgo redes sociais - por dever de consciência. Faço parte daquele grupo de eleitores, que os especialistas na matéria devem qualificar de uma forma qualquer, fiéis a um ideário.

Nada que me incomode ou associe, de mim para comigo, a um qualquer imobilismo ou letargia acrítica. A propósito destas eleições europeias e de outras tenho-me lembrado, com frequência, da experiência de candidato, independente nas listas do PS, às eleições legislativas de 1985.

Ainda no decurso de um período de dura politica de austeridade, dirigida por um governo PS, nas vésperas da adesão à CEE, ser candidato foi mais do que uma maçada, foi um risco físico, à beira de apanhar pancada vinda de enfurecidos cidadãos que anunciavam a pior votação de sempre no PS. É como em tudo na vida, umas vezes em baixo outras em cima.

Para dizer que desde que o distinto MES acabou para as lides eleitorais, em presidenciais, legislativas e europeias, sempre votei no PS. Assim seja!

domingo, outubro 14

CAUSAS E COMPROMISSOS

O PS, como sempre, continua a ser a esquerda possível. Capaz de vencer eleições e constituir governos aceitáveis pela maioria da opinião pública. É pouco? É muito? É o que é! Não é a chamada “esquerda das causas” mas a “esquerda dos compromissos”. Os compromissos que viabilizam as causas, pois as causas impostas sem compromissos são o princípio da barbárie. É preciso conhecer um pouco de história para perceber esta diferença essencial. Em 1979 deixei de votar na “esquerda das causas”, na qual militei, porque percebi que as causas não são propriedade da esquerda. As verdadeiras “causas” pelas quais vale a pena lutar são património dos democratas que estão presentes em todos os quadrantes políticos, ideológicos e partidários. Essas causas resumem-se em dois palavras simples: liberdade e justiça.

sábado, agosto 11

SMO


A propósito de um tema que voltou ao debate volto a publicar um post de 29 de setembro de 2004. Esta continua a ser, no essencial, a minha posição acerca do SMO apesar da passagem do tempo que torna ao mais necessário um debate exigente atenta a complexidade do tema.


"O Dr. Portas surge, ufano, a proclamar o fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO). O acontecimento aparece aos olhos da grande maioria como uma grande conquista civilizacional. Em particular aos olhos da juventude. As juventudes partidárias rejubilam.


O Dr. Portas ostenta um orgulho que estaria nas antípodas das suas próprias convicções caso fosse um verdadeiro patriota. No momento em que se consagra o fim do SMO quero afirmar que sempre fui a favor da conscrição, ou seja, do “alistamento militar”.


Acho que o fim do SMO é uma cobardia moral e um sinal de resignação patriótica.


A partir de agora o país ficará a dispor de forças militares profissionais. A maioria dos jovens nunca terá acesso à experiência militar. Nunca saberá manejar uma arma. Nunca terá a noção real do que é a defesa nacional. O país perderá um dos últimos redutos onde se exercitava o sentimento de pertença à comunidade nacional.


Ficam os ex-combatentes para o exercício da demagogia patrioteira. Ficam as compras de armamento para o aumento da despesa pública. Ficam os edifícios e os terrenos militares devolutos para combater o deficit.


O patriotismo virou negócio por grosso e a retalho. E negócio chorudo!"

sábado, maio 5

PARTIDOS

Os partidos políticos em Portugal têm tido uma estabilidade impressionante. Ao contrário de outros países europeus, que integram a UE, nos últimos 44 anos, o corpo central da partidocracia portuguesa quase não mudou mantendo até, no essencial, as mesmas denominações. CDS, CDS/PP ou PP; PPD, PPD/PSD ou PSD; PS; PCP; BE (uma "fusão" da UDP com o PSR e mais alguns grupos ... ). Não está à vista qualquer alteração a este quinteto a que acrescem pequenos partidos sem expressão relevante no plano eleitoral ou meros satélites. Para dizer como são irrelevantes, ou temporárias, as dissidências quer tenham levado ou não à criação de novos partidos de que o caso mais importante foi o da criação do extinto PRD. Não sei quanto tempo mais vai durar este modelo partidário confinado a cinco partidos com aspirações a ser governo ou a partilhar alianças de governo. Com a presente solução de governo só fica a faltar, na prática, a participação num governo dos partidos que hoje apoiam, a nível parlamentar, o governo PS. Assim vamos... e continuaremos...

domingo, abril 22

25 DE ABRIL, SEMPRE!

Hoje, em 1974, era uma segunda feira. Devo ter entrado no quartel, no Campo Grande, em Lisboa, de manhã cedo. Por esses dias falava-se de forma mais ou menos aberta que alguma coisa estaria para acontecer. Quem cumpria o serviço militar obrigatório - no meu caso desde outubro de 1971 - sabia, ou tinha a perceção, que o regime - 48 anos após o 28 de maio de 1926 - iria sofrer o derradeiro golpe. Faço muitas vezes uma analogia com a vida de meu pai, nascido em 1910, que só conheceu a cor da liberdade aos 63 anos de idade. Se o movimento militar que foi desencadeado na quarta feira seguinte, dia 25 de abril de 1974, não fosse bem sucedido seria mais uma desilusão de consequências imprevisíveis. Naqueles últimos dois dias viveu-se num frenesim pejado de ansiedade. Tinha a idade que o meu filho tem hoje e, pela conjugação de uma vasta constelação de circunstâncias, coube-me a felicidade de ter participado no movimento que devolveu a liberdade aos portugueses. Mesmo em beneficio daqueles que, ainda hoje, dela dispondo a combatem. A melhor forma de contrariar os inimigos da liberdade é cerrar fileiras na defesa do regime democrático, das suas instituições representativas, em particular das que se constituem através de eleições livres. São mil vezes preferíveis os defeitos de um regime fundado em eleições livres, do que as "virtudes" da uma ordem fundada no silêncio e na obediência aos ditames de uma tirania.

Fotografia de Hélder Gonçalves

segunda-feira, abril 16

NAQUELA NOITE - O ATAQUE

Quando no passado sábado escrevi acerca de "UM PEQUENO PROBLEMA - AS AMEAÇAS DE GUERRA" não sabia que poucas horas depois os USA+GB+FR iriam desencadear um ataque militar contra alvos escolhidos na Síria. Por acaso nessa noite de sábado adormeci tarde. Li bastante acerca da guerra, os clássicos, e não aprecio a guerra. O que a história nos ensina, sem necessidade de altos estudos acerca do tema, é que, através da guerra, sempre esteve em jogo o controle das rotas, a superioridade no acesso às matérias primas, e sua exploração, em suma, o domínio dos espaços. Hoje em dia não sei se ainda será assim. Como disse Francisco, O Papa, o tempo é superior ao espaço. O que julgo saber deste ataque cirúrgico mostra-nos algumas características, aparentemente, surpreendentes: o ataque não provocou vitimas humanas (assim parece), tendo como alvo fábricas de produção de armas químicas não há notícia de libertação de gazes (dizem que as misseis utilizados impedem essa libertação), as "forças do mal" ultimavam, por esses dias, a eliminação de um reduto que ninguém desmente ser dominado por radicais (terroristas?), salvo Macron, May e Trump precisam desesperadamente de criar focos poderosos de distração para as crises no exercício do seu poder interno, ...
Sejam quais forem as razões trata-se de uma nova abordagem da guerra pelas potências ocidentais, tendo como certo que a Rússia, por razões estratégicas, jamais deixará cair a Síria chiita, aliada do Irão chiita, sendo certo também que a Rússia, tal como a aliada China, jamais serão derrotadas militarmente salvo se algum louco, em lugar de comando, desencadear uma guerra nuclear letal para todos.

sábado, abril 14

UM PEQUENO PROBLEMA - AS AMEAÇAS DE GUERRA

Ontem, ou seja, por estes dias de abril de 2018, surgiram, de forma expressa, referências a ameaças de guerra a partir da sempre presente crise no Médio Oriente. Não é matéria que se possa menosprezar nas atuais circunstâncias do mundo e das lideranças politicas das potências (USA e Rússia).
Ao contrário do que afirmam certos comentaristas não é pelo facto de se expressarem as ameaças, às claras, que a guerra não ocorrerá. E a ocorrer, a guerra nos nossos dias, poderá ser letal não somente numa região do mundo mas a nível global.

domingo, abril 8

LULA

Não conheço nada do processo que conduziu à indiciação de Lula e à sua prisão. Hoje em dia, com tudo o que oiço pelas notícias, não acredito em nada que não conheça. Não sei, pois, nada deste processo judicial mas assisti ontem ao discurso de Lula.

Pode ter sido o último discurso público de Lula. Pode existir uma multidão que o abomine como politico. Pode o discurso politico ter-se banalizado e perdido o prestígio de outros tempos. Pode Lula ser culpado ou inocente, o seu discurso autêntico ou manipulador. Mas ao ouvi-lo, no contexto em que foi proferido, estamos perante um momento raro, e extraordinário, da história politica de todos os tempos.

domingo, março 18

Política

Uma semana passada sobre o Congresso do CDS nada mudou na relação de forças expressa nas sondagens, que valem o que valem. Também nada mudou na comunicação acerca de casos em torno de figuras de topo do PSD de Rio. O que pode ter mudado, ou dá sinais de mudança, é o posicionamento do PCP. Mudança de rumo, ou não, tudo vai depender dos seus resultados eleitorais - Europeias em que o PCP deverá apresentar um cabeça de lista que bem poderá ser o novo Secretário Geral pós Jerónimo - e legislativas. Em politica tudo é possível mesmo o impossível do dia presente. A ver... O Bloco acertou o passo ... Na politica portuguesa dos próximos dois anos tudo depende do BCE (taxas de juro), das Bolsas, das Bolhas, de algum gemido mais estridente dos conflitos mundiais (ou globais) em curso. Mas Portugal continuará a ser por mais uns tempos um caso de estudo na politica europeia e mundial. Assim seja ...

sábado, março 10

Congresso do CDS.

Hoje e amanhã realiza-se o Congresso do CDS. Nada surpreendente na medida em que se insere no ritual de um regime politico democrático no qual os partidos são uma pedra basilar. Por todo o mundo assiste-se à ascensão de movimentos, e partidos, populistas que alcançaram resultados eleitorais relevantes. Partidos de extrema direita, xenófobos e racistas, que se reclamam em diversos casos da matriz ideológica fascista, integram, ou ocupam, governos em diversos países europeus. (Já não me refiro aos USA!). Qual a diferença de Portugal no puzzle politico partidário nos países que integram a UE? Os partidos portugueses, situados mais à direita e à esquerda, reclamam-se do ideal democrático e têm-se mantido afastados, no essencial, das derivas populistas. É o que me parece acontecer com o CDS e que o presente Congresso revela. Um partido democrático que se assume de centro direita, de matriz democrática cristã. As pulsões populistas que, de forma difusa, se manifestam na sociedade portuguesa ainda não têm expressão politica organizada partidariamente. As razões são muitas e diversas e não cabe neste texto abordá-las. Mas devemos congratularmo-nos pela moderação politica, independentemente da retórica própria das campanhas eleitorais, de todos os partidos políticos portugueses, incluindo daqueles que se situam na margem direita e esquerda do nosso espetro partidário.

sábado, fevereiro 24

PSD - uma semana e o resto ...

O período imediato ao Congresso do PSD, ou seja, uma só semana, permitiu, de forma explicita, clarificar o estado da arte neste partido. Quando estamos a falar do PSD, tal como do PS, convém ter presente uma história antiga, não do pós 25 de abril de 1974, mas que enraíza nos idos da revolução industrial. Convém, além do mais, esclarecer que os partidos políticos são associações que enraízam no movimento do associativismo livre que, nos tempos modernos, resultou de uma especialização na organização das classes trabalhadoras de que resultaram associações, cooperativas, mutualidades, sindicatos e partidos. O tema está bastante bem estudado. Ver, por exemplo, Rui Namorado, in O Mistério do Cooperativismo - Da Cooperação ao Movimento Cooperativo (Almedina 2013).
O que esta semana se revelou foi algo que nada tem de novidade, ou seja, um partido dividido após uma mudança de liderança e de orientação politica, aliás mais que expetável e com um rosto de líder pré anunciado desde há muito. Não se entende, pois, o espanto de alguns com as manifestações de divergência, e divisões, vindas a público nesta semana. É nem mais nem menos do que a revelação de uma divisão entre sociais democratas e liberais (para simplificar) sendo certo que nuns e noutros existem inúmeras nuances, e interesses, que, por vezes, os unem, noutras vezes, os dividem. A crise da social democracia europeu, e mundial, manifesta-se no PSD de forma singular num contexto de um sistema politico que dispõe hoje, no seu vértice, de um social democrata moderador - Presidente da República - e de um governo socialista (igualmente da família social democrata) com o apoio parlamentar de partidos de esquerda "anti sistema", se considerarmos a sua história (raízes ideológicas e doutrinárias)e posicionamento estratégico no contexto internacional.
Para abreviar o PSD pode superar o desafio, ou fracionar-se (como já aconteceu no passado), tudo dependendo da evolução da situação económica e financeira no próximo futuro (no curto prazo de um ano e pouco) e da refundação, ou reformulação, do sistema de alianças à esquerda muito dependente da vontade politica das direções politicas de PCP e BE (querem ou não querem partilhar os desafios, e os inerentes riscos, do exercício direto, ou indireto, do poder? Ou do próprio governo?). Todos os partidos estão sempre divididos mesmo quendo aparentam, em períodos mais ou menos longos, estarem unidos. O mais apetecível do poder é viabilizar, e influenciar, decisões que marcam em aspetos cruciais a vida da comunidade (divisão do rendimento entre trabalho e capital, definição do perfil e do poder das instituições que compõem o sistema, partilha de lugares na administração aos mais diversos níveis...). Será a esquerda, na sua pluralidade, capaz de superar as suas diferenças de fundo? Será a direita capaz de sobreviver a um prolongado jejum no exercício do poder executivo? Até ao final do primeiro trimestre de 2019 teremos algumas respostas bastante elucidativas!

segunda-feira, fevereiro 19

CONGRESSOS

O Congresso do PSD foi o que seria de esperar de um modelo de Congresso tradicional, passado de moda, que carece de ser, no caso de todo os partidos, metido na gaveta. Não sei será possível acontecer em tempo útil para que evite uma grave crise - já em curso- no modelo da democracia representativa. O PSD, este final de semana, mudou de protagonistas e anunciou uma mudança de posicionamento politico, ou seja, o reconhecimento de que, no pós eleições legislativas de 2015, ocorreu uma mudança de fundo que consistiu, simplesmente, na entrada na área do poder dos partidos de esquerda que até então, desde o 25 de abril de 74, se haviam acantonado numa postura de negação.
A partir de hoje o PSD vai tentar empurrar o PS para a esquerda e, ao mesmo tempo, chamá-lo a compromissos políticos em áreas já enunciadas por PS, PSD e PR. O tempo é escasso para o reposicionamento do PSD ainda para mais cravado por divisões internas bastante expostas. Se os indicadores económicos continuarem positivos, até à véspera das eleições legislativas (verão de 2019), o PS vencerá se souber gerir as expetativas. Só em Portugal, salvo erro, na Europa democrática, o socialismo democrático e a social democracia lutam pelo poder sem, por ora, serem ameaçados por partidos populistas.
É uma bênção. Espero, com sinceridade, que sejamos todos capazes de manter a capacidade de fazer prevalecer a democracia representativa, ou seja, a capacidade do diálogo politico na diversidade.

quarta-feira, fevereiro 14

PIB

A estimativa rápida do crescimento do PIB, em 2017, (2,7%), hoje anunciada, será confirmada mais tarde e, por tradição, deverá manter-se. Duas observações rápidas: os jornais digitais desvalorizaram, ou ironizaram, tal a dificuldade em engolir o sucesso que este indicador evidencia para o país (e o governo); por outro lado lembrei-me que o ano 2000, no qual o mesmo indicador atingiu este valor, foi o que antecedeu, em 2001, uma derrota autárquica do PS e a demissão do 1º ministro Guterres. Os sucessos, tal como os insucessos, na economia e na politica, têm sempre que ser valorizados na sua insondável volatilidade.

domingo, fevereiro 4

Voltando ao chamado caso Centeno em modo "suspeito".

Voltando ao chamado caso Centeno em modo "suspeito". O dito ficou encerrado, mas não ficou encerrado. Não se conhecem as verdadeiras motivações das noticias a propósito, nem a natureza da ação do MP, nem a identidade de mentores e autores, somente - salvo os próprios - se conhecem rumores e se fazem suposições. Não se anteveem consequências tendo ficado, isso é certo, a pairar aquela suspeita, sob a forma tão portuguesa, do "não se tivesse posto a jeito". Caso o sentido de responsabilidade de Estado fosse levado a sério o processo estaria a ser investigado a fundo - não sei se não estará! - servindo, ao menos, para que a justiça desse um passo em frente na sua relação com a liberdade. Essa luta pela reconciliação entre justiça e liberdade que nas sociedades, em todos os tempos, seja qual for o regime politico, está permanentemente na ordem do dia. E já agora, como se tem dito a propósito, em próximos episódios (que deverão estar na calha) de apresentação a público de "suspeitos", que haja bom senso, de preferência, antes da subida à cena, porque depois é tarde para todas as partes e, em particular, para o estado de direito democrático regime que, muito mais do que se possa pensar, integra no seu seio muitos que o combatem em favor da tirania.

sábado, janeiro 13

NOVAS LIDERANÇAS

Interrogo-me muitas vezes acerca do que me parece ser uma peculiaridade do capitalismo português: ser um capitalismo sem capitalistas. O coração do capitalismo, a banca, está deserto de capitalistas portugueses. Todos os bancos, com exceção da CGD (Público), da Caixa de Crédito Agrícola (Cooperativo)e do Montepio (Mutualista), são maioritariamente detido por capital estrangeiro. Os capitalistas portugueses, os ditos privados, têm vindo a buscar outras paragens e tornaram-se, quanto muito, filantropos mais para efeitos de marketing do que para promoção do bem comum. Os liberais, paradoxalmente, clamam pelo apoio do Estado, enquanto exploram as suas falhas, e os seus grupos de reflexão (e pressão) estão retirados em parte incerta, ou ensaiando guerrilha comunicacional. No dia da eleição do novo líder do PSD fico curioso por conhecer o núcleo duro do programa económico/social do PSD que o distinga do programa do PS. Um enigma para desvendar nas próximas semanas!

segunda-feira, janeiro 1

1 JANEIRO 2018

Primeiro dia de um novo ano. O mais notável das conversas da passagem do ano, no que toca à política, foi a ausência do tema das finanças públicas. É uma novidade absoluta face aos anos anteriores (muitos) e deve-se, como sempre, à improvável conjugação de fatores. Juros abaixo do que seria expetável, politica de compra de divida seguida pelo BCE, astuta, e competente, gestão orçamental de Centeno em contexto de estabilidade politica interna, reconhecimento pela UE de que, afinal, existe alternativa às politicas orientadas pela ortodoxia liberal. Ao que dizem os especialistas, que se enganam muitas vezes, somente lá para os idos de 2019/2020 poderá ocorrer alteração significa face ao cenário atual. Ainda para mais os sinais de instabilidade politica estão do lado de Espanha, Alemanha e Itália (para ser minimalista)assumindo Portugal um papel novo na cena europeia e internacional o que só para os que desconhecem a história é facto inédito. Os dois factos mais relevantes dos últimos tempos foram as eleições de Guterres (ONU)e Centeno (EUROGRUPO) a que se seguirá a de Vitorino (OIM). Os nossos problemas não resultam de continuarmos a ser um país periférico (a geografia tem diversas leituras), mas da incapacidade (ou dificuldade)em criar elites com massa critica para encetar, de forma consequente, um verdadeiro processo de modernização inovador do nosso modo de viver e produzir riqueza. Não vale a pena embarcar nos visões conservadoras isolacionistas (anti europeias e anti globalização), nem nos cantos de sereia dos diversos populismos que estão associados aos velhos slogans salazaristas. O caminho do progresso passará sempre por afirmar Portugal como parceiro ativo, cosmopolita, num mundo aberto. Novo ano, novas esperanças.

domingo, novembro 26

GOVERNO - DOIS ANOS


Transcrevo abaixo o que escrevi no dia 27 de novembro de 2015 aquando da posse do governo em funções. Muita coisa foi feita em linha com o que era expetável e de todas estas destaco a retomada da confiança, interna e externa, que permitiu prestigiar Portugal perante os parceiros europeus, os mercados e as opiniões públicas. Não é uma pequena obra cujo sucesso, no entanto, está sempre sujeito às vicissitudes de fatores externos numa economia aberta como a portuguesa. Ainda mais assinalável o fato deste percurso ter sido feito com o apoio da esquerda parlamentar numa fórmula que, ou se transforma, ou se esgota no prazo máximo de uma legislatura. É o que parece, ...mas nem sempre o que parece é.

"Na madrugada do dia seguinte ao da posse do governo de António Costa que ocorreu em 26 de novembro de 2015 no Palácio da Ajuda. Fiz questão de estar presente, na qualidade de cidadão, porque sei o que quer dizer a palavra liberdade e também a palavra responsabilidade. Acabou um ciclo politico acerca de cuja natureza a história se encarregará. Não julgo útil, necessário e prudente, para beneficio da comunidade, contribuir para agudizar a crispação politica que, por ora, se tem circunscrito aos círculos políticos, apesar dos esforços de muitos meios de comunicação social (quase todos) para a propagar à maioria da população. Um dos mais interessantes fenómenos observáveis neste período pós eleitoral é o insucesso desses esforços. Como todos os que estavam melhor informados sabiam António Costa - até pelo que foi dito por ele próprio, e escrito nos documento oficiais do PS - nas condições de não obter uma maioria absoluta, dispunha de condições para alcançar um acordo à esquerda. Será, porventura, o único politico português no ativo capaz de obter sucesso em tal empreendimento. Neste dia em que escrevo não tenho tempo nem disposição para elaborar acerca dos motivos de tal vocação que merecem uma abordagem séria e aprofundada. Interessa-me, em especial, acompanhar as consequências do desenlace da crise politica e participar, tanto quanto seja capaz, na concretização de um programa politico que será hoje aprovado pelo Conselho de Ministros e cujo teor é conhecido por ter sido divulgado, ao contrário de uma nefasta tradição nacional, com antecedência. A respeito das politicas serão certamente assinaladas ruturas e continuidades, sinais de futuro e tonalidades diversas do presente, métodos e abordagens diversas do habitual, protagonistas novos e renovados relacionamentos de protagonistas antigos, um mundo de diferenças face às politicas do anterior governo e seus executantes. Aspiro a poder assinalar que este governo vai fazer diferente, sem arrogâncias nem autoritarismos; que julgará a herança do governo anterior de forma objetiva, justa e sem precipitações; que mudará o que houver a mudar, com o objetivo central de servir o bem comum em prol da melhoraria da vida dos cidadãos e da qualidade da democracia. Colocar no lugar cimeiro da politica a defesa da liberdade sem descurar a justiça e a igualdade."

sábado, outubro 21

Tempos cinzentos - novos tempos

A faceta politica do pós 15 de outubro. Algumas notas acerca de acontecimento que estão em marcha. O sistema - chamemos-lhe assim para facilitar - está desconfortável com o modelo, e natureza, do governo em funções. Tal desconforto mais se acentuou ao longo dos dois últimos anos com os resultados positivos da economia que se podem sintetizar pela trilogia: mais crescimento- menos deficit- mais emprego. Acrescem os generalizados elogios de todas as entidades internacionais com responsabilidade no resgate de 2011.A imagem de Portugal mudou para positivo através da contribuição de muitos fatores que não cabe aqui descrever.
A crise politica, pelo contrário, instalou-se, sem desprimor pelo respetivo eleitorado e muitos dirigentes, no espetro politico partidário da direita. O jogo politico como que inverteu as lógicas arreigadas pela tradição politica portuguesa. A esquerda alcançou sucesso na consolidação orçamental, criando emprego e repondo rendimentos do trabalho, e a direita recuou para a defensiva a tal ponto que a levou a uma mudança de liderança no PSD, a uma ofensiva politica sem base social de apoio pelo CDS/PP e a um reposicionamento do PR reforçando o seu protorganismo, nos limites dos poderes presidenciais que lhe são atribuídos pela Constituição.
O movimento que está em curso destina-se a testar a capacidade da aliança de esquerda (a designada gerigonça)de manter os acordos que viabilizaram o governo socialista antecipando a disputa eleitoral de 2019 ou, quiçá, antecipando essa mesma disputa a partir do momento em que o PSD resolva a questão da liderança. Entretanto emerge o seu afã em derrubar o governo. O sistema não suporta o 1º ministro, ainda menos o ministro das finanças, ainda muito menos os apoios do PCP e do BE. Tudo no seu conjunto contribui para que este governo não seja sensível - esteja mesmo blindado - a determinados negócios sem os quais o sistema não respira e pode mesmo não sobreviver apesar da sua inesgotável capacidade de se renovar.
Como poderá a esquerda responder sem cedências aos acontecimentos negativos que estimulam o populismo (incêndios, encenações como a do roubo de armas em Tancos e outros que podem seguir-se), prestigiando-se perante os seus parceiros internacionais e respondendo de forma positiva às aspirações do maior número dos cidadãos portugueses. Esta solução politica terá que se transfigurar nos próximos tempos. Será possível aquele golpe de asa que, de quando em vez, a politica carece para manter o seu fascínio e mais do que isso defender a liberdade e a democracia dos seus inimigos que se encobrem nas brumas do sistema .