Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, maio 6
BRASIL
A politica no Brasil é coisa triste, os brasileiros não merecem tais araustos de um grande e rico país-continente, ainda para mais de lingua portuguesa. Lula acerca da guerra da Ucrânia disse umas inanidades que Bolsonaro deve ter tido pena de lhe terem sido roubadas. Fica-se com a sensação que as opções viáveis de vitória nas próximas presidencais anunciam novas aparências mas com mais do mesmo. E fico triste, pá...
terça-feira, maio 3
A POSSE
A designada guerra da Ucrânia continua e tenho para mim que assim é por ser do interesse de todos menos do povo que sofre as suas consequências. Finalmente foi sempre assim pois se assim não fosse seria uma breve chama que um simples sopro apagaria. Sempre os negócios, o dominio das fontes de matérias primas, das rotas, da terra, do mar, a volúpia da posse...a posse.... a posse... . Das guerras saem sempre vencidos os povos mesmo quando os seus governos saem vencedores, hoje por hoje, acresce o espectáculo que estimula o imaginário heróico da beligerância em desfavor da pacata grandeza da concórdia. Daí o desprezado heroísmo de Guterres ... e por aqui me fico ...
domingo, maio 1
À MINHA MÃE TOLENTINA
Reconheço o amor nos olhos que me olham com desmedida atenção enquanto durmo. Os olhos de minha mãe adoravam ter esperança no futuro no qual jogava a sua crença de ir mais longe. A primeira mulher da minha vida. A mais ousada na sua imprevisível arte de romper barreiras e chegar mais além. A fonte da força que me mantém de pé contra todas as adversidades. Uma mulher de um só homem que não era homem de uma só mulher. A fidelidade nascida da tradição que não da fraqueza ou da futilidade. A irreverência herdada da rudeza do campo, das agruras da natureza à força de puxar a besta e de encaminhar a água à raiz certa não fosse perder-se uma gota. A escola da escassez sonhando a fartura que havia de vir fruto do trabalho honrado. Não perder tempo chorando o tempo perdido. Fazer do tempo um passeio para espairecer e voltar ao arado da vida com sonhos lá dentro. A mulher que se fez a si própria descobrindo os outros e o que se pode e se não pode fazer com eles. Aceitar mudar e escolher o caminho da mudança. Tactear o caminho levando ao colo os seus amores. A primeira mulher que acreditou no caminho hesitante que me havia de fazer homem. Sem saber para onde ia ao certo. Nem ninguém sabia, ninguém nunca sabe, mas não duvidou que havia de chegar a um lugar onde brilharia o sol e sou capaz de a lembrar como a minha primeira mulher. Aquela que mais me amou, sempre me amou além do que a vida pode conter de riqueza material. Um dia ao fim de uma longa caminhada sem sequer saber dos meus males escolheu morrer nos meus braços. A mais sublime homenagem que alguém pode prestar a alguém. De súbito suavemente, na alegria da celebração da juventude, deixou para sempre a esfusiante tradição de me abraçar como se fosse a criança que para ela nunca deixara de ser. [21/1/2008]
HOJE É DIA DE MAIO
Hoje é dia de Maio, dizia-se no campo de meus avós, tão longe no tempo, tão perto na memória. Hoje passam 48 anos sobre a data em que se desfizeram muitas dúvidas acerca da natureza da revolução de Abril.
Por toda a parte ressoaram os passos de milhões de manifestantes. Num repente um povo submisso parecia ter-se transformado num povo rebelde. Mas as revoluções só sobrevivem naqueles breves momentos de fusão em que tudo parece ser possível.
Torga, apesar do seu cepticismo, vigilantemente crítico, escrevia, pouco tempo depois, no seu Diário:
“Aveiro, 9 de Junho de 1974 – A caminho da Costa Nova, com a sensação de que os barcos navegam no meio dos milheirais.”
E, ainda antes, a propósito das suas incursões pela política:
“Coimbra, 1 de Junho de 1974 – Discurso num comício socialista. Ainda hei-de escrever meia dúzia de linhas a propósito da situação trágico-cómica de um poeta em bicos de pés num estrado cívico, a esforçar-se por estar à altura da sua reputação e ao mesmo tempo a saber que ninguém o ouve.”
Jorge de Sena, na América, escreveu em 2 de Maio de 1974 o poema “Com que então libertos, hein?...”: “Falemos de política, / discutamos de política, escrevamos de política, /vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um /essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho. /Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos/ tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelos menos. /E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua/ não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la, / mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso, /uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos. (…)
As quatro fotografias, a preto e branco, sobreviveram 48 anos tal como algunsde nós que nelas se podem rever. Nesta última, entre muitos dos activistas do MES que, publicamente, se anunciava, vejam se conseguem reconhecer o Eduardo Ferro Rodrigues!
QUE VIVA O 1º DE MAIO!
sábado, abril 30
O CARTEL
O capital financeiro, a Banca manda em tudo, é juiz supremo da vida das nações. Em Portugal com a particularidade de termos chegado ao fim da linha, com desenho surrealista, de um capitalismo sem capital, capitalistas sem banca própria, reduzidos à pública CGD que, imagine-se!, vai partilhar sede com governo, tudo o resto (que é quase tudo) tomado pelo capital estrangeiro (salvo Montepio e Caixa de Crédito Agrícola, pequenos bancos da economia social, originários da 1ª república, sempre na mira da voracidadde alheia.) "Não há sentença judicial final ...!
"Não há sentença judicial final do cartel da banca, porque o processo vai ter de ir para esclarecimentos para o Tribunal de Justiça da União Europeia. O caso será suspenso até vir a resposta desta instituição europeia ao Tribunal de Concorrência, Regulação e Supervisão, em Santarém."
quinta-feira, abril 28
ANIVERSÁRIO
Aniversário, num tempo repleto de novos desafios, ameaças à paz entre os povos e as nações, sinais de guerra que me convocam para espreitar oportunidades e vontade agir pela mudança do modelo de sociedade onde impera a crescente desigualdade social. Sempre mantendo viva a memória dos outros sem os quais não somos ninguém. Aos meus, avós, pais, irmão, companheira, filho, família alargada de todos os ramos que em mim desaguou e sempre me enriqueceu. A todas, e todos, as amigas, e amigos, que me deram o privilégio de comigo conviverem e me oferecerem com sentido de dádiva parte de suas vidas. Quantas alegrias e sofrimentos partilhamos, olhares em flecha postos no futuro radioso que sonhámos, e tantas vezes vimos florescer ou desiludir. Sempre com o olhar posto na vida vivida com esperança no futuro e os revezes encarados como oportunidades de novas conquistas. Como soe dizer-se, otimista na vontade, pessimista na razão. Aniversário que escrevo como se fora a primeira palavra de um dicionário aberto a todas as inscrições que celebrem a vida.
segunda-feira, abril 25
25 ABRIL - QUE VIVA!
Neste 25 de abril escrevo aqui bem perto da casa onde nasci, dia claro e temperado, como naquele longinquo dia em que as circunstâncias fizeram com que tivesse participado na ação militar que derrubou a ditadura. Um golpe militar que desaguou numa revolução popular, singular, como havia sido singular a ditadura que caiu com estrondo em poucas horas. Não vem ao caso dissertar acerca destas singularidades, mas apetece-me reafirmar que fizemos, todas e todas os que dicidiram por vontade própria participar ativamente no derrube da ditadura, o que tinha que ser feito, honrando a memória dos que desde 1926 tentaram por todos os meios, com sacrificio da sua liberdade e, quantas vezes, da vida, restaurar a democracia perdida com o 28 de maio de 1926 que derrubou a 1ª República. No dia seguinte ao da vitória eleitoral de Macron em França, o 25 de abril celebrado como dia da libertação em Portugal e em Itália, podemos saudar a França, as francesas e franceses, que com o seu voto permitiram manter aberta aquela pequena frincha pela qual se ilumina a vida dos povos que aspiram a viver am liberdade. Que Viva o 25 de Abril!
(Na porta de armas do quartel do Campo Grande em Lisboa, com o João Mário Mascarenhas, num dos dias entre 25 e 30 abril de 1974)
25 ABRIL - O GOSTO DA LIBERDADE
No dia 25 de Abril de 1974 em que a história, o imaginário e o simbólico se fundiram, num magna único, as raízes falaram mais alto. Uma das recordações mais fortes do 25 de Abril, que persistem em mim, foi a preocupações em telefonar, naquela manhã, do quartel onde ficara enclausurado, para casa de meus pais.
Talvez seja incompreensível a persistência desta memória mas ela explica-se pelo facto de ter vivido, a maior parte da minha vida, longe da família, rodeado pela memória das paredes brancas, da luz do sul, dos cheiros da terra com vista para o mar. Das vozes e dos olhares que me viram crescer. Das ruas que conheço de cor e sou capaz de imaginar ao pormenor. Do rosto daqueles que são o rio no qual desagua o meu imaginário.
Naquele momento mágico, a madrugada do 25 de Abril de 1974, em que o sonho de gerações de portugueses se transformou em realidade veio ao cimo das minhas preocupações o que, em regra, nunca constituía preocupação: falar com a família para lhes dar a boa nova, trocar uma palavra de regozijo, ofertar um cravo imaginado, abraçar o futuro, verter uma lágrima, agradecer a liberdade que me tinham oferecido mesmo antes dos cravos brilharem nos canos das espingardas.
Reparei então como não somos nada sem as raízes que nos prendem ao chão das nossas origens.
O 25 de Abril foi uma vertigem de libertação que ainda mais despertou em mim o gosto da participação cívica. Ganhei esse gosto pela iniciativa do meu irmão Dimas à época em que todos os pais hesitam acerca do destino dos seus filhos. Os gostos não são inatos. Não nascem connosco. São uma construção na relação com o mundo que nos rodeia.
Sendo um filho tardio recebi dos meus pais a liberdade de escolher a minha vida e do meu irmão a discreta cumplicidade para que me afirmasse, no que quer que fosse, com respeito pelos princípios da liberdade e da democracia. O 25 de Abril foi a confluência de uma miríade de vontades libertadoras, um momento singular, que honraremos cultivando o gosto da liberdade.
(Publicado em 23 abril de 2006)
domingo, abril 24
25 ABRIL - COMENDAS
É para dizer que estou de acordo com a decisão do PR de condecorar todos os militares que participaram no 25 abril. Não faria sentido que fosse de outro modo sabendo que os havia de todas as tendências politicas e ideológicas. Muitos deles, como não poderia deixar de ser, vinham do tempo da ditadura, tinham-na apoiado, tendo pelas mais diversas razões, e não pouco relevante por razões corporativas, apoiado o movimento que derrubou a ditadura. Mas cinquenta anos depois o que interessa catalogar em prateleiras ideológico-políticas os que participaram do movimento militar que fez implodir a ditadura? Ficarão a faltar os milicianos, oficiais, sargentos e soldados (que eram quase todos), ou seja, a "carne para canhão" utilizada na guerra colonial. Para colmatar essa falta grosseira seria necessário condecorar coletivamente uma multidão de milicianos. Não sei como...mas serão imjustiçados.
"Decisão do Presidente da República de condecorar todos os militares de Abril, que tem sido alvo de polémica, não foi submetida a parecer. Conselheiros em silêncio." (In "Expresso")
25 ABRIL - A VÉSPERA
Por esta hora neste dia, 24 de abril de 1974 (era uma 4ª feira), estaria no quartel, já informado que havia chegado o dia. Com os companheiros de armas mais chegados – António Cavalheiro Dias e João Mário Anjos – entramos em estado de prontidão para o que desse e viesse. Outros, por diversas vias, estariam também alerta. Já não me lembro com precisão quem terá sido o mensageiro, certamente, um oficial do quadro permanente. Conversas e contactos discretos, temperatura primaveril, tensão crescente sem contra ordens. Acertámos encontrarmo-nos, quando se aproximasse a noite, em casa do Cavalheiro Dias, em Benfica. Ao final da tarde saí do quartel, devo ter passado por casa e de seguida fui a casa do Ferro Rodrigues, na Travessa do Ferreiro, avisá-lo(s). O Sporting jogava para as competições europeias, se não erro, com uma equipa da Alemanha de Leste. Tudo parecia, apesar da tentativa falhada do 16 de março, bastante inverosímil. Um golpe de estado militar? Uma revolução? Regressei a Benfica, sempre em transportes públicos, para me juntar aos companheiros de armas. A espera valeu a pena. Seguiu-se a madrugada mais longa, e inesperada, da minha vida. Muitos haviam lutado, sem sucesso, pelo advento da liberdade e, finalmente, fez-se-lhes justiça. Lembro o General Humberto Delgado.
sexta-feira, abril 22
25 ABRIL
Não me lembro do nascer do dia. Andávamos na rua à procura de entender se era mesmo verdade. Com o António Cavalheiro Dias e o José Mário Anjos percorri a cidade, de lés a lés, atrás da coluna de Salgueiro Maia, olhando cada esquina e movimento, com uma atenção fulminante, não fosse falhar tudo outra vez.
Não me lembro de ter visto nascer o dia. Naquela noite não houve madrugada. Os telefones devem ter começado a tocar a partir de determinada hora: “Olha parece que houve um golpe militar!”, “dizem que há tropa na rua!”.
A minha preocupação era telefonar a meus pais. No quartel pude fazê-lo já a manhã tinha despontado. Que alegria. Afinal não era um golpe dos ultras! Era um golpe militar mesmo daqueles com que sonharam Humberto Delgado e tantos que morreram sem conhecerem a cor da liberdade.
48 anos de ditadura é muito tempo! Que pena não poder ver os sonhadores da liberdade nesse dia. Observar a comoção nos seus rostos e ouvir as suas primeiras palavras. Mas não me lembro do despontar daquela madrugada.
Ouço os sons, cheiro os cheiros, vejo os camaradas de armas, o povo a passar defronte do quartel, bandeiras desfraldadas ao vento, as vozes enrouquecidas e as lágrimas a cair-lhes pelas faces, mas não me lembro do despontar do dia 25 de Abril de 1974.
Mas o que interessa é que estava lá. E vencemos!
[Escrito em 22 de abril de 2005. Postado agora com uma fotografia do Hélder Gonçalves.]
quarta-feira, abril 20
O PCP TEM QUE SE LHE DIGA
Assinalo a posição do PCP acerca da intervenção do Presidente da Ucrânia amanhã na Assembleia da República. Não tanto pela ausência dos deputados do PCP na sessão que não é inédita mas pelo argumentário justificativo. Trata-se afinal do discurso de Putin traduzido para português sem qualquer alteração. Surpreendente apesar de tudo, pelo seguidismo, mimetismo, o simétrico oposto da verdade. Um verdadeiro caso de estudo para os que se interessam pela chamada ciência politica. No mesmo dia da declaração da incipiente porta voz do PCP a Rússia fez gala de exibir as suas ameaças testando um missíl balístico de longo alcançe que pode ser portador de várias ogivas nucleares. O PCP de regresso à clandestinidade perante a ameaça ucraniana? Ou a caminho da irrelevância politica?
terça-feira, abril 19
EDUARDO FERRO RODRIGUES
Ontem, 18 abril, pelas 21h, passou na RTP1 uma entrevista/retrato com o Eduardo Ferro Rodrigues na qual, além de uma contextualização no tempo e das circunstãncias do tempo dos acontecimentos, ele não se excusou a responder a algumas perguntas difíceis. Suspeito que o discurso de algumas respostas, francas e diretas, não deve ter agradado a algumas pessoas. Mas, a meu ver, não havia volta a dar e aportou à memória, mesmo dos sem memória, alguns acontecimentos que tendo incidência na personalidade do entrevistado, interessam sobremaneira à história politica recente do país... que esquece facilmente as benfeitorias, e malfeitorias, dos seus atores politicos e não só. Como não conheia o guião, e muito menos a peça, fui surpreendido por uma referência direta e a exibição de duas fotografias que me tocam. Bem vistas as coisas a entrevista/retrato, de autoria da Fátima Campos Ferreira, foi elaborada com sensibilidade e boa informação, e ficará como precioso testemunho da vida e envolvimento politico do Eduardo Ferro Rodrigues, nas circunstâncias do seu tempo, um raro momento de autenticidade. A nossa geração não deixa os seus pergaminhos nas mãos dos profetas da desgraça, nem dos inimigos da liberdade e da democracia. Amigos para sempre, e que viva!
Uma das fotografias exibidas com o João Mário Anjos (à esquerda), Eduardo Ferro Rodrigues (ao centro) e o subscritor (à direita).
domingo, abril 17
IR À RUA
A rua é uma instituição urbana. Os meus antepassados próximos, de origem rural, conheciam mal este conceito. O advento da sociedade urbana atribuiu um estatuto especial a “ir ao campo”. Mas, durante séculos, para os rurais o grande dia era o da feira que os levava a “ir à cidade”.
A geração dos “babby-boomers”, de que faço parte, experimentou a fase final desta contradição. Lembro-me da impressão que me causou o filme de Renoir, “Passeio ao Campo”.
Lembro-me dos meus passeios ao monte dos meus avós maternos que, ainda nos anos 70, não tinham energia eléctrica em casa tendo assistido, impotentes, à instalação, mesmo ao pé da porta, de dois postes que suportavam a linha que fornecia a energia a Tavira mas não os alimentava a eles.
Senti o encanto da grande urbe de Lisboa ainda mal tinha resolvido a contradição “cidade/campo”. Nos primeiros dias, após a minha chegada definitiva a Lisboa, caminhei a pé pela Baixa, calcorreei as ruas dos bairros da Estrela, Campo de Ourique e da Lapa. Até que os pés aguentassem. Só. Fiz a carreira do eléctrico 28 dos Prazeres à Graça e da Graça aos Prazeres. Lindas as palavras que identificam estes dois bairros de Lisboa.
Caminhar pelas ruas da cidade de Lisboa era uma alegria. A partir de certo momento tornou-se uma aventura e um risco. Não pelo trânsito nem sequer pela delinquência que, em Lisboa, sempre foi uma brincadeira de crianças se comparada com outras urbes da Europa ou das Américas.
Mas porque em certas esquinas, à noite, nas saídas tardias das tertúlias ou das actividades associativas (subversivas?), surgiam vozes cavas e anónimas que pronunciavam o nosso nome em tom ameaçador. Porque ao caminhar pela rua surgiam interpelações ameaçadoras de desconhecidos que nos acotovelavam. Porque o regresso a casa, à noite, tinha de ser cuidadosamente preparado prevendo a arremetida que nos levaria ao hospital ou à prisão.
Muitas destas caminhadas fi-las acompanhado pelo Eduardo Ferro Rodrigues. Nunca nos deixamos intimidar mas estávamos longe de prever como seria possível que, nos tempos da democracia, pela qual lutamos a vida toda, ressurgirem as mesmas ameaças à liberdade revestidas de novas e mais subtis formas.
Ir à rua, para mim, sempre foi um verdadeiro exercício de liberdade. Como sabemos “ir à rua” pode ser até uma manifestação espontânea, ou organizada, de protesto. Mas há quanto tempo não vamos à rua?
Em tempo: ir às urnas, em democracia, também é um salutar exercício de liberdade!
(Dezembro de 2004, pelo 1º aniversário deste blog) .
sexta-feira, abril 15
A EUROPA EM GUERRA
A crise politico militar na Europa aprofunda-se dia após dia. Mas o mais importante até 25 abril é o resultado das presidenciais francesas. Nelas se joga em boa parte o destino da Europa e, em particular, da UE.
"Moscovo adverte no documento que os envios de armas dos EUA e da NATO para a Ucrânia estão "a adicionar combustível" ao conflito e podem estar a desencadear "consequências imprevisíveis"" (In "Expresso").
segunda-feira, abril 11
Cavaco Silva é um “amorfocrata”
Quando Cavaco fala ou escreve algo para o público é sinal de que temos a esquerda no poder, no caso português, pasme-se, os socialistas a solo, caso raro, mesmo único, na Europa. Logo me apetece, conhecendo a criatura, escrever também algo pois a conheço de tempos idos, e de todos os tempos, mesmo de muito antes de ter emergido na politica. Assim tendo ele escrito hoje um artigo no Público reproduzo um pequeno escrito de 2021.
"Cavaco Silva enquanto vivo nunca perdoará à esquerda e aos socialistas a ousadia de ser governo (eleito). Mais ainda quando está em causa gerir recursos financeiros que se estimam abundantes. Não admira assim que uma vez mais venha a terreiro escrever contra o "perigo vermelho", quando na Europa e não só a esquerda recupera posições desde a Alemanha à Itália, dos USA ao Brasil. Haja paciência. Como escrevi faz anos Cavaco Silva é um “amorfocrata”: um democrata com ausência de forma definida. Tolera os partidos e aceita a constituição."
domingo, abril 10
REGRESSO À BARBÁRIE ?
Em 3 de setembro de 2014 publiquei aqui o post que reproduzo pensando neste momento no resultado das eleições presidenciais em França e sua coincidência com a guerra na Ucrânia:
"Regresso à barbárie. Abundam sinais alarmantes de ascensão de novas formas de totalitarismo. Não em forma de doutrina livresca ou de acções isoladas, e pontuais, levadas a cabo por tresloucados. O que está a acontecer sob os nossos olhos, desde a Ucrânia ao Iraque, um pouco por todo o mundo, com formas diversas de expressão, é o alastramento de fanatismos, novos fascismos, difíceis de caracterizar em toda a sua extensão e profundidade. Não nos deixemos ficar pelo horror das execuções mediáticas perpetradas por radicais islâmicos. Interroguemo-nos acerca da origem do apoio politico e militar, ou seja, que forças sustentam estas forças? Qual a origem dos recursos que as tornam tão letais? Ainda mais, será necessário chamar a atenção para as ideologias totalitárias que, sob as mais variadas capas ideológicas, e crenças religiosas, atraem jovens e intelectuais um pouco por todo o mundo ocidental. Notam-se esses sinais, além da indiferença que toma o lugar da condenação da barbárie, em tomadas de posição de cidadãos que connosco convivem no dia a dia e não se coíbem de acolher, expressamente, processos e medidas politicas limitativas da liberdade individual em todas as suas dimensões. Os princípios e valores nos quais assenta a nossa vida em sociedade, por mais banal que pareça a sua evocação e defesa, não podem ser menosprezados e, muito menos, espezinhados. "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam ... " escreveu Jorge de Sena a propósito, noutro contexto, deste mesmo perigo. Alerta, pois, para as posturas moles, complacentes, no combate a todas as formas de totalitarismo, seja qual for a sua matriz ideológica."
sábado, abril 9
A RÚSSIA TOTALITÁRIA
A Rússia de Putin passa da doutrina estratégica dos anúncios à ação mostrando ao mundo a sua faceta e ambição imperial. O assunto é sério e coloca frente a frente duas conceções do mundo e do governo dos povos: totalitarismo ou democracia. Uma contraposição antiga e que nos tempos modernos é nossa conhecida em muitos confrontos sangrentos. Até este dia não se devisam os caminhos do cessar fogo e da concórdia em diração à paz. Por ora as palavras e as ações são de guerra e por isso mesmo, além da interpretação da torrente das notícias, não podemos nem devemos, os democratas e pacifistas lúcidos, deixar de tomar partido. O totalitarismo é o modelo, proposto através da força e da chantagem nuclear, pela Rússia e seus aliados declarados ou acobertados no clássico abstencionismo. Se a guerra alastrar e tomar novas formas preparemos as nossas defesas para as suas consequências e sejamos honrados tomando o partido e lutando pela democracia e liberdade.
"El Kremlin reorganiza su cúpula militar en Ucrania y pone al frente a un general con experiencia en Siria
Rusia encarga a Alexánder Dvornikov la coordinación de los batallones desplegados en el país vecino, según la BBC" (In "El Pais"
sexta-feira, abril 8
O LEITE PEREIRA MORREU
O Leite Pereira morreu ontem. Recordo-o com a sua amizade serena (com a Julieta), que não mais vou poder retribuir, de viagens memoráveis em especial ao país basco espanhol e francês, com suas peripécias sempre no contexto de uma organização em que era perito, dos convivios fraternais, da tropa (em que o refiro neste post antigo), do MES e da minha cidade de Faro onde residia nos últimos anos (apesar de ser natural de Espinho). Deixo-lhe um adeus e estas palavras em sua memória com um abraço para a Julieta.
"Na véspera do 36º aniversário do 25 de Abril tentei lembrar-me dos passos que terei dado nesse dia distante. Era uma 4ª feira. Basta consultar o calendário. Estava no tropa e devo ter frequentado, nesse dia, o quartel do Campo Grande. O chamado, na gíria, 2º Grupo (de Companhias de Administração Militar). Ontem, ao jantar, o Leite Pereira contou-me que, estando lá colocado, viu a minha ficha de suspeito quando ela lá chegou antecedendo o meu ingresso. Uma notícia nova acerca de uma rotina da época. Fervilhavam os boatos. Sabia que um golpe estava preparado para o dia seguinte. A fonte era credível. Acreditei. Fiz por acreditar. Temi um banho de sangue. Pensei nos meus pais. No meu irmão. Na minha namorada. Mas julgo que mantive a descrição. Como já contei, outras vezes, avisei os amigos civis mais íntimos. Organizei-me com os amigos militares que se haviam tornado conjurados. Não imaginava o que viria a passar-se após a arrancada da operação, um golpe militar, tornado revolução pela adesão popular. Um daqueles raros momentos de fusão que mudam o curso da história. Curto e fulminante. Hoje impressionam-me as notícias acerca das iniciativas e intervenções do Presidente da República pela celebração deste aniversário. Bem-haja. E ainda me impressiona mais não saber se terei em quem votar nas próximas eleições presidenciais."
terça-feira, abril 5
OS MAIS VELHOS
Os mais velhos face ao trabalho. É um tema antigo mas pouco abordado e escassamente tratado a todos os níveis. Trata-se não só de olhar para o lado do chamado "envelhecimento ativo", como para o lado da economia em toda a sua extensão, desde a criação de riqueza à sustentabilidade da segurança social pública. "O país tem de discutir o trabalho das pessoas mais velhas. Tem de discutir o nosso contributo enquanto indivíduos mais velhos para a sociedade, também como trabalhadores, não apenas como avós, cuidadores, voluntários. Isso é muito pouco. O país tem de discutir o nosso potencial contributo como
profissionais. Está a olhar para a imigração como uma solução para os actuais problemas de mão-de-obra ao mesmo tempo que descarta as pessoas que têm 55 anos e uma perspectiva de longevidade.
O Presidente da República tem 73 anos. O Alexandre Quintanilha, que tem 76 anos, vai ser novamente deputado. Dirão que são excepções. Porquê? Não têm de ser vistos como
excepções." "António Fonseca, in entrevista ao Público"
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