sábado, junho 4

PORTUGAL - AS NAÇÕES QUE PERDURAM SÃO UM PROCESSO SEMPRE EM MARCHA

“Na era de 1166 [ano de 1128], no mês de Junho, na festa de S. João Batista, o ínclito Infante D. Afonso, filho do conde Henrique e da rainha D. Teresa, neto do grande imperador da Hispânia, D. Afonso, com o auxílio do Senhor e por clemência divina, e também graças ao seu esforço e persistência, mais do que à vontade e ajuda dos parentes, apoderou-se com mão forte do reino de Portugal. Com efeito, tendo morrido seu pai, o conde D. Henrique, quando ele era ainda criança de dois ou três anos, certos [indivíduos] indignos e estrangeiros pretendiam [tomar conta] do reino de Portugal; sua mãe, a rainha D. Teresa, favorecia-os, porque queria, também, por soberba, reinar em vez de seu marido, e afastar o filho do governo do reino. Não querendo de modo algum, suportar uma ofensa tão vergonhosa, pois era já então de maior idade e de bom carácter, tendo reunido os seus amigos e os mais nobres de Portugal, que preferiam, de longe, ser governados por ele, do que por sua mãe ou por [pessoas] indignas e estrangeiras. Acometeu-os numa batalha no campo de S. Mamede, que é perto do castelo de Guimarães e, tendo-os vencido e esmagado, fugiram diante deles e prendeu-os. [Foi então que] se apoderou do principado e da monarquia do reino de Portugal.” “Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses”, citado por José Mattoso, em “D. Afonso Henriques” que, de seguida, comenta: “Este texto mostra que o seu autor considerava a batalha [de S. Mamede, 24 de Junho de 1128] como o primeiro episódio da história portuguesa." In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”S. Mamede”

MULHERES

A minha mãe Tolentina, desafiante e determinada, sempre receosa do mal que pudesse acontecer aos seus, inventando como lhes acudir, acompanhar, incentivar. Uma saudade eterna.

quarta-feira, junho 1

CAVACO, O AMORFOCRATA

Cavaco o amorfocrata, ou seja, o democrata sem forma definida, volta ao ataque desta vez no papel de humorista. Que Deus tenha o seu pensamento em descanso!
"Cavaco dá os parabéns pela maioria absoluta: com a “vontade de fazer reformas e habilidade no diálogo” de Costa, “tudo correrá na perfeição”". (In "Expresso")

domingo, maio 29

FERNANDO PIMENTA

Estou curioso para saber como o país através das suas instituições e titulares das mesmas vai agradecer ao Fernando Pimenta o seu extraordinário percurso de vitórias a nível mundial numa modalidade desportiva "não futebol"...
"O canoísta português Fernando Pimenta esteve hoje envolvido em três das quatro medalhas de ouro conquistadas pela seleção portuguesa na Taça do Mundo de Poznan, na Polónia. O duplamente medalhado olímpico luso venceu as provas individuais de K1 500 metros e K1 1.000 metros e, juntamente com Teresa Portela, ganhou a prova mista de K2 500, num dia em que também João Ribeiro e Messias Baptista venceram, em K2 200." (Dos jornais digitais)

sábado, maio 28

MULHERES

Maria Casares, filha do último 1º ministro do governo repúblicano deposto pelo golpe de Franco, que partiu para Paris, com a mãe, logo em 1936, com a idade de 14 anos. Havia de tornar-se no ambiente terrivel de guerras, exílios e os mais hediondos crimes, numa atriz de mérito reconhecido que a grande custo aprendeu a lingua francesa de forma a ser aceite pelo público e critica. Viveu com Albert Camus uma paixão amorosa ardente e tumultuosa que durou desasseis anos até à morte trágica de Camus (janeiro 1960).

sexta-feira, maio 27

LULA

"Lula mais perto de vencer à primeira volta eleições presidenciais no Brasil" (In "Expresso") Estava na cara que liberto de processos judiciais impeditivos de uma candidatura presidencial Lula ganharia logo que desse o primeiro passo. O seu regresso à presidência do Brasil terá um impacto relevante na politica internacional. O resultado final do seu exercício abre um mundo de interrogações. Ver-se-á se lá chegar ...

quarta-feira, maio 25

segunda-feira, maio 23

MULHERES

Sofia Loren por David Seymour - American, b.1911

ASSÉDIO SEXUAL

Não me venham com esta conversa de que o assédio sexual é transversal e tal e coiso... O que os responsáveis por cada uma das instituições (ainda para mais as de ensino) nas quais se prove essa prática, o que têm a fazer é tudo fazer para que os abusadores sejam severamente punidos (disciplinar e criminalmente). Aqui não há mas nem meio mas, nem vale generalizar para encobrir.
"Assédio sexual “é um problema transversal à sociedade portuguesa” “Não há um sítio que é o antro dos malfeitores e os outros são sítios assépticos”, afirma o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, a propósito das queixas de assédio na Faculdade de Direito (FDUL). Saúde mental dos estudantes da universidade vai ser avaliada." (In "Público")

sábado, maio 21

MULHERES

Conceição filha de minha tia Lucília, irmã mais nova de meu pai, serena e jovial, fotografada no lugar do anjo que nos encoraja a olhar o futuro. A propósito do Natal de 2006 lembrei-me de uma fotografia da comunhão solene da Conceição.
Porque o ar puro que emana da imagem dela, fotografada com arte verdadeira, corresponde à própria natureza do ser fotografado. A distância entre a realidade e a imagem que dela se faz encurta-se, aplana-se, tendendo para a representação da felicidade.

sexta-feira, maio 20

MULHERES

A minha tia Lucília, irmã de meu pai, uma mulher linda de morrer, no dia do seu centenário. Já não está entre nós mas reconstruo-me evocando a memória dos meus. E assim caminho...

terça-feira, maio 17

MULHERES

Fotografia de família – a minha avó paterna . Ressonâncias de outros tempos com gente povoando os caminhos e as casas habitadas em comum com suas regras horários lugares marcados uma luta pela sobrevivência é assim que me soam as ressonâncias de outros tempos. Nela as mulheres ocupam no meu imaginário o centro do mundo. O ponto cardeal em torno do qual volteiam todos os devaneios. Desfilam pela minha memória os seus rostos, vozes e cheiros. Na família tradicional que era (e é) a minha, as mulheres parece que nunca desertam dos seus deveres, nunca morrem, permanecem no centro da vida, lugar da vida, origem da vida. Se tivesse sido iluminado pelo dom de uma qualquer arte dedicar-lhes-ia um monumento, uma obra-prima, um prolongado aplauso. [24/2/2008]

domingo, maio 15

O SOFRIMENTO HUMANO

“Setembro. (1941) Organiza-se tudo: É simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém, e altera todos os planos.” Albert Camus, in Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942).
Na esquina de um olhar – Fotografia de Hélder Gonçalves

quinta-feira, maio 12

MAIO

Maio. Erro de uma psicologia de pormenor. Os homens que se procuram, que se analisam. Para nos conhecermos bem, temos que nos afirmar. A psicologia é acção - não reflexão sobre si próprio. Definimo-nos ao longo da vida. Conhecermo-nos perfeitamente, é morrer. [pág.34] As filosofias valem aquilo que valem os filósofos. Maior é o homem, mais a filosofia é verdadeira. [pág. 36] Combate trágico do mundo sofredor. Futilidade do problema da imortalidade. Aquilo que nos interessa, é de facto o nosso destino. Mas não "depois", "antes". [pág. 37] Regra lógica. O singular tem valor de universal. -ilógica: o trágico é contraditório. -prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros. [pág. 37] Os casais: o homem tenta brilhar diante de terceiros. A mulher imediatamente: "Mas tu também…", e tenta diminui-lo, torná-lo solidário da sua mediocridade. [pág. 41] Mulheres na rua. A besta arrebatada do desejo que trazemos enroscada na cavidade dos rins e que se agita com uma suavidade estranha. [pág. 43] Albert Camus, in "Cadernos" (1962-Editions Gallimard), Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937).

segunda-feira, maio 9

O COROA MORREU

O Campos Coroa morreu, não o refiro como reflexo das notícias de suas ligaçôes à Académica de Coimbra, mas como filho de Campos Coroa, um médico, tal como ele, que levou o teatro de Coimbra para o Algarve. Foi aí que aprendi na juventude muita coisa essencial para a minha vida futura até hoje e sempre. Deixo um texto antigo em sua homenagem.
Uma Sala Vazia O teatro foi uma escola para mim. Desde o liceu até ao teatro amador vivi uma experiência intensa fazendo teatro. No GTCCA (“Grupo de Teatro do Círculo Cultural do Algarve”), dirigido pelo Dr. Emílio Campos Coroa, encenaram-se os clássicos e fizeram-se representações e digressões sem conta. Em salas pequenas e grandes, modestas e grandiosas, em ruas e praças, em barcos ancorados (“O Lugre”) e praias douradas (Albufeira), de dia e de noite. Uma loucura. A acção da família Campos Coroa na promoção do teatro foi, e é, uma gesta heróica. O exagero está na realidade e não na fantasia do teatro. Representamos a “Trilogia das Barcas”, de Gil Vicente, versão integral, vezes sem conta. Desempenhava, nessa trilogia, três papéis, um em cada acto: o “Procurador”, no primeiro, o “Tafúl” (cena final do segundo acto) e o “Cardeal”, no terceiro. O dispêndio de energias era fenomenal e as cabeleiras nunca me cabiam na cabeça. O meu desempenho era somente razoável para um actor autodidacta, sem escola, nem formação específica. Mas os espectáculos eram uma festa tensa e exigente. O espectáculo de Portimão (ou de Lagos?) ficou-me vincado na memória por uma razão oposta à maioria dos outros. Antes do início, perto da hora marcada, a sala apresentava-se deserta. Não sei já, ao certo, mas sentavam-se na plateia um ou dois espectadores. Tinha falhado, certamente, a divulgação. O Dr. Emílio Campos Coroa (enfurecido!) reuniu a “companhia” nos bastidores e fez uma prédica que nunca mais esqueci. A sua mensagem era cristalina: o espectáculo realiza-se, de qualquer maneira, como se estivéssemos perante uma sala cheia. Com a mesma energia e dedicação, sem falhas nem hesitações. Fez-se. Correu bem. Reforcei a convicção de que os compromissos são para respeitar mesmo na adversidade. Obrigado doutor.

PELO ANIVERSÁRIO DE MARGARIDA RAMOS

Pelos caminhos da vida por entre perigos e desafios, enfrentando-os ou torneando-os conforme as circunstâncias, em mim repousa e vive o outro, suas alegrias e dores, tanto tempo e tão pouco, sempre o olhar erguido em frente, prontos a aceitar para ser aceites, sei que a eternidade é uma ideia sem futuro, mas creio sempre no valor sagrado da vida em liberdade e nos valores nos quais nos revemos. Feliz aniversário!

AGOSTINHO ROSETA

Agostinho Roseta morreu no dia 9 de Maio de 1995, na plena pujança das suas faculdades humanas, intelectuais e políticas. A sua morte prematura impediu que tivesse, muito provavelmente, exercido influência ainda mais marcante, a partir de 1995, no movimento sindical, no Partido Socialista e, quiçá, no governo. Ele foi, no movimento operário e sindical, o activista mais importante do MES associando juventude (ou talvez melhor, jovialidade), capacidade teórica e sentido prático de organização sendo, ao mesmo tempo, persuasivo, sedutor e desprendido do poder. Falar de pessoas é sempre muito delicado mas não receio cometer qualquer injustiça destacando a influência marcante de Agostinho Roseta na formação pessoal e política de um vasto e influente conjunto de dirigentes políticos e sindicais portugueses. Lembro-o, além do mais, pela amizade sincera que sempre por ele nutri, aliás, retribuída, e porque foi ele o primeiro, entre todos nós, que mais cedo compreendeu o fracasso do projecto político do MES optando por dedicar as suas imensas capacidades de liderança ao movimento sindical. O dia da sua morte coincide, ironicamente, com o dia de aniversário de minha mulher a quem pedi para reconstruir a última imagem que dele possuo: uma fotografia de grupo registada, certamente, em 27 de Outubro de 1994 na celebração do 4º aniversário de meu filho. (Dedicado à sua mulher Helena e a seus filhos, um post de Março de 2004, reescrito, pois nunca esqueço esta triste efeméride.)

sábado, maio 7

FOTOGRAFIAS DE FAMÍLIA

As fotografias de família confrontam-nos com as memórias. Reconciliam-nos ou antagonizam-nos connosco no contexto da família a que pertencemos. O colectivo e o individual misturam-se na poeira do tempo. São imagens que reflectem fragmentos da vida captados em fracções de segundos. Sempre me reconcilio com a memória quando olho as fotografias de família. Na diversidade das diversas famílias a que pertenço. Outros lidam mal com elas e horrorizam-se quando vasculham no baú da memória. A partir dos finais dos anos 40 o meu pai adquiriu três objectos de culto: a moto “Norton”, a máquina fotográfica “Kodak” e o automóvel “Ford Prefect”. Esta é uma fotografia rara retratando um objecto: o “Ford Prefect” surge como se fosse um membro da família. Matrícula LH-14-11. Uma matrícula que, ao contrário de outras, nunca mais esqueci.

GUERRA É GUERRA

Na guerra da Ucrânia, que nem tão cedo sairá do nosso quotidiano mediático, uma coisa ficou clara nos últimos dias: os USA e a GB (que arrastarão a UE e outros) definiram a sua estratégia no sentido de tudo fazerem para a vitória politico-militar da Ucrânia. O discurso acompanha a prática através de apoio militar, a todos os niveis, relevante. Só sabemos da missa a metade - quase ocultada a guerra da inteligência e o negócio de armamento. Só a partir da posição de vencedores poderão encetar uma negociação a sério com a Rússia. O resto são detalhes que podem avultar em ruído mas que não serão decisivos. O nosso caso de Setúbal é simplesmente mais uma sequela doméstica que indicia o declinio da influência do PCP, ou melhor dito, um episódio na infindável campanha do PCP para alcançar a irrelevância politica.