Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, março 16
16 de março 1974
Cumpria, como Oficial Miliciano, o serviço militar obrigatório no 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (2º GCAM), onde hoje está instalada, no Campo Grande, em Lisboa, a "Universidade Lusófona". Depois de conhecidas as notícias do avanço da coluna militar, a partir das Caldas da Rainha, instalou-se uma grande agitação no quartel. 16 de março era sábado e eu estava lá talvez porque estivesse de serviço. Finalmente surgia uma manifestação concreta de revolta militar mas pairavam no ar notórias dúvidas e incerteza acerca do destino do golpe. Pela manhã desse dia recebi ordem do Comandante para recolher ao quarto. Estive, de facto, preso por um breve periodo. Após o golpe ter fracassado, na manhã seguinte, mandaram-me sair. Fiquei aliviado. Iniciava-se, assim, a fase final do verdadeiro e decisivo golpe militar. Não o podíamos adivinhar mas o "Estado Novo" que, desde a ditadura militar, instaurada pelo golpe de 28 de Maio de 1926, iria perfazer 48 anos, estava a breves semanas do fim. Várias gerações de portugueses viveram toda, ou grande parte, das suas vidas sem conhecerem a cor da liberdade, pesando sobre as cabeças dos conspiradores a responsabilidade de pôr fim ao pesadelo.
sábado, março 15
Politica - 4
Desde 25 de abril até ao presente o cargo de 1º Ministro foi desempenhado por 17 personalidades. Passando em revista a lista pode dizer-se que em Portugal não existe a tradição do 1º Ministro rico, ao contrário de outros países, como é o caso, mais recentemente, dos USA, Alemanha e Canadá. Não conheço nada do património destas personalidades mas, por cá, são todos, com mais ou menos larguesa, remediados. Nos primeiros tempos não havia obrigação declarativa de património e pertenças (interesses). Com o tempo as coisas evoluiram e hoje nada pode ser omitido nas declarações obrigatórias. Falta, ao que parece, em alguns casos, cumprir com a ética republicana... que não se compadece com burocracia. Eis-los:
Adelino da Palma Carlos,
Vasco Gonçalves,
Pinheiro de Azevedo,
Mário Soares,
Alfredo da Costa,
Mota Pinto,
Maria de Lurdes Pintasilgo,
Francisco de Sá Carneiro,
Francisco Pinto Balsemão,
Aníbal Cavaco Silva,
António Guterres,
José Manuel Durão Barroso,
Pedro Santana Lopes,
José Sócrates,
Pedro Passos Coelho,
António Costa,
Luis Montenegro,
quinta-feira, março 13
Politica - 3
Já aconteceu outras vezes no passado. Lembro-mo da ascensão de Santana Lopes a 1º ministro, para ser simpático, um erro de casting de Sampaio. Todo esse episódio foi
um momento de tragicomédia em que a política pura, a que eleva acima da defesa dos interesses particulares o interesse geral, ameaça ser submersa pela pura traficância de interesses, arremesso de ódios e promessas populistas.
segunda-feira, março 10
Politica -2
Chegados aqui vamos ter eleições. Um ano depois de outras que nos trouxeram aqui. Não confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro do homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade. Convém não diabolizar as eleições, como exercício dessa liberdade.
sábado, março 8
Politica
A minha juventude fui muito marcado pela leitura de Albert Camus. Não sei já identificar, com precisão, a origem desse interesse mas o certo é que me iniciei em Camus através da leitura dos Cadernos. O encanto estava, e está, na escrita fragmentada um misto de diário e reflexão filosófica. Uma das reflexões que sublinhei pelos meus 20 anos foi esta: “Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.” A violência na politica é algo terrível e daí o insucesso de muitas incursões daqueles que não são capazes de "matar o adversário". Há muitos exemplos entre nós que não vou referir mas que só dignificam os seus percursos pessoais. E agora aqui chegados? (Continua).
Mulheres
“As rosas retardatárias de Santa Maria Novella e as mulheres, neste domingo de manhã em Florença. Os seios libertos, os olhos e os lábios que vos fazem bater o coração, a boca seca e um calor nos rins.” Albert Camus, in Núpcias
sexta-feira, março 7
A corte chega ao destino final, Rio de Janeiro
Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.
quarta-feira, março 5
Crise politica
Crise politica. Uma má ideia. Não descortino a sua origem profunda. Sempre penso nos negócios de estado. Os grandes interesses escolhem ou influenciam a escolha dos governos. Hoje, aliás como sempre, em democracia, o povo escolhe e os grandes interesses acolhem, ou não. Nada sei das tramas de bastidores. Ninguém vai sair a ganhar com a presente crise politica. As lideranças partidárias são frágeis e hesitantes nas frentes interna e externa. Farão escolhas, desde programas a candidatos, limitadas às suas escassas competências e limitados circulos de aparelho. Sem golpe de asa. Espero estar enganado mas a tendência natural redundará num deslizamento para a direita.
sexta-feira, fevereiro 28
Zelensky
As notícias de hoje são alentadoras. Ainda há quem faça frente aos ditames da força com a força da dignidade. Ao contrário de um revés, a atitude de Zelensky na Casa Branca ao enfrentar Trump, é uma vitória para todos os homens de boa vontade. Aconteça o que acontecer, Que viva!
quinta-feira, fevereiro 27
Vitor Wengorovius -pelo vigésimo aniversário da sua morte
O mais brilhante tribuno do movimento estudantil durante a crise académica de 1961/62. Eu não tinha idade para o conhecer nessa época mas os testemunhos dos seus contemporâneos são eloquentes. Só o conheci como veterano no processo de criação do MES bastante antes do 25 de Abril.
Era uma figura pujante de energia e criatividade, prolixo, solidário e desprendido. Era a personificação do excesso para seu prejuízo pessoal e benefício da comunidade. Um socialista católico puro e impoluto, crente e destemido, desprendido do poder e amante da partilha.
Privei com ele, nele confiava em pleno, com ele aprendi a confiar, talvez a confiar demais. Não me arrependo de ter acreditado na luz que emanava da sua dedicação às causas utópicas que as suas palavras nunca eram capazes de desenhar até ao fim. As suas palavras perseguiam a realidade que se escapava como um permanente exercício de criação.
Com ele fui a encontros clandestinos com o Pedro Ramos de Almeida, representante do PCP, buscando as alianças necessárias ao sucesso da luta anti fascista e nunca fomos apanhados pela polícia política.
Ouvi horas das suas conversas, intervenções e discursos, aprendi a ouvir, aprendi a faceta fascinante do excesso da palavra (não só com ele) e sofri, em silêncio, o lancinante drama do seu percurso pessoal perdido no labirinto das rupturas intelectuais e sentimentais.
Morreu a 27 de Fevereiro de 2005 mas viverá para sempre no coração daqueles que, verdadeiramente, o conheceram.
terça-feira, fevereiro 25
Francisco
Estou em fase de leitura da autobiografia Esperança de Francisco, o Papa. É um testemunho de vida muito forte de uma personalidade marcada pelos acontecimentos do seu tempo. Com ele a igreja mergulha na vida do seu povo com suas vitórias e derrotas, tristezas e alegrias, vícios e virtudes. Sempre do lado dos mais fracos, sem hesitações nem concessões. Um homem inteiro na sua fé. Um revolucionário. Que viva!
segunda-feira, fevereiro 24
sexta-feira, fevereiro 21
Esperança
Francisco, o Papa, agora gravemente enfermo, é filho e neto de emigrantes, idos nos anos 20 de Itália para a Argentina, onde nasceu. A sua especial sensibilidade para a questão dos migrantes é fácil de entender, daí as suas intervenções incisivas acerca do tema por palavras e atos. As politicas de Trump têm nele um lúcido adversário e espero que recupere da doença que o levou ao hospital para que a sua palavra continue a iluminar de esperança o campo dos homens de boa vontade..
quarta-feira, fevereiro 19
Rapina
Muitos anos atrás a minha mulher, que trabalhava para uma empresa americana, frente às torres de Trump, em Nova York, virou-se para o patrão e perguntou-lhe o que aquilo era. Ele, de súbito, respondeu-lhe: é de um vigarista chamado Trump. O vigarista fez carrrreira de sucesso. Hoje por hoje, no que respeita à Ucrânia, já entendemos o seu plano. De uma forma simples e direta já acordou com Putin dividir a Ucrânia ficando com a melhor parte. A Europa paga a reconstrução. É pura rapina. Falta afastar a liderança ucraniana, a bem ou mal, e substitui-la por um diretório de sua confiança. Vamos ver se corre tudo a preceito no seu plano já que não pode eliminar a Europa do tabuleiro.
terça-feira, fevereiro 18
Adélia Prado - Encontros Notáveis
Adélia Prado - Prémio Camões entregue hoje. Li muito dela, talvez tudo ou quase.
segunda-feira, fevereiro 17
O meu tio Ventura
Regressemos ao início. Na minha alta adolescência travei-me de razões, vezes sem conta, com o meu tio Ventura (irmão de minha mãe), no campo da politica. Ele foi regedor da freguesia e era um estrénuo defensor da ditadura, homem já feito, eu jovem, era defensor de tudo o seu contrário. E acabava tudo sempre em bem, as razões dos laços de família sobrepunham-se, invariávelmente, às desavenças politicas. O tempo fez o seu caminho, o 25 de abril o resto. Finalmente todos democratas, ainda bem. Mas... hoje regresso ao início, afinal parece que não. Os fascistas de antanho regressam sob novas vestes, em força. Não vou mais travar-me de razões com o meu tio Ventura que morreu com 99 anos, na espera paciente dos 100, com a vaca que tinha preparada para a matança celebrativa do centenário, a sobreviver, ainda bem. Os ventos da história vão perfilar os neofascistas, os ultraliberais e os democratas pífios na galeria dos açougueiros da ordem liberal democrata. Os campos do confronto estão a definir-se com uma rapidez alucinante. Entre nós adivinho que o primeiro defensor da nova ordem autoritária, a ser alçado ao poder deverá ser o Almirante. Tenho saudades do meu tio Ventura... e Almirantes nunca mais!
domingo, fevereiro 16
Subscrever:
Comentários (Atom)














