quinta-feira, dezembro 30

1963. UMA SURPRESA DE FIM DE ANO


1963 - Equipa de Juniores do Farense
De pé (da esquerda para a direita): Vitor Passos, Cavaco, Eduardo Graça, Silvino Octávio Rosa Santos e Mariano; em baixo: Bastardinho, Leonardo e José Maria.

Uma boa surpresa de fim de ano que me foi enviada pelo Silvino via facebook. No campo da Alameda, em Faro, a equipa de júniores de basquetebol do Farense na qual eu alinhava com a camisola nº4. Guardei a camisola que é linda e está como nova. Esta é uma actividade de que guardo uma memória bem viva no centro da qual vivem os meus companheiros de equipa. E que dizer do campo da Alameda, assim como do público que, nos jogos com o Olhanense, em regra, se envolvia à pancada e eu, lá dentro, sem perceber nada. Afinal rivalidade exacerbada. A mim só me interessava o jogo pelo jogo. A equipa era mediana em qualidade de jogo mas, apesar de tudo, tinha centrímetros para a época. Eu acrescentava 1,83 cm  mas o Silvino, se não erro, era o mais alto. O melhor, salvo melhor opinião, era o Bastardinho. Um abraço para todos. 
      

Coisas que nunca deverão mudar em Portugal




Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento e de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.

1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.

2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc., tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.

3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.

4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.

5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.

6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.

7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.

8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.

9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.

10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.

Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal.

Artigo do Embaixador do UK ao deixar Portugal: Expresso 18 Dez 2010

segunda-feira, dezembro 20

CAMUS, A POLTRONA E A HISTÓRIA - Ou três razões para ler Camus









Maria Luísa MALATO BORRALHO
Professora e ensaísta [1]

1944. Ouviam-se ainda os tiros dos combates nas ruas de Paris. A libertação da cidade fazia-se casa a casa, bairro a bairro. É preciso tomar a Comédie Française. Talvez Sartre. Mas ninguém sabe onde está. Será Albert Camus que o vai encontrar adormecido, numa sala de espectáculos vazia. Comenta com uma gargalhada: “Tu as mis ton fauteuil dans le sens de l’histoire!”

1952. Há alguns meses tinha sido publicado L’Homme Révolté. Ainda que contasse com a reacção crítica de Sartre e dos seus apóstolos, Camus não esperava a virulência do artigo que Sartre encomendara a Francis Jeanson, publicada em Les Temps Modernes. Pensa responder a Jeanson, mas acaba por escrever ao autor da encomenda: insurge-se no final contra a censura brutal daqueles que “n’ont jamais placé que leur fauteuil dans le sens de l’histoire”.

[Ler na íntegra AQUI.]

[1] Membro do Projecto U&D “Utopias literárias e pensamento utópico: a cultura portuguesa e a tradição intelectual do Ocidente – II”, financiado pela FCT e sedeado no Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, Faculdade de Letras da Universidade do Porto (POCTI/ELT/46201/2002).

domingo, dezembro 19

7 ANOS

Fotografia de Hélder Gonçalves

Este blogue faz hoje sete anos. Ao contrário de todas as aparências não deixei de escrever. As palavras encantam-me. Preciso delas para respirar. Os meus amigos estranham a recente escassez de palavras. Estou a poupá-las. Logo ressurgirão. Não entendam essa escassez como uma ausência de opinião. Este blogue sempre foi mais interessante para mim como espaço de memória e partilha de gostos do que de opinião. Um dia explicarei as razões da sua criação e persistência. Mas enquanto não chega esse dia agradeço a fidelidade daqueles que me seguem. Eu também os sigo. E a todos admiro por me seguirem. Em primeiro lugar, aquelas amigas, e amigos, que me conhecem e que conheço, com quem privo, privei e privarei. Mas também todos os outros, os chamados amigos virtuais, uma das mais extraordinárias criações deste tempo que é o nosso. Um blogue é, mais que tudo, um lugar de troca de afectos e paladares entre desconhecidos que se admiram. Eu quero que este continue a ser um pequeníssimo lugar de renovação de esperanças no futuro. Porque o que mais me encanta, apesar do tempo e da distância, são os outros que vivem em mim. Com memória e gratidão. Prossigamos …

sábado, dezembro 18

NATAL 2010


quando o vento bater nas arribas dir-te-ei
do mar a canção. e no grito da gaivota
ouvirás o murmurar cadenciado dos búzios
no meu ouvido. quando da tarde
te contar o embalo recordarás os passos cinzelados
numa cidade do interior. quando te soletrar na areia
o queixume das palavras por dizer,
sorrirás. e, então, amor, verei no teu olhar
o pôr do sol e toda a beleza dos infinitos.

Helena Faria Monteiro

[O belo poema que me foi enviado no postal de Natal pela Helena
que agradeço, e reproduzo, ilustrado por um desenho a tinta da china
de sua autoria.]