segunda-feira, agosto 24

A FALÉSIA

Conheço razoavelmente bem o mar azul e a costa recortada do Algarve. Da casa dos meus avós maternos, situada num monte, para os lados de Tavira, pode observar-se quase metade da costa algarvia – de Ayamonte a Olhão. Desde criança essa imagem do mar azul ao longe nunca me abandonou. Aquela metade – o sotavento – não tem falésias correspondendo a quase toda a extensão da Ria Formosa. No Barlavento a costa apresenta uma fisionomia diferente onde surgem, nalguns troços, as falésias. Sabemos que, a partir da década de 60, a indústria do turismo tornou o Algarve um destino apetecível. A faixa costeira foi invadida por toda a espécie de empreendimentos, a mor das vezes, construídos sem rei nem roque. A voragem do lucro fácil venceu, quase sempre, a preservação do eco sistema. O desenvolvimento, que cria riqueza, transforma, inevitavelmente, a paisagem. E as novas paisagens construídas, em benefício da indústria turística, nem sempre golpearam a paisagem natural do Algarve. Por vezes beneficiaram-na. Uma discussão antiga. Mas a imagem das grandes máquinas derrubando a falésia na Praia Maria Luísa é brutal. É um elemento da paisagem natural. Não é um mamarracho construído sobre uma falésia. Que culpa tem a falésia de pertencer aquele ambiente natural? A falésia pode desmoronar-se! Os seres humanos que se deitam à sua sombra, apesar dos avisos, podem morrer! Como o mar os pode tragar num golpe traiçoeiro. Como o sol lhes pode marcar para sempre o destino. Não há racionalidade na tragédia. Nem a tragédia deve ser pretexto para arrasar a natureza. Bom! Sempre se pode abrir um processo-crime! Mas não seria necessário preservar a falésia? As marcas? Os indícios? Os deuses devem estar loucos!
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1 comentário:

Unknown disse...

Concordo consigo, os deuses devem estar, de facto, loucos!...

Se havia perigo porque é que não colocaram umas fitas sinalizando o local do perigo eminente de derrocada?

Depois da tragédia corre-se logo a tentar emendar os erros e a promover outros tantos. O pior é que nada trará de volta aquela família que descansava á sombra da falésia traiçoeira. Tem-se falado muito em avisos, mas ainda não consegui perceber onde estavam, exactamente, colocados esses avisos.

Noélia