quarta-feira, junho 2

MANUEL ALEGRE - HOJE


Não há vida sem diálogo. Mas o diálogo foi, hoje, na maior parte do mundo, substituído pela polémica. O século XX é o século da polémica e do insulto. Eles ocupam, entre as nações e os indivíduos, e mesmo ao nível das disciplinas outrora desinteressadas, o lugar que tradicionalmente cabia ao diálogo reflectido. Dia e noite, milhares de vozes, empenhadas, cada uma por seu lado, num tumultuoso monólogo, lançam sobre os povos uma torrente de palavras mistificadoras, de ataques, de defesas, de exaltações. Mas qual é o mecanismo da polémica? Consiste em considerar o adversário como inimigo, por conseguinte a simplificá-lo e a recusar vê-lo. Aquele que insulto, já não sei de que cor são os seus olhos, ou se acaso sorri, e como o faz. Tornados quase cegos por obra e graça da polémica, já não vivemos entre os homens, mas num mundo de sombras. (…)

Albert Camus – alocução feita na sala Pleyel em Novembro de 1948, in Actualidades - Contexto
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2 comentários:

Miguel Gomes Coelho disse...

Uma belíssima visão.

Galeota disse...

Feriado - Corpo de Deus

I - Algumas considerações sobre as eleições presidenciais.

1 - O Senhor Presidente da República não reune as condições para renovar o seu mandato. Fiquei convencida deste facto, após o discurso sobre "as escutas" , confirmado com a recente comunicação ao país "sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo";

2 - Apoio na 1º volta o Sr. Dr. Fernando Nobre pela sua abenegação ao serviço da AMI e porque "sinto" que é uma pessoa muito boa.Como homem ponderado que é ,julgo que bem assessorado era uma força apaziguadora na actual situação política que o país vive;

3 - Quanto à entrevista do poeta Manuel Alegre gostei. Gostei da sua perspectiva sobre a posição de Portugal no Mundo , sobre o que deveria ser a reformulação do projecto europeu , a necessidade de construção de pontes de diálogo com os partidos que se localizam à esquerda do P.S. na Assembleia da República e a acção mobilizadora em torno de ideias para um Portugal de Esperança ( não à volta de fórmulas financeiras que são necessárias, mas que são consequência de opções políticas, confrontação de IDEIAS)


II - Texto para integrar com o de Albert Camus

"...71.Esta possibilidade da mentalidade técnica se desviar do seu originário álveo humanista ressalta, hoje, nos fenómenos da tecnicização do desenvolvimento e da paz. Frequentemente, o desenvolvimento dos povos é considerado um problema de engenharia financeira, de abertura dos mercados, de redução das tarifas aduaneiras, de investimentos produtivos, de reformas institucionais; em suma, um problema apenas técnico. Todos estes âmbitos são muito importantes,mas não podemos deixar de interrogar-nos por que motivo, até agora, as opções de tipo técnico tenham resultado apenas de modo relativo. A razão há-de ser procurada mais profundamente. O desenvolvimentonão será jamais garantido completamente por forças de certo modo automáticas e impessoais, sejam elas as do mercado ou as de política internacional. O desenvolvimento é impossível sem homens rectos, sem operadores económicos e homens políticos que sintam intensamente em suas consciências o apelo do bem comum.São necessárias tanto a preparação profissional como a coerência moral. Quando prevalece a absolutização da técnica verifica-se uma confusão entre fins e meios:como único critério de acção, o empresário considerará o máximo lucro da produção; o político, a consolidação do poder; o cientista o resultado das suas descobertas. Deste modo, sucede frequentemente que, sob a rede das relações económicas, financeiras ou políticas, persistem incompreensões, contrariedades e injustiças; os fluxos dos conhecimentos técnicos multiplicam-se, mas em benefício dos seus proprietários, enquanto a situação real das populações que vivem sob tais influxos, e que quase sempre na sua ignorância, permanece imutável e sem efectivas possibilidades de emancipação. ..."

in "Caritas in Veritate"-Terceira Encíclica de S.S.Bento XVI - Paulus Editora, 2009.

III - Reflexões Finais

É urgente que na situação actual em que o nosso país se encontra haja a convergência de todas as forças que estruturam a sociedade portuguesa (partidos, sindicatos, associações patronais, movimentos de cidadãos e igrejas)num diálogo franco e aberto sobre:
1 - Qual o papel de Portugal na U.E. e no mundo;
2 - Qual o projecto da U.E;
3 - Qual a função da O.N.U. no séc.XXI;
4 - Quais as perspectivas da globalização a curto e médio prazo na óptica dos G 20.