Um paradoxo interessante este que o falecimento do Mariano Gago suscita. Num tempo em que meio mundo fala mal dos politicos, ou pensa mal deles mas não fala, súbito, surge a unanimidade na apreciação pública das virtudes de um politico morto. Pois Mariano Gago, além de cientista, exerceu funções politicas de topo - ministro de vários governos socialistas - durante muitos anos. Estranha polifonia de extremos: da diabolização dos politicos, de forma indiscriminada, à elevação ao altar das virtudes de um politico depois de morto. Não o conheci o suficiente enquanto politico, na ação governativa, mas antes disso, certamente, desde o Liceu de Faro, às direções das associações de estudantes, nos tempos de brasa dos finais dos anos 60, inicios dos de 70. Nada a apontar a não ser uma sensação de bem estar, de plenitude civica, no cumprimento de um dever sagrado de nos opormos à tirania. Desde os tempos da escola, discretamente, o Mariano Gago quebrou o conformismo que o seu estatuto de estudante e profissional de exceção lhe estava destinado. Honra à sua memória!
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