Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, outubro 20
ELEIÇÕES - 20 de outubro
Continuo a não conhecer o que se passa nos bastidores da politica nacional mas torna-se cada vez mais evidente o regresso em força da politica. As disputas em democracia podem ser duras mas a sua dureza no quadro democrático, através do voto e do debate, é uma alternativa à violência. Muitas cabeças lúcidas - faço questão de acreditar que em todos os campos em confronto elas existem - já identificaram a natureza da situação criada pelos resultados das eleições legislativas de 4 de outubro e as suas novidades. A novidade mais relevante é a decisão do PCP de aceitar partilhar o poder a nível de governo que sempre havia recusado desde, pode dizer-se, antes do 25 de abril. Quem conheça, mesmo que só ao de leve o PCP, sabe que as suas decisões estratégicas, ou mesmo as táticas mais relevantes, não são tomadas do dia para a noite. Acredito, no entanto, que a assunção da liderança do PS por António Costa terá favorecido a decisão do PCP. Poucos falam, nestes momentos de viragem, de questões que estão para além do "pronto a vestir", mas eu creio que a decisão de Costa de assumir a liderança do PS, trazia no seu bojo a ideia de, mais tarde ou cedo, por fim ao autoafastamento do PCP da esfera do poder a nível de governo. O mesmo não acontece, como todos sabem, a outros níveis como o autárquico em cuja gestão o PCP tem assumido, desde o 25 de abril, um papel relevante embora confinado quase só às Regiões da Grande Lisboa e Alentejo. As personagens politicas, quer seja através da sua tradição familiar, quer do exercício de politicas de proximidade e por cultura pessoal, podem assumir papéis surpreendentes em mudanças politicas de fundo. Esta história não se pode fazer a quente nem sequer é possível avaliar com rigor a direção que vai assumir e, muito menos, o grau de sucesso de uma eventual aliança, mais ou menos formal, entre os atuais partidos que ocupam o lado esquerdo do nosso espetro partidário. Mas tenho a certeza que as personalidade dos dirigentes políticos fazem a diferença. Muita água vai correr debaixo das pontes nas próximas semanas mas é certo que está a acontecer uma mudança politica em Portugal cujas consequências são difíceis de medir. O sistema politico/partidário move-se de forma real, resta saber se os protagonistas têm consciência da amplitude e direção do movimento que estão a desencadear.
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