Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, novembro 17
O ano do Nobel - Albert Camus - biografia breve (21)
1957 - Em março, discursa na Sala Wagram contra a intervenção na Hungria (Kadar a eu son jour de peur) e publica, pela Gallimard, L´Exil et le Royaume. Mas este é o ano do Nobel da Literatura que lhe seria atribuído, em 16 de outubro, “pelo conjunto de uma obra que lança luz sobre os problemas que se colocam, nos nossos dias, à consciência do homem”. A reação de Camus à notícia ficou registada nos Cadernos, no dia 17 de outubro, com uma pungente referência à sua infância pobre, lembrando a mãe: “O Nobel. Estranho sentimento de abatimento e melancolia. Aos 20 anos, pobre e nu, conheci a verdadeira glória. A minha mãe.” Mas, logo no dia 19, nos mesmos Cadernos, o reverso da medalha: “Assustado com tudo o que me acontece e que eu não pedi. E para cúmulo ataques tão baixos que me deixam apertado o coração”. René Char, por sua vez, de coração aberto, exulta, numa carta dirigida a Camus: “Espero bem, creio que consta o que será certo. Assim, a certeza do que circula na imprensa incita-me sem reservas a regozijar-me e a achar que esta quinta-feira, dia 17 de outubro de 1957, é para mim o melhor, o mais esplendoroso, sim o melhor dia de há muito, entre tantos dias de desespero. Peço-lhe que aceite, para memória deste dia, esta pequena caixa que me salvou a vida quando combatia na resistência, e que eu desde então conservei como uma relíquia verdadeiramente íntima”. No outono, publicou, pela Calmann-Lévy, Réflexions sur la peine capitale, na Suécia, a partir de 9 de dezembro, proferia, além do discurso de aceitação do Prémio Nobel, duas conferências, em Estocolmo e Upsala; na primeira das quais, interpelado por um jovem argelino, profere uma célebre, e polémica, frase: ”Creio na justiça, mas defenderia a minha mãe antes da justiça”.
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