Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, junho 25
Pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez, sempre!
Lembro-me de um discurso recorrente de minha mãe. Teria gostado de ter mais filhos, mas não os teve. As suas confissões, pelo menos aos meus ouvidos, nunca iam além de um lamento nostálgico pelas opções que, ao longo da vida, resolveu assumir. Sempre subentendi que esses filhos que, em vão, desejou foram evitados através de um processo que na linguagem popular se designa por “desmancho”.
Não lhe posso perguntar já o que terá acontecido. Os tempos eram outros, mas o medo era o mesmo. Essas mulheres que, ao longo dos tempos, solitárias as mais das vezes, sofreram o risco da própria vida em práticas abortivas, quando não morreram mesmo, são criminosas aos olhos de três juízes do Supremo dos USA, tal como aos olhos de tantos outros que emergiram, aquando do referendo em Portugal, herdeiros dos inquisidores que, por entre o rosmaninho e as cinzas ainda fumegantes das fogueiras da inquisição, sempre proclamam, em nome da vida, a intolerância em vez da solidariedade. Que Deus lhes perdoe!
Serei sempre pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez em nome da vida e da liberdade. É um voto que advém de uma convicção íntima e individual de que esse é o caminho para a solução mais eficaz do aborto clandestino com o dramático cortejo das suas consequências. Mas a minha posição não desdenha o debate, o diálogo, a busca do consenso, essa luta pela tolerância que se tornou, imaginem, nos nossos tempos uma prioridade entre todas as lutas das comunidades civilizadas e dos cidadãos lives.
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